Política

Liderança de Luiz Marinho
não pode ser desperdiçada

DANIEL LIMA - 10/11/2008

O maior e mais convincente vencedor das eleições municipais deste ano no Grande ABC é mais que potencial candidato a líder de uma região que, depois de quatro anos consecutivos de crescimento econômico vigoroso, está ameaçada de refluxo por conta da crise internacional que atinge em cheio o setor automotivo, coração da economia local.

O petista Luiz Marinho, ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, ex-presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores) e ex-ministro do Trabalho e da Previdência Social, salta como natural liderança regional. A indagação que se faz emergencial é a seguinte: como o Grande ABC deve se organizar para não desperdiçar a liderança de Luiz Marinho?

A proximidade com o governo federal e a capacidade de articulação do prefeito eleito em São Bernardo são ativos que a conjuntura econômica e política não pode submeter ao torniquete de guerrilhas partidárias. A constatação de que Marinho desponta como novo expoente regional é tão irrefutável como o dia depois da noite. Às favas aqueles que, nos escaninhos de pressões que vão muito além do jogo natural de disputas políticas, querem ver o primeiro-amigo do presidente Lula da Silva longe do estrelato.

Luiz Marinho derrubou a principal cidadela de oposição ao governo Lula da Silva, o prefeito William Dib e o deputado estadual Orlando Morando. Esvaíram-se três mandatos consecutivos de São Bernardo mais próxima do governo estadual dos tucanos. A dor dolorida da derrota do grupo comandado por William Dib, então a principal liderança do Grande ABC, é proporcional ao sucesso da empreitada de Luiz Marinho e o agrupamento de partidos que conseguiu reunir em torno de sua candidatura.

A perspectiva de que Marinho conduzirá a agenda regional a partir de janeiro do ano que vem não é projeção viciada por qualquer tipo de cor partidária e tampouco está atrelada à rigidez estatutária da instância regional do Clube dos Prefeitos. Há números aos borbotões para dar sustentação à tese. Mas, mais importante que os próprios números da liderança econômica do Grande ABC centrada e difundida no território de São Bernardo, são as características individuais e o contexto político e econômico que permearão o mandato de Luiz Marinho. Para azar de quem correlaciona o PT do Grande ABC à intolerância e ao radicalismo de centro-esquerda, o ex-ministro tem sangue-frio e nervos de aço para não sucumbir a extremismos.

É muito provável, entretanto, que os holofotes em torno de Marinho não terão a compulsoriedade que circunstâncias exclusivamente sociais e econômicas determinariam. O Grande ABC é palco de importantes embates político-ideológicos que dominarão o cenário nacional no período de dois anos preparativos às eleições para governo do Estado e Presidência da República. Seria ingenuidade acreditar que tanto o próximo ano quanto 2010 serão um mar de reciprocidades entre os prefeitos do Grande ABC, divididos entre petistas autênticos e tucanos autênticos e associados.

A inesperada mas muito bem explicável vitória do petebista-tucano Aidan Ravin em Santo André, derrotando o petista Vanderlei Siraque num segundo turno impulsionado por operação de choque do Palácio dos Bandeirantes, tumultuou ainda mais a disputa interpartidária no Grande ABC. Daí a necessidade de se refletir sobre o equívoco de jogar fora o poder de articulação de Luiz Marinho. Não adianta os falsos ou ingênuos pregadores da unidade regional plantarem aproximação entre derrotados e vencedores em Santo André. Não há espaço para harmonia entre agremiações visceralmente antagônicas que têm no Grande ABC microcosmo privilegiadíssimo do que ocorre no restante do País. O jogo de cena de aproximação dos contrários não passa mesmo de jogo de cena. Tem finalidade apenas cosmética, para vender a idéia de que não há minas instaladas no terreno remexido da regionalidade. Mais que palavras, ações é que resolvem, como se sabe.

O fato matemático e político que a vitória de Aidan Ravin enseja e aprofunda é que os tucanos conseguiram resultado eleitoral inesperado: os 4 a 3 diante dos petistas conferem o controle tático e estratégico do Clube dos Prefeitos.

