Política

Oposição procura romper Linha
Maginot eleitoral em São Caetano

DANIEL LIMA - 13/08/2010

Ainda faltam 26 meses para as eleições municipais, mas a mobilização corre solta, embora silenciosa, cuidadosamente discreta. O mundo da política partidária é dinâmico mesmo quando parece desfalecido. A maior dor de cabeça oposicionista em São Caetano é o prestígio de José Auricchio Júnior. O uso de uma imagem de inteiro desequilíbrio de forças talvez sintetize a realidade detectada por pesquisas periodicamente levadas a campo. A oposição local é um homem que, como um Daniel mas sem vínculos bíblicos, é atirado numa cova de leões famintos.


Entretanto, como em política tudo é possível segundo raciocínios simplórios ou não, principalmente porque há sempre o imponderável a rondar a vida, os rarefeitos oponentes de José Auricchio procuram encontrar espaços para respirar expectativa de sucesso.


O problema é que José Auricchio Júnior está para os eleitores e a população de São Caetano muito acima do que está Lula para os eleitores e a população brasileira.


Traduzindo: o prestígio de José Auricchio alcança níveis mais elevados do que o captado por institutos de pesquisas para Lula da Silva.


A diferença é socioeconômica: enquanto Lula da Silva, do alto de quase 80% de aprovação, não consegue furar o bloqueio de classes mais escolarizadas e economicamente mais elevadas, José Auricchio prevalece em ambas as categorias.


Como São Caetano é o Brasil com que todos sonham, Auricchio esbalda-se nos braços da classe média-alta, da classe média-média, da classe média-baixa, da classe média-emergente e também na parcela ínfima dos populares, aquinhoados como o PróFamília, o Bolsa Família do governo federal.


Sim, São Caetano tem uma Bolsa Família com as digitais de Auricchio. Uma jogada de mestre do prefeito que resolveu remar contra a maré triunfalista e autosuficiente de que o Município de melhor qualidade de vida do Brasil não deveria preocupar-se com pobres, porque pobres não existiriam em seu território quando, todos sabiam, pobres existem sim naqueles 15 quilômetros quadrados, mesmo que os pobres de São Caetano não sejam nem sombra dos pobres brasileiros.


Lula da Silva, como se sabe, dá de braçadas nas classes mais populares que formam a maioria do eleitorado nacional, navega com mordomias na classe média-emergente que seu governo retirou da pobreza mas sofre restrições entre os 30% mais situados economicamente, não por acaso também de escolaridade mais longeva.


Os oposicionistas de São Caetano queimam pestanas para encontrar uma brecha na Linha Maginot de prestígio construído em menos de seis anos por José Auricchio. De uma espécie de Dilma Rousseff de Luiz Tortorello, prefeito que o conduziu ao primeiro mandato, Auricchio ganhou vida administrativa e política própria. Provavelmente a Dilma Rousseff de Lula da Silva jamais chegará a tanto se superar José Serra.


Por isso, diferentemente dos franceses que se descuidaram da proteção que imaginavam inviolável e se deram mal com os alemães, o prefeito de São Caetano afere todos os detalhes para que não sobre absolutamente nenhum espaço através do qual poderia penetrar a infantaria adversária a ponto de comprometer o plano de dar prosseguimento ao projeto de consolidação econômica e social de uma São Caetano que não se deixa embevecer pelo rótulo primeiromundista. Auricchio não admite uma réplica eleitoral da Linha Maginot.


Fontes do Palácio da Cerâmica estão atentas à movimentação de agrupamento supostamente rebelde que quer tomar o poder em São Caetano, aproveitando-se, imaginam, da suposta indecisão de José Auricchio em definir quem indicará à sucessão de 2012.


Adversários de espectros partidários que não desistem de opor-se ao atual mandatário organizam-se com cuidado. Há também possíveis desertores petebistas, o partido de Auricchio. Uma conjunção entre o PP do vereador Gilberto Costa e o PT do também vereador Edgar Nóbrega é o ensaio mais repetido nos bastidores. Mas há uma outra pedra que se pretende colocar no meio do caminho situacionista: o ex-vereador Ângelo Pavin, do alto do cargo de superintendente do Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Municipal), filiado ao PTB e amigo de longa data do prefeito Aidan Ravin, de Santo André, tem olhado para o Paço de São Caetano com jeito de quem espera sentar na cadeira de Auricchio.


Quem conhece o poder de fogo do Semasa, autarquia da Prefeitura de Santo André, não desconsidera a força de sensibilização de Ângelo Pavin. O problema seria que, quem conhece Ângelo Pavin, tem certas restrições à possibilidade de ele entender de fato a mecânica eleitoral que vai muito além de determinados atributos materiais.


O Semasa é muito melhor que uma subprefeitura, porque detém orçamento milionário. São quase R$ 400 milhões previstos para 2010. Poucas cidades de porte médio e médio-grande arrecadam tanto. Um grupo poderosíssimo, que pretende ter o controle do maior número possível de prefeituras, estaria a dar suporte a Ângelo Pavin, mas nada profundamente enraizado. Estaria o pré-candidato apenas frequentando as águas gélidas de testes preliminares como eventual reforço oposicionista, juntando-se aos petistas e aos pepistas. Talvez seja congelado nas águas do cronograma pré-eleitoral.


Os apoiadores que incentivam Ângelo Pavin a lançar estacas em direção ao Paço de São Caetano seriam, portanto, extremamente cautelosos. Os principais articulistas estariam, de fato, apenas testando possibilidades de aderência de uma frente que contaria com Ângelo Pavin entre outros soldados oposicionistas. Conforme a maré se desenhar, não terão dúvidas em recuar para aderir à candidatura do Paço Municipal. Eles, esses apoiadores, são experts em prospectar terrenos. São especialistas em criar dificuldades para negociar acordos. Não caem em arapucas. Tampouco se deixam prender em armadilhas que eles próprios preparam — sempre mantém acionados dispositivos cautelares à desativação por controle remoto ou, se necessário, com cirurgias sem anestesia.


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