Política

Frente de oposição ou derrota,
eis futuro do PT em Santo André

DANIEL LIMA - 24/12/2010

O andar da próxima carruagem vai delinear o futuro do Partido dos Trabalhadores em Santo André. E as possibilidades de a agremiação espatifar-se no penhasco de divisionismo que não deixaria pedra de racionalidade sobre pedra de racionalidade são tão candentes que o melhor mesmo é não meter a mão demais nessa cumbuca. A solução menos traumática para o enfrentamento da candidatura de Aidan Ravin à reeleição é o PT fomentar coalização oposicionista sem imposição prévia de cabeça de chapa ao Paço Municipal. Sem essa alternativa e com um candidato próprio subdividido em blocos ainda mais agudos em relação ao passado, porque agora são quatro facções a digladiar em torno da corrida à Prefeitura, Aidan Ravin já pode encomendar nova faixa, contratar uma banda de música e até se dar ao luxo de plantar bananeira.


Tudo isso, embora sem abusos de linguagem, foi me repassado ontem durante almoço de 90 minutos pelo menino de ouro da administração Celso Daniel e hoje consultor na área educacional. Klinger Sousa é aparentemente apenas um observador da política no Grande ABC, notadamente de Santo André. Ele não se define comandante de nada. Garante que sua influência no PT é rarefeita. Que tudo que disser não terá peso para alterar o curso do rio. Não disse, mas ouso dizer que ao pronunciar-se sobre o assunto e expor pontos de vista, sente-se liberto de eventuais constrangimentos. Pelo menos não atribuirão a ele pecados de ação ou de inação. Espécie de descargo de consciência.


Diria que Klinger Sousa talvez peque pela modéstia, mas a tradução do painel que pintou para especialistas poderia ser legendada da seguinte forma: o PT de Santo André é um saco de gatos do qual nem ele, ex-vereador e ex-supersecretário de Celso Daniel, reconhecido profissional de conteúdo, é capaz de interceder com medidas que possam retirar a agremiação do salve-se-quem-puder atual.


Sem Celso Daniel e o grupo de confiança que o assessorava, espalhado por várias administrações públicas, o PT de Santo André vive estiagem escandalosa. Klinger não explicitou essa constatação. Assumo essa crítica, mas confesso que ele me influenciou bastante.


Para Klinger Sousa, falta um articulador petista com competência para propagar entre oposicionistas ação cooperativa sem pré-definição de liderança individual. Uma ação conjunta que em princípio entreabriria as portas tanto a entendimento prévio quanto à viabilidade de opor-se ao prefeito Aidan Ravin e, em seguida, escancararia portas e janelas de movimento suprapartidário junto à população, quando então se definiria a chapa concorrencial ao Paço.


Convenhamos que a teorização de Klinger Sousa é envolvente. Significaria um drible na própria enrascada em que o PT de Santo André se enfiou, de emagrecimento permanente de votos da população e de encolhimento da estatura intelectual da cúpula. Mais que isso: como os vermelhinhos estão longe de maioria substantiva de votos do eleitorado no Grande ABC, por conta dos estragos do mensalão na classe média tradicional, a aproximação de outras agremiações que se articulam com espectros socioeconômicos mais rebeldes ao petismo poderia contribuir com reparos na fuselagem avariada.


É claro que a visão estratégica de Klinger Sousa passa por algo que remete àquele craque de pernas tortas que, durante uma preleção nos vestiários da Seleção Brasileira antes de um jogo da Copa do Mundo de 1958 e após ouvir cansativas explanações táticas, virou-se para o treinador e fez um pergunta simples mas contundente: já combinaram com os russos? Talvez essa história batida e rebatida não seja exatamente a que atribuem a Garrincha, porque no futebol realidade e ficção se misturam e ganham ares de folclore, mas o sentido é o mesmo: estaria a administração Aidan Ravin imobilizada durante o período em que supostamente os oposicionistas tramariam a tomada do Paço Municipal? Onde estariam os espiões e contra-espiões da fortaleza petebista durante toda a operação?


É claro que não contrapus obstáculos à idealização de Klinger Sousa durante o almoço no Restaurante São João. Teríamos um contraditório desnecessário. Provavelmente Klinger Sousa já tenha concatenado ideias para elencar as agremiações que estariam sensíveis à empreitada do PT. Seja como for, o delineamento de passos não perde a essência com eventuais contrapontos. A dinâmica do jogo jogado em campo é uma questão que só o tempo clarearia. Não fosse assim, Deus seria dispensável.


O mais importante mesmo do almoço foi ouvir de Klinger Sousa o desabafo de que não observa perspectiva de pacificação petista. Há candidatos demais e votos potenciais de menos a encontrar um libertador confiável. Vanderlei Siraque, João Avamileno, Carlos Alberto Grana e Ivete Garcia lutam por espaços partidários hegemônicos mas sabem que a maioria do eleitorado veste-se de azul e tem no prefeito Aidan Ravin um monumento de empatia que dificilmente se reverteria.


Comparar Aidan Ravin a Newton Brandão, político que marcou história política de Santo André pela frequência com que ocupou o Paço Municipal, é o mínimo que os adversários explicitam como forma enviesada de querer dizer o que não dizem frontalmente: a bola, o gramado, a arquibancada, o árbitro e os deuses estão com o atual prefeito quando se trata de colocar em debate as possibilidades eleitorais de 2012.


Estava esquecendo que também tratamos da possibilidade de o PT renunciar a tudo e a todos e jogar-se nos braços de Aidan Ravin com uma candidatura a vice-prefeito. Klinger abomina a possibilidade, mas não a descarta, porque, como se sabe, em política, até o impossível é possível.


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