A menos de três meses das eleições municipais, superjornada que envolverá 1,8 milhão de eleitores em um Grande ABC de 2,6 milhões de habitantes, o cenário de votos às sete prefeituras locais expõe marcas da diversidade dos concorrentes mais importantes.
O perfil político-institucional do Grande ABC que emergirá das urnas é um enorme ponto de interrogação. Afinal, o desenho de organização regional há muito fora da bitola da integração pragmática está subordinado a afinidades e a idiossincrasias individuais e coletivas que decorrerão dos resultados.
Mais que isso: o Grande ABC como megamunicípio dependerá do interesse dos prefeitos eleitos em ouvir ou ignorar demandas de reexame de uma regionalidade que segue muito longe da importância que estes tempos de globalização exige. Até que ponto, por exemplo, o Clube dos Prefeitos conseguirá definir prioridades compatíveis com o desenvolvimento econômico sustentável, emblematicamente simbolizado nestes tempos pela construção do trecho sul do Rodoanel?
Como qualquer iniciativa que procure desvendar o futuro do Grande ABC no campo da integração regional não ultrapassaria os limites do imaginário, o melhor mesmo é raciocinar em tempos práticos: como está o terreno sempre escorregadio das disputas eleitorais no Grande ABC? É por isso que reproduzimos a situação atual. A disputa apresenta a seguinte perspectiva de resultados no primeiro turno, em 5 de outubro.
Cinco favoritos
Cinco candidatos são favoritos e dificilmente perderão a disputa no primeiro turno. Onde a eleição se esgotará no primeiro turno, José Auricchio Júnior, em São Caetano, e Clóvis Volpi, em Ribeirão Pires, dificilmente deixarão de superar os adversários.
Em São Caetano, o petista Jayme Tortorello procura recolher dividendos da herança do ex-prefeito e irmão Luiz Tortorello. A operação é no mínimo estranha porque o dirigente que morreu em dezembro de 2004 era adversário implacável do PT.
Em Ribeirão Pires, o adversário do verde Clóvis Volpi é o ex-triprefeito Valdírio Prisco que, à última hora, montou chapa que tem como candidato a vice o duas vezes prefeito Luiz Carlos Grecco. O petista Mário Nunes é carta fora do baralho de viabilidade. O PT sabe que o candidato está sendo levado ao sacrifício partidário em conseqüência dos estragos provocados por cisões internas. A ex-prefeita Maria Inês Soares concorre à Câmara de Vereadores.
Um favorito que pode consolidar posição no primeiro turno e ir à etapa final como favoritíssimo é o deputado estadual Vanderlei Siraque, candidato à Prefeitura de Santo André. Há três concorrentes em seu encalço: o ex-tripefeito Newton Brandão, 83 anos, o secretário de Comunicação de São Bernardo, Raimundo Salles, e o médico Aidan Ravin. Todos eles — Brandão, Salles e Aidan — correm atrás da possibilidade de chegar ao segundo turno.
Outro favorito é Orlando Morando. Atrás dele, deputado estadual, correm ex-sindicalista e ex-ministro da previdência Social, Luiz Marinho, e o deputado estadual Alex Manente. Como Santo André, luta-se para levar a disputa ao segundo turno, inevitável com a candidatura de Alex Manente, cujo peso numa eventual segunda rodada será decisivo para um dos finalistas.
Em Mauá, Oswaldo Dias provavelmente terá muitas dificuldades no confronto com Francisco Chiquinho Carneiro do Zaíra, candidato que tem o apoio do prefeito Leonel Damo. Há também possibilidade de a disputa ir para segundo turno porque o ex-prefeito Diniz Lopes, que ocupou o Executivo durante 11 meses em 2005, por conta da decisão judicial, tem votos suficientes para prorrogar a decisão. Diniz é espécie de Alex Manente de Mauá.
Duas indefinições
As duas indefinições estão em Diadema — de votação sempre dividida entre petistas representados pelo deputado estadual Mário Reali e tucanos de José Augusto da Silva Ramos — e em Rio Grande da Serra, onde o favoritismo do prefeito Adler Kiko Teixeira desgastou-se na Justiça Eleitoral e, com isso, dá mais vida à candidatura do petista Carlos Augusto César Cafu. O ex-coordenador geral do Fórum da Cidadania do Grande ABC foi requisitado à última hora pelo PT por conta dos contratempos do titular do Executivo na Justiça Eleitoral e também porque trabalha com a idéia de que venceria a revanche, já que foi derrotado por Kiko Teixeira há quatro anos.
É pouco provável que uma grande reviravolta saia das urnas no primeiro turno. Esse mapeamento preliminar das possibilidades dos concorrentes aos respectivos paços municipais é resultado de série de fatos e conjecturas que certamente desagradam quem não está na liderança. Faz parte do jogo político a prática intermitente de boatarias, subjetividades e radicalismo de interpretação de fatos.
Por isso, é grande o risco de procurar antecipar a situação eleitoral no Grande ABC e de, com base nessa estrutura de informações, pavimentar teoria dos votos. Provavelmente não faltarão declarações contestatórias, quando não tentativas de desclassificação. Tudo faz parte do jogo eleitoral repleto de pontapés éticos e de agressões morais quando falta a luminosidade da razão.
A análise que se segue por Município procura destrinchar o complicado labirinto do voto. Ao contrario do que proclamam os artificiais, eleição municipal não é fato isolado da história cultural, econômica e política de cada território. Os candidatos sabem ou deveriam saber que se inserem num ambiente de escolhas sujeito à elasticidade de avaliação dos eleitores.
Nesse ponto, a contabilidade é riquíssima de quesitos que associam passado e presente. Principalmente num território onde falta de veículo eletrônico de massa como a televisão aberta só não é pior dos mundos para a popularização das eventuais propostas dos concorrentes porque sofre de estocada ainda maior à cidadania: as emissoras da vizinha Capital invadem as residências locais com programas eleitorais obrigatórios que despejam candidaturas e programas sem qualquer relação com a região.
