A terceira e última rodada da pesquisa do Instituto Brasmarket, contratada por LivreMercado e realizada 10 dias antes do primeiro turno das eleições no Grande ABC, antecipou sem qualquer desvio minimamente significativo os resultados registrados nas urnas. Nada surpreendente. A Brasmarket repetiu a dose dos resultados apresentados quatro anos antes. Então contratado pelo jornal Diário do Grande ABC, o instituto paulistano só se equivocou na tendência do eleitorado de Rio Grande da Serra, quando a diferença do vencedor Adler Kiko Teixeira contra o petista Carlos Augusto César Cafu foi bem maior do que a apontada.
Município com pouco mais de 40 mil habitantes e 20 mil eleitores, Rio Grande da Serra é um prato cheio para equívocos. Basta que se divulgue com antecedência a data da pesquisa de campo para espalharem-se cabos eleitorais e militantes por pontos estratégicos ocupados por entrevistadores. A intoxicação do resultado é compulsória. Foi o que aconteceu há quatro anos. A anormalidade técnica não se repetiu neste ano. A Brasmarket tomou a devida cautela para evitar manipulações de campo. A data da pesquisa foi mantida longe dos olhos e do interesse de sabotadores.
Um ponto importante na observação dos resultados das três rodadas de pesquisas e as urnas de 5 de outubro é que quando se considera o desempenho do Instituto Brasmarket nesta temporada, é preciso levar em conta que os números registram o momento eleitoral no Grande ABC a 10 dias da efetiva votação. Por mais que a região encontre obstáculos na área de comunicação social para manobras bruscas do eleitorado, há que se recomendar cuidados.
Mesmo sem mídia de massa, movimentos nem sempre explícitos acabam ganhando forma e corpo nos dias decisivos de votação, inclusive fora da chamada margem de erro. Nem sob a condicionalidade do tempo que separou a terceira sondagem e a efetiva votação a pesquisa Brasmarket foi comprometida. Muito pelo contrário. Em vários casos, a margem de erro amoldou-se como luva. Como há diferença entre uma coisa e outra, ou seja, entre a pesquisa de campo e a votação efetiva, até mesmo a margem de erro poderia ser esquecida nas análises. LivreMercado mantém o mecanismo técnico apenas para facilitar o entendimento dos leitores.
O caso de Santo André é emblemático do sucesso da prospecção do Instituto Brasmarket. A movimentação das pedras eleitorais sofreu poucas variações entre os resultados da sondagem de 22 a 24 de setembro e as urnas de 5 de outubro. O candidato petista Vanderlei Siraque alcançou 51,3% dos votos em setembro e terminou com 48,9%. Siraque poderia ter liquidado a disputa no primeiro turno. A curva ascendente da pesquisa Brasmarket assim indicava, mas também não estava fora de cogitação a possibilidade de faltar um pouco para chegar lá, conforme condicionalidade apontada pela margem de erro.
O fator Aidan Ravin tirou Vanderlei Siraque da vitória no primeiro turno. O petebista contrariou a expectativa de submergir ao terceiro lugar ao final da contagem dos votos reais. Afinal, permaneceu o tempo todo nas três rodadas de sondagens na faixa de 18%. O democrata Raimundo Salles parecia mais habilitado ao segundo lugar por apresentar tênue mas contínuo avanço: dos 15,4% inicialmente detectados, passou para 16,7% e chegou a 18% em setembro. Tudo dentro da margem de erro de três pontos percentuais, como Aidan Ravin, mas com a vantagem psicológica de subida numérica. Durante toda a fase da pesquisa, LivreMercado não adotou a margem de erro como ferramenta de empate técnico entre os concorrentes. Ou seja: definiu posicionamento com base nos números relativos de votos que emergiram do rastreamento de campo. Qualquer diferença significava posicionamento correspondente ao universo de votos válidos.
O que levou Raimundo Salles ao inesperado terceiro lugar e Aidan Ravin ao segundo lugar com direito a nova rodada eleitoral foi o rebaixamento dos já esquálidos votos do ex-prefeito Newton Brandão, detentor de eleitorado cada vez mais restrito e envelhecido. Brandão marcou a trajetória eleitoral desta temporada com sucessivas quedas nas pesquisas do Instituto Brasmarket – passou de 19,3% na primeira sondagem para 15% na segunda e 11,9% na terceira -, até desabar de vez nas urnas com apenas 8,3% dos votos válidos.
