Até as passarelas do Paço Municipal de São Bernardo sabem que Luiz Marinho acalenta o sonho de transformar previsíveis seis anos à frente da Prefeitura em trampolim à disputa do governo do Estado em 2014. Os discursos de Luiz Marinho vão todos nessa direção. Com muito cuidado, inclusive, para não ferir suscetibilidades de outras regiões do Estado, por exemplo, quando fala no Polo de Defesa Aeronáutica em São Bernardo.
Tudo legitimamente esquadrinhado em tempos de democracia. O problema é que o ex-prefeito de Diadema, ex-tesoureiro de campanhas presidenciais do PT e hoje deputado federal José de Filippi Júnior, declarou em alto e bom som que o ex-presidente Lula da Silva é o único candidato petista capaz de retirar os tucanos do comando do Estado há 16 anos.
Gostaria de ser uma andorinha para capturar os rescaldos das declarações de Filippi, reproduzidas inclusive pelo jornal impresso e digital ABCD Maior, alinhado às causas de centro-esquerda.
Será que existem entre o prefeito e o deputado federal rusgas insuperáveis por conta de eventuais desavenças ou o que tivemos foi um ato falho?
José de Filippi Júnior teria bombardeado Luiz Martinho porque opôs-se ao vitrinismo da campanha televisiva que lustra a administração do petista em horário nobre, introduzindo na bexiga de ar comprimido de festejos do prefeito de São Bernardo um agulha mais que matreira de dissuasão?
Ou José de Filippi Júnior apenas resolveu expressar sentimento com o qual a maioria petista comungaria?
Seja lá o que for — e acho até que o ex-prefeito tem mais que certa dose de razão, apesar de todo o brilho individual e também da força coletiva dos petistas e aliados — a conclusão a que chego é múltipla:
Primeiro, Filippi sinalizou uma mais que possível candidatura de Lula da Silva ao segundo maior orçamento público do País, o que tornaria o PT ainda muito mais poderoso no controle de recursos oficiais. Uma vitória do ex-presidente que bateu recorde de público, embora não de crítica, é dada como favas contadas.
Segundo, Filippi possivelmente anunciou a quebra de uma senha de certo hermetismo no tratamento da disputa ao governo do Estado nas eleições de 2014, colocando à mesa as fichas mais cativadores à composição de uma coalizão de forças que abalaria os alicerces dos tucanos.
Terceiro, a rearrumação interpartidária a que o PT vem se esmerando numa espécie de PMDB com muito mais poderes e identidade e prática programática, até porque o PMDB vai-se alinhando aqui e acolá além do que já o fez na campanha de Dilma Rousseff, determinará prováveis acelerações dos acordos, estrangulando lentamente as alternativas tucanas.
Se tudo isso não tiver a menor conexão lógica, a única saída que encontro para justificar as declarações de José de Filippi Júnior é que ele endoideceu.
Como não acredito nesse diagnóstico em se tratando de alguém chamado às pressas e com critérios rígidos para arrumar a vigiadíssima casa financeira de campanhas eleitorais petistas depois do escândalo do mensalão, não resta dúvida que deu um trança-pé em Marinho.
Ou então, já flutuando entre a criatividade e a loucura, tudo está sendo feito de forma tão coordenadamente sinérgica que Lula da Silva estaria preparado para anunciar, em momento oportuno, a candidatura do próximo petista ao governo do Estado, alguém que receberia sua benção e apoio.
Luiz Marinho seria a nova Dilma Rousseff de Lula da Silva. Com as mutações circunstanciais, é claro.