O pano de fundo das eleições municipais deste ano é a disputa pela Presidência da República em 2010, que oporá os dois principais conglomerados partidários do País, o petismo e o tucanato com respectivos aliados. É inevitável, por isso, que as sete prefeituras do Grande ABC sejam extensão natural das escaramuças. Em realidade, o que se terá em outubro é o aquecimento para a corrida presidencial e também para o governo do Estado.
Por isso mesmo, por trás do PT e dos partidos aliados há sinais de reforço antecipado do concorrente que terá as bênçãos do presidente Lula da Silva para manter o Palácio do Planalto. E sob o guarda-chuva do PSDB há igualmente agremiações que pretendem reforçar a candidatura presidencial de José Serra, governador do Estado.
A análise está assentada num conjunto de 10 quesitos. Os insumos teóricos que se apresentam para dar robustez avaliativa ao quadro eleitoral formam uma metodologia inédita que mesmo os chamados cientistas sociais jamais observaram em iniciativas assemelhadas.
Siraque no segundo turno
O deputado estadual Vanderlei Siraque é prova materializada de que, como no futebol, em política também tudo é possível. Nenhum candidato do PT no Grande ABC passou por tantos contratempos para chegar à disputa como ele. Precisou de dois turnos das prévias eleitorais contra a então secretária municipal e vice-prefeita Ivete Garcia para receber a credencial do número 13 que constara da votação. E mesmo assim só chegou a vitória por apenas 22 votos de diferença — uma ninharia perto de mais de três mil filiados que compareceram às urnas. Mas a história de resistência e de dualismo de Vanderlei Siraque não terminou: entre os petistas dos sete municípios da região, é quem reúne maiores probabilidades de assumir o Paço Municipal em janeiro do ano que vem.
Friamente, sob a perspectiva dos próximos meses confrontada com o que as urnas em outubro de 2004 deixaram de herança, o favoritismo instala Vanderlei Siraque num eventual segundo turno. A dúvida é saber, com segundo turno, quem vai enfrentá-lo: se o veterano e três vezes prefeito Newton Brandão, se o jovem Raimundo Salles ou o medico Aidan Ravin, vereador com fama de sucesso de público na Vila Luzita e áreas vizinhas — um dos redutos mais numerosos de Santo André que pode garantir vaga no Legislativo municipal, mas insuficiente para cargo majoritário.
Vereador em três mandatos e deputado estadual em outros três, Vanderlei Siraque e o PT escolheram o sindicalista Cícero Martinha para completar a chapa majoritária. Martinha é presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André, filiado à Força Sindical. Há quem não tenha entendido o acordo com o petista. Certamente houve descuido de confundir árvore com floresta. O PT considerou que a suposta bola dividida na escolha do candidato a vice-prefeito permitiu a costura e a solidificação de uma rede de aliados inédita na história do partido em Santo André: são 10 agremiações e um exercito de 234 candidatos a vereador.
Essa é a primeira vantagem de Vanderlei Siraque em relação à eleição de João Avamileno em 2004. Naquela disputa o PT não amarrou alianças, ao contrario do tucano Newton Brandão, que levou o pleito para segundo turno e foi derrotado por 53,48% a 46,52% dos votos validos.
Há mais condimentos que ajudam a preparar o prato quente de favoritismo de Vanderlei Siraque em outubro próximo. As dificuldades de o PT atingir a classe média mais à direita do espectro político-ideológico serão provavelmente atenuadas, além de provável influencia do quadro macroeconômico. Entre os apoiadores da campanha estão alguns nomes conhecidíssimos de reuniões de Rotary, Lions e entidades de classe tradicionais, casos do empresário Duílio Pisaneschi, duas vezes deputado federal e uma vez derrotado à Prefeitura; de Ajan Marques de Oliveira, espécie de lugar-tenente de Newton Brandão nas ultimas eleições: e também de Wilson Ambrósio, ex-presidente da Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André).
Há mais nomes históricos de classe média que se antepunham ao PT em Santo André e que agora cerram fileira com Vanderlei Siraque. O motor de ignição dessa adesão, além de tantos outros menos evidentes, é que do outro lado da linha de disputa há o advogado Raimundo Salles, que em 2004 teria traído a chamada Frente Andreense, de apoio a Newton Brandão. Duílio Pisaneschi e Ajan Marques de Oliveira estavam naquele movimento.
Outro contexto que beneficia o candidato petista é o cenário político. Vive-se etapa da vida nacional em que o petista Lula da Silva consegue elevar os níveis de consumo e de qualidade de vida com perspectiva de segurança econômica poucas vezes imaginada. Denúncias de corrupção no governo federal já se diluíram no tempo. Contribuíram para isso casos semelhantes entre oposicionistas mais próximos de centro-direita.
Aos poucos a sociedade descobre que irregularidades administrativas e políticas não têm patente de determinada agremiação. A conjuntura econômica acaba falando mais alto na avaliação dos eleitores. Tanto que recente pesquisa da Vox Populi, publicada pelo jornal O Estado de São Paulo, atesta que Lula da Silva pode influenciar até 62% dos eleitores na definição do voto em outubro. Em 2004 a economia nacional estava num chove-não-molha de baixo crescimento.
Mais uma situação de confronto favorável a Vanderlei Siraque entre este ano eleitoral e 2004 é que Santo André deixou de ser bombardeada pela oposição local por causa do assassinato do prefeito Celso Daniel. Em outubro de 2004 vivia-se intensamente os rescaldos da morte do prefeito dois anos e meio antes. Sérgio Gomes da Silva, acusado de ser o mandante do crime por suposto envolvimento em propinas da cúpula do Paço Municipal, havia deixado a cadeia poucos meses antes das eleições.
Dava-se como certa a derrota de João Avamileno diante do quase monolítico avanço de forças de oposição local apoiadas pelo governador do Estado, Geraldo Alckmin. Às vésperas da disputa, telefones de todas as residências de Santo André dispararam mensagens do governador em favor de Newton Brandão. Jamais se vira campanha eletrônica de tamanha proporção.
