Entrevista Especial

Executivos trocam vidraça
por vidraça muito maior

DANIEL LIMA - 05/03/1998

Os dois executivos de grandes empresas que as Prefeituras de Santo André e São Bernardo recrutaram para dirigir as pastas de Desenvolvimento Econômico estão entusiasmados. O engenheiro têxtil formado na FEI (Faculdade de Engenharia Industrial, em São Bernardo) Nelson Tadeu Pereira e o advogado Fernando Longo mantiveram encontro de 90 minutos num café da manhã regado a muita confiança e perspectivas à frente das secretarias mais importantes no organograma dos Municípios da região sem perder contato com a realidade de cobranças.


De vidraças, como executivos de ponta de multinacionais (Rhodia, no caso de Tadeu, e Scania, no caso de Longo) comprometidos com resultados num mundo que se globaliza e exige cada vez mais dos trabalhadores graduados ou não, eles entendem que se transformaram em vidraças ainda maiores, tantas são as carências municipais e regionais no setor.


Tadeu está há mais tempo á frente da Secretaria em Santo André, pois assumiu o cargo logo depois do prefeito Celso Daniel, em janeiro do ano passado. Longo só passou a comandar a Secretaria em abril do ano passado, em substituição ao empresário Valter Moura. Foram essas circunstâncias que determinaram uma das poucas diferenças reveladas pelos dois executivos públicos durante a entrevista: enquanto Tadeu não vê mudanças significativas entre trabalhar no setor privado e no público, Longo considera a adaptação mais complicada, por causa de fatores políticos.


Eles também não acertaram posição à participação político-partidária. Enquanto Fernando Longo, 40 anos dois filhos e ariano, garante que a militância política como filiado do PSDB não atrapalha seus passos e nem constrange o relacionamento com aficcionados de outras siglas, Nelson Tadeu, 51 anos, dois filhos e escorpião, sente-se livre por não se ter filiado ao PT do prefeito Celso Daniel. Considerado pela ala radical do PT em Santo André como estranho no ninho, justamente porque não foi escolhido por ter, entre os requisitos básicos para o cargo, o atestado de filiação partidária, Nelson Tadeu afirma que a imagem externa do PT lhe recomenda cautela, porque não é exatamente fiel ao que encontra na administração municipal.


Numa prova de que já absorveram as suscetibilidades da administração pública, cujas variáveis políticas são tão dinâmicas quanto escorregadias, Fernando Longo e Nelson Tadeu recusam o crachá de executivos mais importantes do Grande ABC, depois dos prefeitos. Mas têm consciência do destaque do cargo que exercem e da natural liderança das pastas. Afinal, até dezembro de 1996 nenhuma Prefeitura do Grande ABC reservava espaço para Secretaria de Desenvolvimento Econômico, num desdenhoso desinteresse em planejarem-se no setor. Hoje, apenas Diadema do socialista Gilson Menezes não criou a pasta que, nas demais administrações, ocupa o centro das atenções e das responsabilidades de uma região que corre atrás da recuperação socioeconômica.


Como é a experiência de executivo ligado à iniciativa privada atuando na administração pública?


Fernando Longo – Ainda não é processo concluído porque sinto muita diferença entre os dois setores. Para começar, na iniciativa privada tudo que não está previsto por lei é permitido que se faça. No Poder Público a situação é exatamente inversa; isto é, tudo que não está devidamente expresso por lei é proibido de fazer. Outro ponto é que numa empresa você traça os objetivos e trata de executá-los o mais breve possível. No Poder Público traçam-se os objetivos mas há tantos entraves burocráticos que quando se consegue alcançar o proposto, numa dimensão temporal, a situação deixa de ser prioritária. Também entendo que na iniciativa privada, no aspecto de relacionamento, existe mais sinceridade, mais companheirismo. Não estou aqui, evidentemente, reclamando das pessoas com as quais convivo mais diretamente na administração pública, mas do conjunto que nos cerca como organização pública.