Embora em qualquer modalidade de comparação os números do PT serão sempre melhores quando se separarem os municípios que produziram prefeitos vermelhos e os que consagraram prefeitos azuis ou assemelhados, a vitória matemática dos tucanos tornará o Clube dos Prefeitos encenação de unidade regional. Por mais que os prefeitos venham a divulgar medidas cooperativas e resolutivas para minimizar os efeitos da diferença favorável aos tucanos, estará subjacente o domínio de quem marcou quatro vitórias (Santo André, São Caetano, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra) sobre quem conseguiu apenas três (São Bernardo, Diadema e Mauá). O estatuto do Clube dos Prefeitos não tem voto qualitativo, definição que subordinaria o poder político aos indicadores econômicos dos municípios. Uma Rio Grande da Serra de um prefeito provinciano como Adler Kiko Teixeira tem o mesmo peso de uma São Bernardo, capital nacional do setor automotivo.

A possibilidade de determinado grau de coesão em torno dos objetivos do Clube dos Prefeitos não pode ser rigorosamente descartada porque o prefeito eleito Luiz Marinho é elemento aglutinador que precisa ser levado em conta. Entretanto, tornou-se menos viável a aproximação do prefeito de São Caetano, José Auricchio Júnior, também petebista e também próximo do Palácio dos Bandeirantes. Tudo por conta da reviravolta em Santo André. Auricchio deve fidelidade partidária. Por isso que, entre outras razões, participou ativamente da jornada que provocou a consagração da zebra vestida de branco, o médico Aidan Ravin — inclusive com direito a comemorar a vitória assim que o resultado oficial foi anunciado em Santo André.

Certo mesmo é que Luiz Marinho terá apoio incondicional dos outros dois petistas vitoriosos nas urnas regionais – Oswaldo Dias em Mauá e Mário Reali em Diadema. Não bastasse o respeito partidário de quem construiu história pessoal e agora emerge politicamente como principal estrela regional, os petistas de Diadema e de Mauá olham para Luiz Marinho e enxergam Lula da Silva. Esses dois aliados, entretanto, são pouco na contabilidade rasa do Clube dos Prefeitos. Mas são provavelmente suficientes para uma variante que não pode ser desqualificada caso o horizonte de integração regional de fato sofra efeitos deletérios de idiossincrasias partidárias: os três petistas poderiam exercer força de sedução principalmente nos corredores e gabinetes de ministérios, secretarias e mesmo na sala presidencial. Apesar de todos os problemas orçamentários que se anunciam para superar o período de crise macroeconômica, nada impede que petistas locais alcancem sucesso nas iniciativas de canalizar recursos financeiros para a região, além dos previstos pelo PAC (Plano de Aceleração do Crescimento).

A recíproca é verdadeira, agora envolvendo os quatro prefeitos azulados. O noviciado e a tutelagem de aliados de última hora tornam a administração de Aidan Ravin enorme ponto de interrogação em Santo André. Já as modestas dimensões socioeconômicas de Ribeirão Pires do prefeito Clóvis Volpi e, principalmente, de Rio Grande da Serra de Kiko Teixeira tornarão José Auricchio Júnior o interlocutor preferido do governador José Serra, candidatíssimo à Presidência da República.

Por isso, por mais paradoxal que possa parecer, a fragmentação do Clube dos Prefeitos não significa, necessariamente, que o Grande ABC viverá os próximos anos a pão e água, como tem sido rotineiro ao longo da história, sempre sob o pretexto tanto estadual quanto federal de que a riqueza mora aqui. A exceção são os últimos anos de amplo apoio do governo federal ao setor automobilístico. A possibilidade de que o divisionismo iminente embalado pelo calendário eleitoral lubrifique as relações entre petistas e tucanos com os respectivos aliados permite acreditar que também fortaleçam nacos mais substantivos de investimentos, sobretudo na área social. Mas que isso não seja confundido com integracionismo regional. Apenas os simplificadores desconhecem que integração regional é um enorme guarda-chuva de resolutividade porque obedece a lógica da construção conjunta e sinérgica de um planejamento estratégico essencial para racionalizar custos e potencializar soluções. Bem diferente de apoios divididos conforme cores partidárias sob perspectiva de retorno eleitoral.

Informações sobre conjunção de forças políticas em Santo André não passam de cortina de fumaça para dourar a imagem do candidato vencedor. Tudo dentro do marketing de relacionamento político para engabelar a platéia mais desatenta. Tanto que nem mesmo as correntes partidárias mais próximas do pensamento de Aidan Ravin caíram no conto da carochinha. Raimundo Salles e Newton Brandão preferiram desdenhar o arranjo para não passarem recibo de ingenuidade.

