Política

Aidan e o jogo oposicionista

DANIEL LIMA - 08/09/2009

A parcela petista de Santo André que mede forças com o prefeito Aidan Ravin é o que o comandante do Paço Municipal mais precisa para se consolidar perante o eleitorado mais conservador.  A vantagem adicional é que a estridência oposicionista não chega com força nas beiradas sociais dos menos escolarizados e economicamente mais vulneráveis. Boa parte desse eleitorado, que Aidan Ravin também arrebanhou em outubro do ano passado, não está nem aí com o cheiro da brilhantina do varejismo que os legisladores patrocinam.


Nessa disputa para ver quem consegue atribuir ao adversário o desgaste de nova etapa da vida política em Santo André, a percepção que parece ganhar o pódio coloca Aidan Ravin mais na condição de vítima do que de vilão. Aidan Ravin e sua equipe parecem controlar os cordéis táticos e estratégicos da guerra pela audiência em Santo André. O apertar do cerco da oposição, agora mais densa, seria um paradoxo, porque exprimiria por parte de seus representantes um certo desespero de objetivos não alcançados. Principalmente das bancadas partidárias até outro dia próximas do poder.


A insistência com que tanto o PT como outros partidos de oposição se unem para pressionar a Administração Municipal é de tal forma inconsistente que Aidan Ravin não precisa se esforçar muito para sustentar acesa a chama da representatividade dos eleitores que o tornaram a maior zebra eleitoral do Grande ABC no ano passado. Os petistas de carteirinha, que compõem 30% de votos ideológicos no Grande ABC, tendem a ficar isolados nessa guerra santa. Os partidos que ameaçam juntar-se aos petistas de Santo André estão longe de parecer ameaçadores em densidade eleitoral. Até porque o diagnóstico disponível é de que a ação tem a textura de uma geléia.


O sentimento de quem lê os jornais e acompanha os sites de comunicação do Grande ABC é de que o governo Aidan Ravin enfrenta oposição intolerante e que, nesse ponto, o prefeito tem toda razão: um terceiro turno estaria em disputa. Talvez tenha faltado ao PT nestes primeiros meses de novo governo o discernimento de substituir o palco pelos bastidores. O protagonismo oposicionista escancarado, em campo aberto, poderia ter sido camuflado e quem sabe até armazenado para estocadas certeiras numa cronologia distinta da interpretação pública de revanchismo pela derrota eleitoral.


Nesse ponto, os gestores do desempenho institucional do governo Aidan Ravin acertaram na mosca porque, ao construírem série de ações de visibilidade midiática ao assumirem o Paço Municipal, chamaram para a briga do contraponto os petistas mais intempestivos. Era tudo o que queriam Aidan Ravin e assessores. A etiqueta de choro dos perdedores colou.


De fato, foi a administração Aidan Ravin que chamou os petistas para um terceiro turno, depois de vencer o segundo, mas a engenharia de marketing foi tão bem azeitada que, como o PT mordeu a isca, o efeito reverso acabou se instalando. Uma pesquisa com formadores de opinião certamente imputaria à oposição o desdobramento de novo turno. O PT caiu na arapuca petebista e dificilmente não cairia. É do cromossomos do partido a opção pelo confronto. O silêncio sugerido poderia ser autocondenatório.


O governo Aidan Ravin tem sido muito mais competente que os petistas na condução do jogo de cena inerente da política, aqui e em qualquer lugar do mundo. A impressão geral é que o PT está sempre correndo atrás do prejuízo. A expressão pode ser literalmente absurda, como defendem os léxicos, porque ninguém corre atrás do prejuízo, mas, nesse caso, o consagrado uso popular é plenamente justificado.


O PT e aliados ocasionais estão correndo mesmo atrás do prejuízo. Quanto mais jogam para a platéia as supostas vísceras de inexperiência do novo governo, mais sugerem a possibilidade de que os petistas ainda choram por outubro e os não petistas igualmente na oposição esperneiam porque contrapartidas na repartição de franjas do poder estariam sendo rejeitadas. Os leitores e eleitores mais qualificados costumam identificar buracos éticos de composição de forças do poder. Explicita-se demais em Santo André que os vereadores de oposição não-petistas querem nacos orçamentários. Em Legislativos mais preparados a disputa por recursos públicos como mecanismo de manutenção dos respectivos eleitorados obedece a regra da discrição. O despudor em Santo André coloca os vereadores agora na oposição em posição desconfortável perante leitores e eleitores menos ingênuos.


