Não é surpresa a liderança regional de Luiz Marinho numa pesquisa em que a população é levada a votar num dos sete prefeitos para administrar uma hipotética Cidade do Grande ABC. Agora, constatar que quase 60% da população não veem a hora de deixar a região, isso é demais. A baixo auto-estima regional é uma calamidade da qual não escapa sequer São Caetano, cujos moradores apresentam elevadíssimo orgulho — quando comparados aos demais municípios da região — daqueles 15 quilômetros de oásis na Grande São Paulo.
O sentimento de baixa auto-estima não é surpresa alguma para quem teve a curiosidade de ler Complexo de Gata Borralheira, escrito por este jornalista há oito anos, ou que conhece minimamente as desigualdades locais. Vou me embrenhar nesse mato de complicações sentimentais num outro texto, para não perder o foco dos estudos do Instituto Unidade de Pesquisa, liderado pelo especialista Sidney Kuntz.
Os resultados apresentados a uma rede de veículos de informação são um chute naquele local mais dolorido dos triunfalistas de plantão. Mais que isso: ajudam a explicar porque, mesmo com a recuperação parcial das perdas dos anos 1990, seguimos muito aquém do necessário e do esperado.
Minha intuição diz que a maioria dos veículos de comunicação da região vai ignorar os dados do Instituto Unidade de Pesquisa. Principalmente no ponto nevrálgico de nossa maior deficiência como sociedade: a quebra da auto-estima em níveis alarmantes.
Para colocar ordem no galinheiro de informações e de análises, listo os principais pontos sobre os quais vou tentar discorrer para explicar o trabalho do Instituto Unidade de Pesquisa.
1. A baixa auto-estima regional.
2. Níveis de percepção de morar nos municípios locais.
3. Níveis de avaliação dos prefeitos.
4. Fidelidade aos shoppings centers da região.
5. O prefeito do Grande ABC.
Então, vamos aos tópicos acima, porque temos outros mais a destrinchar mais embaixo:
Baixa auto-estima regional.
Respondendo à pergunta “Se tivesse a possibilidade de trocar a cidade em que mora no Grande ABC, o que faria?”, entrevistados do Instituto Unidade de Pesquisa desnudam a frágil identidade regional. Afinal, apenas 43,5% optaram pela primeira alternativa: “não mudaria de jeito nenhum”. Os demais, 56,5%, optaram por uma das três proposições: mudaria para o Interior do Estado (29,6%); mudaria para a cidade de São Paulo (11%); mudaria para outro Estado (15,8%). Mauá e Diadema emparelham graus de insatisfação elevados (apenas 37,5% dos moradores de Diadema e 34,7% de Mauá optaram por “não mudaria de jeito nenhum”. Rio Grande de Serra, surpreendentemente, liderou a resistência municipal com 54,2% decididos a não trocar de endereço. São Caetano vem logo a seguir com 47,3%. Muito pouco acima dos 46,8% de São Bernardo e dos 46,7% de Santo André. Ribeirão Pires, com 44,5%, ficou em posição intermediária. Esses dados não podem se perder nas brumas da indiferença. Fosse o Clube dos Prefeitos menos dado a debater o sexo dos anjos de uma regionalidade sem eira nem beira, um pelotão de emergência seria destacado para esmiuçar a mensagem do comportamento da sociedade.
Nível de percepção de morar nos municípios locais.
Embora esse questionamento pareça redundante em relação ao anterior, convém atenção redobrada para compreender a diferença. Se a baixa auto-estima regional está evidenciada nos moradores decididos a deixar o Grande ABC, quando se trata de avaliação interna, sobre a percepção dos entrevistados em morar no Grande ABC, independente do desejo de mudança além-território regional, o domínio é avassalador de São Caetano. Traduzindo: para 80,6% dos moradores de São Caetano, o melhor lugar para morar no Grande ABC é mesmo São Caetano. É interessante como os demais moradores do Grande ABC valorizam a realidade socioeconômica de São Caetano: 44,8% de Santo André, 27,1% de São Bernardo, 24,5% de Diadema, 25,2% de Mauá, 20,3% de Ribeirão Pires e 22,4% de Rio Grande da Serra também gostariam de ter São Caetano como endereço domiciliar no Grande ABC. No cômputo geral, do total de entrevistados, 34,2% gostariam de residir no Município dirigido por José Auricchio Júnior. Muito à frente dos 20,7% acumulados por São Bernardo, 19,7% de Santo André, 9,3% de Diadema, 6,1% de Mauá, 5,3 de Ribeirão Pires e 1,1% de Rio Grande da Serra. Apenas 1,2% não optou por nenhum dos municípios locais e 1,1% não soube responder.
Níveis de avaliação dos prefeitos.