O que está em jogo mesmo no Grande ABC é a liderança regional. Empresários do setor de transporte não querem ver Luiz Marinho na condição de destaque do novo processo de regionalidade. Há fundas diferenças entre eles e os petistas liderados pelo ex-ministro. Por isso não é nada surpreendente que o presidente do PTB paulista, deputado Campos Machado, braço armado que levou a oposição à vitória com Aidan Ravin em Santo André, apareça para destilar divisionismos. Ele defendeu abertamente a eleição de José Auricchio Júnior à presidência do Consórcio de Prefeitos por conta da maioria de votos e também por avaliá-lo como a maior liderança regional.

A tática tem endereço certo. Auricchio Júnior tem respaldo popular que poderia levá-lo a liderar uma ruptura com os prefeitos petistas exatamente porque cederia espaço à beligerância de Campos Machado. Antes da vitória de Aidan Ravin, o petebista de São Caetano chegou a manter diálogo com Luiz Marinho, então favoritíssimo em São Bernardo. Eles encaminhariam ações em conjunto à frente do Clube dos Prefeitos. Marinho, segundo assessores, demonstrou apoio à candidatura de Auricchio à direção do Clube dos Prefeitos. O que os opositores petistas querem fazer crer é que Luiz Marinho submergiu à maioria de centro-direita e, pressionado, teve de aceitar a presidência de Auricchio.

Certo mesmo é que o poder de articulação de Luiz Marinho é reserva de competências que o Grande ABC finalmente poderá usufruir se mesquinharias partidárias não se levantarem. Marinho exercita grau de relacionamento prospectivo com os principais executivos do setor automotivo do País, notadamente das empresas instaladas no Grande ABC. A capacidade de gerenciar crises foi reconhecida recentemente pelo ex-vice-presidente de Recursos Humanos da Volkswagen do Brasil, Fernando Tadeu Perez, em entrevista a LivreMercado. Perez afirmou taxativamente que Marinho foi o melhor interlocutor nas disputas entre capital e trabalho. Disse também que Luiz Marinho contribuiu decididamente para evitar o esvaziamento da unidade da VW em São Bernardo.

Tudo isso é relevante no momento em que o mercado de veículos esperneia com a redução do crescimento econômico. A interlocução de Luiz Marinho com representações industriais, financeiras, políticas e sociais é habilidade aperfeiçoada como sindicalista e ministro da qual o Grande ABC não pode abrir mão. Principalmente porque do outro lado da linha divisória da ideologia e do partidarismo está um deputado estadual estranho à realidade regional. Campos Machado é um animal político que só pensa e age politicamente. Não tem a percepção da importância dos cromossomos sociais da região.

A aproximação entre Luiz Marinho e José Auricchio Júnior não é etapa insuperável, apesar dos piratas de ocasião. Trabalha-se com a possibilidade de desidratação do ambiente implícito de enfrentamentos entre petistas e tucanos por causa das eleições de 2010. Resta saber até que ponto tanto um quanto outro estarão dispostos a dissuadir membros dos respectivos grupos quanto à inconveniência do embate. Luiz Marinho garante que não vai medir forças. Bem assessorado, o petista não estaria cometendo o erro de colocar em discussão uma verdade que até adversários reconhecem mas preferem omitir: há conjunção de valores que o obrigam a assumir oficialmente ou não a liderança. Transformar prefeitos tucanos ou sob o guarda-chuva tucano em parceiros regionais é habilidade que Marinho possivelmente desempenhará com êxito, apesar das infiltrações de propagadores e forjadores de dissidências políticas.

Esqueçam os motivos políticos e institucionais que indicam Luiz Marinho oficialmente ou não para o comando estratégico e tático de um Grande ABC sempre complicado nas relações com os governos do Estado e federal. Os números que não mentem jamais, pelo menos quando não torturados por pesquisadores e estatísticos, revelam que o PT alcançou os melhores resultados no Grande ABC nesta temporada. A exceção é a contabilidade prática, insofismável, definidora de relações de força convencional embutida no Clube dos Prefeitos. Os quatro votos a três que os tucanos e aliados passarão a ter no Consórcio Intermunicipal de resultados práticos muito aquém das necessidades básicas do Grande ABC compõem numerologia política e institucional sem suporte econômico, demográfico e social dos petistas.