Também não se pode esquecer a força da máquina situacionista na projeção de que Vanderlei Siraque é no mínimo finalista das eleições em Santo André. Não fosse a crise política e administrativa gerada pela opção de João Avamileno em apoiar Vanderlei Siraque nas prévias, e que culminou com a demissão de todo o secretariado adepto de Ivete Garcia, o prefeito eleito em 2004 teria cumprido seis anos de mandato — os dois primeiros como complemento de Celso Daniel — sem aborrecimentos. Mesmo assim, o Paço Municipal não se deixou levar pela correnteza. As relações com filiados à direita e à esquerda de Vanderlei Siraque foram reconstruídas. Só não houve mesmo acerto entre lideranças que eletrizaram a candidatura de Ivete Garcia.
Os recursos para investimentos são escassos em Santo André. Ficou no passado a fase áurea de tributos industriais em alta. Mesmo assim, repercutiu a inauguração do Viaduto Cassaquera no mês passado. Não há nada que incomode mais a população metropolitana do que o caos no trânsito. O Cassaquera deve facilitar a vida de muita gente porque desafoga artérias no Centro de Santo André. A Avenida dos Estados passou a ser alternativa saudável para motoristas em direção a Mauá. Outro ponto de visibilidade deve vir com o Hospital da Mulher, atenuando uma área sempre vulnerável como a saúde pública.
Cenários que esgotam a eleição de Santo André no primeiro turno passam por restrições. Com quatro candidatos, como em 2004, dificilmente haverá saída matemática para se dispensar o segundo turno. É esse o combustível que move os outros três candidatos. Todos disputam a vice-liderança. Raimundo Salles virou espécie de maratonista eleitoral. Percorre cada canto da cidade, sobe e salta de ônibus, distribui apertos de mão e contava recentemente com reforço da mídia eletrônica como apresentador de programa de entrevistas. Newton Brandão já não tem tanto fôlego aos 83 anos de idade e prefere áreas centrais de comercio, onde o movimento de consumidores da periferia é intenso. Aidan Ravin até outro dia fez encenações para arrumar um lugar de candidato a vice-prefeito na chapa de Vanderlei Siraque, nega interesse pela companhia de Newton Brandão e confirma estar preparado para concorrer com a médica e vereadora Dinah Zekcer como vice.
Tudo é possível, entretanto, até outubro. Há casamentos viáveis, como o de Aidan Ravin com o PT de Vanderlei Siraque. Até mesmo Newton Brandão estaria enviando mensagens a aliados de Vanderlei Siraque sobre a possibilidade de retirar o time de campo se pesquisas indicarem que não tem sustentação para chegar ao segundo turno. É claro que o veterano candidato refuta a alternativa.
O ambiente macroeconômico também deverá favorecer Vanderlei Siraque. Desde que Lula da Silva tomou posse, Santo André vive impulsão no quadro de empregos formais: foram 8.512 novos postos de trabalho entre janeiro de 2003 e abril deste ano no setor industrial. Se contabilizados os demais setores, são 43.384 empregos com carteira assinada. Raimundo Salles aposta em pesquisas que indicariam o interesse dos eleitores de Santo André em renovação, Newton Brandão espera que experiência faça a diferença. Aidan Ravin não tem exatamente um foco-síntese de horizonte eleitoral.
Vanderlei Siraque está com Salles e com Brandão: considera-se experiente o suficiente aos 48 anos de idade e com o mesmo espírito renovador que introduziu como presidente do Legislativo nos tempos em que Celso Daniel era prefeito. Naquele período esse professor de Direito Constitucional promoveu novidades no cotidiano geralmente monótono dos legisladores, inclusive com exposições culturais e audiências públicas de prestação de contas. Sem contar a formação de uma frente regional de vereadores.
Além do território
Mais do que qualquer outro Município, São Bernardo vai ser o centro de uma batalha que rompe a geografia local. Os tucanos que giram em torno da candidatura situacionista do deputado Orlando Morando são o braço do governador José Serra, de olho no Palácio do Planalto. Os petistas do ex-ministro do Trabalho e da Previdência Social Luiz Marinho simbolizam o governo Lula da Silva, com domicilio eleitoral e uma vida inteira de liderança sindical em São Bernardo.
Como em Santo André e Mauá, onde o segundo turno é mais que uma possibilidade clara, em São Bernardo o esticamento do calendário eleitoral parece indiscutível. Há um deputado estadual no meio do caminho dos dois principais concorrentes: o jovem Alex Manente não tem votos nem recursos financeiros para ganhar a disputa, mas resolveu fugir do assedio dos governistas e dos oposicionistas. Aparentemente, manterá a candidatura até que as urnas se fechem no primeiro turno. Para onde pender no segundo turno, possivelmente o vencedor estará decidido.
As operações para sensibilizar o eleitorado vão girar em torno de Morando e de Marinho. Morando é favorito para chegar à frente no primeiro turno e pode até matar o jogo nessa etapa se o eleitorado entender uma equação geracional e política que estaria justaposta: ele e Manente são igualmente jovens deputados que sempre contaram com suporte direto da administração William Dib. É verdade que Alex Manente não é tão bem relacionado com o grupo de William Dib quanto Orlando Morando, mas só chegou à Assembléia Legislativa porque contou principalmente com reflexos da ação do pai Otávio Manente, ex-vereador e ex-secretário municipal. Morando teve praticamente o dobro de votos de Manente em São Bernardo nas eleições proporcionais de 2006 – foram 70.131 contra 40 mil.
A expectativa do Paço Municipal é que os holofotes do show de votos que William Dib impôs ao candidato petista Vicentinho Paulo da Silva nas eleições de 2004 iluminem o caminho de Orlando Morando. Naquela disputa, Dib alcançou 76,37% dos votos válidos, feito extraordinário para municípios com mais de 500 mil habitantes. Não bastassem luzes próprias de deputado sempre ativo que traz no currículo muitos anos de atenção total ao trecho sul do Rodoanel que começa a chegar ao Grande ABC, Orlando Morando pode beneficiar-se da gestão de William Dib. Os adversários, evidentemente, procurarão colocar o prefeito no córner de críticas.
