Política

Eleições estão longe mas ferveção
emite sinais de muitas negociações

DANIEL LIMA - 10/05/2011

Se a mídia regional (e também a brasileira, de modo geral) desse tanto espaço à regionalidade embutida nas metrópoles quanto dá ao campo político, a qualidade de vida nas áreas mais densamente habitadas seria muito melhor. No Grande ABC, a ferveção em torno das eleições municipais do ano que vem já está nas páginas de jornais impressos e digitais. Recomenda-se leitura transversal na tentativa de decifrar as mensagens.


O que temos é um jogo para profissionais desvendarem. Preferencialmente que sejam dotados de premonições. Um pouco de magia negra também vai bem. Acender velas em encruzilhadas vale. Afinal, nem sempre os passos mais firmes a caminho de negociações são captados pelos repórteres. Manipula-se muito, como é próprio da política. Detesto o dia-a-dia da política, mas sou fanático pelo noticiário político e também pelos bastidores. Como entender tamanha contradição? Só pode ser coisa de maluco. Ou instinto de sobrevivência neste mundo desvairado.


Juro que não acredito que tenha estômago para o cotidiano da administração pública. A ética na política tem dialética própria e não me seduz. Sei que quem está acostumado com o modus operandi acha tudo absolutamente normal — como quem toma cafezinho. Me conheço, entretanto, para extrair da política apenas o suficiente para informar aos leitores. E testar até que ponto vai a distância entre a credulidade e a desconfiança. Costumo dizer que como pessoa física pendo mais para o acreditar em tudo; mas como pessoa jurídica, aprendi a me acautelar.


O jogo eleitoral começou a esquentar para valer no Grande ABC. Vejam o caso de Nilson Bonome, supersecretário de Saúde e de Gabinete de Santo André. Ele reagiu à notícia que demos neste espaço sobre a possibilidade de bandear-se para a campanha e quem sabe até para a chapa petista nas próximas eleições municipais.


O ex-presidente Lula da Silva, maior cabo eleitoral petista nas próximas disputas, está decididíssimo a negociar parceiras no Brasil inteiro com o PMDB do vice-presidente Michel Temer. Onde o PT pode ter prefeito o PMDB é preferencialmente o vice. E a recíproca é verdade. Não se trata de tática que seduziria Nilson Bonome, peemedebista que garante estar com o petebista Aidan Ravin e não abre.


Será que Nilson Bonome vai resistir a eventual blitz de Lula da Silva e Michel Temer? Estará decidido o supersecretário a enfrentar a barra pesada eleitoral de dois caciques, permanecendo ao lado de Aidan Ravin, a quem ajudou a eleger? Trocaria Bonome o que acredita ser um segundo mandato do atual prefeito, na condição de espécie de primeiro-ministro, pela empreitada peemedebista-petista? Estaria Bonome, com a declaração pró-Aidan, apenas patrocinando um jogo de cena, porque quereria ganhar tempo e esticar até onde puder a migração para o PT que nem candidato a prefeito escolhido tem?


Que vantagem Maria leva, ou melhor, que vantagem Bonome leva ao supostamente trocar uma candidatura que concorrerá com todas as vantagens de uma reeleição por um concorrente com dificuldades sérias para conquistar a classe média? Como trocar o certo de segundo homem na hierarquia do Executivo pelo incerto de uma disputa por espaços sempre complexa entre petistas e aliados?


Bonome fala aparentemente com determinação sobre a condição de aliado incondicional de Aidan Ravin. Não revela se pretende ser candidato na chapa, como vice, ou se vai manter o poder de mando como supersecretário. Quem arriscar que Bonome não abriria mão de apoiar Dinah Zekcer novamente como companheira de chapa de Aidan Ravin tem meio caminho andado em direção à lógica. O problema é que há outra metade do caminho de imponderabilidades.


No fundo, no fundo, todos os políticos com alguma possibilidade de sucesso eleitoral querem é cacifar-se às próximas eleições. A família Tortorello, em São Caetano, está unidíssima em torno de um representante a ser abençoado pelo prefeito José Auricchio Júnior à sucessão. Poucos acreditam nisso. A secretária Regina Maura Zetone é observada como porta-aviões em competência e há outros potenciais concorrentes mais próximos dos anseios do titular do Paço Municipal.


O erro que os Tortorellos cometeram nas últimas eleições municipais é lembrado como tropeção ideológico imperdoável para quem conhece São Caetano: a candidatura de Jaime Tortorello pelo PT embaçou a imagem deixada pelo ex-triprefeito Luiz Tortorello, avesso à esquerda.


Em São Bernardo a briga é de foice no escuro. São tantos os pretensos adversários à reeleição de Luiz Marinho que sobra a ideia de estarem na mesma situação dos cães que ladram protegidos por cerca de arame farpado até que, focinho a focinho numa brecha, reagem de forma insólita, cada um correndo em direção oposta com o rabo entre as pernas.


O que quero dizer com isso? Que, diante de perspectiva de avalanche de votos em direção ao petista com o apoio ostensivo de Lula da Silva, não sobre ninguém de peso para o sacrifício de uma derrota acachapante.


Em Mauá a disputa é para retirar a deputada estadual Vanessa Damo da liderança peemedebista, subtraindo-lhe também espaço à candidatura de oposição ao petista Oswaldo Dias. Parece que a tentativa de fragmentar o governo do PT não deu resultado. Oposicionismos internos foram serenados com recomposição de cargos. Daí, a alternativa é a união dos adversários. Que batem cabeça.


Em Ribeirão Pires o prefeito Clóvis Volpi dá show de procrastinação do nome a ser indicado à reeleição, enquanto o PT ressuscita a ex-prefeita Maria Inês Soares que, a julgar pelas fotos nos jornais, vem de visual completamente repaginado. Estaria também menos abrasiva?


Já em Rio Grande da Serra, onde Kiko Teixeira, como Clóvis Volpi e José Auricchio Júnior, não pode concorrer novamente, tudo indica que fará de sua indicação o favorito à manutenção do Paço Municipal. Mas convém não apostar todas as fichas, porque o eleitorado é pequeno demais e suscetível, por isso mesmo, a novas visualizações. Umas visitinhas de Lula da Silva poderiam ser suficientes para abraçar todos os eleitores.


Para completar, em Diadema do prefeito Mário Reali e de uma paisagem eleitoral avermelhadíssima, aos opositores só resta rezar. Pelo menos a uma conclusão parece já terem chegado: o eterno rival petista, e perdedor inveterado José Augusto da Silva Ramos, não teria mais viabilidade de voltar ao gabinete do Executivo que ocupou com estardalhaço.


Só falta os demais oposicionistas combinarem com o supostamente liquidado concorrente.


A política partidária e o ambiente eleitoral que já se respira no Grande ABC poderiam dar margem a noticiários mais interessantes, mas o que se pode fazer se o que interessa aos concorrentes e suas respectivas entourages é maquinar em torno de equações que desemboquem em lances surpreendentes?


O problema é que por mais que misturem as cartas de intenções e de decisões, eles acabam entregando a rapadura para quem sabe decifrar as entrelinhas.


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