Ao contrário do que imagina a maioria dos leitores e mesmo figurantes e protagonistas da vida política de Santo André e da região, nada de metafísico ocorreu para que Aidan Ravin se convertesse na maior zebra eleitoral no segundo turno disputado em 29 municípios brasileiros, em 26 de outubro. O resultado final se consolidou fora do eixo estatístico que fez derrapar até projeções do Ibope.
Basta comparar números divulgados pelo Diário do Grande ABC na edição de sábado, 25 de outubro, e resultados do dia seguinte. Foram 10 pontos percentuais de diferença. O Ibope registrava apenas dois. A margem de manobras de quatro pontos percentuais para cima e para baixo é aberração que não pode ser levada em conta porque o malabarismo numérico ganha forma de prestidigitação. O que era dois pontos percentuais passa para 10 pontos percentuais.
A operação posta em prática para eleger Aidan Ravin surpreendeu o próprio Ibope. A velocidade de migração de votos dos candidatos excluídos do segundo turno ganhou ritmo alucinante e aparentemente, apenas aparentemente, inexplicável para uma cidade e uma região que se ressentem de mídia eletrônica de massa.
Deuses ou demônios, ao gosto de cada lado, não desceram à Terra para colocar Aidan Ravin no Paço Municipal. A obra é exclusivamente de terráqueos. Com suporte de quem também vive no mundo da lua. Foi a primeira vez que uma disputa de segundo turno cujo vencedor do turno inicial obteve quase 30 pontos percentuais de vantagem sofre revés.
Ainda segundo estudos estatísticos de especialistas, apenas em 25% dos casos de jogo levado ao segundo tempo o perdedor parcial do tempo inicial consegue reverter o resultado final e mesmo assim com limitações fundas: a média dos segundos colocados que passaram à frente na reta de chegada é de sete pontos percentuais de distância dos primeiros colocados. Cada ponto percentual acima disso tem o significado mais pronunciado de improvável. Imaginem então o que explicitavam 48,9% a 21,5%.
Um fenômeno como o ocorrido em Santo André foi simplesmente ignorado pela mídia local. Explicações para isso: há desinteresse proposital de um lado, desconhecimento voraz de outro e, para todos, o somatório desses dois pontos, acrescido de irrecuperável vocação do jornalismo em frequentar a superficialidade de versões oficiais nos mais variados temas.
O que, afinal de contas, teve a morte da jovem Eloá Pimentel com o resultado do segundo turno da eleição em Santo André? O caso Eloá Pimentel entra na pauta por causa da suposta influência daqueles dias de tensão que elevaram a audiência de programas de rádio e de televisão que transformam em entretenimento a vida de celebridades de ocasião.
Nada, absolutamente nada indica que o caso Eloá deva ser considerado elemento de explicação. Nem mesmo o fato de a equipe do candidato Aidan Ravin ter supostamente estendido nos últimos dias de campanha uma faixa na fachada do prédio mais focalizado durante aquela semana do sequestro teve efeitos eleitorais. Não houve publicidade da iniciativa e petistas teriam reagido ao inutilizar o material. A versão da faixa de propaganda eleitoral de Aidan Ravin é sustentada por fontes seguras, mas também há informações em contrário. Seja lá o que for, faixa aberta ou faixa hipotética, o fato é que o sequestro e a morte de Eloá Pimentel sequer provocaram avaria tópica no prestígio eleitoral do PT em Santo André, quanto mais encontram forças para justificar o estilhaçamento de 26 de outubro. Até porque o atendimento médico em instalações públicas municipais não sofreu um senão sequer que pudesse ganhar a forma de rastilho de pólvora de descrédito da Administração Municipal na área de saúde.
Colocaram-se à disposição das vítimas de Lindemberg médicos, paramédicos, equipamentos e tudo o que era possível para dar respaldo à operação. A visibilidade do caso mobilizou de tal forma o Paço Municipal que não se descuidou dos mínimos detalhes. Sabia-se que, embora não tivesse nada a ver com o peixe da passionalidade juvenil, um deslize poderia desviar parte da centralidade do incidente do terreno criminal para o público.
