Política

Que peso terá Lula nas eleições de
2012 para prefeito no Grande ABC?

DANIEL LIMA - 26/10/2010

É inevitável que a projeção seja feita em nome de um mínimo de especulação político-eleitoral: que peso terá o futuro ex-presidente Lula da Silva nas eleições municipais no Grande ABC dentro de dois anos, quando o domicílio em São Bernardo do ex-metalúrgico será completamente diferente de tudo que se viu até agora, porque será domicílio de fato, de receber visitas, de assistir aos jogos do Corinthians, de comer a comida do Restaurante São Judas Tadeu mais frequentemente?


Manterá Lula da Silva prestígio quase canônico de 82% de aprovação popular ou eventual desgaste do governo de Dilma Rousseff, ou possível máquina pública a serviço do governo José Serra, abalaria a aderência do eleitorado?


Eis uma indagação que ainda não se fez por aqui, não é verdade? Mas é bom fazer. O jogo eleitoral no Grande ABC, favorável aos tucanos e aliados por 4 a 3 nas disputas de 2008, poderá passar por reconfiguração. Para mais ou para menos, é claro.


Se o cenário que se descortina confirmar-se, ou seja, se Lula fizer de Dilma sucessora, o Partido dos Trabalhadores ganhará musculatura adicional no Grande ABC, como se já não bastasse o capital que detém nas urnas, levemente superior à soma dos partidos aliados ao PSDB. Mas nem por isso, objetivamente, terá facilidades para virar o placar regional que o fez perder o controle do Clube dos Prefeitos em 2008.


Ganhar uma ou mais cidadelas, casos de Santo André, São Caetano, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, somando-as a São Bernardo, Diadema e Mauá, não são favas contadas com Lula a empurrar os sonhos petistas. Ajuda, é verdade, mas não garante. A cultura político-partidária municipalista é enroscada mesmo para quem, como Lula da Silva, exercitou a impressionante lubrificação de votos em direção a Dilma Rousseff. Luiz Marinho que o diga, porque não se fiou exclusivamente na popularidade do patrono político, sem o qual, é claro, também não teria retirado os tucanos e assemelhados do Paço de São Bernardo.


Luiz Marinho provavelmente terá menos dificuldades para seguir no Paço Municipal do que encontrou para chegar lá. Com o suporte ainda mais próximo de Lula da Silva, seus adversários vão ter de rezar muito para que o quadro nacional coloque José Serra, não Dilma Rousseff, no Palácio do Planalto. William Dib, ex-prefeito e agora deputado federal, é o concorrente mais maduro e mais qualificado para um embate com o petista. Os deputados estaduais reeleitos Alex Manente e Orlando Morando deverão continuar como extensão dos principais concorrentes, inclusive porque têm a cronologia a favor. Manente, aliado de Marinho, só bandearia para o outro lado com eventual vitória de Serra, já que seu partido, o PSB, integra a coligação do ex-governador paulista. Morando é tucano de carteirinha e por isso mesmo antagônico do petista. O que não se sabe é se aceitará a liderança de William Dib, também tucano. Não seria a primeira vez que criador e criatura se enfrentariam.


Em São Caetano, em tempos normais, não há a menor possibilidade de o PT chegar ao Paço Municipal. Os resultados do primeiro turno para o governo do Estado e para a Presidência são emblemáticos. São Caetano exibe placares de bairros nobres da Capital, casos de Pinheiros, Jardim América, Pacaembu, entre outros. Todos querem ver o PT pelas costas. Ainda mais que o prestígio interno do prefeito José Auricchio Júnior é semelhante à consagração nacional de Lula da Silva. Aliás, José Auricchio foi o primeiro prefeito da história de São Caetano a enfrentar a realidade: não ignorou as franjas mais populares, reservando-lhes programa social do tipo Bolsa Família.


Em Santo André há divisionismo mais latente do eleitorado. A classe média não é tão relativamente numerosa como em São Caetano mas também foge do figurino de São Bernardo. Há margem mais estreita entre petistas e não petistas do que em São Bernardo, em Diadema e em Mauá, outros colégios eleitorais importantes da região.


A vitalidade do PT depende do nível de aprovação do prefeito Aidan Ravin, candidatíssimo à reeleição. Aidan Ravin começou reticente, mal-orientado por marqueteiros que em vez de dirigirem a administração a questões administrativas propriamente ditas, voltadas para o futuro, partiram para espécie de terceiro turno desnecessário para quem venceu o segundo. Nos últimos tempos, principalmente com o emblemático e providencial ressuscitamento do projeto Cidade Pirelli, Aidan Ravin ameaça tirar a herança de Celso Daniel das inábeis mãos petistas. Se conquistar celsistas não-petistas, aumentará o potencial de sucesso.