Os governistas de São Bernardo, entretanto, sabem que as facilidades das duas últimas eleições municipais não se repetirão este ano. Luiz Marinho vem com toda a carga de ex-ministro e espécie de protegido do presidente Lula da Silva. O chefe da Nação não esconde que ganhar a Prefeitura de São Bernardo é questão de honra para o PT. Pretende-se, com isso, inflar a candidatura presidencial do partido em 2010. Tanto Lula da Silva quer ganhar que convenceu o deputado federal e forrozeiro Frank Aguiar a formar chapa com Luiz Marinho.
A expectativa do PT é utilizar a imagem do cantor para reduzir restrições que Luiz Marinho enfrenta como ex-sindicalista. Há pesquisas qualitativas que indicam temor principalmente de donas de casa à candidatura do petista ao comando de São Bernardo. Frank Aguiar seria o mensageiro da confiança, mas os 10.442 votos que colecionou em São Bernardo em 2004 estão muito abaixo dos obtidos por Orlando Morando.
O problema todo com a escalação de Frank Aguiar é a repetição de histórica passagem de Mané Garrincha na Seleção Brasileira que conquistou a Copa do Mundo de 1958. Às vésperas do jogo com a União Soviética e depois de acompanhar atentamente instruções repassadas para a lousa de como superar os adversários, Garrincha perguntou se os russos concordavam com tudo aquilo.
Por isso se questiona até que ponto os apoiadores de Orlando Morando vão deixar de martelar o passado sindical de Luiz Marinho, atribuindo tanto a ele quanto a outros dirigentes a deserção de empresas e a quebra de empregos.
Quem tem dúvidas sobre os estilhaços que se prevêem na disputa pelo Paço de São Bernardo, basta recorrer ao discurso do prefeito William Dib durante a convenção que homologou Orlando Morando e Edinho Montemor: “Temos de afastar o medo que a República do Sindicato pode trazer para São Bernardo. Vamos ganhar a eleição no primeiro turno. E só nos darmos as mãos” – disse o chefe do Executivo.
No dia anterior, quando os petistas festejaram a definição da dupla Marinho-Frank Aguiar, o ex-ministro foi enfático: “Somos o quarto orçamento do Estado e não enxergamos que a cidade esteja se desenvolvendo o tanto que pode se desenvolver. Existe um descuido e um descaso muito grandes com a manutenção da cidade. Vamos fazer uma gestão participativa”.
A única vitória que o PT conquistou na emblemática São Bernardo petista e cutista já se perdeu nas brumas do passado. Foi em 1988, com o então advogado do Sindicato dos Metalúrgicos, Maurício Soares, reconduzido ao cargo em 1996 já com as vestes do PSDB. O mesmo Maurício Soares de William Dib e apoiadores escolheram no ano passado para manter o Paço Municipal longe do PT. Entretanto, o circo pegou fogo neste ano com a constatação de que o ex-petista estaria provocando mais rupturas que junções na formação do universo de aliados internos.
Maurício Soares teria dificuldades de compartilhar o poder. Orlando Morando, inicialmente escalado para ocupar a chapa como vice-prefeito, virou titular. Maurício Soares não resistiu ao convite de Luiz Marinho. Quem o tem acompanhado em peregrinações nas periferias de São Bernardo garante que não falta disposição física para o reforço petista. Mas nada parece chegar perto de Orlando Morando que, num único sábado, às vésperas da convenção do PSDB, participou de 18 atividades em diferentes pontos de São Bernardo.
Auricchio imbatível?
Nem o mais ousado futurólogo poderia projetar que o Paço Municipal de São Caetano seria disputado este ano por um representante da família Tortorello com as cores do PT. O professor universitário e ex-juiz de Direito Jayme Tortorello, irmão do triprefeito Luiz Tortorello, morto de câncer em dezembro de 2004, quer resgatar a força das urnas que ajudou a conduzir José Auricchio Júnior, do PTB, à Prefeitura.
A tarefa não é nada fácil. José Auricchio Júnior provavelmente é o maior dos favoritos entre os candidatos do Grande ABC. Tem o poder, uma ramificada coligação de partidos, obras seqüenciais inauguradas no mês passado e, para complementar, um PT quase destroçado num Município de centro-direita, devido ao envolvimento do então prefeiturável petista Hamilton Lacerda, colhido em flagrante delito num dos escândalos que antecederam as eleições de 2006 para o governo do Estado.
Então, Jayme Tortorello é carta fora do baralho? Não exatamente isso, mas quase isso. O irmão mais velho do lendário Luiz Tortorello e aliados que esperam a volta do tortorellismo em São Caetano nutrem de fato expectativa metafísica: que o ex-triprefeito volte às urnas no corpo do irmão de voz ranhurada por conta de delicada cirurgia.
A oposição em São Caetano trabalha com a proposta de sutil ou declaradamente transmitir aos eleitores o estigma de que José Auricchio Júnior não teria honrado o acordo que o tornou candidato de Luiz Tortorello e que, entre outras medidas, asseguraria aos correligionários mais próximos do então prefeito os respectivos postos estratégicos no Paço Municipal.
Luiz Tortorello morreu no final de dezembro de 2004, antes da posse de José Auricchio e depois do processo eleitoral que consagrou o sucessor, então secretário de Saúde. Quem acompanhou os primeiros dias do novo prefeito não teve dúvidas de que o rompimento seria inexorável. E foi o que se deu. José Auricchio construiu identidade própria nos quase quatro anos de administração de um Município que não cansa de ganhar títulos de qualidade de vida e, mais recentemente, de saúde administrativo-financeira.
Para quem acredita na possibilidade de traição de José Auricchio, os situacionistas têm o que consideram antídoto perfeito: sem a quebra do ciclo de Luiz Tortorello, a administração do Paço Municipal seguiria roteiro de sinuosidades que estariam confirmadas com as denúncias do caso Cressoni. Trata-se de suposto esquema de superfaturamento de obras públicas, principalmente durante a gestão de Luiz Tortorello.