Nelson Tadeu – Não senti nenhuma dificuldade de adaptação e posso explicar por quê. Durante minha carreira na livre iniciativa mudei várias vezes de área, o que significa dizer que praticamente iniciava nova atividade a cada ciclo profissional, com novas adaptações, novas posturas, novos relacionamentos. Acabei me acostumando e até gosto desse tipo de desafio. Minha adaptação è função pública em Santo André também foi facilitada porque há nível de escolaridade elevado entre secretários e assessores. Concordo com o Fernando Longo quando se refere à burocracia, às dificuldades de executar determinados objetivos. Mas também encontrei na livre iniciativa problemas parecidos, relativos à necessidade de convencimento, do lobby, para dar sequência a determinados processos. Diria que são situações semelhantes. Numa empresa grande os projetos das diversas áreas acabam competindo pelos recursos disponíveis e isso gera certa morosidade também. Afirmaria que no Poder Público você conhece as pessoas, sabe que partido político elas representam. Nas empresas é diferente. Existe o que se chama de competitividade nas carreiras profissionais e nem sempre o jogo é leal e claramente perceptível.


O que representou para você, Fernando Longo, o fato de ter assumido a Secretaria em substituição ao inicialmente escolhido, o empresário Valter Moura, presidente da Associação Comercial e Industrial de São Bernardo? Não teria sido essa uma das razões da dificuldade de adaptação comparada à exposta pelo Nelson Tadeu?


Fernando Longo – Estou tendo grande ajuda de todos os secretários, sem dúvida. Quando me referi às dificuldades estava observando um aspecto mais amplo da atividade pública. O fato de ter assumido o cargo do Valter Moura, numa Secretaria da qual era diretor de fomento industrial, acabou resultando em problemas porque inevitavelmente sempre são traçados alguns paralelos, alguns comparativos entre o que saiu e o que entrou. Acabei herdando equipe que não foi indicada por mim, por exemplo. Mas não fiz mudanças traumáticas. O que fizemos foi comprometer a equipe com os objetivos traçados e também coma filosofia de trabalho que, diria, é completamente diferente e até antagônica.


Como vocês analisam, numa abordagem histórica, a falta de sintonia que durante décadas prevaleceu no relacionamento entre Poder Público e empresas, de modo a colocar a região numa situação de dificuldades notórias, de enfraquecimento econômico mais que comprovado?


Nelson Tadeu – Acho que no caso de Santo André um dos motivos foi a falta de continuidade administrativa. A alternância no Poder Público provoca a descontinuidade dos processos. Mas vejo que os prefeitos atuais se preocupam muito mais que os antecessores. Estava do outro lado do balcão nas gestões passadas e tentei por diversas vezes colaborar no sentido de que se buscassem soluções regionais. Mas havia falta de colaboração explícita para com o presidente do Consórcio Intermunicipal, o Valdírio Prisco, de Ribeirão Pires. Tinha até pena dele por estar tão abandonado. Os outros ignoravam completamente as relações regionais. Por isso estamos entrando atrasados nesse projeto de ação regional, mas acho que a saída é essa e nenhuma outra.


Vejo que os prefeitos atuais estão engajados e entendo que temos tempo para recuperação porque há vontade política nesse sentido. Muita vontade aliás. Falo como secretário do Celso Daniel, prefeito preocupado em mobilizar todo o secretariado nas atividades regionais. Os empresários só não participaram ao longo dos anos porque nunca foram procurados e jamais tiveram respostas a seus pleitos. Vários assuntos eram debatidos, casos da Avenida dos Estados, do Porto de Santos, da ferrovia, do custo da água, e não surgiam as respostas. Agora sim tudo está se encaminhando para soluções.


Fernando Longo – Quando contribuímos na elaboração do Plano de Governo do prefeito Maurício Soares, ainda como candidato ao cargo, identificamos essa falta de sintonia entre Poder Público e empresariado, notadamente o grande empresariado do Município. O diagnóstico era claro no sentido de que havia ausência absoluta do empresariado em relação às questões públicas. E a recíproca era verdadeira. Além disso, havia por parte da iniciativa privada clara desconfiança em relação ao Poder Público. Faltava credibilidade. E tudo era visto sob o prisma municipal. Hoje a situação é diferente: se observa tudo também no aspecto regional. Diria que o espírito regional agora se faz presente.