A transferência de votos para Aidan Ravin, igualmente médico e igualmente conservador, é a melhor explicação aos números finais que não só mergulharam Raimundo Salles num mar de desilusão pós-eleitoral como obrigaram Vanderlei Siraque a construir novas costuras partidárias. O que motivou o direcionamento de votos de Brandão para Aidan e não para Raimundo Salles entre a classe de conservadores mais intrépidos de Santo André? Salles exagerou na dose de radicalismo antipetista nos debates e nas declarações aos jornais e, principalmente, construiu pontes frágeis com parte do eleitorado de classe média que ainda resiste em votar em candidato do PT.
A queda de Alex Manente nos últimos dias da disputa no primeiro turno em São Bernardo correspondeu à subida do tucano Orlando Morando, sempre com base nos números do Instituto Brasmarket registrados 10 dias antes da disputa oficial. O crescimento do petista Luiz Marinho foi confirmado e consolidado nos dias seguintes à pesquisa contratada por LivreMercado, mas apenas 1,7 ponto percentual impediu o encerramento da disputa no primeiro turno. Não foi por outra razão que os petistas correram para acertar o reforço de Alex Manente no segundo turno. No mínimo, no mínimo, arrefeceria possível prevalecimento de votos do deputado estadual em favor de Orlando Morando depois de supostamente se esgotar em direção a Luiz Marinho a debandada de eleitores de centro-esquerda de Alex Manente.
Na primeira rodada da pesquisa Brasmarket em São Bernardo, de 28 a 31 de julho, Orlando Morando ostentava a liderança com 36,8% dos votos válidos, contra 30,2% de Luiz Marinho e robustos 29% de Alex Manente. A segunda rodada, realizada entre 28 de agosto e 1º de setembro, já insinuava Luiz Marinho na frente no primeiro turno: o petista saltou para a liderança com 41,1% dos votos válidos, contra 34,5% de Orlando Morando e 20,3% de Alex Manente. A quebra de eleitores indecisos e principalmente a transfusão de votos de Alex Manente a Luiz Marinho determinaram a mudança de rota do quadro da Brasmarket.
A terceira rodada, no final de setembro, já não deixava dúvidas quanto à possibilidade de Luiz Marinho chegar na frente, com indícios de acabar com tudo no primeiro turno. O ex-ministro do Trabalho e da Previdência Social atingiu 46,8% dos votos válidos. Orlando Morando precisou reorganizar o plano de vôo para não sucumbir no primeiro turno. Afinal, caiu para 33,2%. É verdade que oscilou dentro da margem de erro de 3,5 pontos percentuais.
A sinalização de que Alex Manente continuava esvaindo votos em direção a Luiz Marinho foi menos intensa na terceira rodada da pesquisa Brasmarket. Variou inclusive dentro da margem de erro, mas desfraldava a bandeira da possível identificação entre o eleitorado dos dois candidatos de oposição. As urnas de 5 de outubro, entretanto, foram providencialmente mais generosas com Orlando Morando no esquartejamento do eleitorado de Alex Manente.
Depois de sistemática perda de eleitores para Luiz Marinho, quem se beneficiou da redução do peso de Alex Manente foi Orlando Morando. Os 37,5% finalmente registrados foram decisivos. Alex Manente terminou participação com apenas 12,2%. A queda entre a terceira rodada de pesquisa e os números das urnas ganhou velocidade maior do que a sugerida na curva que explicita a perda de votos entre a segunda e a terceira rodadas – eram 20,3% dos votos no final de agosto e passaram a 17,9% a 10 dias das eleições.
Está em São Caetano o mapa do único desvio fora da margem de erro do Instituto Brasmarket. Entretanto, sempre é bom repetir que nem essa situação deve ser levada a ferro e fogo porque maltrata a lógica de que pesquisa eleitoral é o momento. Insistindo no período da realização da terceira rodada, 10 dias antes da abertura das urnas, a queda da progressiva numerologia do prefeito José Auricchio Júnior e a ascensão dos dois principais concorrentes, Horácio Neto e Jayme Tortorello, estão absolutamente no contexto. José Auricchio chegou ao final da corrida eleitoral com 78,1% dos votos válidos, contra 13% de Jayme Tortorello e 8,8% de Horácio Neto.