Os explosivos depoimentos do empresário Antonio José Cressoni provocaram o estardalhaço de sempre dos promotores criminais do Gaerco (Grupo de Atuação Especial Regional para Prevenção e Repressão ao Crime Organizado) de Santo André, inclusive com direito a rede nacional e estadual de televisão. Nos últimos tempos o assunto ganhou compartilhamento mais civilizado em forma de respeito aos tramites legais, mas isso não significa que não tenha influência nas eleições em São Caetano, com sobras para o prefeito atual. O problema é retirar a carga de paradoxo, já que – a dar credibilidade às informações – Luiz Tortorello estaria no centro das operações como prefeito municipal e isso respingaria mais sobre a candidatura do PT que lhe empresta a imagem.
Certo mesmo é que há uma barreira imensa para Jayme Tortorello sensibilidade o eleitorado eventualmente enviuvado de Luiz Tortorello. José Auricchio não tem a mesma retumbância ao antecessor, não frequenta estabelecimentos comerciais com assiduidade, não toca viola, não canta musicas sertanejas e muito menos é dado a rompantes.
O estilo Auricchio é outro: comedido, discreto, cauteloso, paciente e menos centralizador. Deixou de lado as obras monumentais que fizeram a administração Luiz Tortorello focos de tensão sobre critérios de prioridades e apostou em programas sociais. Como o Profamília, espécie de Bolsa Família do governo Lula da Silva dirigido a um público que a maioria acreditava não existir na sempre endeusada e rica São Caetano: as famílias que vivem em condições de pobreza, mesmo que a pobreza de São Caetano não seja a que se conhece no Brasil.
Antes que o prazo legal se esgotasse, José Auricchio Júnior fez sucessivas inaugurações, como a revitalização e ampliação do Centro de Especialidades Médicas Samuel Klein e do Laboratório de Análises Clínicas Dib Metran Filho, a reforma da Associação Antialcoólica, a reestruturação da Escola Municipal de Ensino Fundamental Sylvio Romero e o que é visto como grande marco em sua gestão: o terceiro hospital público municipal, o Hospital de Emergências, erguido em apenas um ano e com o dobro da capacidade do antigo pronto-socorro.
Os recursos da Prefeitura se ampliaram nos últimos anos. São Caetano passou do 18° para o 12° lugar no ranking de distribuição de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). O salto é tão espetacular quanto os números registrados pela Secretaria da Fazenda do Estado: de 0,9513% em 2004, último ano do governo Tortorello, para 1,3730% em 2006. Os dados do ano passado ainda não foram divulgados pela Secretaria da Fazenda, mas devem ser positivos.
São Caetano cresce em arrecadação com base no tripé formado por gigantes como Casas Bahia, General Motors e terminal da Petrobrás. Veículos, créditos para aquisição de eletroeletrônicos e consumo de combustíveis vivem momentos de encantamento. Sem contar que José Auricchio Júnior introduziu medidas para revisar informações tributárias de empresas nem sempre eficientes no apontamento de dados que geram ICMS.
Há quem acredite piamente que Jayme Tortorello será capaz de surpreender e superar com folga os 36% de votos válidos que Hamilton Lacerda alcançou em 2004. Foram 14 pontos percentuais (46,44% contra 32,17%) a favor de José Auricchio. O momento seria apropriado ao PT de Lula da Silva com alto prestígio.
Mas não faltam observadores de olhares opostos: se não tivesse se metido com a enrascada do suposto dossiê contra tucanos, Hamilton Lacerda seria candidato muito mais competitivo do que Jayme Tortorello tanto por causa da expressão petista que historicamente o qualificava como porque seria embalado pelo governo Lula. Com o que muitos consideram abastardamento do petismo em São Caetano e, também, com o perfil conservador de um eleitorado que deu vitória a Serra contra Lula nas últimas eleições presidenciais, o triunfo de José Auricchio Júnior seria apenas formalidade.
Divisão histórica
Dividida praticamente ao meio entre o ex-petista e deputado estadual José Augusto da Silva Ramos e o petista e também deputado estadual Mário Reali, Diadema provavelmente viverá mais uma eleição dramática. A diferença na última disputa, em 2004, resume a opera: o prefeito José de Filippi Júnior, que agora apóia Mário Reali, ganhou no segundo turno por apenas 554 votos sobre José Augusto. A coligação com o ex-prefeito Gilson Menezes, que concorreu no primeiro turno, ajudou a fazer a diferença há quatro anos porque naquela etapa José Augusto chegou à frente com 9.986 votos.
A probabilidade de Diadema conhecer o sucessor de Filippi em primeiro turno aumentou com a composição da chapa majoritária com Gilson Menezes (PSC). Mário Reali e José Augusto detêm amplo arco de aliados. O pano de fundo da eleição é o peso do governo Lula da Silva e do governador José Serra. Nesse ponto, a disputa paralela só perde para São Bernardo.
Diadema é espécie de reduto petista tradicional. A mudança partidária de dois dos três chefes de Executivo que ocuparam o cargo a partir de 1982, quando Gilson Menezes se consagrou primeiro prefeito do partido no País, não altera a genética socialista da população mais politizada do Grande ABC. Gilson Menezes e José Augusto da Silva Ramos deixaram o PT mas seguem como extensão do partido — o primeiro mais uma vez como aliado estratégico, depois de dois mandatos como prefeito, e o segundo como dissidência, após ocupar o cargo entre 1989 e 1992.
Quem acompanhou as últimas apresentações públicas do deputado estadual José Augusto da Silva Ramos ficou surpreso com o tom menos beligerante e agressivo à administração de José de Filippi Júnior. A recomendação de marqueteiros estaria sendo seguida à risca: seria suicídio descarregar caminhões de melancia critica no governo municipal de plantão tão próximo do presidente Lula da Silva. A relação entre Filippi e Lula se consolidou nas eleições presidenciais. O prefeito de Diadema afastou-se do cargo para ser tesoureiro da campanha. Um cargo belicoso por conta dos estragos então recentes do mensalão. O PT passou a ser observado com lupa pelos adversários.
Fossem parametrizados com Lula da Silva e José Serra, autoridades eleitorais que vão permear as eleições em Diadema, Mário Reali e José Augusto apresentariam papéis trocados. O médico nordestino José Augusto é menos rebuscado e mais impetuoso, como Lula da Silva. Mário Reali é mais discreto e cauteloso, como José Serra. Quem acreditar que o perfil pode favorecer José Augusto num Município onde a maioria da população é formada de migrantes do Norte, Nordeste e de Minas Gerais, desconhece que o engenheiro José de Filippi Júnior também está mais para Serra do que para Lula quando se constrói paralelo de estilo.