No quesito populacional, o PT de Luiz Marinho ficou com 62,38% dos moradores do Grande ABC. Do total de 2.569.635 habitantes da região, 1.602.870 estão em São Bernardo (798.569), Diadema (393.268) e Mauá (411.033). Os restantes 966.765 estão com os tucanos e aliados em São Caetano (145.964), Santo André (672.554), Ribeirão Pires (108.353) e Rio Grande da Serra (39.894). Se forem observados apenas os votos válidos de tucanos e petistas no primeiro e no segundo turno no Grande ABC, a vantagem do partido do presidente Lula da Silva é mínima, mas é vantagem: foram 862 à frente do adversário. O PT somou 687.184 votos e os tucanos e aliados exatamente 686.322. Entram nessa contabilidade os votos de Santo André, São Bernardo e Mauá no segundo turno e os votos de primeiro turno dos demais municípios. Eleitores que optaram por outros partidos não foram levados em conta.

Já na estatística que confronta os municípios cujos vencedores são petistas e tucanos e aliados, ou seja, apenas o número de eleitores, um total de 1.860.614, de novo o PT está na frente: são 1.115.630 contra 744.984, ou vantagem de 33,22%. O PT ganhou em São Bernardo (539.586 eleitores, ou 29% do total da região), em Diadema (301.229 eleitores, ou 16,19% do total regional) e em Mauá (274.815 eleitores, ou 14,77% da região). Já os tucanos e aliados ficaram com Santo André (533.428 eleitores, ou 28,67% do total regional), São Caetano (97.274 eleitores e 5,23% de participação regional), Ribeirão Pires (82.621 eleitores ou 4,44% da região) e Rio Grande da Serra (31.661 eleitores ou 1,70% da região).

Deixando o campo demográfico e eleitoral e invadindo a área econômica, a superioridade dos municípios que elegeram concorrentes petistas é quase massacrante. Seria massacrante mesmo se Santo André não tivesse fugido ao controle. No quesito potencial de consumo, os petistas ficaram com 57,85% do bolo regional, contra 42,15% dos tucanos. Potencial de consumo é o acúmulo de riqueza amealhada pela população. É a soma de salários, rendas de capital, de propriedades. Um morador de Santo André que trabalhe em qualquer outro Município é ativo da cidade em matéria de potencial de consumo. O que vai fazer com a capacidade econômica que detém é outro enredo. Tanto pode consumir em Santo André como em qualquer outra localidade. Ou simplesmente poupar. Exatamente por isso é potencial de consumo.

Do total de potencial de consumo de R$ 33,6 bilhões previstos para este ano no Grande ABC, segundo a Target Marketing, empresa especializada com sede na Capital, R$ 19,3 bilhões terão a participação de moradores das cidades de prefeitos eleitos pelo PT, casos de São Bernardo (R$ 11 bilhões, ou 32,81% do Grande ABC), Diadema (R$ 4 bilhões, ou 12,13% da região) e Mauá (R$ 4,3 bilhões, ou 12,90% da região). Já os tucanos e aliados ficaram com R$ 14,1 bilhões, dos quais a liderança é de Santo André (R$ 9,6 bilhões, ou 28,53% da região), passando por São Caetano (R$ 2,8 bilhões, ou 8,49% da região), Ribeirão Pires (R$ 1,3 bilhão, ou 4% da região) e Rio Grande da Serra (R$ 378 milhões, ou 1,12% do Grande ABC).

Outro desdobramento de análise econômica do Grande ABC pós-eleitoral envolve Valor Adicionado, que consiste na receita de venda deduzida dos custos dos recursos adquiridos de terceiros. É, portanto, o quanto uma empresa contribui para a formação do PIB (Produto Interno Bruto). Nesse ponto, a vantagem do PT sobre tucanos e aliados é mais ampla que a verificada no critério de potencial de consumo: dos R$ 48,9 bilhões gerados de riqueza no Grande ABC no ano passado, 68,02% passaram por empresas sediadas em São Bernardo (21,3 bilhões, ou 43,55% do Grande ABC), Diadema R$ 6,6 bilhões, ou 13,67% da região) e Mauá (R$ 5,3 bilhões, ou 10,80% do total da região). Já os tucanos e aliados ficaram com 31,98%, resultante de R$ 32 bilhões registrados por Santo André (R$ 7 bilhões, ou 14,34% do Grande ABC), São Caetano (R$ 7,8 bilhões, ou 15,93% da região), Ribeirão Pires (R$ 725,8 milhões, ou 1,48% da região) e Rio Grande da Serra (R$ 106,7 milhões, ou 0,22% da região).

