A cautela adotada no propagado caso de assédio sexual envolvendo um pré-candidato a uma das prefeituras do Grande ABC revelou-se acertada, gostem ou não os adversários do suposto concorrente. Entretanto, é natural que espertalhões de plantão não se conformem. Querem transformar este jornalista em boi de piranha.
Conseguimos aprofundar serenamente aquele trabalho, numa linha editorial que foge completamente do sensacionalismo oportunista que domina a Imprensa nacional e internacional — que acusa ou aceita acusações sem provas.
Para tanto, pesaram vozes ponderadas do Conselho Editorial de LivreMercado que, tomadas pelo Direito Constitucional, avocaram o freio de mão da tipificação formal do suposto delito. Requereram aquelas vozes o instrumento da queixa-crime como salvo-conduto à divulgação detalhada do conteúdo do áudio capturado durante reunião da Executiva Municipal do partido do pré-candidato.
Desde o momento em que decidimos ingressar nessa zona cinzenta de possível avanço do sinal comportamental do pré-candidato — neste blog e mais tarde transpondo as informações para as páginas de LivreMercado — sabíamos que correríamos o risco da pressão de agentes políticos e de agregados sempre dispostos a atuar como pontas-de-lança da malandragem disfarçada de moralidade.
O farol do equilíbrio nos guiou em todos os momentos, embora não faltasse sim uma coceirinha típica de jornalista decidido a botar lenha na fogueira. Felizmente, a razão prevaleceu.
Ano eleitoral é festival de ilações. Poucos escapam da maledicência. Os detratores provavelmente vão fabricar justificativas doentias para o fato de que preservamos a ética jornalística. Eles queriam o sangue da irresponsabilidade porque as consequências do ato não lhes arderiam o traseiro.
A revelação do nome do homem público envolvido na questão seria sim um ato pecaminoso quando se tem a contrapartida de informações seguras de que denunciantes intramuros do caso recolheram as armas por conta de reconsiderações sobre a clareza da interpretação dos fatos. Em suma, o que teria sido uma ação típica de assédio sexual não passou de excesso de zelo.Tomou-se um gesto cotidiano de relacionamentos corporativos como desrespeitoso atrevimento.
A conclusão da Executiva Estadual do partido ao qual estão filiados os envolvidos não possibilita a menor base legal e ética de o jornalismo ultrapassar os limites da honradez informativa. Se as partes foram ouvidas internamente e se se chegou à constatação de que nada de mais grave se deu de fato, como tentar insistir objetivamente no enquadramento delituoso, conforme tanto insistem em propagandear os adversários políticos?
Seríamos os últimos dos moicanos que se perfilariam numa disputa fratricida para derrubar os fundamentos da missão de informar sem deformar. A divulgação do caso ganhou a Reportagem de Capa de LivreMercado sem, entretanto, apresentar a identidade dos protagonistas. Foi a maneira que encontramos para despertar interesse de investigação também fora dos labirintos político-partidários.
O que se desdobrou daí acabou por reabilitar a imagem do pré-candidato apontado ao gosto do freguês como suspeito da abordagem supostamente abusiva. Afinal, não faltaram políticos ajustados às características do enredo porque, goste-se ou não, política é um mundo muito particular de relações íntimas reais e especulativas tanto com o poder como com o sexo não necessariamente oposto.
As candinhas soltas em variados ambientes cultivam verdadeiras e falsas aventuras de homens e mulheres que vivem no mundo político — inclusive de jornalistas que gravitam em torno desses personagens. São tantas as narrativas segredadas aos ouvidos ou escandalosamente alardeadas que alguém que se lançasse a escrever alguma obra sobre as estripulias dos agentes públicos provavelmente se surpreenderia com a constatação de que também o envolveram nas histórias.
Por isso, por mais que aquele áudio apontasse indícios de anormalidade envolvendo uma militante partidária, tivemos o cuidado de submeter a matéria à avaliação do Conselho Editorial, o qual, sabiamente, se manifestou pelo posicionamento da respectiva agremiação do filiado.
Não tenho vocação a boi de piranha. Vou até onde é possível, sem perder o senso de responsabilidade. Por isso, entre outras situações, escarafunchei o caso Celso Daniel e desmascarei a bobagem de crime encomendado por Sérgio Gomes da Silva.