A indefinição eleitoral em Diadema se dá mais por conta da história do que por fatos recentes, que favoreceriam Mário Reali. Afinal, o apoio do prefeito José de Filippi e a coalizão com o partido do ex-prefeito Gilson Menezes se somam à sistemática redução da criminalidade num Município que virou o século passado sob o estigma da barbárie. Além disso, o chamado Quarteirão da Saúde inaugurado recentemente reforça um dos calcanhares-de-aquiles de qualquer administração pública no País.
Há outros pontos que favoreceriam o favoritismo de Mário Reali não fossem as entranhas políticas de Diadema. Caso do elevado número de empregos formais registrados nos últimos anos, 28.370, o maior no Grande ABC. Nesse ponto, além da macroeconomia e da morfologia local dos empreendedores, a maioria de pequeno e médio porte que gira em torno do setor automotivo, ações locais como o trabalho incansável do vice-prefeito Joel Fonseca ajudam a fazer a diferença. Joel Fonseca é um desbravador de fronteiras na relação com empreendedores de pequeno e médio porte. Ele é o descobridor e maior disseminador do Pólo de Cosméticos, atividade econômica que ocupou os espaços que Diadema sufocou na área de criminalidade.
Além disso, deve ser somada ao acervo de conquistas de Diadema a instalação da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Mesmo com baixas matrículas de jovens moradores locais, por conta de desequilíbrio socioeconômico, a Unifesp é catalogada como peça de uma equação que procura ajustar a vocação social histórica de uma Prefeitura de centro-esquerda e o desenvolvimento econômico. É uma forma de Diadema exorcizar o fantasma do socialismo estatista que já não sobrevive na maioria do globo terrestre e que por isso mesmo cedeu espaço ao socialismo de mercado.
Justiça nas urnas?
O batuque ensurdecedor que o PT do ex-prefeito Oswaldo Dias pretende sustentar na disputa à Prefeitura de Mauá tem recado evidente: espera despertar ou recrudescer o sentimento de reparação de justiça desdobrado das eleições de 2004, quando o candidato Márcio Chaves obteve mais votos no primeiro turno, era o favorito para o segundo turno, mas sofreu revés na justiça Eleitoral ao ser cassado. A exposição pública chamada Túnel do Tempo, que contrariava a legislação eleitoral, cavou o buraco de onde Márcio Chaves não conseguiu sair. O presidente da Câmara de Vereadores recém-composta, Diniz Lopes, virou prefeito por 11 meses. Leonel Damo, o candidato a prefeito mais votado depois de Márcio Chaves no primeiro e único turno, assumiu o cargo depois de a sentença de cassação do petista confirmar-se de vez no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
A dificuldade que os situacionistas têm para desclassificar a pregação dos petistas é que a juíza eleitoral que decidiu em primeira instância a sorte das eleições de 2004 fora das urnas está afastada das funções. Ida Inês Del Cid embrenhou-se numa empreitada confusa de corrupção tempos depois de Leonel Damo assumir a Prefeitura.
Oswaldo Dias ganhou recentemente as prévias do PT contra o mesmo Márcio Chaves agora desfraldado como estandarte de justiça. A composição de chapa pura com o vereador Paulo Eugênio Pereira e o resultado das prévias poderiam sugerir dificuldades de ajustes na campanha de Oswaldo Dias. Entretanto, os pontos de dissensão já foram suturados. Tanto que a convenção que oficializou Oswaldo Dias foi um show de unidade, inclusive com participação de estrelas do PT como o senador Aloizio Mercadante. O outro problema não foi resolvido: a rede de aliados é estreita demais.
O favoritismo preliminar de Oswaldo Dias desafia a máquina de governo que o prefeito Leonel Damo colocou à disposição do candidato situacionista Francisco Chiquinho Carneiro do Zaíra e um exército de 17 partidos coligados. Em situação normal, de um ex-prefeito que se lançasse à tentativa de retomar o Paço Municipal, a tarefa de Oswaldo Dias seria gigantesca. Entretanto, ao apelar para o sentimentalismo dos eleitores que, segundo o próprio candidato, foram roubados pela Justiça Eleitoral, o melhor é não duvidar.
A missão que cabe a Chiquinho do Zaíra é no mínimo indigesta. Não há nenhum concorrente de Paço Municipal no Grande ABC que se veja tão desconfortável quanto ele. Os demais, sejam candidatos à reeleição ou ao primeiro mandato, gozam da condição de favoritos ou no mínimo, como é o caso de Mário Reali em Diadema, de igualdade com o opositor.
O mesmo Diniz Lopes que somou votos suficientes em 2004 para levar a disputa àquele que seria o segundo turno deverá repetir o desempenho este ano. E nesse ponto a manifestação de apoio que venha a oferecer a um dos candidatos mais cotados poderá ter efeito semelhante ao de Alex Manente em São Bernardo: decidiria a disputa. Tudo indica que depois do primeiro turno e antes que a correria em busca do segundo turno se inicie, Diniz Lopes poderia apoiar Oswaldo Dias. Dificuldades para estabelecer coligação com o bloco governista estão na raiz da independência inicial da candidatura de Diniz Lopes é tucano e pode acertar-se politicamente com Chiquinho do Zaíra, aliado de Leonel Damo que, por sua vez, é próximo do governador José Serra.
Diniz Lopes contará com reforço do democrata Manoel Lopes que, depois de longo rompimento político, voltou a se aproximar do irmão. “Agora, nossa união política é para sempre. Não haverá mais racha na família Lopes” – garantiu Diniz em encontro familiar intermediado pela mãe dois dias depois da morte do pai Zildir Lopes.