A iniciativa privada tem recebido respostas rápidas às suas demandas. Isso é resultado de política de aproximação do prefeito Maurício Soares junto às empresas de São Bernardo, especificamente. Quando ele assumiu o cargo, ano passado, dedicou-se entre outras iniciativas a se apresentar pessoalmente aos principais executivos das grandes empresas locais, não apenas as montadoras de veículos. Em todos esses encontros, o prefeito deixava evidenciado o interesse da Prefeitura em colaborar com a iniciativa privada. Com isso, detectamos que a iniciativa privada observa o Poder Público voltado para superficialidades. No início deste ano retornamos às empresas e encontramos avaliação muito mais favorável. As respostas foram gratificantes. Foi graças a isso, por exemplo, que conseguimos das montadoras a amarração no sentido de participarem da Câmara Regional do Grande ABC. Seus representantes vão participar de um grupo de trabalho que vai discutir política de competitividade do setor.


Nelson Tadeu – Também visitamos o empresariado. Tanto que no encontro com o então presidente da Cofap, Abraham Kasinski, ele nos disse que depois de 30 anos de atividades em Santo André recebeu a visita de um prefeito.


Fernando Longo – Nós também ouvimos muito isso.


Nelson Tadeu – Realmente, a ausência do Poder Público junto às empresas era gritante. Em todas as visitas que fizemos com o Celso Daniel, ele sempre fez questão de dizer que nossa Secretaria é a porta dos empresários na Prefeitura, independente do assunto a ser tratado, porque, através de nossa pasta, distribuiríamos às demais as respectivas demandas. Estamos caminhando no sentido de que todos, empresários e trabalhadores, além do Poder Público, estão se juntando em busca de objetivos comuns. O empresariado, que compete naturalmente entre si em determinados setores, sabe que para se conquistar resultados em determinadas questões só a união de esforços será benéfica. As relações capital-trabalho estão evoluindo. Tanto que tivemos o histórico acordo entre Volkswagen e Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.


Estamos vivendo, na verdade, processo revolucionário no Grande ABC em termos de relações institucionais…


Fernando Longo – Sem dúvida. Houve mudança de postura tanto em relação ao Poder Público e o empresariado, e vice-versa, quanto sindical. Mas a origem de tudo foi o Poder Público. Quando um prefeito, no caso do Maurício Soares, vai até uma empresa em busca de parceria, de conhecer as dificuldades da organização, isso significa muito. Não é o homem público que chega a uma empresa para pedir, como era tradição.


Como fica a questão da derrubada do Custo ABC, que implica em perdas relativas para várias partes, mas em ganhos absolutos para o conjunto? Será que vamos conseguir rebaixar os custos? Será que as Prefeituras vão abrir mão de determinados impostos e as empresas, de certos níveis de rentabilidade? E os trabalhadores como um todo, depois do que aconteceu na Volks, também vão abrir mão de conquistas ditas históricas?


Fernando Longo – Esse é um processo em andamento. O Mauro Marcondes (diretor da Scania do Brasil) foi muito feliz quando, recentemente, falou em Benefício ABC, não Custo ABC. Acho que a gente tem de encarar a situação sob esse prisma. É claro que temos custos em função da relação sindical forte, mas também temos benefícios que essa mesma relação sindical provocou.


Somos uma região socialmente desenvolvida, politizada. Na relação custo versus benefício, acho que os pontos positivos são maiores. Temos um nível de maturidade econômico-social que outras regiões que se estão desenvolvendo agora terão de alcançar. Estamos alguns anos à frente. As Prefeituras da região estão atentas a tudo. Tanto que recentemente aprovamos política de incentivos seletivos para atrair empresas. É uma estratégia moderna, que não dá espaço para renúncia fiscal. É uma parceria sem renúncia. Os Sindicatos dos Trabalhadores também evoluíram e já não colocam mais aspectos puramente econômicos como prioridade nas negociações.