A grande surpresa do segundo turno das eleições no Grande ABC foi a vitória do petebista Aidan Ravin em Santo André. O médico obstetra tornou-se a maior zebra nacional, superando todas as expectativas. Inclusive as do próprio grupo de apoio. Ganhou em média por dia, a partir do dia seguinte das eleições em primeiro turno, nada menos que 6.364 votos, enquanto o petista Vanderlei Siraque perdia 32 eleitores.

A enxurrada que catapultou um desconhecido ao posto que já foi ocupado por Celso Daniel teve total suporte do governo do Estado. Presidente do PTB paulista e deputado estadual, Campos Machado organizou a empreitada que deixou atônitos os petistas de Santo André. Uma guerra de guerrilhas que se propagou tanto na classe média quanto nas periferias destruiu a reputação de Vanderlei Siraque entre eleitores que votaram em Aidan Ravin, em Raimundo Salles e em Newton Brandão no primeiro turno. Siraque virou pedófilo, estuprador e muito mais. O PT foi demonizado como adversário da classe média e ineficiente nas áreas de saúde e transporte das classes menos favorecidas. Aidan Ravin ganhou um boneco de réplica de Gilberto Kassab. O PT demorou para detectar a engrenagem de reversão da derrota petebista no primeiro turno. Marqueteiros escalados pelo Palácio dos Bandeirantes deram respaldo às medidas. Não faltaram recursos financeiros. Um show de competência eleitoral sob a batuta de Campos Machado e com apoio de aliados locais. O objetivo traçado foi atingido: o PT deixou de ter maioria no Clube dos Prefeitos.

O salto de Aidan Ravin foi impressionante: saiu de apenas 21,76% dos votos válidos em 5 de outubro para 55,03% três semanas depois. Foram 81.153 votos no primeiro turno e 214.810 no segundo. Vanderlei Siraque seguiu rota inversa: alcançou 48,9% dos votos no primeiro turno e caiu para 44,97% na etapa seguinte. Dos 182.387 votos do primeiro turno, sobraram 175.513 no segundo. O eleitorado do petista emagreceu 3,77%. Aidan Ravin avançou 60,71%. Os votos brancos e nulos também ajudaram na vitória do petebista: foram 31.588 a menos em relação ao primeiro turno: de 74.355 caíram para 42.767.

Aidan Ravin ganhou a Prefeitura de Santo André ao crescer 33,27 pontos percentuais em apenas três semanas. Isso significou 1,584 ponto percentual por dia.

Uma avalanche que não foi detectada por nenhuma pesquisa eleitoral. Todos os institutos caíram do cavalo numérico. Até mesmo o Ibope, contratado pelo Diário do Grande ABC, se deu mal. Na véspera da disputa o jornal publicou que o jogo estava tecnicamente empatado. Aidan Ravin tinha 51% dos votos válidos contra 49% de Vanderlei Siraque. Os 10 pontos percentuais de diferença nas urnas no dia seguinte foram muito acima da margem de erro ética, embora o Ibope insista em fazer mágica. Para tanto, rebaixa em quatro pontos percentuais a votação de Aidan Ravin e eleva nos mesmos quatro pontos percentuais o eleitorado de Vanderlei Siraque.

Se o Instituto Brasmarket, contratado por LivreMercado, seguir o mesmo conceito, também terá acertado. A pesquisa divulgada em Edição Especial de LivreMercado registrava os números de Santo André 10 dias antes da ida às urnas. Vanderlei Siraque estava 16 pontos à frente de Aidan Ravin. Levando-se em conta o volume de votos obtido por dia pelo petebista e aplicando-se o mesmo critério de margem de erro de quatro pontos para cima e para baixo, o Brasmarket pode repetir a ladainha de sucesso do Ibope. Nada que resista de fato ao fenômeno Aidan Ravin de combustão nada acidental.

