Candidatos ao segundo turno nas eleições no Grande ABC dizem sempre as mesmas coisas.
Quem consegue arregimentar apoiadores importantes entre candidatos que não chegaram entre os dois primeiros garante que a coalizão montada obedece a princípios rígidos de programas em comum, sem troca de cargo, sem vantagens espúrias.
Quem perdeu a corrida pelo reforço considerado indispensável para tornar a disputa mais vantajosa em relação ao turno inicial denuncia a plenos pulmões que a moeda de troca é a abominável negociação de cargos, sem contar outras vantagens que não explicitam porque pega mal ou porque podem ser penalizados por eventuais ações indenizatórias.
Desde que política é política e desde que o Poder Público está em jogo, essa ladainha é repetida à exaustão. Os jornais não cansam de abrir manchetes e de construir reportagens que denunciam as negociações, ou, conforme o interesse editorial, simplesmente ignoram as tratativas de bastidores, sonegando a elasticidade do festival de acertos e desacertos que, todos sabem ou deveriam saber, é multipartidária. Há alguns crentes menos assanhados publicamente apenas porque as forças de negociação são limitadas na exata proporção da esqualidez dos votos. Quando os limites se alargam, a situação também se altera.
Não acreditem em isenção informativa como regra geral da mídia porque o que vale para um candidato bem-visto é impiedosamente denunciado se o candidato provocar urticária ao mesmo veículo de comunicação.
São dois pesos e duas medidas.
Aliás, como no caso do assassinato do prefeito Celso Daniel, quando a mídia se refestelou na ordinária, parcialíssima e seletiva reprodução de grampos telefônicos, irresponsavelmente editados, e o que se viu mais recentemente, quando autoridades da República passaram por situação semelhante. O mundo da bisbilhotice policial e da extravagância ética do jornalismo antes glorificado acabou ruindo.
Os jornais que insistem em apontar o rifle da ética em direção a candidatos que reforçam batalhões para concorrer ao segundo turno por meios supostamente oportunísticos são os mesmos jornais que se fecham em copas diante de situações análogas protagonizadas por aliados informais. Cometem, com isso, deslizes que só não ganham a forma de haraquiris porque o senso analítico dos leitores se rivaliza com o desinteresse da Igreja Católica na flexibilização do aborto.