O prefeito Kiko Teixeira, de Rio Grande da Serra, e Aidan Ravin, de Santo André, são extremos de avaliação dos entrevistados pelo Instituto Unidade de Pesquisa. Kiko Teixeira dirige há quase seis anos um Município de 40 mil habitantes. Obteve 77,6% de aprovação, 6,1% de regular e 14,3% de reprovação. É o campeão regional. O lanterninha é Aidan Ravin, há 20 meses no poder em Santo André. O petebista chegou a 33,3% de aprovação, 23,1% de regular e 37,7% de reprovação. José Auricchio Júnior está em segundo lugar na classificação geral com 71,4% de aprovação, 12,5% de regular e 15,5% de reprovação. Os números de Auricchio são bem superiores aos de Luiz Marinho, de São Bernardo, com 53,8% de aprovação, 18,8% de regular e 26,3% de reprovação. Mário Reali, de Diadema, tem avaliação um pouco mais modesta: 53,1% de aprovação, 14,9% de regular e 21% de reprovação. Clóvis Volpi, de Ribeirão Pires, segurou o quinto lugar, mas bem à frente do lanterninha Aidan Ravin: 44,5% de aprovação, 16,4% de regular e 32,8% de reprovação. Em sexto ficou Oswaldo Dias de Mauá: 37,5% de aprovação, 21% de regular e 38,7% de reprovação. No balanço geral, os sete prefeitos do Grande ABC registram 46,5% de aprovação, 19% de regular e 30% de reprovação. Apenas 4,6% dos eleitores não souberam responder.
Fidelidade aos shoppings centers da região.
Os resultados da preferência por shopping sediados no Grande ABC são bem melhores que os níveis de satisfação com os prefeitos. À pergunta “quando resolve passear ou fazer compra num shopping center, o que prefere?”, mais da metade dos entrevistados, exatamente 51%, manifestaram interesse por um dos shoppings do Grande ABC. A alternativa de shopping da Capital obteve apenas 13,8%. A resposta que indicava que “tanto faz um shopping no ABC como da Capital”, contou com 28,5% de preferência, o que eleva o grau de atração dos shoppings locais. Apenas 6,6% dos entrevistados não frequentam shopping. Os dados indicam que estão absolutamente certos os estudos que garantem ao Grande ABC uma reviravolta no hábito de frequentar o comércio local desde que – no final dos anos 1980 – o Shopping Mappin, hoje Shopping ABC, aportou em Santo André. Somos consumidores regionalizados.
O prefeito do Grande ABC.
Chegar em primeiro lugar na corrida pelo Município do Grande ABC, como sugeriu a pergunta “Se a região do ABC voltasse a ser apenas uma única cidade, qual dos atuais sete prefeitos escolheria para comandar uma população de 2,6 milhões de habitantes”, não é novidade alguma, ou não deveria ser novidade alguma, para quem apostou em Luiz Marinho. À parte qualquer juízo de valor sobre a administração pública em São Bernardo, depois de 20 meses de mandato do petista dileto de Lula da Silva, a história de líder sindical e de ministro do governo Lula da Silva sobrepõe-se ao currículo regional ou apenas municipal dos demais prefeitos. O nome de Luiz Marinho é o mais proeminente da região na esfera político-administrativa e, como tal, os 17,7% acumulados de preferência do eleitorado entrevistado pelo Instituto Unidade de Pesquisa não são nenhuma extravagância. É bom lembrar que 32,1% dos entrevistados optaram por dois tipos de respostas: “nenhum deles” e “não sabe”. Quem ficou em segundo lugar na corrida pela Prefeitura do Grande ABC foi Aidan Ravin, com 12,7%, contra 11,5% de Mário Reali, 10,8% de Oswaldo Dias, 6,4% de Clovis Volpi, 5,6% de José Auricchio Júnior e 3,1% de Kiko Teixeira. A distribuição de entrevistados por Município ajuda a explicar o resultado final. Não há nenhuma incongruência entre o fato de Kiko Teixeira contar com o maior índice de aprovação e ser o último colocado na disputa pelo título de Prefeito Regional. O eleitorado de Rio Grande da Serra é reduzidíssimo. Mal passa de 10% do total do Grande ABC. Luiz Marinho chegou à frente dos demais porque São Bernardo tem elevadíssima massa de eleitores como também foi o segundo mais votado nos municípios de maior densidade de entrevistados.
A segunda parte dos estudos do Instituto Unidade de Pesquisa é formalmente chamada de enquete, conforme determina a legislação. Tudo porque o questionário não foi registrado no Tribunal Regional Eleitoral. Não fossem filigranas jurídicas, não haveria complicação alguma na utilização do termo pesquisa. Os resultados decorreram do mesmo sistema metodológico da primeira parte do trabalho levado a campo pelos pesquisadores comandados por Sidney Kuntz. Vamos aos pontos mais importantes desse segundo tempo:
1. Votação para o governo do Estado.
2. Votação para a Presidência da República.
3. Votação para senador da República.
4. Votação para deputado estadual.
5. Votação para deputado federal.
6. Fidelidade aos candidatos do Grande ABC.
Notaram que não faltarão informações a esse conjunto de propostas levadas aos entrevistados?
