O PT de Santo André está rachando a cabeça para saber quem vai enfrentar Aidan Ravin nas eleições de 2012. A briga é de foice no escuro, embora os concorrentes petistas finjam estender as mãos numa coreografia pacificadora. Os bastidores fervem para viabilizar um dos nomes que despontam. Não há novidade alguma na lista prévia para quem acompanha política com razoável atenção. Concorrem nesse páreo o deputado estadual Vanderlei Siraque, o sindicalista Carlos Alberto Grana, eleito deputado estadual à próxima legislatura, o ex-prefeito João Avamileno, de disputa frustrada à Assembléia Legislativa, e a ex-vice-prefeita Ivete Garcia, que perdeu para Siraque a indicação do partido nas eleições de 2008. Miriam Belchior evaporou ao virar ministra do Planejamento.
Não faltam prometidas composições nos bastidores. Há quem, como o democrata Raimundo Salles, que pretende ter algum tipo de peso relativo na disputa. Salles somou por volta de 30 mil votos nas eleições a deputado estadual em Santo André. Nada mal, dado que concorreu na mesma situação do jogador que recebe uma bola livre mas todo mundo acha que está em posição de impedimento.
Raimundo Salles, como se sabe, entrou no rol dos supostos fichas sujas. Concorreu sob suspeita. O eleitorado crítico das regiões metropolitanas é sensível a esse tipo de problema. Salles acredita que seu potencial de votos é maior do que apareceu nas urnas. Talvez tenha razão. A importância relativa de eventual candidatura é alvo dos adversários. Dizem que Raimundo Salles é o maior problema de si próprio, dada a propensão a agir sempre como mistura de político de oposição a tudo e de jornalista independente, teimoso e polêmico.
A diferença é que jornalista independente, teimoso e polêmico não precisa de votos porque a votos jamais concorrerá se tiver bom senso. E também que político de oposição a tudo tem dificuldades para associações partidárias importantes.
Certo mesmo é que devagar, devagar, como nos dois primeiros anos de todo prefeito em primeira gestão, Aidan Ravin vai acertando um passo aqui, outro ali. Não se deve esperar nada retumbante de sua administração, assim como de administração alguma no Grande ABC. O orçamento de Santo André, por mais que tenha ganhado certa folga no ano passado, mal dá para algumas obras. A repartição de receitas tributárias a grandes e médios municípios metropolitanos é uma crônica anunciada no País. Já escrevemos muito sobre isso.
Aidan Ravin achou o veio do projeto Cidade Pirelli para enlaçar o eleitorado não petista, saudoso e choroso do prefeito morto em 2002. O Poupatempo da Saúde e o Poupatempo de Serviços também dão muita visibilidade. O segundo será implementado na cara do gol da demanda por transporte público nos terminais rodoviário e ferroviário, onde funcionou durante décadas a Rhodia Química. A localização é um tiro certeiro como reforço à política de ressonância social do governo municipal. As obras de estrutura física na rede escolar é igualmente penetrante no eleitorado. Quem esquece dos tempos em que se encontravam salas de aulas limpas, arejadas, prontas para receber alunos? Aidan tem a virtude da simplicidade. Mas a marca registrada mesmo é o paralelismo com Gisele Bündchen.
Como? Paralelismo com Gisele Bündchen?
Sim, ele tem tanto desembaraço nas caminhadas públicas como nossa maior modelo nas passarelas.
Os petistas precisam se entender para em seguida entender o jogo municipal de votos. É muito difícil que tenham percepções afinadas enquanto se entregam ao foguetório barulhento que marca a correria em raias separadas. Tem-se a impressão que mais que preocupados em chegar, querem mesmo é trançar a perna do concorrente da raia vizinha. Nem pensar, por enquanto, em corrida de revezamento.
Por enquanto, nenhuma das pré-candidaturas evoca otimismo. Carlos Grana teve mais votos fora do que em Santo André, Avamileno morreu na praia, Siraque sofreria demais o golpe de ficar de fora da Câmara Federal e Ivete Garcia vem de contratempos de saúde. Talvez seja mais apetrechada à costura partidária. Quem seria o candidato a vice de forma a chegar ao eleitorado de classe média tradicional, avesso ao PT desde a eclosão do mensalão?
Por enquanto, quem ousar tirar o favoritismo de Aidan Ravin, que, além de tudo, tem a máquina sob controle, provavelmente é candidato a qualquer coisa, menos à sensatez.
Como falta muito tempo, tudo pode acontecer. Inclusive o PT se acomodar numa vice de Aidan Ravin. Sei, sei, sei que essa alternativa é abominada pelos petistas, mas não se pode esquecer que bem ao lado, Lula da Silva, a partir de janeiro o morador mais ilustre do Grande ABC, e particularmente de São Bernardo, vai estar pronto para composições partidárias aparentemente intragáveis. Basta recorrer ao emaranhado montado para eleger Dilma Rousseff, estratégia que sacrificou muitas candidaturas majoritárias.
Com Lula em campo, não tem governo em branco. Ou seja: onde não é possível ganhar, o melhor é somar pontos.
Resta saber se PTB e aliados do prefeito Aidan Ravin vão topar essa possível parada. Em política até o impossível é possível.