Pesquisas eleitorais nestes tempos pré-eleitorais são como mulheres de vida fácil. Em público, fora da área em que exercem a mais antiga das profissões, procuram passar por damas da sociedade com tamanha impetuosidade que nem mesmo as damas de verdade chegam a tanto.
São algo como travestis que, dentro ou fora do campo de batalha, procuram se espelhar na graciosidade das mulheres que gostariam de ser e jogam para escanteio a espontaneidade, com o que confessam no gestual afetado e nos exageros do guarda-roupa o que de fato são, mulheres com vírgula.
Há modalidades para todo tipo de pesquisas encomendadas por pré-candidatos. Depende da ingenuidade do freguês a credibilidade dos números.
O jogo da dissimulação é uma arte para poucos, porque exala cheiro de trambicagem.
Entretanto, há especialistas em dourar a pílula e idiotas a conferir respeito ao que não passa de trapaça.
Pesquisa eleitoral de verdade não vaza para os adversários. Quando vaza é porque se pretende transferir numerologias e conceitos previamente manipulados. São bilhetes premiados vencidos.
Pesquisa eleitoral é arma de guerra suja quando não registrada e, portanto, fora do controle regulamentar. Se já com controle regulamentar nem sempre o que parece é de fato, o que imaginar então nestes tempos em que institutos de pesquisa, alguns sérios, outros nem tanto assim, deitam e rolam com ação dupla: a pesquisa para consumo interno, de poucos estrategistas ou supostos estrategistas, e outra para consumo externo, com números diferentes, interpretações diferentes, apenas para ludibriar os trouxas.
No fundo, os contratantes de pesquisas eleitorais informais e fora do período determinado pela legislação ficam num beco sem saída quando anunciam a contratação de alguma empresa especializada e propagam aos quatro cantos que os eleitores vão confirmar a intuição de que tudo está se transformando em maravilha.
Há um caso recente de um homem público que já fez sucesso nas urnas e que decidiu contratar uma empresa para saber até que ponto poderia disputar novamente o Executivo. O resultado foi um tremendo fracasso, por isso não lhe restou saída senão encontrar um jeito mais nobre de comunicar ao distinto público que pendurara de vez as chuteiras. É claro que o real motivo, a rejeição do eleitorado, não escapuliu do conhecimento de grupo fechadíssimo que, como se sabe, nem sempre é fechadíssimo assim.
Há amadores e profissionais na arte de fazer pesquisas. Gente qualificada não dá peso excessivo demais nestes tempos aos números propriamente ditos, mas sim às tendências, às mensagens dos eleitores.
Vale mais o que se aponta como expectativa do que o que se tem aqui e agora como propriedade eleitoral.
Geralmente quem propaga números faustosos com antecedência e consegue respeitabilidade usufrui do que chamo de memória eleitoral, porque já ocupou cargos públicos e conta portanto com índice de recall apreciável na temporada inicial de votos.
O problema que esses veteranos escondem é muito mais grave e decisivo para quem enxerga o calendário eleitoral tendo como ponto culminante outubro, não fevereiro, março ou abril: o índice de rejeição correlacionado com o índice de conhecimento do candidato. Quanto maior o segundo e maior o primeiro, maior o tombo.
Os bambambãs das pesquisas eleitorais pesquisam as pesquisas eleitorais nas entrelinhas dos recados dos eleitores. Há candidatos que adoram ignorar os contrapontos porque optaram mesmo por viver de ilusões. Acreditam que vale mais a emoção da torcida do que a frieza da ciência.
Há cavalos paraguaios na política como no futebol. Eles começam com tudo, deixam os adversários para trás mas não têm fôlego para resistir ao assédio e às mudanças de cenários quando o jogo começa para valer.