Eloá Pimentel entra na contabilidade de prejuízos petistas apenas entre observadores desatentos cuja capacidade de foco tem parentesco com biruta de aeroporto em dia de tempestade ou por engenheiros da operação de derrubada do PT do Paço de Santo André, aos quais interessa ampliar supostas motivações do resultado exatamente para retirar o placar surpreendente da lógica de guerra de guerrilhas.
O governo do Estado não entregou ao braço armado do deputado Campos Machado a missão de guerrear em Santo André por mero palpite, por birra pessoal contra o deputado estadual Vanderlei Siraque, porque não gosta do desenho arquitetônico do Paço Municipal ou porque os petistas de Santo André são mais vermelhos que os petistas de São Bernardo e de Mauá – outros pontos geográficos da região onde se deram as batalhas do segundo turno destas eleições.
O governo do Estado percebeu que Santo André apresentava as melhores características para um ataque silencioso, um ataque nas entranhas da sociedade tanto de classe média quanto suburbana. Um ataque que captaria os anseios da classe média mais resistente do PT e que votou em larga escala nos três concorrentes do primeiro turno que sinalizavam a centro-direita. Um ataque de quem entende do ramo de superar o adversário com boa margem probabilística de sucesso. Como indicam os melhores manuais de eleições.
Em São Bernardo do prefeito William Dib e seu candidato, o deputado estadual Orlando Morando, as condições de defesa da principal cidadela regional eram menos favoráveis. Os petistas organizaram-se nos mínimos detalhes. Juntaram vários partidos, reforçaram-se com o jovem Alex Manente, adversário de primeiro turno que jamais escondeu vocação de acrescentar o número 13 à empreitada de derrubar a liderança política da região que ainda ocupa o 18º andar do Paço Municipal. Sem contar com o fator presencial e constante de Lula da Silva, canonizado pelas camadas mais populares do País e, por mais improvável que pudesse parecer, aprovado em maioria pela classe média mais conservadora.
Os ataques de Campos Machado e aliados não seriam garantidamente destruidores, mas também não seriam seguramente inúteis em São Bernardo. Havia espaços para estocadas. Orlando Morando é um moço de brilho, tecnicamente bom de debate, bom de voto, experiente como vereador e deputado. Mas havia um limite matemático intransponível. Havia a perspectiva de derrota acima do gráfico de vitória.
Pesquisas apontavam a estrela vermelha petista no horizonte de São Bernardo. Os adversários de William Dib conseguiram pespegar-lhe o selo de ineficiente, uma das mais certeiras estocadas dos petistas. Os situacionistas deixaram-se pautar pelos adversários e esconderam Dib da campanha durante bom tempo. Deixaram o quase imberbe Orlando Morando sozinho ou acompanhado sem muito brilho nas ruas. São Bernardo de Cara Nova, o mote da campanha, teve efeito reverso. Desconfiava-se da juventude de Morando. O bom moço que aparecia nas fotos e nas ruas não sugeria segurança de uma administração emocionalmente madura para uma São Bernardo complexa e desigual demais.
Luiz Marinho prometia cuidar da periferia. Maurício Soares replicava a pregação. A classe média de São Bernardo, apontavam as pesquisas, equilibrava-se entre os dois concorrentes. Luiz Marinho não tinha semelhança alguma com Marta Suplicy entre os mais endinheirados de São Bernardo. Nem Orlando Morando travestia-se de Gilberto Kassab entre os mais conservadores.
Mauá foi preterida pela campanha do governo do Estado no segundo turno porque o osso duro de roer do PT de Oswaldo Dias se consolidou em nível de desconforto para a equipe de Chiquinho do Zaíra, principalmente por conta de um certo grau de sentimento de resgate da justiça desmoralizada quatro anos antes quando, apoiado pelo mesmo Oswaldo Dias, o petista Márcio Chaves ganhou nas urnas, caminhava para o segundo turno redentor e foi eliminado por um artifício sacramentado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral). O envolvimento da juíza de Mauá responsável pela denúncia de irregularidade da campanha petista num caso escandalosamente comprometedor, porque envolveu inclusive uma facção criminosa, acentuou a estratégia de vitimização do PT.