Votação para o governo do Estado.
Diferentemente dos números do Estado de São Paulo como um todo, mas próximos do crescimento da candidatura petistas nas áreas metropolitanas, a distância que separava o favorito ao Palácio dos Bandeirantes, Geraldo Alckmin (PSD) e Aloizio Mercadante no Grande ABC é de apenas 9,2 pontos percentuais: o tucano apresentava na semana passada, período da prospecção eleitoral, 34% dos votos, contra 24,8% de Mercadante. Alckmin liderava em todos os municípios do Grande ABC. Nada menos que 26,6% dos entrevistados não apontaram nenhum dos candidatos da lista.
Votação para a Presidência da República.
Já na disputa para a presidência da República a petista Dilma Rousseff liderava no Grande ABC na semana passada, com 42,2% dos votos, contra 28,4% de José Serra. Números semelhantes aos de pesquisas de âmbito nacional divulgadas também na semana passada. Dilma superava o tucano Serra em todos os municípios, menos Rio Grande da Serra, onde o jogo estava rigorosamente empatado: 37,5% para cada lado. Um total de 17% dos eleitores não apontou nenhum dos candidatos.
Votação para o Senado da República.
A petista Marta Suplicy disparou nas duas opções oferecidas aos entrevistados do Instituto Unidade de Pesquisa. Como primeira opção de voto ao senado, obteve 19,9% de preferência. Muita acima do segundo colocado, Ciro, do PTC, com 7%. Quércia (6,7%) e Romeu Tuma (6,6%) vieram logo na sequência. Como segunda opção, Marta Suplicy atingiu 14,8% dos votos. Os demais mais apontados: Quércia (10,1%) e Romeu Tuma (9,6%). Mais de um terço do eleitorado não havia definido voto até a semana passada.
Votação para deputado estadual.
Uma lista de 13 candidatos à Assembléia Legislativa foi apresentada aos eleitores. Todos os candidatos atuam na região. O estágio de definição de voto ainda é baixo: nada menos que 11,7% dos eleitores responderam que não votariam “em nenhum deles”, enquanto outros 18,8% “não sabe”. Os mais votados: João Avamileno (PT), com 9,8%, Ana do Carmo (PT), com 8,7%, Alex Manente (PPS), com 7,8%, Orlando Morando (PSDB), com 7,8%, Donisete Braga (PT), com 7,6%, e Vanessa Damo (PMDB) com 6,7%.
Votação para deputado federal.
Uma lista de oito candidatos à Câmara Federal foi apresentada aos eleitores. Igualmente à Assembléia Legislativa, todos os candidatos têm domicílio no Grande ABC. Também o estágio de maturação de voto é baixo, com 34,8% fora do grupo dos decididos. Os mais votados: Vicentinho (PT), com 13,4%, Frank Aguiar (PTB), com 13,2% e Vanderlei Siraque (PT) com 10,9%.
Fidelidade aos candidatos do Grande ABC.
Completando o trabalho, um resultado que deveria ser comemorado pelos candidatos do Grande ABC: 63,9% dos eleitores optaram pelo seguinte enunciado quando indagados sobre as pretensões de votar em concorrentes a deputado federal e estadual: “em candidato que representa de fato a região do ABC”. Também foi satisfatório para quem pretende valorizar o voto regional que a segunda opção mais apontada pelos entrevistados, com 25,9%, apresentava o seguinte enunciado: “em qualquer candidato, independente de pertencer à região”. Por que o resultado é interessante? Porque havia uma opção mais radical, que dizia: “em candidato que não tenha relação com a região do ABC”, com 4,6% de preferência. A quarta alternativa de voto, “somente em candidato de fora da região”, não passou de 0,7%. Apenas 5% dos eleitores não pretendem votar em nenhum dos candidatos a deputado estadual e federal.
A pesquisa e a enquete do Instituto Unidade de Pesquisa foram realizadas entre os dias 18 e 24 de agosto. Foram 2.919 entrevistas, das quais 493 em Santo André, 609 em São Bernardo, 393 em São Caetano, 415 em Diadema, 403 em Mauá, 301 em Ribeirão Pires e 305 em Rio Grande da Serra. As margens de erro variam de acordo com o número de entrevistas. No âmbito regional, é de 2,5% para cima ou para baixo. No âmbito municipal, flutua entre 4,1% em São Bernardo até 5,8% em Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra.
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