Nelson Tadeu – Estamos no caminho certo em relação ao Custo ABC. Algumas coisas já ocorreram e outras vão acontecer. O entreposto aduaneiro que teremos em Santo André vai reduzir, sem dúvida, os custos que as empresas têm hoje ao recorrer ao Porto de Santos. A privatização da malha ferroviária da Rede Ferroviária Federal que passa por Santo André e São Caetano, mas que tem repercussão em toda região, também apresentará reflexos positivos, através de medidas voltadas para a logística de armazenamento de produtos. A Avenida dos Estados, que sempre foi grande gargalo para as empresas, está praticamente recuperada. A Via Anchieta vai ganhar alças nos trevos que darão maior velocidade ao tráfego, com influência no processo de distribuição de produtos. Também estamos tratando diretamente com a Sabesp a redução do custo da água industrial.


Todas essas questões são antigas e ficavam restritas a projeções. Mas agora estão sendo devidamente resolvidas. Em relação às questões trabalhistas temos esse acordo histórico da Volkswagen com os metalúrgicos e também, no caso do Pólo Petroquímico, a disposição do Sindicato dos Químicos para as negociações. Somos geralmente críticos nas avaliações, mas se compararmos o que houve no passado com o que aconteceu no ano passado, entendo que houve velocidade impressionante de respostas efetivas. Só na Câmara Regional tivemos 31 acordos assinados.


Fala-se muito em mão-de-obra qualificada no Grande ABC, mas o que se sabe, na realidade, é que, numa comparação com as exigências internacionais, não estamos bem preparados. E seria pedir demais que estivéssemos preparados se considerarmos que nos fechamos para a economia mundial durante décadas, as empresas não investiram em tecnologia e, consequentemente, os trabalhadores deixaram de ter acesso a novas formas de trabalho. O que vocês pensam a respeito da relação empresa-escolas-Prefeituras?


Nelson Tadeu – Estamos trabalhando nisso também. Já existe convênio com a Fundação Santo André para reposicionar a escola nesse contexto de transformações, de modo que sua bateria curricular seja mais direcionada às necessidades locais. Temos também grupo na Câmara Regional com participação de representantes desses três segmentos e vários Municípios já implantaram comissões de emprego. Concordo que a mão-de-obra é qualificada, mas não suficientemente para a nova realidade. Não podemos esquecer, entretanto, que temos dificuldades na formação educacional básica, como se discutiu outro dia na reunião que tratou da criação do parque tecnológico do Grande ABC. Temos, por isso mesmo, que pensar em mão-de-obra qualificada a partir da base educacional.


Fernando Longo – Nossa mão-de-obra é qualificada, mas trabalhamos com extremos, isto é, há também mão-de-obra não qualificada. Por isso precisamos trabalhar a partir do básico e também melhorar a mão-de-obra qualificada. Exemplo é o curso de mecatrônica da ETE (Escola Técnica Estadual Lauro Gomes, em São Bernardo), que está em plena sintonia com o que há de mais atualizado no mundo empresarial. O que nos preocupa muito é a requalificação profissional, para dar o salto exigido pelo avanço tecnológico e atender às novas necessidades que estão surgindo, caso do Parque Tecnológico. Entendo que o trabalhador da região está habilitado para dar essa resposta positiva, ao passo que não garantiria o mesmo de outras regiões, pelo simples fato de que temos entranhada a cultura da produção industrial. Dizem, por exemplo, que São Carlos é a capital tecnológica do Estado. Diria que pode ser do Interior de São Paulo, porque da Região Metropolitana é o Grande ABC.


Vocês estão mantendo forte identidade ao observar a situação atual do Grande ABC com lentes cor-de-rosa. Dá até a impressão de que combinaram a resposta?


Fernando Longo – (rindo) Eu e o Nelson combinamos em muitas coisas, mas não combinamos respostas.


É claro que se trata de indagação provocativa, no bom sentido. O que queremos dizer é o seguinte: quando se está na Administração Pública é normal enxergar tudo de forma positiva, até mesmo como forma de automotivação?