Em São Bernardo e em Mauá não houve reviravolta, depois de, como em Santo André, tanto Luiz Marinho quanto Oswaldo Dias chegarem muito próximos da vitória no primeiro turno. Os dois petistas fizeram a lição de casa de fechar alianças providenciais que tanto Newton Brandão como Raimundo Salles preferiram negar a Vanderlei Siraque e a Aidan Ravin. Enquanto Marinho comemorou o fechamento de acordo com o deputado estadual Alex Manente, dono de 12% dos votos válidos no primeiro turno, Oswaldo Dias aproximou-se do ex-prefeito interino e vereador Diniz Lopes, tucano com 22% dos votos válidos na primeira rodada.

Embora as eleições no Grande ABC mostrassem mais uma vez que há eleitorado petista e eleitorado antipetista, Luiz Marinho não deixou que o saldo acumulado no primeiro turno se comprometesse no segundo. Cresceu em número de votos válidos mais que Orlando Morando: dos 194.966 do primeiro turno, subiu a 237.617 no segundo, ou 21,87% adicionais. Orlando Morando registrou pouco mais da metade de produtividade eleitoral, com 12,58% suplementar de votos válidos – saiu de 151.653 em 5 de outubro e chegou a 170.728 três semanas depois. Comparando os números finais, Luiz Marinho atingiu 58,19% na etapa decisiva, pouco menos que 10 pontos percentuais acima dos 48,3% do primeiro turno. Orlando Morando subiu de 37,5% para 41,81%.

Vários fatores influenciaram a vitória de Luiz Marinho. A campanha foi concebida com planejamento exaustivo que passou pela adesão do ex-prefeito Maurício Soares, pela incorporação de Alex Manente e, antes disso tudo, pela coligação com mais de uma dezena de partidos – operação inédita para um PT até então sectário. Não foi por outra razão que o deputado federal Vicentinho Paulo da Silva naufragou nas duas tentativas de chegar ao Paço Municipal. A presença comprometida do presidente Lula da Silva em três oportunidades reforçou a campanha. Lula jamais perdeu uma eleição presidencial em São Bernardo. Orlando Morando foi oponente de resistência. Reclamou ao final dos resultados da nacionalização da disputa. Disse que o embate foi federal, por causa de Lula da Silva. Mas também ele tentou retirar do âmbito exclusivamente local a busca de votos. Trouxe o governador José Serra e o ex-governador Geraldo Alckmin para lhe prestar apoio e credibilidade. O problema maior dos tucanos, além da organização sólida do grupo de Luiz Marinho, é que o mote da campanha eleitoral gerou interpretação dúbia: São Bernardo de Cara Nova transparecia negação à administração de William Dib. Mais que isso: o PT conseguiu pautar a disputa ao estigmatizar a gestão de Dib, considerando-a sofrível. O gabinete situacionista mordeu a isca, retirou Dib da companhia do jovem Orlando Morando e, quando se deu conta de que caíra numa armadilha, não se recuperou a tempo.

Na contabilidade de votos conquistados em média por dia, Marinho obteve o segundo melhor resultado entre os candidatos no Grande ABC, com 2.031. Orlando Morando conseguiu o terceiro melhor posicionamento, com 908 novos eleitores a cada 24 horas.

Em Mauá, o petista Oswaldo Dias superou Chiquinho do Zaíra com dificuldades. Foram 11 pontos percentuais de diferença (55,68% a 44,32%), contra 21 ao final do primeiro turno. Por isso a importância do apoio de Diniz Lopes repercutiu no resultado final. Pelo menos impediu que parcela mais acentuada de tucanos votasse em Chiquinho do Zaíra. Mesmo assim, o candidato do PSB cresceu mais que o adversário no segundo turno: o número de votos em relação ao turno inicial avançou 58,92% (58.761 contra 93.383), enquanto Oswaldo Dias obteve apenas um quarto do volume — 12,78% (104.037 contra 117.337 no segundo turno). Oswaldo Dias somou em média por dia 633 novos votos. Chiquinho do Zaíra chegou a 1.648.

Uma semana a mais de disputa poderia ser fatal para o petista, calculam os derrotados sem que possam ser chamados de fantasiosos. Todos esses números regionais evidenciam o fenômeno Aidan Ravin: o petebista de Santo André conseguiu em média por dia 213% mais votos que Marinho, 600% mais votos que Orlando Morando, 905% que Oswaldo Dias e 286% que Chiquinho do Zaíra. Vanderlei Siraque foi o único concorrente que viu reduzido o universo de eleitores entre uma disputa e outra. A guerra de guerrilhas de Campos Machado foi mortal.



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