Política

PSOL quer Bruno Daniel candidato
à Prefeitura de Santo André em 2012

DANIEL LIMA - 02/05/2011

Desenha-se para o ano que vem em Santo André, na corrida à Prefeitura, um componente emocional que possivelmente retomará com certo vigor o espólio eleitoral de Celso Daniel, triprefeito assassinado em janeiro de 2002 num caso mais que explorado pela mídia e que, quase uma década depois, segue a incomodar a muita gente. Trata-se da possibilidade de o irmão mais novo do ex-prefeito, Bruno Daniel Filho, vestir a camisa do PSOL.


Quem está fazendo a articulação é Ricardo Alvarez, professor universitário, ex-vereador petista e candidato do PSOL derrotado nas últimas eleições locais. Resta saber se Bruno Daniel vai topar a parada.


Bruno Daniel está com a família em Paris, em exílio por conta de supostas ameaças após denúncias, especialmente do irmão João Francisco, de conexão do crime com a especulada rede de corrupção durante a administração do irmão.


Embora confie plenamente nas fontes que me fizeram chegar a movimentação das pedras para convencer Bruno Daniel a concorrer ao gabinete que o irmão famoso transformou em símbolo de regionalidade, tenho cá comigo dúvidas se lançar-se-á mesmo na empreitada.


Talvez vendam a Bruno Daniel a ideia de que seria um legítimo herdeiro político de Celso Daniel, porque também militou na esquerda e sua mulher Marilena Nakano chegou inclusive a ocupar a Secretaria de Educação na primeira gestão do petista, em 1990.


Alguns outros pontos menos importantes provavelmente se entrecruzariam numa campanha de marketing para vincular Celso Daniel e Bruno Daniel. Algumas semelhanças físicas que a genética mais que explica também seriam automaticamente instrumentalizadas com a finalidade de mostrar aos eleitores que não há impostor a utilizar o nome da família Daniel. Tudo isso é possível e natural.


O maior drama que envolveria a candidatura de Bruno Daniel é que de irmão de Celso Daniel tanto ele quanto o extrema-direita João Francisco, só tinham mesmo o parentesco. Desde que se afastou de Celso Daniel por causa da demissão da mulher, uma então guerrilheira pública que pretendia levar a Educação de Santo André ao impasse, os dois irmãos, Celso e Bruno, pouco se falaram.


Quando Celso Daniel endireitou ideologicamente, aproximando-se mais de uma centro-esquerda, as relações tornaram-se inconciliáveis. Falavam-se formalmente nos aniversários de algum membro da família, tendo a matriarca como centro das atenções. Mas irmãos de unha e carne eles não eram mais, por conta de fundos antagonismos de pensamento político e das rusgas administrativas do passado.


Candidato à Prefeitura de Santo André, Bruno Daniel terá um monte de respostas a dar sem que necessariamente sejam as razões que o levaram a exilar-se em Paris, quando o Haiti está bem aí.


Embora não esteja fora de cogitação a possibilidade de ter sofrido retaliações após as denúncias que principalmente João Francisco Daniel fez para enquadrar o assassinato de Celso Daniel num caso político-administrativo, não de emboscada urbana de uma Grande São Paulo que vivia inferno de sequestros, Bruno Daniel terá de enfrentar borrascas. Acostumado à bajulação da mídia que comprou por motivos que vão muito além da inapetência crítica a teoria de morte sob encomenda, Bruno Daniel terá de se ver com um padrão de tratamento menos adocicado.


Por exemplo: como se comportará diante de uma pergunta que lhe será endereçada sem pestanejar e que dá conta de uma declaração do petista José Dirceu que, em seu blog, disse com todas as letras que ele, Bruno Daniel, lhe confessou certo dia que as denúncias do irmão João Francisco foram fruto de um acerto financeiro à criminalização política do assassinato de Celso Daniel?


Ao leitor que talvez não tenha compreendido o propositalmente longo parágrafo anterior, reduzo o trecho nos seguintes termos: José Dirceu, todo-poderoso petista mesmo depois do abate que se deu na cúpula do partido após o caso mensalão, assegurou que Bruno Daniel entregou de bandeja o irmão João Francisco, o qual trocou a verdade do crime comum apurado pela Polícia Civil de São Paulo e Polícia Federal pelo viés político-administrativo de corrupção na Prefeitura de Santo André.


Compliquei de novo o parágrafo? Então vou ser curto e grosso: João Francisco Daniel ganhou dinheiro de terceiros para transformar a morte comum do irmão em morte encomendada.


Prerrogativas constitucionais asseguram a Bruno Daniel Filho o direito inalienável de concorrer à Prefeitura de Santo André no ano que vem. Aliás, o calendário o favorece, assim como o senso comum de que Celso Daniel foi mesmo abatido em razão de disputas internas na Prefeitura. Ou os leitores esqueceram que está marcado para o próximo ano o julgamento dos sequestradores e assassinos do petista que viraria Ministro de Planejamento do governo Lula da Silva?


Não está descartada, também, a ida ao Tribunal de Júri do homem escolhido a dedo para dar veracidade ao enredo fabricado nos bastidores do governo Geraldo Alckmin de modo a atingir em cheio os petistas que mesmo antes de o corpo ser visto na região de Juquitiba fizeram do sequestro de Celso Daniel um feitiço político que, como se sabe, virou contra o próprio feiticeiro.


Sim, estamos falando de Sérgio Gomes da Silva, primeiro amigo de Celso Daniel e condutor de veículo abalroado pelos bandidos na região dos Três Tombos, em São Paulo.


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