Já que não conseguiram dar tratamento a problemas metropolitanos sob ótica prioritária e reformuladora de gestão pública, menos mal que tucanos e petistas tenham decidido atuar para valer nessas áreas geoeconômicas tendo como referencial maior as urnas eleitorais. Há muito perdi a virgindade de acreditar que gestores públicos colocam valores que não sejam de custo/benefício político à frente dos demais. O pragmatismo do eleitor, que responde geralmente com o bolso, tem a recíproca da objetividade dos políticos, de olho nas urnas. Num mundo mercantilizado em que inclusive telenovelas seguem interesses publicitários e de merchandising, seria demais cobrar dos políticos postura estratégica, não tática.
O governador Geraldo Alckmin acaba de criar secretaria voltada às metrópoles paulistas, principalmente a Grande São Paulo. Já o petista José de Filippi Júnior, ex-prefeito de Diadema e agora deputado federal, fala em propor em Brasília a criação de uma agência ou instrumento de gestão que auxilie, em nível federal, municípios e governos estaduais.
Outro petista, o deputado estadual Rui Falcão, que atuou como coordenador de comunicação na campanha de Dilma Rousseff, também defende a integração da Grande São Paulo e das regiões metropolitanas de Campinas e da Baixada Santista. Ele sustenta que as três áreas formam uma megalópole. Por isso, esgrime antiga e surrada ideia, jamais colocada em prática: a constituição de novo ente federativo, que resolveria questões comuns como transporte e destinação de resíduos sólidos.
Tanto José de Fillipi Júnior quanto Rui Falcão foram entrevistados pelo site do jornal ABCD Maior, com réplica na versão impressa. A primeira entrevista, com Rui Falcão, foi postada em 28 de novembro. A de José de Fillipi ganhou espaço no último dia 2. Como a publicação parece ter entrado de cabeça numa temática que LivreMercado de meus tempos e CapitalSocial de sempre abordaram exaustivamente — e continuarão a abordar — creio que após longa invernada contamos com uma companhia midiática a reforçar nossa vocação de regionalismo dentro da metrópole, ou de metropolização do regionalismo.
Entretanto, como o passado impossível de esquecer bate sempre à porta da consciência crítica, não posso deixar de aduzir o seguinte: será que essa banda vai tocar as canções que o povo precisa ouvir? Tudo indica que o marasmo das últimas décadas vai ter fim, isso parece claro.
São tantos os pontos aos quais poderia recorrer sobre metropolização e regionalidade que preciso me conter para não atirar para todos os lados.
A gestão metropolitana que acaba de tomar posse no governo Geraldo Alckmin e os ensaios petistas pecam pela escassez de informações. É indispensável dar tempo ao tempo para colocar ordem no galinheiro de possibilidades. Talvez haja galos demais cantando nesse terreiro.
De qualquer maneira, é preferível excesso mesmo que pouco sincronizado ao silêncio da apatia e do descaso que reinou desde que os militares meteram goela abaixo da sociedade uma regulamentação voltada ao gerenciamento metropolitano.
Nem com a redemocratização tivemos mudança substancial do cenário legislativo e operacional dessas áreas. O Estado de São Paulo das oficiais regiões metropolitanas de São Paulo, Campinas e Baixada Santista é a sacramentação do desperdício de recursos públicos. Falta sistematização à aplicação de políticas administrativas. E falta sistematização porque essas áreas não contam com planejamento algum. Mais que isso: municípios vivem às turras quando pontos em comum se apresentam com ares de rivalidade.
Não temos nada que possa ser rotulado de agenda metropolitana, se agenda metropolitana for entendida como confluência organizada de diferentes proposições que tenham como objetivo maior a melhoria da qualidade de vida no sentido mais amplo da expressão — a partir do desenvolvimento econômico com acabamento ambiental.
Voltaremos ao assunto entre outras razões porque não acreditamos em nada que nos retire do inferno metropolitano senão com muito trabalho e inteligência. Espero que a disputa político-eleitoral latente entre tucanos e petistas valha a pena. Afinal, o eleitorado de periferia majoritariamente avermelhado e integrante da chamada nova classe média emergente é sedento por aparelhamento de infraestrutura física e social para tornar a vida na metrópole muito menos desgastante. Não interessa, nesta altura do campeonato, quem, entre petistas e tucanos, se tornará mais capaz para preencher esse espaço.