Política

Barraco armado

DANIEL LIMA - 14/02/2008

O barraco do divisionismo político-eleitoral dos governistas está consumado em São Bernardo.


Diferentemente da situação em Santo André, motivada pela obrigatoriedade das prévias petistas mal-ajambradas antes, durante e depois, com aliados e adversários do Paço Municipal trafegando por ruela escura de teimosia e auto-suficiência, em São Bernardo o prefeito William Dib tentou acertar o tiro no alvo, mas assessores colocaram na agulha balas de festim e, pior ainda, sabotaram o próprio alvo, retirando-o do foco do atirador.


Deu no que deu, um furdunço dos diabos.


Especialista em manobras eleitorais, desses enxadristas que não podem ser subestimados, William Dib antecipou o período de tentativa de colocar no mesmo quarto de harmonia duas gerações praticamente irreconciliáveis.


Provavelmente sabia que o tempo para alguns exagerado de antecipação de nomes que concorreriam ao Paço Municipal seria uma incubadora de ajustes ou de desajustes, jamais de acomodação. Acabou virando saco de gatos.


Imaginem os leitores se William Dib tivesse resolvido lançar somente agora a composição da chapa envolvendo o experiente Maurício Soares e o jovem Orlando Morando.


É certo que teria sido devorado nos últimos meses por pressões multifacetadas. Não faltavam concorrentes tanto à condição de candidato a prefeito quanto à de vice. Ao jogar Maurício e Morando nas águas aparentemente precoces de coalizão, William Dib fez um teste de resistência cortante, cujos resultados estão aí: é impraticável aos grupos que dão sustentação àqueles concorrentes harmonizar-se em busca do mesmo objetivo.


A imagem poderá parecer forte e até mesmo idiossincrática, mas o fato é que o triprefeito Maurício Soares e o deputado estadual Orlando Morando são espécie de Tom & Jerry, com a diferença de que no desenho animado Tom é sempre Tom e Jerry é sempre Jerry. Nesse caso, eles invertem os papéis dependendo das circunstâncias e tornam o jogo pelo poder, natural da política, muito mais complexo e insondável.


O noticiário dos jornais impressos e virtuais exige flexibilidade não só no reconhecimento do terreno de interesses implícitos de cada produto editorial como atenção redobrada às entrelinhas.


Sim, as entrelinhas muitas vezes respondem muito mais à curiosidade e à sede por informações do que as informações explicitamente colocadas.


No caso do rompimento entre Maurício e Morando, quem resolveu chutar o pau da barraca foi o secretário de Habitação e Meio Ambiente, Ademir Silvestre. No Diário do Grande ABC de ontem ele denunciou praticamente com todas as letras que Maurício Soares está se enamorando pelo PT de Luiz Marinho.


Duvido que Ademir Silvestre tenha sido uma vírgula sequer de irresponsável ao destilar o inconformismo pela desarrumação do projeto de William Dib. Talvez tenha sido precipitado.


Isto quer dizer que tenha dito a verdade? Talvez sim, talvez não, mas explicitou avaliação que, no mínimo, deve ter outros assessores diretos do prefeito William Dib como avalistas.


Traduzindo a questão: há monumental ambiente de desconforto e desconfiança no Paço de São Bernardo por conta de que o candidato escolhido pelo prefeito William Dib para sucedê-lo está sob suspeita de bandear-se para o grupo do principal adversário e o candidato escolhido pelo mesmo prefeito William Dib para ocupar o cargo de vice-prefeito afirmar também à Imprensa que se retirou do projeto porque o próprio prefeito assim se decidiu.


Desta forma, Maurício Soares estaria desgarrado do Paço porque provocou o desgarramento ou estaria desgarrado porque quiseram que se desgarrasse do Paço?


É claro que o troféu de trapalhão político do ano passado foi conquistado pelo prefeito de Santo André, João Avamileno. No caso desta temporada, só em São Bernardo os concorrentes são vários. Difícil vai ser descobrir de fato a origem de tantos tropeções. A indicação de William Dib parece raciocínio raso e desqualificado: provavelmente ele sabia que o cenário que se apresenta de fato constaria do horizonte desta temporada, por isso antecipou o calendário eleitoral para ver com o que poderia trabalhar agora nessa pré-reta de campanha.


Resta saber o que vamos ter nos próximos tempos.


Luiz Marinho deve estar adorando tanta confusão.


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