Política

Petista desfecha estilingadas em
Aidan Ravin e antecipa estratégia

DANIEL LIMA - 31/03/2011


Com a sutileza de quem prefere Gisele Bündchen a Rodrigo Minotauro, a elegância à agressividade, o ex-secretário de governo petista de João Avamileno em Santo André, sucessor de Gilberto Carvalho, acertou duas estilingadas na administração de Aidan Ravin. Numa entrevista ao jornal digital e impresso Repórter Diário, conduzida pelo jornalista Leandro Amaral, Mário Maurici antecipou duas temáticas prioritárias dos petistas para reconquistar o Paço Municipal nas eleições do ano que vem.


Traduzindo a linguagem diplomática de Mário Maurici para o terreno bélico de campanha eleitoral, ele disse que é preciso consumir muito tempo para apontar as falhas do atual prefeito e que o administrador petebista está mais perdido que cego em tiroteio, porque não teria conseguido encontrar o rumo.


É possível que alguns leitores vão entender que estou colocando fogo no paiol de supostas improdutividades da administração de Aidan Ravin. Nada disso. Apenas sou tradutor de um dialeto da política do qual Mário Maurici é especialista. Ele fala com elegância, trata adversários com fidalguia mas é suficientemente inteligente para fazer do estilingue uma arma muito mais letal que bazuca barulhenta.


Mário Maurici é desses agentes públicos que transplantou a leveza e os trejeitos verbais de mestre sala ou porta bandeira, porque carrega um molejo vocal sincopado de quem sabe que o conteúdo associado à forma pode traçar a diferença entre a declaração de guerra imediata e a sinalização de que mais dia, menos dia, a porca vai torcer o rabo. Nesse caso da entrevista, Mário Maurici sugeriu que a porca vai torcer o rabo.


Deixando os entretantos e indo aos finalmentes, veja onde detectei a primeira estilingada de Mário Maurici na entrevista ao Repórter Diário:


RD: Onde mais erra o governo Aidan?


Maurici: Quanto tempo você me dá para responder (risos). Prefiro não responder. Eu tenho muito respeito ao Aidan e não fiz uma análise apurada disso.


Agora a segunda estilingada:


RD: Muito se compara na cidade o Bonome com você e o Klinger Luiz de Oliveira Souza (ex-secretário de serviços municipais e escudeiro de Celso Daniel) tendo em vista o papel de homem forte do governo. O que você acha disso?


Maurici: Eu acho que isso serve para a gente fazer brincadeira. O Klinger nunca esteve no centro do governo do ponto de vista do cargo, coisa que eu tive e o Bonome tem. Mas existe uma diferença fundamental porque eu era o gerente de um projeto. Meu papel era de coordenação de ações dos outros secretários num projeto já estabelecido. Essa é uma situação. Outra coisa é você ser o homem forte sem, digamos, um mapa. Eu não sei como seria isso, mas são papeis diferentes. Eu, por exemplo, participei de dois governos. Numa situação eu lidava com o Legislativo (primeiro governo João Avamileno) e no segundo eu atuava na coordenação interna. Eu não vejo comparação sem ser para piada.


A entrevista foi realizada durante o seminário do PT de Santo André no final de semana, quando se discutiram caminhos mais apropriados para retomar o controle do Paço de Santo André. O jornalista Leandro Amaral fez o que a maioria deveria fazer: fustigar o entrevistado, tentar colocá-lo de saia justa, cavoucar alguma declaração que fuja do padrão de mesmice.


Vejam o que se perguntou para a opção petista de contar com uma candidatura feminina, embora o jornalista deixasse de mencionar que Ivete Garcia, que perdeu as prévias petistas para Vanderlei Siraque e está na lista de provável prefeiturável, é mulher de Mário Maurici:


RD: Depois da vitória de Dilma Rousseff, a presença de uma mulher na chapa é indispensável?


Maurici: Não é indispensável. O fato de ter uma mulher na posição de governo é uma ação afirmativa, mas não significa que o projeto tenha o recorte ou o conteúdo feminino que precisa ter. A questão, volto a insistir, é o projeto. O condutor deve ter a sensibilidade para conduzir. Se tivermos uma mulher, melhor. Mas se a solução passar por um homem, tudo bem também.


Para completar, e para reafirmar que o PT vai partir para cima da administração Aidan Ravin batendo na tecla de desgoverno, de falta de eixo, eis uma nova pergunta e uma nova resposta do Repórter Diário:


RD: Qual deve ser o discurso para o PT retomar o comando do Paço?


Maurici: Nós construímos um projeto em Santo André com o Celso Daniel (ex-prefeito, morto em 2002). Esse projeto tem muito do mérito do brilhantismo dele. Ele era uma pessoa diferenciada. Mas o centro do mérito desse projeto está no fato de ele ter sido construído de uma maneira dialogada. Na minha avaliação ele se esgotou em muitos aspectos e precisa ser renovado. O seminário foi um passo para isso. Entretanto, nós do PT não queremos ser os iluminados que tem as receitas prontas. Nós devemos fazer um amplo processo de diálogo com a sociedade. É difícil que a gente possa fazer um enfrentamento, dar uma nova direção ao Município, sem dialogar, sem compor com outros segmentos da sociedade. Não podemos fazer sozinhos. Não é o discurso em si, mas ele deverá ser construído e refletir um projeto acordado.


A disputa eleitoral em Santo André no ano que vem será mais uma vez emocionante. E o PT sabe que não existe possibilidade de retomar o Paço Municipal sem conquistar parte da classe média convencional que sempre se lhe mostrou hostil, mesmo com Celso Daniel a abrandar a imagem regional de radicalismo.


Os espaços territoriais de Santo André que se assemelham a quase toda São Caetano são o calcanhar de aquiles dos petistas. Com Celso Daniel e os movimentos populares incrustados nas periferias, os petistas davam um nó na adversidade. Um candidato a vice-prefeito na chapa petista que contemple manchas socioeconômicas conservadoras de Santo André é uma das variáveis para domar o carisma de Aidan Ravin. Outra é a desclassificação gerencial da atual administração. Daí o legado de Celso Daniel mencionado por Mário Maurici sob novo prisma, embora sutilmente: o ex-prefeito era resultado de um conjunto, de uma equipe, mesmo com todo o brilho pessoal.


Ou seja: o PT de Santo André quer fazer crer ao eleitorado que a morte de Celso Daniel não significou o desaparecimento da capacidade de gestão pública, interrompida durante a administração do sucessor imediato João Avamileno por uma série de razões supostamente já superadas.


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