Política

Bonome é um dos reforços do PT
para ganhar eleição em Santo André

DANIEL LIMA - 26/04/2011

A transferência do peemedebista Nilson Bonome para reforçar o Partido dos Trabalhadores nas eleições do ano que vem em Santo André equivale a dizer que Valdívia será negociado com o Corinthians para o Campeonato Brasileiro, que Bruno Cesar jogará pelo Palmeiras, que Neymar será transferido para o São Paulo e que Rogério Ceni tomará o posto de titular no gol do Santos? Quem acredita na correlação entre tudo isso e o enunciado envolvendo o todo-poderoso secretário de Gabinete e de Saúde de Santo André está redondamente enganado.


Em nome de uma força-tarefa multipartidária coordenada pelo maior cabo eleitoral do PT nas próximas eleições, o ex-presidente Lula da Silva, Nilson Bonome pode sim jogar pelo time petista no ano que vem. Teria a titularidade de concorrente a vice-prefeito da chapa petista ou manteria o status quo atual.


Por que iria Nilson Bonome trocar o conforto de quem dá as cartas, por um novo ambiente? Simples, simples e simples: com Aidan Ravin ele sabe que seu futuro é curto, que se encerrará no máximo nos quatro anos sequenciais à possível vitória eleitoral do ano que vem. Com o PT será um dos mais importantes elos eleitorais na região, com amplas possibilidades de plantar as sementes de uma frondosa árvore política, que culminaria com o topo imaginado, de prefeito de Santo André.


Ou seja: Nilson Bonome faria um investimento de médio e de longo prazo com a opção de meter a camisa do PT no peito sob a camisa do PMDB e jurar que é petista desde criancinha, tal qual jogadores de futebol apresentados à Imprensa após novo contrato. Com Aidan Ravin o contrato é de curto prazo, sujeito a ruptura indesejável, ano que vem, nas eleições municipais. O conglomerado PT-PMDB que levou Dilma Rousseff à presidência da República e, antes, evitou que Lula da Silva fosse apeado do poder por conta do mensalão, é muito mais que o PTB isoladamente ou em combinações com os tucanos.


Lula da Silva deixou claro numa entrevista ao jornal ABCD Maior, semana passada, que vai ditar as regras eleitorais do PT. Ele aprendeu com três sovas seguidas à presidência da República que idiossincrasias partidárias não enchem barriga nem urnas eletrônicas. Coligações eleitorais são o melhor remédio. Leiam alguns dos trechos da entrevista de Lula da Silva ao ABCD Maior:


bullet_quadrado Em 1991 eu propus a prévia no PT para resolvermos problemas de conflitos entre as tendências, mas as prévias viraram uma guerra. Muita gente vai para a disputa interna e quando perde não faz campanha para quem ganhou. Foi uma coisa boa, que se tornou, em alguns casos, prejudicial. No caso de Santo André, teríamos uma candidata nata, se ela não fosse escolhida antes pela presidente Dilma Rousseff: a ministra de Planejamento, Miriam Belchior. Acredito que Miriam não pode largar o ministério para ser candidata em Santo André, pois já prestou e está prestando um importante serviço ao Brasil. No entanto, o PT tem quadros importantes em Santo André, mas é preciso fazer uma avaliação da coalizão de forças dos possíveis aliados. É uma questão de bom senso. É como se tivéssemos que tomar um cafezinho no bar, mas só com uma xícara para três companheiros. No PT nós precisamos fazer isso, ninguém pode ser candidato só porque quer ser. Temos de permitir que outras pessoas possam dizer quem é o melhor, e o escolhido tem de ter o apoio de todo mundo. Mas não apenas em Santo André. (…) Posso garantir, antecipadamente, inclusive sem falar antes com o Michel Temer (vice-presidente da República), que o PMDB desta vez terá o PT como aliado principal em todos os municípios. Conversei com o presidente estadual do PMDB, o deputado Baleia Rossi, que me garantiu que a preferência de aliança é com o PT.


A entrevista de Lula da Silva ao ABCD Maior é longa e oportuna. Os jornalistas Karen Marchetti e Júlio Gardesani exploraram ao máximo o dirigente logo após uma reunião da direção do PT paulista para discutir as prioridades nas eleições municipais de 2012. Lula da Silva deixou as impressões digitais de colaborador intenso: vai às ruas, principalmente do Grande ABC, para empurrar os candidatos petistas e seus aliados. No caso de Santo André, somente o ex-presidente da República poderia opor maior brilho ao carisma de Aidan Ravin.


Tem-se como certo que Nilson Bonome deixará a administração de Aidan Ravin no momento mais apropriado e em nome da coerência política sem necessariamente concorrer ao cargo de vice-prefeito pela coligação montada com o PT. Não haveria dolo na decisão, apenas a ética natural retirada de quem pertence a uma agremiação que, por conta de coalizão partidária, se oporá ao governo municipal de plantão.


Embora recheada de ciumeiras de parentes próximos e de uma entourage política que transformam qualquer prefeito em divindade e qualquer parceiro em demônio, a relação de Bonome com Aidan Ravin é produtiva, porque pragmática.


Por mais que se industrializem ilações à atuação conjunta deles, nada que façam na administração de Santo André difere fundamentalmente do padrão de atuação dos gestores públicos no País e seus principais interlocutores. Há sempre entre opositores, em todos os lugares, a ideia fixa de particularidades de baixo padrão comportamental. A elasticidade do modus operandi dos gerentes públicos no País é mimetizada conforme o receituário ditado por dimensões e oportunidades que se apresentam. Não há novidades substantivas na gestão de recursos públicos, seja qual for o critério a ser analisado. Há adaptações, apenas isso. E marqueteiros sempre dispostos a estabelecer diferenças, porque isso faz parte do show da vida.


Por essas e por outras Nilson Bonome é um nome mais palatável a cada dia entre petistas, entre outras razões porque tem o controle sistêmico de arranjos sociais que ajudam a decidir eleições. Tanto está entranhado no ninho petista por convocatória do vice-presidente da República que um dos convidados a compartilhar a mesa de honra na Câmara de Vereadores de Santo André naquela noite em que o supersecretário filiou-se ao PMDB, no início deste ano, além de Michel Temer e de Baleia Rossi, era nada mais nada menos que Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo.


O que alguns opositores pretendem agora, diante do horizonte que se descortina de forma menos disfarçada a Nilson Bonome, é estigmatizá-lo inclusive por supostas ineficiências em áreas sobre as quais não tem de fato nem de direito qualquer interferência. Caso específico do Estádio Bruno Daniel, em pandarecos há mais de uma década mas só agora denunciado veementemente por conta do fracasso de pernas de paus que pisotearam o gramado.


Muita água correrá sob a ponte de especulações à temporada de votos do ano que vem, mas a aproximação pública de Bonome e o PT já não é uma fantasia. O PT está disposto a tudo para terminar as eleições do ano que vem enfiando uma goleada nos adversários do Grande ABC. De preferência, por 6 a 1. Apenas a cidadela de São Caetano é considerada praticamente impenetrável porque, além dos craques conservadores do outro lado do campo, os petistas não conseguem montar sequer um catado. A classe média local é uma barreira praticamente intransponível.


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