O ambiente de impunidade ética das eleições é pedagogicamente péssimo para a prática democrática mais responsável. Por essas e outras abomino o jornalismo reprodutor de ofensas entre candidatos. Deve haver limites para garantir a audiência impressa, em forma de tiragem.
Deveria haver mais bom senso dos editores, separando tranqueiras e contribuições de fato propositivas.
Duvido que os leitores menos compromissados com os candidatos, que os leitores sem linha direta com os candidatos, que os leitores sem vínculos diretos com os candidatos, que os leitores em busca de equilíbrio informativo, dêem corda para as ofensas. Devem abominá-las.
Por dever de ofício leio o noticiário de vários jornais sobre a carruagem de fogo da campanha eleitoral. Há exageros que mancham a reputação dos próprios jornais. Há situações agressivamente vexatórias que jamais poderiam passar pelo crivo de um editor minimamente preocupado com a responsabilidade social que a atividade traz implícita.
Tão enfaticamente agressivos como os candidatos que puxam a faca da falta de competência verbal e derramam imprevidência com planos faraônicos são os leitores que se identificam com a enxurrada de baboseiras porque preferem mesmo fechar os olhos da conveniência. Nada mais lamentável porque esses mesmos leitores se tornam acidamente críticos contra um ou outro especialista em alguma coisa importante para o futuro do Grande ABC que se manifesta fora do período eleitoral sem a doçura da mentira oportunista. Ou seja: prefere-se principalmente o mutismo diante do jogo de cena deslavado do período eleitoral à advertência fundamentada e por isso muitas vezes barulhenta de outros períodos.
A sociedade mais contemplativa nos conduz indutivamente ao politicamente correto, embora em períodos eleitorais aceite todas as safadezas.
Essa contradição sugere completa franquia à matança de honra durante a guerra do período eleitoral e, contrariamente, se manifesta de forma implacável contra quem ousa, em período de paz, cutucar a realidade com a vara curta de críticas consistentes.
Desta forma, a expressão “politicamente correto” tem sentidos opostos bem identificados. O do vale-tudo das eleições e o do engole-tudo fora das eleições.