O empenho com que Chiquinho do Zaíra buscou aliados revela que, independentemente do grau de eficiência de uma administração, há massa crítica sempre fértil para seduzir parceiros de jornada eleitoral. A força gravitacional de quem tem a máquina do governo é invariavelmente forte. Tanto que o ex-deputado federal Wagner Rubinelli, dissidente do PT, flertou com a candidatura de Oswaldo Dias mas aderiu a Chiquinho do Zaíra. Rubinelli tem potencial discreto nas pesquisas eleitorais, mas pode ajudar a fazer a diferença numa disputa que muitos esperam apertada, apesar de números preliminares indicarem Oswaldo Dias com margem bastante folgada.
A chegada do trecho sul do Rodoanel a Mauá é capitalizada pela administração Leonel Damo, mas o petista Oswaldo Dias não perde a oportunidade para recordar os tempos em que, como prefeito, esteve pessoalmente no Palácio dos Bandeirantes com Mário Covas. Foi Oswaldo Dias, naquele encontro com o chefe do governo paulista, quem sugeriu a ligação da maltratada Avenida Papa João XXIII e a Via Anchieta, em São Bernardo. Avenida que passa ao lado do Paço Municipal e serve o Pólo Industrial do Sertãozinho tornou-se braço do trecho sul do Rodoanel e interligará a Estrada Jacu-Pêssego em direção ao Aeroporto de Cumbica numa espécie de Rodoanelzinho.
Seja quem for o novo prefeito de Mauá, certo é que passará a contar com benefícios tributários e de geração de empregos induzidos pelo trecho suplementar do Rodoanel, e também com aumento da capacidade de produção do Pólo Petroquímico, principalmente da empresa-mãe Petroquímica União. Dois terços da arrecadação do ICMS de Mauá derivam do Pólo Petroquímico. O aporte de recursos que vão aumentar em 40% a produção da PQU, com repercussão em empresas de segunda e terceira geração do setor de plástico, injetará muito dinheiro nos cofres de uma Prefeitura que sofre com dívida três vezes maior que um ano de receitas orçamentárias — um recorde brasileiro.
Reeleição certa
Os opositores do prefeito Clóvis Volpi vão ter muitas dificuldades de apeá-lo do cargo. A reeleição desse professor dono de oratória que entusiasma os ouvintes é praticamente certa. Até poderia ser anunciada com antecedência, não fosse a política atividade sujeita a chuvas de armadilhas e trovoadas de maledicência. A união de Valdírio Prisco e Luiz Carlos Grecco, que já detiveram cinco mandatos como prefeitos, não deixa dúvidas sobre o caráter emergencial de mobilização de quem se opõe a Clóvis Volpi. O PT de Mário Nunes nem poderia ser chamado de terceira força eleitoral.
A possibilidade de o PT retornar o Paço Municipal ocupado durante oito anos por uma Maria Inês Soares sempre conflitiva é como acreditar que Ciro Gomes se torne tão diplomático quanto Geraldo Alckmin. O máximo que o PT pode provocar em Ribeirão Pires é uma reacomodação de votos das duas principais forças.
A esperança do ex-triprefeito Valdírio Prisco chegar à vitória em Ribeirão Pires está solidificada no passado, por isso virou mesmo esperança. O veterano político se juntou a Luiz Carlos Grecco na expectativa de que a política seja expressão matemática, contrariando especialistas que não arredam pé do conceito de que é basicamente atividade humanística. Sugeriu Valdírio Prisco que os 2.759 votos que o mantiveram atrás de Clóvis Volpi nas eleições de 2004 serão recompostos agora em 2008 com certa folga. Luiz Carlos Grecco lhe garantiria os 4.549 votos que naquela disputa foram depositados nas urnas aos agora aliados Cézar de Carvalho e Anderson Grecco.
“Se estivéssemos unidos, venceríamos. Percebi isso no fim da campanha, quando abandonei o projeto do meu filho para subir no palanque do Prisco” – disse Luiz Carlos Grecco ao Diário do Grande ABC na noite em que anunciou a composição com Valdírio Prisco.
É muito provável que a contabilidade do ex-prefeito Luiz Carlos Grecco seja propositadamente enviesada, pronta para confundir o eleitorado. Nada anormal no mundo político. Afinal, a dinâmica do voto muda muito em quatro anos, sobretudo num Município do porte de Ribeirão Pires de 110 mil habitantes. E principalmente quando se tem do outro lado da disputa um Clóvis Volpi eletrizante em ações públicas. Mais que isso: um empreendedor capaz de retirar Ribeirão Pires do anonimato do entretenimento ao, sempre assessorado pelo ex-secretário municipal Marcelo Menato, instalar em poucos anos o festival de Chocolate ao calendário de eventos mais interessantes do Grande ABC.
A experiência como deputado estadual e deputado federal confere a Clóvis Volpi manejo na articulação que ajuda a explicar a densidade de coligações e a escolha do companheiro de chapa, o presidente da Câmara de Vereadores, Edinaldo Dedé de Menezes. A arremetida de Prisco e Grecco desaguou em outra mensagem, além da clara tentativa oposicionista de reduzir a divisão num Município em que tudo é decidido em turno único: Clóvis Volpi e sua equipe já perceberam que, por mais que o jogo pareça definido, não é aconselhável dar espaço aos adversários.
Ainda faltam números do Valor Adicionado de Ribeirão Pires no ano passado, mas há indicadores de reação da economia local, duramente castigada pelo governo federal nos anos 1990 e também pela imobilidade da prefeita Maria Inês Soares. Se no período em que o PT comandou Ribeirão Pires as perdas de produção de riqueza foram estratosféricas e as mais elevadas entre os 75 municípios analisados pelo IEME (Instituto de Estudos Metropolitanos), nos dois primeiros anos contabilizados oficialmente na gestão de Clóvis houve reação.
Tanto que Ribeirão Pires melhorou de rendimento no Índice de Participação dos Municípios da Secretaria da Fazenda do Estado. Em 2004, último ano de Maria Inês Soares, o Município registrava 0,1519% contra 0,1592% de 2006. A distância parece irrisória, mas, quando milhões de reais estão em jogo como cota-parte de distribuição do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), a avaliação muda. No ano imediatamente anterior à posse de Maria Inês Soares, em 1996, o Índice de Participação registrava 0,2600%. Comparando os indicadores, houve queda de 41,58% nos oito anos da administração petista. São milhões de reais a menos nos cofres públicos. Valor Adicionado é indexador de repasse do ICMS, ainda a principal fonte de recursos da maioria dos municípios.
