Política

Preparem-se, concorrentes,
porque Miriam Belchior vem aí

DANIEL LIMA - 30/08/2010

Faltam mais de dois anos às eleições municipais, mas convém aos situacionistas e oposicionistas em Santo André colocarem as barbas de ambições de molho. Um nome veiculado especulativamente nos últimos anos pode chegar para valer na disputa pelo Paço Municipal. Diferentemente de todas as outras oportunidades, desta vez a candidatura de Miriam Belchior não é conversa assanhada para botar fogo nas eleições. Miriam Belchior é o próprio fogo na roupa eleitoral.


A ex-secretária municipal de Celso Daniel, braço direito da ministra Dilma Rousseff e agora coordenadora geral do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) ganha vários corpos à frente de todos os petistas de Santo André para concorrer à Prefeitura. Só falta a confirmação da vitória de Dilma Rousseff à presidência da República para se iniciarem tratados de bastidores que colocariam Miriam Belchior de volta ao ambiente político de Santo André após ter atuado na coordenação do programa de governo de Luiz Marinho, em São Bernardo.


A possível candidatura de Miriam Belchior será desmentida pela própria ex-mulher de Celso Daniel. Ela não transige em matéria de harmonia partidária, mesmo quando profundamente atacada. Miriam Belchior não tem vocação a colocar fogo no próprio paiol com idiossincrasias, mas os adversários partidários sofrem de insônia quando ela chega com a cartucheira de conhecimentos. O mesmo rigor e a mesma discrição com que se conduz na gestão pública Miriam Belchior adota nas relações corporativas e partidárias.


A inserção de Miriam Belchior na lista de concorrentes ao Paço Municipal em 2012 seria um fato tão novo quanto extraordinário para os sonhos do PT retornar ao comando administrativo de Santo André. Nada a faria recuar dessa empreitada. Nada, absolutamente nada a colocaria no acostamento, como nas eleições subsequentes ao assassinato de Celso Daniel. Exceto a própria essência com que Miriam Belchior administra sua vida pública.


Afinal, o que demoveria Miriam Belchior de deixar de lado a Santo André que tanto preza e seguir em Brasília, onde não está fora de cogitação eventual transposição à ministra de um possível governo de Dilma Rousseff, com quem se assemelha em método de trabalho, em organização, em planejamento estratégico?


O que retiraria Miriam Belchior da disputa já projetada em Santo André seria a possibilidade de as várias faixas de Gaza petistas locais rejeitarem pacificação geral e irrestrita em torno de seu nome.


Os mais céticos perguntam qual seria a pedra de toque que faria com que as facções petistas que, rachadas, permitiram a vitória de Aidan Ravin na última disputa eleitoral em Santo André, cederiam espaço a Miriam Belchior.


Bastará olhar em direção a São Bernardo, onde um badaladíssimo Lula da Silva estará de volta na condição de morador mais ilustre que nunca. Lula da Silva já teria decidido empenhar-se para valer e acabar com todos os babados em Santo André. Não há quem no PT seja capaz de, com Lula à frente de qualquer iniciativa, opor-se à solução de qualquer conflito interno do Partido dos Trabalhadores.


O fantasma nada camarada de Miriam Belchior não vai aterrorizar apenas as noites de petistas menos preocupados com a neutralização dos nós que favoreceram e continuam a favorecer adversários partidários. Também haverá extensa legião de usurpadores da administração Aidan Ravin que perderão o sono a partir da certeza de que estas linhas não são frutos de imaginação. Há muitos poderes que gravitam em torno do Paço Municipal de Santo André e que se lambuzam das partilhas a que teve de se submeter a governabilidade do prefeito Aidan Ravin. Provavelmente esses intrusos vão instigar o recrudescimento do ambiente divisionista no Partido dos Trabalhadores. Nesse caso, como em tanto outros, dividir é somar.


De qualquer maneira, com Miriam Belchior no pedaço, provavelmente Santo André só terá a lucrar, independente do resultado da disputa eleitoral propriamente dito. É muito provável que a atual gestão municipal ganhará novo ritmo. Não há quase nada até agora que possa de fato caracterizar Aidan Ravin como reformador progressista dos conceitos petistas de governar. Até porque, a herança de Celso Daniel esvaiu-se aos poucos nos desvãos de João Avamileno, um petista boa praça que, entretanto, deixou-se aprisionar por dissensões partidárias e terminou o mandato sem o que restava do secretariado minimamente comprometido com o legado de Celso Daniel.


Aliás, legado sobre o qual provavelmente Miriam Belchior se debruçará como plataforma administrativa. Com a diferença de que, contrária já naqueles tempos, daria um destino bem diferente aos invasores que, com João Avamileno e, principalmente, Aidan Ravin, deitam e rolam nos escaninhos do Paço Municipal.


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