Mais e mais se consolida entre os petistas o plano orquestrado pelo ex-presidente Lula da Silva de aproximação íntima, carnal se necessária, com o PMDB. A meta é aprofundar em nível municipal uma aliança que muito contribuiu para a vitória de Dilma Rousseff na caminhada presidencial. A dúvida maior no Grande ABC é saber até que ponto o peemedebista Nilson Bonome, supersecretário do petebista Aidan Ravin, vai seguir abrindo um buraco de exceção à regra. Há quem aposte que Bonome está apenas ganhando tempo e que saberá a hora certa de abandonar o barco, com compensações mais que garantidas. O prefeito Aidan Ravin seria atirado aos crocodilos do esvaziamento eleitoral.
O jornal eletrônico e impresso Repórter Diário foi a única publicação regional a cobrir com agregado de valor informativo o seminário estadual da chamada Macro PT ABC, realizado no final de semana no Sindicato dos Químicos, em Santo André. O repórter Leandro Amaral traduziu o encontro com objetividade. O temário em questão foi a sucessão municipal no próximo ano. O PT organiza-se para não ser surpreendido. A ordem é compor alianças coloridíssimas. O PMDB é imprescindível.
Recentemente, como reportamos aqui, o ex-presidente Lula da Silva antecipara que não abriria mão do PMDB. Revelou que teria encontro nesse sentido com o vice-presidente da República e maior estrela peemedebista, Michel Temer.
Mais que as eleições do ano que vem, sobre as quais o PT estica os dois olhos preferencialmente nos municípios mais populosos, o que está no horizonte é a disputa ao governo do Estado em 2014. Pretende-se desbancar o PSBD no mais valorizado reduto nacional.
Demorou para os petistas perceberem que a hegemonia tucana no Estado mais desenvolvido do País não é um jogo que possa ser resolvido sem planejamento mais apurado.
Descobriram os petistas que as maiores dificuldades estão na base conservadora da Capital, centro difusor da mídia formadora de muitas opiniões Estado adentro, mas que é possível ganhar o controle da Capital sem conquistar a Capital. Com os votos do Interior, é claro.
Acordou o PT para a realidade de que a corrida eleitoral é uma prova de 800 metros com barreiras inserida numa maratona que tem as cartas marcadas pelo desenvolvimento econômico. Aonde a vaca dos investimentos vai, o boi do conservadorismo ou do reformismo vai atrás.
Os tucanos que comandam há quase duas décadas os paulistas são vistos com mais simpatia pelo eleitorado conservador. Não será isoladamente que o PT reverterá o quadro. Antigos aliados formais ou informais dos tucanos agora dão sustentabilidade aos planos petistas porque reduzem a carga de hostilidades, preconceitos e outros sentimentos derivados do passado.
O maior pecado que o PSDB cometeu ao longo de tantos mandatos no governo é o nível de exclusão de desenvolvimento econômico assustador no Estado mais rico da Federação. Um grupo de 50 municípios, ou de menos de 10% do total, concentra mais de 80% do Produto Interno Bruto estadual. Oferecerão o PT e aliados a mensagem de confiabilidade que os conglomerados microrregionais demandam?
Mas essa é outra história. O que interessa por conta do seminário petista é que o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, deu um recado cujo conteúdo abordei de passagem e por conta própria ainda outro dia nesta revista eletrônica: o PT quer fazer a maioria avassaladora de municípios do Grande ABC, quem sabe superando a marca alcançada em 2000, quando cinco das sete prefeituras passaram a registrar a estrela vermelha nos gabinetes dos Executivos. Apenas a inexpugnável São Caetano e uma São Bernardo então rigorosamente fechada aos petistas escaparam do controle do partido.
O consenso petista de que o Grande ABC deve ser prioridade eleitoral é mais que uma idealização brotada da experiência de conjugação de esforços de alianças às quais Lula da Silva se entregou após três sovas consecutivas nas tentativas de chegar à Brasília.
Por isso parece não haver concessão à exclusão de Santo André do mapa eleitoral desenhado pelos petistas. Trata-se de meta a ser atingida custe o que custar. E o que seria custe o que custar? As alternativas são tantas que algumas parecerão surrealistas. O jogo já vem sendo jogado com astúcia. A possibilidade de radicalização não está fora de foco estratégico. Entenda-se por radicalização um confronto para valer entre o PT (e seus aliados) e o PTB que contaria com apenas parcela do PMDB.
Isso significa que à falta de ressonância do acordo na cúpula nacional, os contendedores locais seriam levados à arena com as armas de que dispõem. Há quem faça essa projeção com certeza absoluta, enquanto outros garantem que muita água vai rolar sob a ponte de interesses pessoais e partidários.
Nilson Bonome é a peça-chave da aproximação petista em Santo André. Está difícil convencê-lo a trocar o cargo de primeiro-ministro por algo ainda abstrato no conglomerado liderado pelo PT.
Provavelmente ele seja adepto da máxima atribuída por uso constante e não por autoria a Ulysses Guimarães: quem parte e reparte e não fica com a maior parte, é bobo ou não entende da arte.