O triprefeito Maurício Soares está encalacrado.
A sete meses da disputa à Prefeitura de São Bernardo, as alternativas que se lhe apresentam são tantas e tão variadas que, da mesma forma que podem conduzi-lo com dificuldades ao céu de uma nova vitória eleitoral e ao controle do Paço Municipal de um dos orçamentos mais ricos do Estado, podem fazê-lo desaparecer na poeira do ostracismo.
Que caminho trilhará Maurício Soares depois do anúncio de que ele e Orlando Morando não vão fazer a tabelinha esperada pelo prefeito William Dib?
Vejam só quais são as alternativas que se abrem ou se fecham para o ex-petista:
a) Maurício Soares pode seguir como candidato a prefeito do Paço Municipal, mas nada assegura que terá de fato o Paço Municipal como aliado depois do rompimento com o deputado estadual Orlando Morando e da impossibilidade de compor dupla que chegue próximo das vantagens que acabam de ser desfeitas. O lançamento da candidatura de Orlando Morando sinaliza que o bloco governista está rachado, mas não sugere ainda de forma definitiva que habilidosos interventores deixarão de encontrar uma saída para evitar que adversários virem kamikazes. Ainda mais que a ruptura no Paço é força de expressão porque há desequilíbrio latente de forças favoráveis e contrárias à posição de Maurício Soares. Poucos secretários lhe dão sustentação política. Todos se sentem ameaçados por estilhaços eleitorais.
b) Maurício Soares pode dar-se conta de que, por mais que a vocação política lhe seja inerente, inescapável, chegou a hora de saber pendurar ou quase pendurar as chuteiras, costurando bom acordo com o Paço Municipal e, num gesto de grandeza esperado por parcela considerável da Prefeitura, decida recolher as armas e declarar que prefere um cargo de expectativa e de densidade organizacional da administração, daí apoiar Orlando Morando para prefeito. Com isso, abriria as portas à reaproximação de todas as alas governistas, fechando cerco em torno de nova vitória eleitoral.
c) Maurício Soares pode dar razão à desconfiança generalizada, dita e reafirmada por secretários do governo William Dib, de que o que quer mesmo é acomodar-se longe do Executivo, e, com isso, ajeitar negociações com o governo federal não só para afastar-se da disputa em São Bernardo como apoiando o ministro Luiz Marinho nos bastidores e, quem sabe, até na reta de chegada. Receberia em troca um cargo que lhe dê visibilidade e acomodação para o grupo que representa numa possível administração do ministro da Previdência Social. A incoerência dessa proposição fartamente dissecada no Paço de São Bernardo é que Maurício Soares supostamente deixaria o certo de relacionamento duradouro com o grupo de William Dib para se aventurar nas hostes de um partido político do qual já fez parte e com o qual mantém sérias rusgas, inclusive por conta de desajustes nos tempos de advogado do Sindicato dos Metalúrgicos, incubadora dos candidatos petistas locais. Além disso, a candidatura de Luiz Marinho ainda não está consolidada.
Outras formulações menos prováveis também integram o imaginário político em São Bernardo, mas o bom senso recomenda que são apenas devaneios.
Por mais que possa parecer inverossímil a dobradinha Morando-Maurício, num casamento de juventude e experiência, sabe-se que a formulação está no horizonte próximo dos apagadores de incêndio, inclusive com garantias de que o triprefeito terá pedaço do governo como hoje.
Maurício Soares poderia aceitar a proposta porque reconheceria que o manancial de votos que as pesquisas preliminares lhe conferem exige muita transpiração não só para ser mantido como, principalmente, reforçado. A peculiaridade de os municípios do Grande ABC viverem à sombra de mídia de massa requer dos concorrentes muita transpiração, muita sola de sapato, muito empenho físico, tudo o que Maurício Soares já teria dado sinais de esgotamento e de certa intolerância. Com a máquina pública rachada, a aproximação do eleitorado seria ainda mais difícil. Diferentemente de Orlando Morando, 30 anos mais jovem e um azougue na busca de votos.
Há um outro fator que deve levar Maurício Soares a não esticar demais a corda de um acordo diplomático provavelmente com quem, apesar dos pesares, mantém mais intimidade, no caso o Paço Municipal: o deputado Alex Manente aparece bem nas pesquisas e pode ser visto por Luiz Marinho como vice ideal, da mesma forma que também estaria nas cogitações de aliança com o grupo de William Dib como contrapeso do afastamento de Maurício Soares.
Maurício Soares, como se observa, sai de um extremo ao outro, de candidato fragilizado a prefeito a peso decisivo de vice-prefeito situacionista ou mesmo de apoiador relevante mas de horizonte não necessário semelhante de uma das duas candidaturas que poderão polarizar a disputa em São Bernardo — no caso Morando e Marinho.