É claro que havia o contraveneno dos situacionistas de Mauá para minar as forças de Oswaldo Dias. A prestação de contas polemicamente fora do esquadro de normalidade e a prisão de uma antiga auxiliar, a secretária de Finanças, atiraram combustível na fogueira de desconstrução da imagem do petista.
O pau comeu solto nos palanques e nos labirintos de votos, principalmente nas periferias que sufocam Mauá.
O jogo pesadamente destrutivo da reputação dos dois finalistas foi uma guerra santa que discursos oficiais diante da Imprensa procuraram dissimular. Quem conhece campanha eleitoral de campo sabe que não há terreno para a ética. Todo território é livre para acusações, sempre proferidas sob o pressuposto de defesa do ataque inimigo. Pouco se lixa para provas.
Quando os candidatos de alguma forma têm algum tipo de rabo preso com a integridade administrativa ou honradez pessoal, o diabo é chamado a intervir a todo instante. Deus provavelmente não quer nem saber de tantas baixarias.
Por que o governo do Estado, Campos Machado à frente, alguns coturnos graduados locais ao lado, quando não se revezando com o artilheiro palaciano, preferiu apostar em Aidan Ravin para apertar o cerco em busca de uma vitória considerada improvável, mas possível? O desempate do jogo pelo comando do Clube dos Prefeitos passava obrigatoriamente por Santo André, porque São Bernardo e Mauá eram observados como derrotas iminentes de tucanos e aliados.
Santo André tem classe média do tamanho da de São Bernardo, conforme dados da Target Marketing. Também entre pobres e miseráveis há semelhanças de participação relativa. Mauá é diferente: a classe média é proporcionalmente menor e as classes populares relativamente maiores que as de Santo André e São Bernardo. Em Mauá o refrão ideológico antipetista não tem abrangência eleitoral consistente. Um candidato conservador não tem futuro naquele território. Por isso o adversário de Oswaldo Dias foi Chiquinho do Zaíra de incubadora eleitoral no bairro mais populoso e mais problemático da cidade.
A diferença entre a classe média de Santo André e a classe média de São Bernardo é cultural, não econômica. Santo André industrializou-se primeiro que São Bernardo. Com isso, reuniu agrupamentos de profissionais liberais e pequenos industriais em maior escala do que São Bernardo. São Bernardo tem camada mais densa de classe média resultante da mobilidade social dos tempos de explosão da indústria automotiva. Executivos e trabalhadores graduados de chão de fábrica, principalmente das montadoras de veículos, fizeram de São Bernardo moradia.
Em larga escala, a classe média de Santo André pensa conservadoramente. Pensar conservadoramente é detestar desembolso para pagamento de impostos municipais da moradia urbana e esquecer que a moradia litorânea ou de campo muito mais onerosa. Pensar conservadoramente é considerar o IPTU reajustado um acinte contra o bolso do contribuinte e aceitar bovinamente o IPVA extorsivo. Pensar conservadoramente é imaginar todo empresário ponte de enriquecimento da sociedade. Pensar conservadoramente é fechar-se em copas, restringindo relacionamentos aos bem-nascidos, em torno dos quais erguem-se barricadas preconceituosas.
Em larga escala, a classe média de São Bernardo pensa menos conservadoramente. Pensar menos conservadoramente é não acreditar piamente que esquerdistas comem criancinhas, que trabalhadores engajados sejam perniciosos ao capitalismo, é desconfiar de correlação imediata entre empresário e solidariedade.
Quem não conhece e se guia apenas pelos dados estatísticos provavelmente vai dizer que os dois municípios reúnem os mesmos cromossomos. O DNA social e econômico é semelhante, mas o agregado cultural que se reflete em manifestações como o endereçamento de votos da classe média é bem diferente. Um empresário tem muito mais possibilidades eleitorais em Santo André do que em São Bernardo. Um sindicalista morreria por asfixiamento eleitoral em Santo André mas acaba de conquistar a Prefeitura de São Bernardo.
