Administração Pública

Estatização de transporte coletivo
em Diadema entra em parafuso

DANIEL LIMA - 07/05/1987

O transporte coletivo de Diadema, desde o final de 1986 sob a responsabilidade da única Prefeitura administrada pelo Partido dos Trabalhadores no Estado de São Paulo, está um verdadeiro caos. A conclusão, para desgosto do prefeito Gilson Menezes, não é dos inúmeros grupos de oposição, mas da Comissão Especial de Inquérito aprovada pela Câmara para desvendar todos os lances que cercaram a decretação do estado de calamidade pública, em outubro do ano passado, com a consequente encampação e compra da frota de 56 ônibus da Viação Diadema.

Os três vereadores integrantes da CEI — o comunista José Rocha, o peemedebista Sebastião de Mello e o ex-petista e hoje avulso Dorival Lopes — constataram, antes mesmo de completarem as investigações, a absoluta deterioração do sistema de transporte coletivo de Diadema. Mas ainda não estão satisfeitos: eles procuram confirmação das denúncias de que o prefeito teria recebido “por fora” CZ$ 600 mil quando da compra (CZ$ 18 milhões) dos ônibus.

A estatização do transporte coletivo de Diadema, um dos programas prioritários de Gilson Menezes, em vez de servir para fortalecer a imagem da administração petista, na realidade compromete ainda mais o partido. Acordando de madrugada “para acompanhar de perto o verdadeiro martírio dos usuários”, os três vereadores integrantes da CEI pintam de cores surrealistas um quadro que, antes da estatização, era negro:

“Dizer que a Prefeitura comprou verdadeira sucata a peso de ouro é o mínimo que se pode falar sobre o assunto. Dos 56 ônibus, só a metade tem condições de tráfego. Estivemos na garagem da empresa municipal e constatamos nada menos que 26 ônibus parados por causa de avarias diversas. E da frota circulante a maioria não tem condições de segurança. Falta tudo. Até mesmo amortecedores. Os pneus são um atentado, já que estão completamente lisos, carecas. As portas e janelas estão quebradas. O prefeito mandou pintar os ônibus nas cores da cidade e com a inscrição oficial da empresa sem ao menos se dar ao trabalho de providenciar serviços de funilaria” — afirma Dorival Lopes, com a concordância de Sebastião Mello.

Os três vereadores indicados pela Câmara para esmiuçar a realidade da ETCD (Empresa de Transporte Coletivo de Diadema) ou Viação PT, como é chamado por populares, convergem observações num único sentido: a insolvência total. Eles ouviram muitos motoristas, cobradores e até mesmo os três funcionários encarregados de administrar a estatal, o ex-metalúrgico (companheiro de Lula no Sindicato de São Bernardo) Rubens Teodoro de Arruda, o economista Celso Luis Bueno e o também ex-metalúrgico Leci José de Oliveira. “Portanto, os resultados não têm qualquer coloração política ou ideológica” — avisa José da Rocha com a experiência de quem está cansado de denúncias contra o prefeito desviadas do aspecto técnico-administrativo.

Há mais constatações do trio de vereadores. Embora com menor número de ônibus à disposição dos usuários, eles obtiveram informação do presidente da ETCD, Rubens Teodoro, de que o índice de usuários por veículo é inferior aos tempos da Viação Diadema. “Isto quer dizer que muita gente prefere andar a pé até as vias onde há transporte intermunicipal, a esperar pelo transporte municipal” — explica Sebastião Mello. E completa: “A situação está verdadeiramente alarmante. Nos horários de pico, então, nem se fale. Os pingentes, inclusive na parte frontal dos ônibus, correm sérios riscos de vida”.

As consequências do serviço de baixo nível são evidentes: a ETCD é deficitária (quase 80% da receita está comprometida com a folha de pagamentos de mais de 300 profissionais), os apedrejamentos viraram uma constante e a manutenção dos poucos ônibus em circulação a cada dia se agrava porque a malha viária de Diadema é uma sucessão de buracos e valetas.

Enquanto o prefeito Gilson Menezes procura caminhos políticos para a liberação de recursos do BNDES, a fim de adquirir ônibus novos, o vereador Manoel Boni, da linha operária do PT e defensor da cassação do mandato e da expulsão de Gilson Menezes do partido, garante que a ETCD vai funcionar de qualquer maneira, “nem que o povo assuma o seu controle efetivo”.

A Prefeitura já conta com a assessoria de um conselho deliberativo especialmente para gerir a empresa estatal de ônibus, mas os resultados são vistos com descrença. A composição do órgão por usuários de 11 bairros de Diadema, eleitos diretamente, além de um representante da Câmara, um da Prefeitura — o presidente — e um funcionário da empresa, teoricamente ofereceria a transparência administrativa que não se verificou nos seis primeiros meses de criação da empresa. Entretanto, como conselhos comunitários análogos, de outros setores da Prefeitura, caíram em descrédito porque manipulados pelo prefeito, poucos acreditam no eventual funcionamento. Daí a CEI estar sendo vista como o único instrumento capaz de minimizar os transtornos da população usuária de ônibus.



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