Política

Auricchio e o malabarismo para
dar continuidade em São Caetano

DANIEL LIMA - 05/08/2010

Embora para alguns o prefeito José Auricchio Júnior transmita a sensação de que conduz o processo de sucessão em São Caetano carregado de dúvidas, a agir como aprendiz de cartomancia incapaz de decifrar imagens que lhe saltam às mãos, quem conhece o titular do Paço Municipal jura por todos os juros que o que se tem de fato é um habilidoso malabarista a lidar com meia dúzia de pequenas bolas de borracha manejadas com tamanha destreza a ponto de provocar ilusões de ótica, como se fossem apenas uma, deslocando-se em movimentos circulares.


Não faltam nomes a desfilar na roda gigante de alternativas à ocupação da cadeira de Auricchio no Palácio da Cerâmica. Auricchio tem apreço especial por rodas gigantes. Trem fantasma, chapéu mexicano, looping e tantos outros apetrechos que o mundo da política adaptou de parques de entretenimento não constam da preferência do prefeito. Adrenalina demais costuma bloquear a lucidez.


Contra aqueles que observam sinais de fissuras na embarcação situacionista por causa de tantos concorrentes internos surgem observadores atentos que diagnosticam resultado completamente diferente.


O que seria excesso de competidores e de multiplicação de eventuais idiossincrasias não passa de ritual estratégico programado pelo chefe do Executivo para testar os nervos e o espírito de equipe dos melhores assessores, com os quais contaria mesmo fora do governo como integrantes do grupo político para dar continuidade ao projeto iniciado em janeiro de 2003.


Há componentes mais que técnicos à avaliação dos nomes disseminados. Além do espírito de equipe que ultrapassaria o encerramento do segundo mandato de Auricchio contaria muito o relacionamento pessoal e corporativo dos mencionados favoritos à sucessão.


A tradução dessa equação, fora de qualquer academicismo explicativo que consolida uma crosta de subjetividades e semânticas, é simples e direta: o prefeito de São Caetano quer fazer da sucessão uma continuidade do planejamento estratégico de desenvolvimento econômico e social de um Município que pode se dar ao luxo de autodenominar-se oásis de qualidade de vida na tumultuadíssima Grande São Paulo.


Ainda prevalece na equipe de governo a interpretação de que está longe a parada técnica para estudos que definam o mote com o qual o concorrente situacionista ao Paço Municipal procurará sintetizar a expectativa da população quando o segundo mandato de Auricchio se encerrar. Entretanto, já ganhou corpo o conceito de que será importantíssimo comunicar-se com a massa de eleitores pela estrada da continuidade administrativa.


É certo, portanto, que se pretenderá buscar uma expressão verbal que amarre o conforto de continuidade de políticas públicas. Aos oposicionistas se repassaria algo como a ameaça de os eleitores se travestirem de equilibristas em cabo de aço estendido entre duas torres nas alturas.


São Caetano, até prova cabal em contrário, não é terra fértil a quem quer chegar ao Paço sem as bênçãos do Paço. É preciso que o Paço perca demais o passo para que quem está fora do Paço se consagre vencedor.


Por isso mesmo o prefeito José Auricchio é praticante devoto do evangelho que abomina cisões internas que possam sugerir à população de São Caetano a ideia de que está à frente de uma gestão pública de risco.


O esticamento da corda que embala a variedade de eventuais candidatos relacionados ao Paço Municipal pode parecer insumo de enforcamento dos situacionistas. Entretanto, nem mesmo a diversidade de concorrentes de uma mesma equipe é vista como divisionismos internos, segundo avaliações do Paço.


Tudo porque os nomes que saltam à ribalta especulativa são tão próximos do prefeito e tão próximos, portanto, entre eles mesmos, que sobra a interpretação de que não só se aceitam mutuamente como concorrentes leais como, principalmente, estão lealmente à espera de uma definição a ser anunciada pelo chefe do Executivo.


Há um outro condimento visto como contributivo à propagação de harmonia num ambiente apenas aparentemente competitivo no Paço Municipal: com tantos concorrentes situacionistas veiculados pela mídia sem que qualquer um deles se manifeste em tom individualista em detrimento do conjunto da administração e também sem cutucar os supostos adversários do próprio grupo, os partidos de oposição não encontram combustível de intrigas palacianas a alimentar as fornalhas de críticas. Pelo menos por enquanto, a artilharia pesada dos oposicionistas se limita aos próprios muros partidários.


Como se tudo isso não bastasse para deixar o Paço Municipal longe de boatarias de fogo amigo, sobressai componente muito caro ao conservadorismo dos eleitores de São Caetano: o prefeito José Auricchio estimula a democracia interna de colaboradores naturalmente interessados em sucedê-lo, oferecendo-lhes a prerrogativa da visibilidade midiática, mesmo que, cautelosamente, todos eles descartem candidatura. Portanto, o que pareceria indecisão do prefeito, ganharia a forma de democracia, segundo avaliação de quem conhece bem a cultura de uma São Caetano diferente de tudo que se pratica no Grande ABC.


José Auricchio segue cartilha semelhante a de seu antecessor e mentor eleitoral, Luiz Tortorello. Quando secretário de saúde, Auricchio integrava uma lista enorme de pré-candidatos. Resta saber se da lista atual há de fato quem sairá candidato do Paço, como Auricchio o foi em 2002.


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