Política

Orlando Morando salva Serra na
escada rolante. Nada mais natural

DANIEL LIMA - 12/05/2010

Não sei por que tanta surpresa com o fato de o deputado estadual Orlando Morando socorrer o candidato presidencial dos tucanos, José Serra, na escada rolante do Expocenter Norte, em São Paulo, quando da visita a uma feira de negócios. Orlando Morando é espécie de sombra tanto do ex-governador quanto do concorrente ao cargo, Geraldo Alckmin, daí ter evitado que Serra perdesse o equilíbrio e sofresse queda de consequências políticas imprevisíveis nestes tempos em que qualquer fato novo no noticiário eleitoral ganha repercussões intensas.


Já imaginaram a oposição produzindo trocadilhos sobre a falta de equilíbrio do candidato tucano que pretende desbancar a candidata de Lula da Silva?


Se os brasileiros em geral não perdoam nem mesmo os mortos — que o diga Airton Senna — o que esperar da enxurrada internética para legendar a imagem da queda de José Serra?


Não faltaria quem escrevesse com a segurança da impunidade do mundo digital que o ex-governador dos paulistas esconde um segredo que explicaria a queda, relacionando-o, por exemplo, à particularidade de Roberto Carlos, o cantor, não o jogador.


Fosse assessor de Orlando Morando, não teria dúvidas em reiterar a José Serra o quanto foi prestativo o deputado estadual que o acudiu na escada rolante, evitando constrangimentos imensuráveis.


Devotadamente decidido ao papel de figurante constante, na esperança de que se torne protagonista, Orlando Morando é o homem público regional que mais aparece na mídia nacional. A maioria de telespectadores e leitores não sabe exatamente de quem se trata, quem é aquele jovem sempre em ternos bem recortados que não regateia presença, sorrisos e aplausos a Geraldo Alckmin e a José Serra.


Fotógrafos e câmeras registram tudo. A marcação de Orlando Morando é personalizada.


Tem sorte Orlando Morando que nenhum dos novos talentos da comédia televisiva do Brasil se deu conta de personagem inspirado em suas aparições. Poderiam caricaturalizá-lo sem dó nem piedade e, lamentavelmente, quebrar o marketing do assessor devotado, que é isso que Orlando Morando é de fato.


Engana-se quem traça algum paralelo entre Orlando Morando e o Beijoqueiro, aquele penetra que sempre dava um jeito de surpreender celebridades com infiltrações espetaculares carimbadas por lábios ansiosos na face da estrela do espetáculo, fosse o Papa João Paulo II, fosse Frank Sinatra, fosse quem fosse. Até prova em contrário, Orlando Morando jamais foi visto em situação semelhante.


Portanto, Orlando Morando não pode ser confundido com Beijoqueiro algum. Primeiro porque a comparação o desclassificaria, o colocaria no rol de um particularíssimo aproveitador de ocasião, principalmente se a ocasião parecesse a mais improvável à espetacularização do ato.


Além disso, verdade seja dita, Orlando Morando não é de ficar beijando nem Alckmin nem Serra. Se o faz particularmente, nos corredores palacianos, é problema dele. Ou solução dele. Sei lá como os tucanos mais emplumados se cumprimentam. Nem sei se Orlando Morando tem tanta plumagem assim entre os cardeais tucanos.


Também deve ser analisado em qualquer tentativa de associá-lo ao Beijoqueiro que Orlando Morando não se dá ao desfrute de acompanhar passo a passo gente importante do mundo político. Ele é seletivo. Longe dele qualquer iniciativa que o vincule, por exemplo, a concorrentes petistas. Ou seja: Orlando Morando não é um oportunista no sentido lato do termo, como o Beijoqueiro que se atirava para onde apontava a biruta dos flashes. Ele apenas tem senso de oportunidade, se pode ser assim definida a performance de diligente figurante.


Também não fica bem chamar Orlando Morando de papagaio de pirata, comportamento de gente sem qualificações específicas em relação ao pirata da vez. Orlando Morando só cola nos candidatos e autoridades com os quais tem relacionamento e compromissos políticos. O que, convenhamos, é muito diferente da etimologia popular que estigmatiza a expressão papagaio de pirata, que vem a ser alguém sem nada a ver com o peixe mas que resolve grudar na estrela da festa.


Por isso, estranho mesmo seria se Orlando Morando não estivesse de plantão, como um Super Homem, para socorrer quem quer chegar ao Palácio do Planalto. Esse jovem político que fez o PT suar às bicas nas últimas eleições em São Bernardo para reconquistar uma Prefeitura que os aliados tucanos não queriam perder de forma alguma é sobretudo um persistente.


Possivelmente Orlando Morando deve reconhecer que está correndo atrás de um prejuízo enorme, no caso a derrota ao Paço de São Bernardo na disputa de 2008. Sem Serra presidente e mesmo com Alckmin governador, dificilmente conseguirá alcançar a Prefeitura com que tanto sonha. Mas não esmorece, porque tem a vantagem da juventude.


A obstar os passos mais próximos de Orlando Morando não estão apenas o petista Luiz Marinho, atual prefeito, nem o também deputado Alex Manente, com quem mantém rivalidade crônica no eleitorado mais jovem. Também lhe trança os passos o veterano William Dib, prefeito durante seis anos, seu ex-protetor, com quem o relacionamento não é dos melhores entre outros motivos porque a disputa pela benção dos cardeais tucanos é uma corrida paralela às desavenças com os petistas.


Sei lá quais serão os efeitos práticos das aparições de Orlando Morando nos flagrantes que capturam os candidatos tucanos. Deve ter ele motivos de sobra para insistir no ato de continuar com a marcação homem-a-homem.


Como o incidente no Expocenter provou, não é impossível que, numa eventualidade qualquer, Orlando Morando transforme-se de fato em protagonista circunstancial ao salvar a vida ou o prestígio de Serra ou de Alckmin diante de um contratempo mais sério. Persistência e lealdade são atributos que carrega na caixa de ferramenta partidária sempre a salvo da malidecência política.


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