Dois anos já se passaram e a administração de Luiz Marinho na Prefeitura de São Bernardo está longe de empolgar, embora também esteja distante de frustração. Quem esperava gestão retumbante, de efeitos miraculosos, deve sentir-se frustrado. Quem se preparou para atirar pedras partidárias e ideológicas também deve carregar um bocado de desilusão.
Dois anos de um primeiro mandato é prazo muito curto para julgamentos definitivos de uma administração pública. Que críticas pontuais ou elogios circunstanciais no período não sejam interpretados como oposicionismo perdigueiro ou engajamento parceiro, como alguns leitores costumam concluir. Perseguição mesmo é o que o Diário do Grande ABC moveu contra Luiz Marinho, como se sabe e aqui foi mais que explicitado com provas.
A situação começará a ganhar contornos a partir do ano que vem, quando a contagem regressiva do mandato será acionada. Talvez a vitrine de uma gestão Luiz Marinho mais midiática seja o já chamado Polo Aeronáutico, que, resumidamente, é a disputa que se estabeleceu no processo de seleção da nova aeronave de combate as Força Aérea Brasileira. Tomara, entretanto, que a visibilidade desse tema não escamoteie o drama regional de dependência automotiva, nossa doença holandesa.
A pergunta que mais se ouve em São Bernardo é quem será o candidato de oposição a Luiz Marinho: William Dib, prefeito durante seis anos, o deputado em terceiro mandato Orlando Morando ou o também deputado em terceiro mandato Alex Manente?
A gestão petista reúne vantagens que deverão ser avaliadas sem azedume pelos adversários. Não há nada que turve mais a inteligência que a intransigência. Para começo de conversa, Marinho terá o melhor cabo eleitoral do planeta, o canônico Luiz Inácio Lula da Silva, de mala e cuia em São Bernardo.
Além disso, provavelmente São Bernardo se tornará canteiro de obras por conta de projetos vinculados ao PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Só no orçamento do ano que vem há por volta de R$ 800 milhões previstos para obras. É dinheiro para caramba.
As vitórias de Dilma Rousseff e de Aloizio Mercadante nas últimas eleições em São Bernardo implodiram o queixo de quem apostava na queima do prestígio de Luiz Marinho.
Uma Prefeitura em pandarecos não sustentaria a credibilidade petista num organismo tão crítico como São Bernardo. A classe média mais para chão de fábrica do que para gabinetes refrigerados tem forte vínculo com o PT, mas não assina embaixo gestões medíocres. O recado seria dado na disputa ao governo do Estado e à Presidência da República. Dilma e Aloizio reforçaram a percepção de que a administração de Luiz Marinho está sendo aprovada, mesmo que longe do louvor apregoado pelos petistas.
Os 12,42 pontos percentuais de vantagem de Dilma Rousseff em São Bernardo (56,21% a 43,79%), índice um pouco acima do registrado em âmbito nacional e só abaixo dos 66,46% a 33,54% em Diadema e dos 57% a 43% em Mauá, provam que o reduto vermelho foi mantido, como nas eleições anteriores de segundos turnos disputados desde 2002. A queda relativa de votos do PT em Bernardo entre 2006 e 2010, em segundo turno presidencial, foi menor que no Grande ABC.
É importante dimensionar o que significa o índice de 12,42 pontos percentuais de diferença de votos favoráveis a Dilma Rousseff em São Bernardo, algo que estatísticos e analistas políticos nem sempre levam em conta.
O resultado significa que de cada 100 votos válidos, a candidata de Lula e de Luiz Marinho obteve 22 a mais que José Serra. Não é margem desprezível quando se tem em conta que o candidato tucano foi governador de Estado até recentemente e, mais que isso, inaugurou uma obra cantada em verso e prosa como divisor de águas para o Grande ABC, no caso o trecho sul do Rodoanel. Uma obra supervalorizada pelo marketing político mas que, distintamente do que imagina a maioria, não é lá uma Brastemp.
Essa avaliação não tem qualquer juízo de valor político ou partidário, apenas econômico, puramente econômico. Tanto quanto a UFABC (Universidade Federal do Grande ABC), legado petista a léguas de distância do decantado salto educacional da sociedade regional. Não passa a UFABC, como bem definiu o educador Valmor Bolan, de barriga de aluguel. A quase totalidade dos alunos que a frequentam não tem domicílio no Grande ABC. Nem os cursos estão voltadas para a economia regional. Mas, como se sabe, há um silêncio emburrecedor em torno desses pontos. A institucionalidade regional é uma falácia, um jogo de interesses, como se sabe. Nem oposição nem situação, conforme o caso em jogo, sabem o que poderiam fazer ou deveriam fazer para incrementar mudanças saudáveis. Quem paga o pato é o bobo da corte.
Quem será então o candidato que vai se opor a Luiz Marinho nas urnas? Ou candidatos?
A participação de Alex Manente não está escanteada. O jovem deputado possivelmente plantará mais um pouco de sementes do amanhã. Colocaria em teste no primeiro turno a capacidade de somar mais e mais eleitores como recall às eleições seguintes em novo mandato de deputado estadual, além de cacifar-se em eventual segundo turno, como o fez em 2008, juntando-se a Luiz Marinho e assegurando, com isso, recursos para sustentar a candidatura seguinte.
Restariam os tucanos William Dib e Orlando Morando, que as más línguas dizem apenas tolerarem-se por vislumbrar o mesmo horizonte. A consagração como deputado federal com votação expressiva num ambiente eleitoral em que o fator Tiririca distorceu tantos votos deixa William Dib em vantagem. Aliás, reafirma a vantagem de ex-prefeito. Orlando Morando é jovem e poderá esperar, depois de derrotado por Luiz Marinho nas últimas eleições. Embora refute, um dos fatores que tornou Orlando Morando presa do marketing petista foi acreditar que William Dib era péssima companhia, por conta de rejeição apenas um pouco desgarrada da natural oposição petista. Morando foi às ruas com a cara imberbe e de alguma forma assustou o eleitorado. Os indecisos mais conservadores não bandearam à candidatura do tucano em número suficiente para mudar o segundo turno.
Para muitos, a candidatura à reeleição de Luiz Marinho é apenas formalidade legal. Com o dinheiro do PAC e as bênçãos de Lula da Silva, qualquer adversário será apenas questão legal à diplomação no primeiro dia de janeiro de 2013. O que estaria em jogo mesmo seria o percentual de votos válidos do petista. Quanto mais altura alcançar, mais fortaleceria o sonho de, dois anos depois, aparecer na telinha como concorrente ao governo do Estado.
Só faltaria combinar com os russos. No caso, os russos são o governo de Dilma Rousseff, sujeito possivelmente a chuvas e trovoadas macroeconômicas e ao possível esgotamento do crescimento vigoroso do consumo interno porque as fontes de financiamento e de produção estariam atingindo limites insuportáveis dentro de algum tempo, entre outros motivos porque a balança comercial assediada pela valorização do dólar está confessando um descompasso típico do período fernandohenriquista.
Também, é claro, não se deve esquecer o fator Geraldo Alckmin, governador de um partido que, finalmente, começa a dar algum valor à metropolização, mas isso é outra história.