Fernando Longo – Posso responder pelo momento em que estamos vivendo: acho que olhar pelo lado positivo é consequência do trabalho que desenvolvemos. Estou observando grande comprometimento, não envolvimento apenas, do Poder Público, da sociedade civil, do Fórum da Cidadania, dos Sindicatos patronais e de trabalhadores. Não vejo, com isso, como olhar pelo lado negativo.


Nelson Tadeu – Sou otimista nato. Acho que tudo tem solução, tem alternativa. Gosto, particularmente, de encontrar soluções alternativas quando se coloca um problema. Se naturalmente sou otimista e as coisas estão acontecendo, então a gente se sente mais motivado a produzir mais. O que sinto é certa angústia em relação ao tempo. Todas as ações que fazemos estão limitadas a um período que, por ter vindo da livre iniciativa, entendemos que precisam ter continuidade. É exatamente como isso terá continuidade que me deixa preocupado. Estou otimista porque as coisas estão acontecendo. Se estivéssemos frustrados provavelmente nem estaríamos aqui.


Vocês dois têm consciência de que, depois dos sete prefeitos, ou mesmo até mais que alguns prefeitos, são os homens mais importantes do Poder Público na região, pelo simples fato de que o desenvolvimento econômico e social passa obrigatoriamente por suas Secretarias?


Fernando Longo – (rindo) Não diria isso. Diria que temos uma missão importante. Tanto que estamos bem engajados com nossos colegas de Secretarias municipais que também têm a visão regional. Todas as Secretarias têm seu peso relativo. O somatório está voltado para o desenvolvimento econômico e social e torna nossa missão mais complexa, mas é fruto de resultado coletivo.


O orçamento da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo de São Bernardo continua lá embaixo, em termos de valores, apesar de toda a importância da pasta?


Fernando Longo – A Secretaria continua com orçamento muito pequeno. O redutor de despesas aplicado em todas as Secretarias também valeu para a nossa. Mas é importante ressaltar que somos uma Secretaria-meio, não uma Secretaria-fim. Istoé, não precisa de grandes recursos. Não que o que disponha seja suficiente, porque jamais será. Gradualmente acho que conquistará seu próprio espaço. Como se sabe, é uma criação recente, do prefeito Maurício Soares. Não tem a tradição dos demais. Não tem nem folha de serviços prestada. Melhor dizendo: agora já tem. Por enquanto o que temos não é o suficiente, mas estamos administrando. Nosso trabalho institucional é muito forte e por isso mesmo exige recursos.


Nelson Tadeu, fale sobre o fato de ter virado uma espécie de bambino de ouro.


Nelson Tadeu – Acho que o tema desenvolvimento econômico é o mais importante não só na região, mas no Brasil e no mundo. Isso não quer dizer que a Secretaria seja a mais importante. Por ser meio e não fim, a Secretaria prepara o terreno, dá tratos à bola para as outras marcarem o gol. A importância da Secretaria está muito mais voltada à capacidade de articulação tanto externa quanto regional para que as coisas aconteçam. Exatamente por isso, fica muito difícil medir em termos de realização material o desempenho da Secretaria. Um programa Raio X (referência ao que o Diário do Grande ABC realiza junto às Câmaras Municipais) seria inadequado ao perfil de nossa Secretaria justamente porque é um trabalho muito maior de articulação, de táticas, de mobilização, de atuar em processos matriciais tanto internos em nível de Prefeitura quanto externo. Temos o mesmo perfil da Secretaria de São Bernardo quanto à questão orçamentária. Somos a secretaria de menos recursos, exatamente porque a concepção que lhe deu origem previa isso. Temos equipe de técnicos que trabalham de forma integrada com outras Secretarias para atender ao Programa de Governo como um todo.


Vocês se sentem hoje na situação de quem era estilingue e virou vidraça? Sair da livre iniciativa e ir para o Poder Público tem essa conotação?


Fernando Longo – Obviamente temos uma visibilidade maior…


Nelson Tadeu – A vidraça só mudou de tamanho. É bem maior.


O Nelson insinua que já se sentia vidraça, isto é, que já era cobrado, como não poderia deixar de ser, porque a livre iniciativa tem compromisso com resultados. Você também se sentia vidraça?