Não é à toa que Lula da Silva apanha feio da classe média em Santo André e equilibra o jogo em São Bernardo. Lula da Silva é espécie de símbolo da porção da classe média tardia de São Bernardo. Newton Brandão é espécie da classe média de passado ascendente em Santo André.
Celso Daniel, com todo o brilho individual e esfuziante poder de articulação política, apanhou muito da classe média de Santo André, da qual era egresso economicamente mas se converteu em desvio ideológico imperdoável para a própria família. A morte, apenas a morte, nas circunstâncias conhecidas, foi capaz de sensibilizar moradores de classe média renitentemente oposicionista.
Celso Daniel enfrentou a classe média de Santo André com diplomacia mas sem abrir mão da coragem manifestada, entre outras medidas, com a instalação de radares e no reajuste dos valores até então simbólicos de impostos municipais, especialmente o IPTU, chave de ignição de populismo dos antecessores.
Mesmo sem ser reconhecido como classe média típica da cidade, mas longe também da ferocidade com que ainda se pinta e borda o estereótipo do sindicalismo local, Luiz Marinho alcançou nestas eleições votação impressionante nos bairros de estrato econômico mais elevado, mas menos patrimonialista do que se tem em Santo André. Marinho demarca a transitoriedade de um País em transe desde que Lula da Silva virou presidente da República: simboliza uma nova classe emergente além do poder econômico tradicional, pela capacidade de articulação entre capital e trabalho. Algo para o que São Bernardo está muito mais preparada a assimilar entre os formadores de opinião porque tem classe média que se distingue da convencional.
Com uma classe média majoritariamente antipetista em Santo André, embora em menor escala e intensidade que a de São Caetano, e ainda menor que a de São Paulo, o caldo de cultura para metabolizar a candidatura de Aidan Ravin estava pronto.
O mesmo Aidan Ravin que já dera mostras de que sabia sensibilizar o eleitorado mais humilde, depois de concentrar na Vila Luzita o estoque de votos que o levou ao Legislativo Municipal e a dobrar o eleitorado na campanha a deputado estadual.
O médico Aidan Ravin em muito se assemelha a Newton Brandão. É afável, educado, destila confiança entre os mais humildes exatamente porque é médico, médico sempre de branco, mesmo em campanha eleitoral. Para a classe média conservadora, Aidan Ravin virou o messias antipetista. As pesquisas qualitativas sob as ordens de Campos Machado reforçaram essa convicção. O que viria a seguir na campanha de segundo turno não se convertia, portanto, em tiro no escuro. O jogo estava praticamente perdido, mas havia uma porta entreaberta de possibilidades que não conviria desdenhar.
Três variáveis concatenadas praticamente em paralelismo temporal durante o segundo turno das eleições em Santo André determinaram o surpreendente resultado.
Primeiro: dezenas de aposentados, velhinhos educados, cordatos, espalhados por igual número de ônibus em horário de rush. Todos combinadamente com o mesmo discurso de crítica à saúde de Santo André, à falta de segurança de Santo André, ao desconforto com o PT de Santo André. Discursos indignados de velhinhos indignados não são incidente do cotidiano geralmente monótono que se esqueça e se mantenha fechado entre corredores dos coletivos. Espalham-se por lares e bares, por igrejas e escolas.
Segundo: falsos petistas, camisas vermelhas, em pontos estratégicos de escolas privadas e públicas de Santo André, e em outros locais públicos, pregavam desinteresse pelo candidato Vanderlei Siraque, apesar da “paixão pelo PT”. Críticas ao candidato do partido esbravejadas por petistas têm efeito mortal entre indecisos, fortalecem a rejeição dos convictos de votos já definidos e se multiplicam em ambientes familiares.
Terceiro: nas escolas e também nas igrejas, principalmente igrejas evangélicas, propagou-se a dilaceração da imagem do candidato petista, atribuindo-lhe perfil abjeto. Tornaram-no pedófilo, estuprador e assediador, uma tríplice coroa de enfermidades da mente que cristãos não costumam perdoar e muito menos deixar de difundir como obrigação exorcizadora.
