Uma tomografia computadorizada do pensamento médio da cúpula e dos arredores da cúpula petista em Santo André indica que a vice-prefeita Dinah Zekcer, o vereador Gilberto Primavera Wachtler e o empresário Mário Cesar de Camargo disputam a mesma raia de viabilidade para reforçar a candidatura petista às eleições municipais do ano que vem. Já uma ressonância magnética, mais detalhada em prospecção, acusa que o GPS petista está conectado preferencialmente na pedagoga Dinah Zekcer como plano principal.
Qualquer um dos três representantes da classe média de Santo André seria bastante conveniente para concorrer ao cargo de vice na chapa petista ainda longe de definir quem será o titular.
A diferença entre Dinah Zekcer, os outros dois concorrentes e eventuais novos nomes que possam ganhar posições é que a petebista reúne algumas potencialidades especiais.
A mais acentuada razão de Dinah Zekcer constar da lista de prioridade das prioridades do PT é que eventual rompimento da vice-prefeita com a administração Aidan Ravin provocaria estragos irrecuperáveis, porque atingiria a candidatura situacionista, além de reduzir a resistência da classe média ao petismo.
Dinah Zekcer seria entre outros símbolos uma bandeira de paz e conciliação desfraldada pelo PT em direção aos conservadores.
A porção de São Caetano do eleitorado de Santo André é a porção que avalizou a candidatura de Dinah Zekcer na chapa de Aidan Ravin em 2008, quando os números das urnas nas áreas ditas mais conservadoras foram muito mais expressivos aos petebistas que os da periferia, praticamente dividida.
Mário César de Camargo, comandante da Gráfica Bandeirantes, pertence a estrato de classe média do Município menos tradicional e mais empreendedor que o de Dinah Zekcer. E um pouco abaixo ainda na classe média de camadas complementares está o mais popular Gilberto Primavera, médio mercadista, vereador, candidato a deputado estadual que obteve 15 mil votos em Santo André nas últimas eleições.
Essas conjecturas decorrem de informações de várias fontes petistas de Santo André. Descobriu-se, ou consumou-se partidariamente a convicção de que não existe mais um Celso Daniel a sensibilizar o eleitorado de classe média de Santo André e, seja qual for o candidato a prefeito do PT, o companheiro de chapa terá de encarnar o pensamento e certas culturas de bairros de maior lustro econômico e educacional, o calcanhar de Aquiles dos petistas.
O PT caiu na real de que ganhar eleições em Santo André sem uma chapa mais ecumênica, que fuja do puro sangue das anteriores, é questão de sobrevivência. Foi assim, aliás, que Lula da Silva deixou no passado série de três derrotas consecutivas à presidência da República.
O PT de Santo André não pretende necessariamente transplantar modelo de candidatura encabeçada por Lula da Silva, no caso um empresário de bom trânsito nas camadas sociais mais elevadas, como José Alencar e, no caso doméstico, de Mário César de Camargo, ou mesmo um representante dos pequenos e médios empresários, como Gilberto Primavera. Entretanto, poderá lançar sim uma dessas alternativas caso se frustrem tratativas com Dinah Zekcer.
Ainda não se chegou ao extremo de se afirmar que é mais importante definir a candidatura a vice do que a de prefeito, mas a correlação de forças avaliativas vai numa direção que parece clara: seja qual for o desfecho para definir se será Ivete Garcia, Vanderlei Siraque, João Avamileno ou Carlos Grana o escolhido por consenso ou na batida de tendências internas, a complementação da chapa majoritária petista não pode ser tratada como acessório. Muito pelo contrário.
Nem a possibilidade de Dinah Zekcer bater o pé e seguir adiante na chapa situacionista, mantendo-se a dobradinha com Aidan Ravin das últimas eleições, desestimula a cúpula petista a desistir dessa mulher que tem enfrentado dificuldades de articulação no atual governo. Tanto que não faltam versões que dão conta de que poderia ser apeada de nova candidatura a vice nas eleições do ano que vem.