Observa-se no quadro que o declínio numérico de José Auricchio nos últimos 10 dias se dá na exata proporção do crescimento do segundo e do terceiro colocados. A que se deve a contração eleitoral de José Auricchio, quando tudo parecia crer que estabeleceria recorde de votos válidos no Grande ABC e superaria com folga o índice de Luiz Tortorello, em 2000, quando atingiu 78,2%? A natural acomodação de militantes e correligionários que já se sentiam vitoriosos e também a reação coordenada dos dois adversários em busca de um segundo lugar que na prática não significa absolutamente nada, exceto a auto-estima partidária de imprimir a marca de principal grupo de oposição.
O quadro diagnosticado pelo Instituto Brasmarket em Diadema, sempre 10 dias antes das eleições, está em perfeita sintonia com os números finais e principalmente com as tendências. O petista Mário Reali foi eleito com vantagem de 22,9 pontos sobre o tucano José Augusto da Silva Ramos. Na terceira e última rodada da Brasmarket, em setembro, a diferença era de exatamente 13 pontos, com inflexão de alta: em setembro, Mário Reali vencia por 54% a 41% e nas urnas marcou 58,3% a 35,4%. A proporção de crescimento transposto para a planilha da Brasmarket está sintonizada com o arrefecimento de José Augusto da Silva Ramos. O aprofundamento da diferença claramente exposto no quadro teria sido confirmado pela Brasmarket numa sondagem às vésperas da eleição.
Tão importante quanto o encaixe dos números da Brasmarket em relação às urnas foi o acompanhamento das transformações em Diadema. Na primeira rodada, no final de julho, José Augusto estava na frente com 50,4% a 39,4% dos votos válidos. À medida que o batalhão de indecisos desmoronava com a ação de campo dos candidatos e séquitos de colaboradores, o candidato da situação aumentava o contingente eleitoral. Na segunda rodada, Mário Reali passou à frente com 45,7% a 43,7%. Diferença dentro da margem de erro que sinalizava novo histórico na disputa. E tudo se consolidou na terceira rodada da pesquisa Brasmarket, quando Mário Reali saltou para 54% e José Augusto caiu para 41%. Os nanicos Vladão e Ricardo Yoshio confirmaram nas urnas a teimosia de concorrerem. Somados, não ultrapassam a 6,2% dos votos válidos.
Diferentemente de 2004, quando o ex-prefeito Gilson Menezes concorreu no primeiro turno e somou votos suficientes para forçar turno extra entre José Augusto da Silva Ramos e José de Filippi Júnior, desta vez a corrida foi mais curta. E tudo porque Gilson Menezes foi acondicionado como vice-prefeito na chapa vencedora. O susto de 2004 não se repetiu. Naquele ano, José de Filippi Júnior terminou o primeiro turno com 9.742 votos atrás e só virou o jogo no segundo turno com o apoio de Gilson Menezes. Desta feita os situacionistas resolveram não facilitar.
Basta reparar no quadro da tendência do eleitorado de Mauá. Os sinais de que o ex-prefeito Oswaldo Dias poderia deixar escapar a oportunidade de vencer no primeiro turno são evidentes. Primeiro porque a linha que traça o desempenho da candidatura petista é persistentemente descendente. Segundo porque os mais diretos concorrentes, Chiquinho do Zaíra e Diniz Lopes, mantiveram estoques razoavelmente competitivos para quem pretendia esticar a disputa – inclusive porque subiram de produção.
Oswaldo Dias começou com 58,1% dos votos na primeira rodada de pesquisas Brasmarket, manteve-se praticamente intocado na segunda com 58% mas derrapou na terceira, em setembro, com 52,2%. Chiquinho do Zaíra subiu de 21,8% para 24,8% e chegou a 25,7% na terceira rodada. Diniz Lopes sustentou-se com estabilidade de 18% na primeira, 16% na segunda e 19,5% na terceira. A rodada para valer, das urnas, foi tormentosa para o PT de Oswaldo Dias: com 48,2% dos votos válidos, viu Chiquinho do Zaíra chegar a 27,2% e Diniz Lopes a 22,1%. Os 2,6% de Mateus Prado confirmaram a última rodada da Brasmarket.