Para completar, a greve dos bancários que perdurou durante vários dias no período do segundo turno também serviu de ponto de apoio ao martelamento antipetista. Não foi à toa que Orlando Morando cresceu na reta de chegada, que Chiquinho do Zaíra encurtou a diferença nos dias finais e que Marta Suplicy naufragou de vez na Capital.
O que pesou em favor de Aidan Ravin e do grupo comandado pelo deputado estadual Campos Machado, braço armado do governo do Estado na Operação Santo André, foi o salto alto dos petistas, que já se imaginavam no Paço Municipal depois dos 48,9% dos votos válidos no primeiro turno. E como condenar os petistas que afrouxaram o ritmo se essa era a percepção generalizada não apenas de Santo André mas de qualquer eleitor que respirava o ambiente eleitoral no Grande ABC?
A pesquisa do Ibope publicada na véspera do segundo turno pelo Diário do Grande ABC e que dava empate técnico entre os finalistas (a diferença chegou a 10 pontos) apontava que 69% da população acreditava que Vanderlei Siraque venceria a disputa. Como explicar essa contradição? Simples: a guerra de guerrilhas foi essencialmente nas entranhas sociais de classe média e da periferia, no varejo, silenciosa, enquanto no atacado permanecia a sensação de que o resultado do PT do primeiro turno homologaria a vitória no segundo turno. O PT propagou às claras os acordos eleitorais e os apoios de estrelas partidárias. O PTB preferiu os subterrâneos de votos.
Há acordos de bastidores que azeitaram no campo midiático o desmonte petista em Santo André. Alguns foram mais competentes do que outros na arte da dissimulação. O pacote de manobras para a derrubada de Vanderlei Siraque não se restringiu a formulações locais. Até o cargo de uma autoridade pública com base em Santo André foi colocado a prêmio. Surpreendentemente, preferiu silenciar-se após a queda.
Mesmo admitindo-se que em política o vale-tudo faz parte do jogo, porque o pau canta mesmo fora das páginas de jornais, inclusive porque para a maioria da mídia o que mais interessa mesmo é o jogo do faz-de-conta da imparcialidade, mesmo admitindo tudo isso, não se pode passar recibo de desconhecimento do ritual utilizado, sob pena de fraudar a história da maior zebra do segundo turno no Brasil.
Não se vira uma eleição como se virou em Santo André por obra do acaso. E tampouco estaria apenas em foco de fragilidade estrutural do adversário a justificativa para o resultado. O mesmo grupo que orquestrou a campanha de Vanderlei Siraque no primeiro turno atuou no segundo turno. O salto alto não teria maiores consequências se o adversário não tivesse obtido um reforço que demorou para ser detectado e, quando o foi, a reação se tornou inócua. Foi esse mesmo núcleo que venceu as prévias petistas em Santo André, tendo como opositores especialistas na conquista de votos tanto de filiados partidários como do eleitorado em geral, em campanhas vitoriosas de Celso Daniel.
Conquistar em média por dia mais de seis mil votos e, com isso, virar um jogo tão próximo do encerramento no primeiro turno foi façanha da qual o próprio vencedor demorou para convencer-se de que não passava de sonho. O problema é que o sonho pode virar pesadelo porque Aidan Ravin é um moço sem enraizamento partidário para sustentação administrativa e, como já se percebe no noticiário, começou a ser assediado e a sofrer o que poderia ser chamado de chantagens psicológicas. Até que ponto terá estofo para resistir a tanto assédio sem colocar em risco a governabilidade?
Aidan Ravin corre sim o risco de ser tutelado por um condomínio de interesses disformes, até mesmo antagônicos, mas de fome pantagruélica de usufruir do poder. Refém de situação que já dá sinais de estar fora de controle, Aidan Ravin precisará de consistência institucional para não se tornar mais que uma imensa zebra de branco.
O bom da democracia, apesar de todos os custos implícitos dos experimentos, é que os discursos são colocados à prova dos nove. As promessas de campanha deveriam constar de um site permanentemente monitorado, à esquerda e à direita do eleitorado. O candidato petebista apadrinhado por uma ação de Campos Machado e aliados locais representa alternativa de comando político em Santo André que recoloca o PT mais próximo da realidade prática, depois de considerar-se invencível.