Política

O que faz diferença na escolha?

DANIEL LIMA - 21/10/2008

Medir a influência do presidente Lula da Silva ou mesmo do governador José Serra no processo eleitoral municipal é equação complicada, embora não faltem estudos que apontem na atual situação o prevalecimento do presidente da República. Certo mesmo é que há um conjunto de fatores que ajudam a construir o voto que os candidatos recebem nas urnas. LivreMercado publicou na edição de julho o que chamou de Prova dos Nove.


Em síntese, o que se levou aos leitores foi um inédito mosaico de enunciados que só aparentemente complicavam o diagnóstico do voto porque, de fato, o que ganhou forma e conteúdo está intestinamente no consciente e no subconsciente dos eleitores por força da atuação dos candidatos sem que, na maioria das vezes, eles, os eleitores, se dêem conta disso.


Os leitores podem identificar entre os nove pontos cardeais de construção do voto que o quesito macroambiente político consta da relação. Por mais que a Imprensa em geral tenha se dedicado a conjecturas do potencial de transferência de votos do presidente Lula da Silva — e quase nada sobre a influência do governador José Serra –, nenhum veículo de comunicação nem qualquer cientista político aprofundou análise e resvalou no trabalho de LivreMercado.


Na maioria dos casos, principalmente quando Lula da Silva é o núcleo de avaliações, os debates acomodam-se no reducionismo de um Fla-Flu de influir ou não influir no resultado final do voto. Nada, absolutamente nada, sobre outras variáveis estanques ou sistemicamente relacionadas.


LivreMercado reproduz nesta Edição Especial o texto original da edição de julho por entender que, desta forma, contribui com a informação do eleitorado envolvido no segundo turno em Santo André, São Bernardo e Mauá.


Da mesma forma que a hipertensão é manifestação biológica cuja origem não pode ser simplificada e muito menos receber terapia descomprometida com avaliação do quadro geral de saúde do paciente, a decisão de escolher um determinado candidato segue ritual de regras objetivas e subjetivas que igualmente não podem passar por prescrição de botequim. Pelo menos entre os cidadãos que se embrenham no direito de votar comprometidos com as próximas gerações.
Por isso, a Prova dos Nove reproduzida na sequência tornou-se o mapa da mina na tentativa de procurar desvendar os motivos que levam o eleitorado a definir escolhas.




  • Individualidade – A imagem do candidato tem muito peso na definição do voto, mas é resultado de associação de fatores. Acreditar que basta ser carismático, popular e atencioso é desconhecer a alma do eleitor. Político que se preza e que tenha de fato ambição é portador dessas características. Uma ou outra deficiência é questão subjetiva. Carisma, popularidade e generosidade no trato pessoal não são ramos de ciências exatas. São qualificações que dependem dos olhos, da sensibilidade e das expectativas de cada eleitor. A diversidade de opinião é proporcional à escolha de uma roupa, de um time de futebol, de um gênero de música. É por essas e outras que os marqueteiros estudam a fundo a alma dos eleitores e plasmam os candidatos conforme as células do receituário padrão. Por isso os políticos são aparentemente tão iguais para o senso comum.


  • Máquina pública – Quem detém o poder municipal e procura mantê-lo, ou estendê-lo ao sucessor escolhido, goza de situação especial. A força da administração pública em forma de orçamento para obras, serviços prestados, infra-estrutura social à comunidade e relacionamento com fornecedores sempre prontos a engrossar as doações eleitorais não é algo que se dispense. Também as máquinas públicas do Estado e da União podem estar a postos para contribuir. Mas nada é mais visível e invisível que a máquina local.


  • Coligações partidárias – Reunir em torno do candidato o maior número possível de partidos aprofunda as raízes da campanha. Numa eleição municipal, os candidatos a vereador formam valioso batalhão. Eles se esparramam pelo território, abrem portas da comunidade, facilitam a assimilação da candidatura majoritária. Repassam a terceiros a fidelidade de relacionamentos consolidados ao longo de temporadas. Eles quebram o gelo e engordam as urnas.


  • Macroambiente político – Numa situação em que tanto o governo José Serra quanto o presidente da República Lula da Silva gozam de muito prestígio no Grande ABC, torna-se difícil transferir vantagem de um ou de outro às candidaturas locais mais identificadas com forças partidárias, no caso tucanos e petistas. Se é verdade que as ações do governo federal são mais explícitas para o eleitor comum, não é menos real que o governo do Estado conta com prestígio porque sofre menos desgaste por conta da exposição na mídia da administração federal. Houvesse contraste entre Lula da Silva e José Serra, a situação seria diferente – o peso do macroambiente político, portanto, poderia ser mais diferenciador.


  • Microambiente político – A percepção do eleitorado sobre a administração municipal é mais ou menos sustentável como força catequizadora ou exterminadora de votos. Afinal, vive-se no Município e os acontecimentos registrados principalmente nos últimos tempos, quando não às barbas das eleições, atingem em cheio o nível de expectativa. É algo como a atuação de uma equipe de futebol, em que se observa atentamente o mérito do resultado.


  • Contexto político – Não se coloca a lupa crítica apenas no candidato situacionista. A atenção está voltada também aos demais concorrentes locais. Estabelece-se juízo de valor mais rígido sobre todos eles. Pesa nesse ponto tanto o macroambiente político, o microambiente político como também as especificidades dos candidatos envolvidos na disputa. É algo como uma equipe de futebol analisada simplesmente pelo placar final.


  • Ambiente socioeconômico – Indicadores macroeconômicos influenciam o humor do eleitorado porque ganham ressonância municipal. O Grande ABC é dependente demais do desempenho industrial, mas não é seguro capitalizar integralmente os resultados atuais ao governo federal de plantão. O governo estadual e o governo municipal de oposição têm por estratégia interceder nos resultados inclusive por conta de iniciativas próprias. No âmbito social, a influência do Bolsa Família no Grande ABC não é tão representativa quanto no Norte e Nordeste, porque o percentual de beneficiários é bem inferior. Além disso, governos local e estadual também se movimentam para ajustar programas assistenciais.


  • Percepção de comportamento – É preciso entender o momento do eleitorado. Há situações em que esbravejar e alvejar adversários com ataques inclusive pessoais são boa pedida, mas quando o ambiente econômico e social é relativamente confortável, como se está verificando nesta temporada, possivelmente o melhor mesmo seja conter os ânimos e adotar discurso mais construtivista que crítico.



  • Percepção de programa de governo – Por mais que pareça superficial, passar ao eleitorado iniciativas importantes de programa de governo municipal pode significar estacas de confiabilidade e comprometimento que ajudariam a consolidar a candidatura. O que não se pode confundir é programa de governo com programa eleitoral. O cheiro da brilhantina não pode ser de oportunismo.

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