Fernando Longo – Também. Mas o que houve foi uma amplitude de visibilidade. Estamos mais expostos.


Nelson Tadeu – E as expectativas das pessoas em relação a nós são maiores.


Fernando Longo – Quando estava na iniciativa privada não tinha essa dimensão de problemas que tenho agora. E a responsabilidade é muito maior. Não consigo traçar um paralelo entre o nível de responsabilidade de antes e de agora. A dimensão é completamente absurda.


E o pior é que a remuneração não é necessariamente proporcional.


Fernando Longo – É inversamente proporcional (rindo).


Esse é um bom tema: como vocês observam o nível salarial do secretariado municipal do Grande ABC em relação às respectivas necessidades. Os salários não estariam aquém do padrão de qualidade exigido para que o Poder Público dê respostas mais efetivas?


Nelson Tadeu – No curto prazo o Poder Público não vai competir com os salários do mercado privado. Por isso, é preciso encarar esse trabalho como realização pessoal e profissional. Seria importante que a questão dos vencimentos salariais fosse melhorada para que mais pessoas pudessem vir para a administração pública.


Fernando Longo – A diferença salarial entre Poder Público e mercado privado é muito grande, sem dúvida. É proporcional à satisfação que se tem de contribuir para a melhoria das condições sociais. O problema maior está na montagem da equipe de trabalho. Quando tentei trazer algumas pessoas do meu relacionamento na indústria, houve receio em trocar de posição. Não só por questões salariais, mas também de estabilidade funcional, apesar de hoje isto estar fragilizado nas empresas. A instabilidade política é fator inibidor, na verdade.


O Grande ABC tem futuro?


Fernando Longo – Diria que o Grande ABC é o futuro. Não se pode falar em desenvolvimento econômico e social no Brasil sem falar no Grande ABC.


Nelson Tadeu – É muito bom estar participando desse futuro. É muito bom participar da história. É um sonho que tenho desde a época de estudante, quando a gente discutia a realidade do Brasil. É ótimo que a sociedade civil esteja participando, porque só com o Poder Público não seria possível. Nossa grande vantagem é a conscientização coletiva de que algo precisa ser feito.


E a questão da filiação partidária? Você já se filiou ao PT, Nelson?


Nelson Tadeu – Não. Gosto de flexibilidade. Não sou nem desta nem daquela linha. Por isso não me filiei ao PT, nem vou me filiar. Acho que se me fixar num determinado partido, poderia ficar amarrado a absorver idéias de outras agremiações. Reconheço que um dos partidos que efetivamente funciona como partido é o PT. Tem história, ideais, filosofia de trabalho, de pensamento. Gosto de muitas coisas do PT, como não gosto de outras. Como de outros partidos. Para o meu trabalho, acho que assumir uma posição vai me tolher os movimentos.


E você, Fernando, o que diz sobre isso, já que é filiado ao PSDB antes mesmo de assumir o cargo na Prefeitura?


Fernando Longo – Acho que começaram as divergências com o Tadeu (risos). Estava indo tudo na mesma direção. Divirjo um pouco sobre o que o Nelson disse. Entendo que existe necessidade de o homem público estar engajado com certo pensamento político. Nesse caso, me alinho muito com o PSDB. Reconheço que o PT é um partido com linhas definidas, mas o que o PSDB persegue são objetivos claros e socialmente comprometidos. Não me sinto constrangido de militar no partido. Tenho orgulho disso. E não tenho problema de aceitar idéias de outros partidos, de outra linha de pensamento político.


Nelson Tadeu – O problema que sinto é que as pessoas confundem o PT com a CUT, com diretórios, com Sindicatos, coisas totalmente diferentes e independentes, cada um com sua postura. Essa confusão pública acaba atrapalhando. Essa visibilidade pública, que eu mesmo confundia, não corresponde à realidade para quem, como eu, passou a conhecer o partido por dentro. Por isso não me filiei. Só por isso.


Fernando Longo – Acho que o Nelson está num partido um pouco mais complicado (risos).


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