A transferência da decisão eleitoral em Mauá para o segundo turno é consequência do fator que transparece no quadro: o petista que liderou de ponta a ponta a disputa, inclusive nas urnas, não conseguiu evitar o desgaste do aperto de dois concorrentes fortes em busca de espaço: Chiquinho do Zaíra correu o tempo todo em busca do segundo turno e, nesse ponto, foi auxiliado por Diniz Lopes que, praticamente no vácuo do candidato situacionista, alimentava a possibilidade de superá-lo e chegar ao turno extra. Tivesse Diniz Lopes desgarrado do vice-líder, como Alex Manente de Orlando Morando, provavelmente Oswaldo Dias teria encerrado a disputa ao final do primeiro turno.
A curva ascensional do prefeito Clóvis Volpi explicitada nas pesquisas Brasmarket e o resultado final das urnas que definiu a reeleição do verde não fugiram da bitola da margem de erro de quatro pontos percentuais. Volpi saiu de 70,6% dos votos válidos no final de julho para 72,7% no final de agosto e para 76,5% na terceira semana de setembro. Fechou a disputa com 73,2%. A subida foi contida pelos dois adversários que não passaram de coadjuvantes: o petista Mário Nunes chegou a 13,4% e Valdirio Prisco a 13,3%. Tanto um quanto outro cresceram dentro da margem de erro entre a terceira rodada da Brasmarket e as urnas de 5 de outubro: Prisco tinha 11,4% e Mário Nunes 12%.
A vitória de Clóvis Volpi não sofreu sequer um arranhão de dúvida ao longo da corrida em Ribeirão Pires. A única emoção reservada durante toda a temporada de votos acompanhada por pesquisas eleitorais foi o encontro das linhas entre Mário Nunes e Valdirio Prisco. Algo que parecia improvável na primeira rodada da pesquisa quando os 18,7% do ex-triprefeito Prisco pareciam inalcançáveis para Mário Nunes, então com 10,7%. Na segunda sondagem permaneceu a certeza de que Prisco (17,4%) jamais seria ameaçado por Mário Nunes (9,9%). Na terceira rodada da Brasmarket, Mário Nunes passou à frente com 12% contra 11,4%. Nas urnas, a diferença de poucos votos foi estratificada em números relativos praticamente iguais, mas que consagraram a vitória do petista com 13,4% a 13,3%.
A maior votação relativa no Grande ABC nesta temporada foi registrada por Adler Kiko Teixeira, reeleito prefeito de Rio Grande da Serra. Ele alcançou 80,9% dos votos válidos, contra 18% do petista Carlos Augusto César Cafu e 0,9% de Nilson Gonçalves. A elástica diferença obtida por Kiko Teixeira era esperada desde a primeira rodada da pesquisa da Brasmarket, que registrou 76%, contra 16,7% de Carlos Augusto Cafu e 7,3% de Nilson Gonçalves.
À medida que o eleitorado foi substituindo indecisão por convicção de votos, despencava a votação de Nilson Gonçalves, estabilizava-se o segundo lugar de Cafu e acentuava-se o domínio de Kiko. O prefeito reeleito obteve na segunda rodada 81,2% dos votos válidos, contra 79,8% da terceira e, finalmente, 80,9% nas urnas. Cafu chegou a 17,7% na segunda rodada, a 18,6% na terceira e a 18% nas urnas.
Os estragos que o ex-prefeito petista Ramon Velásquez provocou em Rio Grande da Serra, os investimentos do governo federal em obras de infra-estrutura e o carisma provinciano de um prefeito que saltou para a presidência do Consórcio Intermunicipal por ação de William Dib, maior nome do espectro de centro-direita do Grande ABC nos últimos anos, ajudaram a esculpir a liderança de Kiko Teixeira. À parte a maior votação relativa entre os prefeitos eleitos no Grande ABC desde a redemocratização do País, Kiko Teixeira não conseguirá ultrapassar os limites de Rio Grande da Serra. Como antecessores que dirigiram a Prefeitura, o menor Município do Grande ABC não reúne massa de votos suficientes para proporcionar salto além do próprio território.