A partir de hoje e pelos próximos dias procurarei transmitir apanhado de informações sobre a surpreendente mas facilmente explicável vitória do desconhecido Aidan Ravin à Prefeitura de Santo André.
Ao contrário do que imagina a maioria dos leitores e mesmo figurantes e protagonistas da vida política de Santo André e da região, nada de metafísico ocorreu para que o resultado final se consolidasse fora do eixo estatístico que fez derrapar até os números do Ibope.
Basta comparar os números divulgados pelo Diário do Grande ABC na edição de sábado e os resultados do dia seguinte.
Foram 10 pontos percentuais de diferença. O Ibope registrava apenas dois.
É claro que a margem de manobras de quatro pontos percentuais para cima e para baixo é aberração que não pode ser levada em conta porque o malabarismo numérico ganha forma de prestidigitação. O que era dois pontos percentuais passa para 10 pontos percentuais.
A operação posta em prática para eleger Aidan Ravin surpreendeu o próprio Ibope. A velocidade de migração de votos dos candidatos excluídos do segundo turno ganhou ritmo alucinante e aparentemente, apenas aparentemente, inexplicável para uma cidade e uma região que se ressentem de mídia eletrônica de massa.
Deuses ou demônios, ao gosto de cada lado, não desceram à Terra para colocar Aidan Ravin no Paço Municipal. A obra é exclusivamente de terráqueos. Com suporte de quem também vive no mundo da lua.
Foi a primeira vez que uma disputa de segundo turno cujo vencedor do turno inicial obteve quase 30 pontos percentuais de vantagem sofre revés.
Ainda segundo estudos estatísticos de especialistas, apenas em 25% dos casos de jogo levado ao segundo tempo o perdedor parcial do tempo inicial consegue reverter o resultado final e mesmo assim com limitações fundas: a média dos segundos colocados que passaram à frente na reta de chegada é de sete pontos percentuais de distância dos primeiros colocados.
Cada ponto percentual acima disso tem o significado mais pronunciado de improvável. Imaginem então o que explicitavam 48,9% a 21,5%.
Então, por que Aidan Ravin venceu em Santo André?
Vejam alguns pontos sobre os quais me dedicarei nos próximos dias, não necessariamente na ordem que segue e tampouco na segmentação explicitada. Provavelmente fundirei alguns vetores por afinidade temática.
Antes disso, entretanto, convém um esclarecimento: o objetivo destas linhas não é outro senão mostrar o quanto é frágil a cobertura política do jornalismo verde-e-amarelo.
Um fenômeno como o ocorrido em Santo André foi simplesmente ignorado pela mídia local. Explicações para isso: há desinteresse proposital de um lado, desconhecimento voraz de outro e, para todos, o somatório desses dois pontos, acrescido de irrecuperável vocação do jornalismo em frequentar a superficialidade de versões oficiais nos mais variados temas.
Querem um exemplo fora do campo político? Ainda outro dia li uma matéria sobre o desempenho da Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC, que acaba de completar 10 anos, e ao leitor descuidado parecerá que temos exemplar de extrema competência histórica. Nada disso. A Agência é tão estruturalmente pobre que acaba por sacrificar o prestígio individual de profissionais que ali prestam serviços. Dadas as dimensões dos problemas econômicos do Grande ABC, o orçamento e a infra-estrutura operacional da Agência beiram a desfaçatez.
Também poderia dizer que a vagabundagem reflexiva impera por conta de fragilidades técnicas e despreparo para encarar a vida profissional com uma dose mais que suplementar de empenho, criatividade e observação inquieta.
Quero dizer com isso de forma clara e objetiva que há quem confunda quantidade com qualidade. A mesmice detectada nas pautas jornalísticas é enfermidade grave e contagiosa. Nem todos entendem assim. Há quem prefira o auto-elogio. São marinheiros de primeira viagem que mal conseguem interpretar pesquisas eleitorais com um mínimo de discernimento.
A vantagem da democracia é que os profissionais de comunicação acabarão reduzindo a diferença que os separa do mínimo da eficiência desejada à medida que as disputas se tornem frequentes.
Vamos então aos pontos que considero mais importantes, sem que isso deixe de abrir espaço para eventuais adicionamentos. Reconheço que não sou detentor de todas as informações, porque há segredos que não ultrapassaram os limites dos engenheiros da operação de guerrilhas em Santo André. Entretanto, creio que tenho o essencial para retirar a vitória de Aidan Ravin do obscurantismo informativo.