Quem pariu o obstetra Aidan Ravin que o embale.
O povo de Santo André que elegeu um desconhecido para o Paço Municipal agora tem a responsabilidade, juntamente com a oposição construtivista, de seguir seus passos atentamente.
A fanfarronice em tom de cordialidade que marcou suas aparições públicas, inclusive em debates, deverá ser checada e cobrada ao longo dos próximos quatro anos. Que se transforme em realizações.
Fanfarronice em tom de cordialidade é uma crítica sim ao estilo Aidan de ser. Ele, como tantas outras espécimes políticas, diz coisas ofensivas, desrespeitosas ou irrealizáveis em tom amistoso. E os ouvintes consideram tudo muito natural.
A vitória numa escalada numérica que ninguém conseguiu acompanhar (nem mesmo o Ibope, com pesquisa às vésperas do pleito e que levou o Diário do Grande ABC a considerar a disputa tecnicamente empatada) tem muito de obscuridade estratégica.
Quem conhece um pouco do riscado sabe do que estou falando.
A raiz do sucesso de Aidan Ravin num segundo turno em que o PT de Santo André não retirou o salto alto, enquanto o adversário tratava de desobstruir muitos obstáculos do destino de seus apoiadores, se deve a muitos fatores.
Certo mesmo é que engenheiros de obras prontas vão aparecer aos mangotes, contando lorotas e avocando poderes mágicos de multiplicação de votos.
No fundo, no fundo, o fenômeno Aidan Ravin reúne muitas explicações e, por mais que tenha parecido um adversário invisível para a maioria dos analistas políticos, ele incorporou uma cadeia de definições isoladas que, como num passe de mágica, se imantou na reta de chegada. Sempre com o olhar de indiferença dos adversários.
Jamais na história nacional de municípios que tenham levado a disputa para o segundo turno houve algo semelhante — um candidato quase 30 pontos atrás erguer-se com tamanha desenvoltura e chegar aonde chegou Aidan.
Não há qualquer parentesco psicossocial que justifique a vitória de Aidan Ravin unicamente ou principalmente pelo vetor oposicionista. Nem tampouco a ação deletéria de uma determinada banda podre do poder paralelo no Grande ABC.
Há razões variadas para o sucesso desse médico, entre as quais a própria figura pessoal, a trajetória parturiente e o desleixo do PT com a classe mais conservadora de Santo André.
Muito pouco, é lógico, para quem vai comandar um Município de tantos desafios estruturais e orçamentários.
Aidan Ravin é também a confluência da competência eleitoral de última hora com o desajuste partidário de muitos meses, por conta das prévias eleitorais.
O governo estadual, com o deputado Campos Machado como braço de guerra, colocou todas as fichas, tentáculos jurídicos e dinheiro na reta de chegada e surpreendeu quem já se imaginava no Paço Municipal. A operação faz parte do jogo político-eleitoral e retira qualquer possibilidade de Santo André conhecer um novo conceito de administração. O velho PTB de guerra é uma mistureba semelhante à de tantos outros partidos. Inclusive o próprio PT.
Resta saber se a maior zebra da história eleitoral do Grande ABC depois de Raimundo da Cunha Leite nos anos 1980