Agora que a Reportagem de Capa de março já foi publicada na revista LivreMercado, agora que o mesmo material foi veiculado pela Internet, agora que supostamente não há mais ninguém que se preocupe com o caso de assédio sexual que esteja desinformado, vou aos finalmentes.
O que me levou a sugerir na reunião extraordinária do Conselho Editorial o desfecho provisório da denúncia de assédio sexual envolvendo um pré-candidato a uma das prefeituras locais foi a sequência de comentários de conselheiros editoriais da revista.
Quem pretender metabolizar ainda mais aquelas frases basta recorrer à LivreMercado física, distribuída desde a semana passada, ou à LivreMercado virtual, disponível no site. Os trechos principais foram pinçados e reproduzidos na Reportagem de Capa.
E o que mais balançou meu coreto jornalístico foi a ausência de queixa-crime, alertada por vários advogados-conselheiros editoriais.
Sem queixa-crime, poderia este jornalista dar com os burros n’água porque, eventualmente, o conteúdo da gravação exclusiva que detenho ganharia outro sentido, sentido de disfarce, de negação, de qualquer coisa que me levaria ao limbo da credibilidade.
Sei que muita gente andou falando bobagens sobre o caso, que um ou outro suposto concorrente midiático insinuou blasfêmias em colunas políticas sem assinatura e sem responsabilidade com a verdade, mas isso jamais me incomodou. Conheço boa parte dessa tropa de malabaristas éticos e sei muito bem o que pretendem quando se travestem de puros.
O que me jogou na correnteza da inquietação foi mesmo o fato de não haver queixa-crime.
É claro que isso seria irrelevante para a maioria dos jornalistas deste Brasil dos Quintos dos Infernos em que se transformou o destino da reputação alheia.
As safadezas do caso Celso Daniel são prova disso. Principalmente dos jornalões para os quais as gatas borralheiras voltam os fundilhos e derretem-se em reverências como se mirassem monumentos de inviolabilidade moral.
Se quiserem saber, nem mesmo a argumentação de que a revista LivreMercado seria ferida de morte no contexto da linha editorial histórica me abalou. Simplesmente porque não descarto essa conceituação. Por mais que respeite os conselheiros que a desfraldaram.
LivreMercado há muito tempo deixou de ser somente publicação de negócios. Nos antecipamos à tendência cada vez mais vigorosa e internacional de veículos dirigidos à Economia ingressarem em searas jamais imaginadas. O Wall Street Journal, por exemplo, agora sob o controle do milionário Rupert Murdoch, abriu página semanal de esporte. Quem acompanha LivreMercado sabe há quanto tempo tratamos de esporte em nossas páginas. E no campo da criminalidade, virou referência a (com perdão da imodéstia) imbatível cobertura do caso Celso Daniel.
Confesso que ainda não tracei as alternativas que advirão da decisão do diretório estadual do partido ao qual está filiado o candidato acusado de assédio sexual, cujo prazo se esgotará em 20 de abril.
No fundo, no fundo, estou aliviado porque ganhamos tempo para decidir uma questão sobre a qual perdi o poder de me distanciar a partir do momento em que caiu em minhas mãos aquele iPod com a gravação da reunião da Executiva Municipal do partido.
Tanto quanto deixei o isolamento voluntário do caso Celso Daniel quando comecei a ler nos jornais e a ver nas emissoras de TV informações que corroíam os fatos que presenciei antes daquela fatídica noite de 18 de janeiro de 2002.
O que muita gente não entende é que a função jornalística é espécie de encontro com o acaso. E quando o acaso aparece, não temos como negar fogo, sob pena de não valer mais a pena prosseguir na carreira.