É mais que provável que, quando forem liberados os números do ano passado, Ribeirão Pires registre mais recuperação econômica em forma de Valor Adicionado. A criação de 2.225 empregos com carteira assinada no setor industrial entre janeiro de 2003 e abril de 2008 inverteu o processo de esvaziamento do setor mais importante da economia. No total de todos os setores, Ribeirão Pires criou 4.605 empregos formais no mesmo período, proporcionalmente muito próxima da vizinha Mauá de 11.932 postos de trabalho. O ex-secretário Marcelo Menato é enfático ao afirmar que Ribeirão Pires já não tem mais galpões industriais desocupados. Bem diferente de um passado recente de evasão continua de empreendimentos. A relação interativa com empresários para a retirada de amarras burocráticas também ajuda a explicar a mudança.
Se o Festival de Chocolate deu visibilidade a Ribeirão Pires, além de inserir principalmente pequenos empreendedores no mundo dos negócios, o trecho leste do Rodoanel provavelmente provocará os mesmos efeitos que Mauá usufruiu com o trecho sul. Ou seja: a disputa por áreas que melhorem a logística de empresas que querem encurtar distâncias entre o Grande ABC e o outro lado da Região Metropolitana de São Paulo, principalmente em direção à São Paulo Expandida formada pelas regiões de Campinas, Sorocaba e São José dos Campos.
A expectativa de que a obra se inicie em 2010 torna a disputa eleitoral ainda mais acirrada. Os 12 quilômetros do trecho leste do Rodoanel que vão tangenciar o território de Ribeirão Pires e que exigirão pequeno lote de desapropriações não colocarão em risco a política de preservação do meio ambiente. A Dersa anuncia que não haverá alças de acesso. A medida foi anunciada com entusiasmo por Clóvis Volpi. O prefeito acredita que, mesmo sem acessibilidade direta, Ribeirão Pires será favorecida pelos efeitos da obra que, quando completa, terá 170 quilômetros de extensão. Estudos já começam a ser preparados para que a ocupação econômica e habitacional ao longo do trecho leste ofereça contrapartidas de riqueza em vez de problemas.
Diferença a acertar
O petista Carlos Augusto César Cafu e o tucano Adler Kiko Teixeira têm uma diferença a acertar ou a acentuar em 5 de outubro: eles se defrontaram quatro anos atrás para comandar a Prefeitura de Rio Grande da Serra e quem levou vantagem foi o membro de um clã que há muitos anos influencia a vida econômica e social dessa que é a menos e mais sofrida cidade do Grande ABC. Kiko Teixeira derrotou Cafu por 15 pontos percentuais (48,34% contra 33,19%). Outros dois candidatos disputaram as eleições de 2004 e somaram 17% dos votos. Agora, Kiko reúne coligação monstro de 20 partidos e Cafu está na pista com apenas um partido aliado.
Não fosse a trapalhada jurídica que o mantém na mira da Justiça Eleitoral, Kiko Teixeira poderia confirmar pesquisas informais que o instalam na liderança dos votos de ter de recorrer a liminar para assegurar candidatura, Kiko Teixeira tem vulnerabilidades que Carlos Cafu vai procurar explorar.
A principal é que Kiko Teixeira foi um medíocre presidente do Clube dos Prefeitos do Grande ABC, ano passado. Nem todo apoio de aliados políticos da região, como o prefeito William Dib, de São Bernardo, impediu que o provincianismo e o nanismo administrativo emergissem. Sem contar que, em comportamento típico de quem não sabe distinguir ação regional de decisões municipais, Kiko Teixeira confundiu as bolas, indispôs-se principalmente com o prefeito de Santo André, João Avamileno, por causa da localização de uma unidade da Febem em Santo André, e revelou a arrogância típica de quem se deslumbra com cargos.
O perfil de Carlos Augusto Cafu é diferente. Como coordenador-geral do Fórum da Cidadania do Grande ABC nos tempos em que a entidade de fato influenciava deliberações públicas, esse ex-sindicalista e membro da Executiva estadual do PT sempre buscou conciliar interesses e propostas. Primeiro e único então sindicalista a chegar ao topo daquela entidade, Cafu colheu frutos de intenso trabalho de integração de representações da sociedade civil, organismos públicos e instituições privadas.
O que talvez faça a diferença de votos em Rio Grande da Serra é a credibilidade e a materialidade de informações. Carlos Augusto Cafu prometeu mostrar aos eleitores que os projetos de intervenção de Kiko Teixeira na cidade são patentes do PT. Mais que isso: o adversário teria apenas mudado a logomarca. Cafu vai dizer também que nos últimos três anos o orçamento de Rio Grande da Serra foi beneficiado pelo governo federal petista de Lula da Silva. Mais da metade teria vindo de Brasília: “Se veio metade de Brasília para uma cidade dirigida por tucano, imagine então o que virá com o PT aqui” – desafia Cafu. Kiko Teixeira reage, sugere que há mandraquismo nos números apresentados e desclassifica benesses do governo federal ao contrapor argumentos de que, de fato, tem dificuldades para estabelecer convênios por conta de diferenças partidárias.
Mesmo as coligações alardeadas por Kiko Teixeira como prova de pujança eleitoral Cafu contesta. Assegura que entre os aliados de Kiko Teixeira espalharam-se funcionários públicos que, orientados pelo prefeito, ergueram partidos de pés de barro porque de fato não passariam de comissões provisórias sem ramificações sociais.
Talvez o que mais irrite o prefeito Kiko Teixeira nos próximos tempos seja o incomodo de segurar-se numa liminar que anula temporariamente a rejeição das contas nos tempos em que era presidente da Câmara de Vereadores. O TCE (Tribunal de Contas do Estado) rejeitou as contas de 2003 e 2004 porque Kiko Teixeira concedeu aumento salarial aos vereadores acima dos limites orçamentários. Carlos Augusto Cafu não esconde que vai cutucar o adversário derrotado duas vezes antes de obter sucesso provisório no Tribunal de Justiça de São Paulo.