Aidan Ravin deve estar rindo à toa porque provavelmente já superou momentos mais delicados da gestão iniciada em janeiro. Sim, estou me referindo às possibilidades de ter o mandato abreviado por conta de irregularidades de financiamento no segundo turno eleitoral. A impressão é que o bonde da legalidade já passou e o que restou é a legitimidade intocável do mandato obtido nas urnas. Traduzindo: quem tinha o que tinha para apear Aidan Ravin do trono em que o povo o colocou possivelmente terá de fazer outro uso do calhamaço de provas e documentos porque não há ambiente político para tal empreitada que não dissemine o cheiro de mofo golpista.


O PT de Santo André está dividido quanto ao tratamento que deve ser dado à gestão de Aidan Ravin. Recorram os leitores ao noticiário e observem como o deputado estadual Vanderlei Siraque, que por um triz não arrebatou a coroa do Paço no primeiro turno, tem-se conduzido. O candidato petista que Aidan Ravin superou nos votos em quase todos os distritos de Santo André está cuidando do mandato legislativo. Discreto, evita qualquer tipo de comentário público de avaliação do prefeito Aidan Ravin. A pecha de mal perdedor não o alcança, como tem atingido os petistas de Santo André em geral.


As agruras administrativas, políticas e institucionais pelas quais passa o governo de Aidan Ravin não são muito diferentes de tantos outros prefeitos eleitos pela primeira vez no ano passado e que, portanto, pagam o preço do noviciado. A sobrecarga de tormento relacional que possivelmente atinge a administração de Santo André decorre do grau de dificuldades e do embaralhamento de composições interpartidárias que o levaram a uma vitória quase inconcebível aos olhos de especialistas.


Por mais que Santo André e o Grande ABC como um todo (menos Ribeirão Pires, Rio Grande da Serra e São Caetano) demarquem divisão partidária-eleitoral entre petistas e não-petistas, hão de convir todos que sair de uma base de 21% dos votos válidos ao final do primeiro turno para a esmagadora supremacia três semanas depois diante de um candidato forte e que ficara a pouco mais de um ponto percentual da linha do triunfo no primeiro turno não é tarefa comum.


Ora, diante desse enredo que não chega a ser surrealista mas também escapa da normalidade estatística, já que foi a primeira vez que virada de tamanha proporção ocorreu em segundo turno no território nacional, seria natural que o vencedor iniciasse o mandato preso a algumas armadilhas de composição de governo. É o que se viu e o que se vê ainda em Santo André.


O que o PT e os novos aliados oposicionistas em Santo André desprezam na guerra de guerrilhas que patrocinam contra Aidan Ravin, num ramerame de difícil digestão informativa, é que o principal ocupante do Paço de Santo André é espécie de aspirador de votos. O carisma pessoal de Aidan Ravin, transbordante até na opinião dos adversários mais rigorosos, é o carro-chefe da própria governabilidade. Aidan Ravin só seria engolfado pelos problemas se negasse a si mesmo a arte de seduzir.


O poder de sedução pessoal de Aidan Ravin, manifestado na campanha eleitoral quando percorria as feiras livres com a imensidão de seu corpo e o encantamento de mestre-sala, não é atributo que deva ser subestimado. Política não se faz apenas de resultados cientificamente medidos com obras, projetos e representatividade institucional. O componente pessoal de interlocução com a sociedade em contatos individuais ou coletivos vai muito além do que sugere a filosofia. E nesse ponto Aidan Ravin é insuperável no Grande ABC.


A longevidade dessa riqueza pessoal é outra questão. Uma hecatombe administrativa o nocautearia, mas isso está fora de cogitação entre os mais sensatos porque o prefeito de Santo André tem o respaldo de aliados regionais e estaduais. Foi graça a Aidan Ravin que tucanos e coligados no Grande ABC evitaram o domínio petista no Clube dos Prefeitos e toda a simbologia que isso significa. A administração de Santo André é importante peça do tabuleiro de xadrez às disputas governamental e presidencial do próximo ano.


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