Possivelmente não faltará uma terceira via engendrada ao sabor de interesses identificados para melar o jogo plebiscitário em Santo André e, com isso, levar a disputa em direção ao segundo turno. Quem será o Aidan Ravin das próximas eleições em Santo André, entendendo-se como Aidan Ravin essa terceira via, como em 2008?


Há ações de bastidores favoráveis ao vereador Paulinho Serra. Trata-se de jogada pensada para obter o controle ou o compartilhamento do Paço Municipal por quem jamais recebeu um voto sequer. Paulinho Serra viria com o suporte do governo Geraldo Alckmin. Talvez no final das contas faça uma ainda embrionária dobradinha com Aidan Ravin, mas esse jogo ainda está embaralhado.


O vereador Gilberto Primavera, do alto de mais de 15 mil votos nas eleições à Assembléia Legislativa, avança como eventual companheiro de chapa de Aidan Ravin. A quase totalidade dos votos de Gilberto Primavera tem digitais do eleitorado de Santo André. Um feito notável para quem dispunha de poucos recursos financeiros. Ele quadruplicou os votos obtidos à Câmara Legislativa em 2008. A possibilidade de ocupar a chapa de vice-prefeito depende da atual titular, Dinah Zeckcer. Gilberto Primavera só moveria algum dedo nesse sentido se Dinah preferir outro caminho. O mesmo Gilberto Primavera está cotado à composição da chapa petista.


Se uma terceira via em Santo André é mais que insinuante manobra de bastidores paralelos ao Paço Municipal, a indefinição está na alternativa a Aidan Ravin. Quem será o escolhido do PT?


João Avamileno é carta fora do baralho após fracasso nas últimas eleições à Assembléia Legislativa. Vanderlei Siraque, agora deputado federal, possivelmente disputará a legenda com Miriam Belchior, que viria a reboque do patronato de Lula. Disputará é força de expressão, porque se Lula quiser, Siraque desiste por Miriam. Fala-se no sindicalista Carlos Grana, eleito deputado estadual com votação consagradora no Estado mas apenas 25 mil votos em Santo André. Qualquer que seja o candidato petista, o peso de Lula será importante, embora com menor poder definidor do que em São Bernardo.


Em Mauá há muitas indefinições entre adversários do petista Oswaldo Dias que irá à reeleição. Vanessa Damo depende da confirmação dos votos que a fariam deputada estadual mais uma vez. A polarização da jovem política com o PT poderia ser quebrada se Clóvis Volpi, prefeito em Ribeirão Pires, concorrer mesmo. O quadro é complexo demais para cenarizações confiáveis.


Bem mais, muito mais, que em Diadema, onde o prefeito Mário Reali ganhou considerável reforço nas últimas eleições: o deputado José Augusto da Silva Ramos não conseguiu reeleger-se após perder também a disputa municipal dois anos antes. Há um vácuo na oposição petista local. Talvez Lula nem precise aparecer por lá dentro de dois anos. Seu fôlego e entusiasmo seriam mais úteis em outros endereços. Somente uma vitória de José Serra poderia soprar novidades em Diadema.


Para completar, a pequena Rio Grande da Serra conta com um prefeito, Kiko Teixeira, em segundo mandato. Deverá indicar e eleger o sucessor, porque é suficientemente competente para capitalizar investimentos em infra-estrutura do governo estadual e, principalmente, do governo federal. Como gerenciador público com acuidade para gerar riqueza interna na forma de empregos e investimentos privados, é tão decisivo quanto o atacante Souza no Corinthians.


Talvez um petista bem-quisto em Rio Grande da Serra consiga levar Lula da Silva a tiracolo e, com isso, possa alterar os rumos dos acontecimentos. Lula possivelmente toparia, porque bastariam poucas visitas para tocar as mãos de todos os moradores. E quem não quer tocar as mãos do Santo Lula? Rio Grande da Serra tem peso quase inexpressivo na política regional, por conta da baixíssima participação no PIB e na demografia. Mas vale um voto como qualquer um dos demais municípios na hora de definir os rumos do Clube dos Prefeitos que, insensato, não obedece a um rodízio presidencial automático e independente do calendário eleitoral. Ou seja: a ordem de ocupação do principal cargo seria aleatória à composição das forças relativas divididas entre petistas e tucanos autênticos e mitigados.


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