Política

Aidan pressionado

DANIEL LIMA - 06/11/2009

A administração do prefeito Aidan Ravin deu a entender nos últimos meses que a crise com ex-aliados estaria superada. Entretanto, a julgar pelo noticiário desta sexta-feira, impresso pelo jornal ABCD Maior, há retomada do movimento do fogo amigo para desalojá-lo do Paço Municipal.

O andar da carruagem indicaria que o caminho da conciliação foi dinamitado. Os últimos meses teriam sido de pura embromação.

Ex-aliados estariam cansados de esperar. As flores de reconciliação que a situação teria remetido como sinalização de paz eram repletas de espinhos de enrolação.

A raiz dos dissabores de Aidan Ravin é o financiamento irregular da campanha que o conduziu de forma surpreendente à vitória no segundo turno contra o petista Vanderlei Siraque.

Aidan Ravin foi enganado por assessores caso tenha contabilizado a crise como arquivo morto.

Se acompanhou atentamente a tudo e deixou que descongelassem seu nome na câmara refrigerada de acordos pendentes, deu mostras de que não tem sob controle situações de risco.

Há quem garanta que o governo de Aidan Ravin é bom de marketing mas péssimo de medidas preventivas.

A explicação seria a imensa capacidade de assessores no campo da criação, mas relapsos em factualidades. Estariam mais para a linguagem spielberguiana do que para documentaristas preocupados com a realidade.

O jornal ABCD Maior dá nomes aos bois de um caso que mereceu deste jornalista série de textos, o primeiro dos quais em 5 de fevereiro último sob o título “A todo custo”, que consta deste site. Originalmente, foi publicado no blog que antecedeu a esse veículo digital.

O último dos textos que escrevi sobre o temário explosivo foi publicado em 30 de março sob o título “Aidan libertado?”.

Supunha-se, a partir de então, que tudo estava às mil maravilhas e que o prefeito Aidan Ravin conseguira resgatar a dívida financeira de campanha com ex-aliados, o verdadeiro cerne do problema. Vê-se agora que não pagou nada.

O contraponto é que os credores podem melar o jogo da governabilidade com provas contundentes de que o financiamento da campanha de Aidan Ravin fugiu completamente ao controle da legalidade.

Convém ressaltar que financiadores de campanha não têm obrigação nem responsabilidade na prestação de contas, que é outro departamento. Não haveria, portanto, por que manter o silêncio dos credores, absolutamente inocentes.

“Levarei à Polícia Federal documentos suficientes para render a cassação de Aidan”.

Essa não é uma declaração qualquer. É uma espécie de bomba-relógio que o empresário Hélio Tanaka, dono da Nossagraf, em Itu, proferiu ao repórter do ABCD Maior. Tanaka deverá ser o próximo depoente à PF no inquérito policial aberto para investigar a suspeita de crime eleitoral cometido pelo então candidato Aidan Ravin. Os seis vereadores do PT abriram nesta semana a série de oitivas, segundo o jornal.

O prefeito Aidan Ravin possivelmente precisará renovar argumentos. Haveria fadiga do material defensivo exaustivamente veiculado nos bastidores para se livrar de algo que em situação de radicalidade apreciativa da Justiça Eleitoral poderia terminar em processo de cassação de mandato.

Dizer a terceiros que ex-aliados estariam se mobilizando para extorqui-lo talvez seja o argumento de final de linha, porque se assim o fosse, convenhamos, o caso não estaria na esfera policial.

Tenho conhecimento do caso desde o primeiro texto que alinhavei. Aliás, só me enfiei nesse emaranhado pós-eleitoral porque contava com respaldo de provas materiais.

Sempre imaginei que o prefeito de Santo André teria competência para lidar com a situação, evitando-se tromboses. Não divulguei os nomes dos denunciantes que agora aparecem, entre outras fontes, porque sigo rigorosamente um dos mandamentos mais nobres do jornalismo. Quem é do ramo sabe que só se revelam identidades das fontes quando devidamente autorizadas.

A administração de Aidan Ravin deveria reconhecer que dívidas de campanha eleitoral não poderiam ser atiradas às baratas. Tampouco os acordos laterais, de ocupação de cargos na Administração Pública. Esse é um ritual comum em qualquer lugar do planeta. Gostem ou não falsos puritanos e hipócritas de plantão. Quem não quer cumprir promessa de campanha que trate de se proteger contra eventuais contragolpes.

Constam exclusivamente de receituários de ingenuidade ou de solidariedade ideológica financiamentos eleitorais sem contrapartidas. Aidan Ravin foi a Itu em busca de recursos financeiros e materiais para a campanha ainda em primeiro turno oferecendo contrapartidas que, vitória alcançada, não se concretizaram.

Instado persistentemente a cumprir o acordo, acabou por levar ex-aliados ao revanchismo. Recursos obtidos e não declarados na prestação de contas alimentam as fornalhas de mandatos que tribunais eleitorais já fizeram virar pó.

Aidan Ravin transmite a sensação de que não está nem aí com o cheiro da brilhantina porque teria as costas ainda mais largas do que parecem ou porque o blindaram de tal forma que ele perdeu a percepção de que os ex-aliados se apresentam como altamente destrutivos.

Vamos ver nos próximos dias qual vai ser a cortina de fumaça do governo Aidan Ravin para combater o mal-estar provocado pela notícia do ABCD Maior. Nesse ponto, como já disse, os alquimistas de Aidan não podem ser menosprezados. Quem sabe algo novo, que não passe de requentamento, do Poupatempo da Saúde, não vire manchete.



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