O prefeito Aidan Ravin ainda tem de provar que dirige o Paço Municipal de Santo André com potencialidade para romper o marasmo administrativo petista causado pelo desaparecimento de Celso Daniel, mas em matéria de articulação política está deixando os sábios de plantão de orelha em pé. Aidan Ravin vem driblando pressões nos bastidores — e que agora ganharam manjadas páginas do Diário do Grande ABC — para declarar apoio à candidatura do tucano José Serra.
O petebista Aidan Ravin tem menos de dois anos de mandato e por isso mesmo não pode ser cobrado com aspereza como gestor público, tanto quanto Luiz Marinho em São Bernardo, Oswaldo Dias em Mauá e Mário Reali em Diadema, também eleitos em 2008. Mas na arte de conciliar interesses com olhos esticados à reeleição em 2012, movimenta-se com cuidado de malabarista. Os adversários abominam a destreza de Aidan Ravin. Os aliados açodados detestam. Eles querem impor vontades no jogo de pressões e contrapressões da política.
Por que Aidan Ravin tem de definir-se por José Serra se há pesquisas que indicam ser detentor em potencial de boa parte dos eleitores órfãos de Celso Daniel, principalmente após o anúncio de que a Cidade Pirelli foi desenterrada?
Que vantagem Maria leva, ou que vantagem Aidan Ravin leva, em acrescentar apoio ao candidato tucano, integrando-se portanto ao bloco oposicionista, se lá na frente, diante de possíveis dificuldades eleitorais no provável enfrentamento com Miriam Belchior ou Vanderlei Siraque, o atual prefeito de Santo André poderá conquistar votos de não-petistas e não-tucanos, esse contingente de um terço de eleitores que flutuam ao sabor dos fatos e dos boatos? Quem sabe até petistas locais menos convictos dos efeitos miraculosos da estrela vermelha e mais doutrinados pelo legado de Celso Daniel poderão juntar-se ao petebista?
Basta uma olhada mais demorada no mapa eleitoral de Santo André nas últimas disputas presidenciais para encontrar o retrato de uma população dividida entre o vermelho petista e o azul tucano. É impressionante como os eleitorados se distribuíram de forma equilibrada. Não é a toa que disputas ao Paço Municipal são complicadíssimas. A diferença final está longe de predomínio avassalador.
Nada que surpreenda. Parte de Santo André conta com classe média conservadora semelhante a São Caetano, formada por famílias que chegaram nos primeiros tempos de industrialização da região, e outra parte de classe operária menos beligerante mas nem por isso menos reivindicadora que a de São Bernardo. Uma classe operária construída com insumos culturais da diversidade industrial que ecoa fora de época no hino oficial do Município.
Querer que Aidan Ravin restrinja o eleitorado que o espera em 2012 a apenas uma parcela dos votos, os votos azuis dos tucanos e aliados, é aplicar-lhe o rótulo de pateta. Politicamente — e a questão é predominantemente política — está na cara que o prefeito de Santo André dá tempo ao tempo para possível desembarque da neutralidade. Conforme o andar da carruagem eleitoral do segundo turno, ele pode até mesmo posicionar-se diferentemente, mas dentro de uma banda suficientemente larga de rentabilidade pessoal e institucional. Uma tática válida para quem vive de votos e que só os hipócritas condenam. Os mesmos hipócritas que não decidem nada sem levar em conta as ambições pessoais.
Um mergulho nas águas divisionistas do eleitorado de Santo André é o que os falsos aliados e os adversários de verdade pretendem de Aidan Ravin. Querem retirá-lo à força do topo do muro que, diferentemente de outros muros, tem tudo a ver com sapiência eleitoral, não com fraqueza de caráter e tibieza administrativa. O posicionamento de Aidan Ravin é tão coerente quanto o apoio que José Auricchio Júnior ofereceu à candidatura de Geraldo Alckmin e também de José Serra, massacrantemente vitoriosos em São Caetano.
Seria estupidez do prefeito em segundo mandato opor-se à vontade do eleitorado local de centro-direita. Qualquer pesquisa indicaria que Auricchio cometeria haraquiri político se bandeasse para o PT ou mesmo se permanecesse em silêncio durante o primeiro turno. Ele arregaçou as mangas e foi à luta para alargar ainda mais a diferença da vontade popular do Município. Sem contar que, também, ao longo dos anos, sustentou relacionamento muito próximo do governo estadual.
Não é esse campo fértil que espera por Aidan Ravin. As dificuldades que o desafiam no horizonte dos dois próximos anos, com uma candidatura petista de peso, seja Vanderlei Siraque, seja Miriam Belchior, não poderiam conduzi-lo ao sacrifício no segundo turno da eleição presidencial. Ainda mais que parte da cúpula da Prefeitura de Santo André tem forte alinhamento com o peemedebista Michel Temer, companheiro de chapa de Dilma Rousseff.
Talvez esteja a faltar à administração pública de Santo André mensagem mais clara, mais definidora, do que espera do segundo turno presidencial. Uma mensagem que enfatize a responsabilidade social da disputa sob ângulo administrativo-municipal. Algo que o eleitorado pudesse compreender como medida de salvaguarda de interesses da população, acima das vantagens pessoais e políticas do prefeito. Algo que pudesse ser correlacionado com a postura de Marina Silva, que não abre mão do direito de espectadora do quadro eleitoral entre outras razões porque não pretende queimar os quase 20 milhões de votos obtidos no primeiro turno, de olho que está numa próxima disputa.
Ou será que o que vale para Marina Silva não vale para Aidan Ravin? O prefeito de Santo André tem todo o direito de acompanhar a disputa presidencial sem meter o bedelho tanto quanto Marina Silva apenas contempla a movimentação dos verdes históricos e dos verdes de ocasião. O que aliados pouco confiáveis e adversários querem mesmo de Aidan Ravin é lançá-lo numa armadilha, sonegando-lhe o direito pessoal e institucional de evitar bola dividida.