Intrigas da oposição superdimensionam rusgas internas do governo petebista, mas há entreveros e choques internos que não fazem da movimentação do grupo da vice-prefeita algo comparado a um passeio por bosques floridos. Tampouco, é verdade, se assemelha a uma aventura de Indiana Jones.
Os petistas acreditam que só a propagação da opção por Dinah Zekcer contribuiria para mandar um recado de flexibilidade ideológica e administrativa às classes mais conservadoras. É claro que se pensa também em reforços estratégicos externos que atuariam pontualmente durante a campanha eleitoral nas áreas sociais mais indóceis. Assim como fazer de Lula da Silva peregrino igualmente pontual nas periferias.
Traduzindo essa análise especulativa: o PT quer mostrar ao conjunto da classe média mais conservadora que não é um bicho de sete cabeças após a morte de Celso Daniel e tampouco um antro de malfeitores, como disseminou a denúncia do Mensalão, cuja manjedoura, todos sabem ou deveriam saber, deu-se no governo tucano de Minas Gerais bem antes de Lula da Silva ganhar a disputa em 2002.
Esse adendo, que não significa imunização dos transgressores, vai causar rebuliço entre os leitores de classe média, a maioria desta revista eletrônica. Mas o que se pode fazer quando se tem o dever de informar sem deformar?
A possibilidade de o legado gerencial do prefeito assassinado em 2002 ganhar espaço na campanha eleitoral não está descartada, rompendo silêncio petista das duas últimas eleições. Seria a extensão da proposta de quebrar o gelo junto à classe média.
O ex-secretário de Governo de Celso Daniel e depois de seu sucessor, João Avamileno, Mário Maurici, já ensaiou outro dia, em declarações ao Repórter Diário, a possibilidade de colocar em patamar elevado de discurso o perfil de gerenciamento estratégico compartilhado que Celso Daniel brilhantemente comandou no Paço de Santo André.
Não está fora de lógica que o PT ressuscite Celso Daniel em Santo André sob a ótica de gerenciador que chefiava uma equipe igualmente de elevado nível. E que as propostas e soluções para Santo André passaram por um time, não pela individualidade. Uma forma, também, de combater o carisma enlouquecedor de Aidan Ravin.
Pode parecer irrelevante para quem desconhece o poder de subjetividades e semânticas da política, mas o PT leva muito a sério o encaminhamento de um discurso renovador a partir de um conjunto de medidas, entre as quais o pé que pretende fixar na classe média conservadora com uma vice-candidatura respeitada nesse habitat.
Egresso desse estrato socioeconômico, Celso Daniel custou a quebrar barreiras. O assassinato de que foi vítima e, mais que isso, as versões rocambolescas, poderiam ter provocado estragos muito maiores do que o recuo discreto mas demarcador do placar eleitoral da resistência ao PT da cidade. O erro dos petistas foi acreditar que aqueles estragos foram insignificantes, por conta da vitória de João Avamileno nas eleições de 2004.
A banda que define os resultados eleitorais em Santo André entre direita e esquerda é tão estreita que o somatório de pequenos detalhes costuma fazer a diferença.
Agora, parece se ter consciência de que seja quem for o escolhido para disputar o comando do Executivo, o companheiro de chapa do petista não poderá ser sindicalista como João Avamileno, Ivete Garcia e Martinha nos últimos 15 anos.
Dinah Zekcer é um sonho que representantes do Executivo de Santo André dizem estar absolutamente fora do alcance dos petistas. Incompatibilidade ideológica, corporativa, cultural e tudo o mais, determinariam o distanciamento. Como o PT acredita que não tem nada a perder com a propagação da ideia de aproximação — muito pelo contrário — possivelmente passará do plano à ação. Com a suposta vantagem de que, mesmo com a recusa, as opções seguintes imantariam o verniz associativo com a classe média como um todo, opositora empedernidade do partido.