Entrevista Especial

Um homem de R$ 700 milhões
de dívida e 83% de popularidade

VERA GUAZZELLI - 05/12/1999

Dezembro é duplamente festivo para o prefeito Oswaldo Dias. A comemoração dos 45 anos de Mauá está embalada por 83,7% de avaliação positiva, maior índice de aprovação popular da região e oitavo no Estado, conforme levantamento da Brasmarket. Na recheada agenda de festejos do mês outra data merece atenção redobrada: o marido e pai Oswaldo Dias vai celebrar bodas de prata com a esposa e os três filhos. Já o político do PT Oswaldo Dias se prepara para mais um ano eleitoral. É candidato à reeleição e provavelmente vai enfrentar os mesmos adversários que derrotou na eleição passada. A diferença é que está do outro lado. Na situação.


Fora dos cenários festivo e eleitoral falta ainda um ano de mandato. E tempo é crucial para quem administra a maior dívida per capita entre os municípios brasileiros com mais de 50 mil habitantes. Sem se entregar à calamitosa situação dos números, Oswaldo Dias somou dividendos em três anos para exibir. Pela primeira vez na história, Mauá foi descoberta pelo grande varejo. Sé Supermercados já está instalado, Coop chega no próximo ano e o Extra acaba de anunciar que também vai engrossar o bloco. A construção do McDonald’s encerra o ciclo de remodelação do Centro, iniciado com a construção do Shopping Popular, do calçadão, da reforma e urbanização de toda a área do Paço Municipal. Também a tentativa de encontrar a vocação do Pólo Industrial de Sertãozinho atraiu empresas transformadoras de plástico e cinco mil novos empregos foram contabilizados desde 1997. Tal dinâmica elevou para status de Secretaria o Departamento de Desenvolvimento Econômico.


Todos os esforços devem resultar em índices mais animadores no próximo milênio. Enquanto aguarda o reflexo positivo de investimentos estimados em R$ 1,87 bilhão na instalação, ampliação e transferência de empresas, Mauá amarga queda na arrecadação. A cidade ocupa o 16º lugar no ranking estadual do Valor Adicionado do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), mas era a 14ª há um ano. O Valor Adicionado representa 76% da redistribuição do ICMS e creditou a Mauá R$ 2,2 bilhões em 1998. O montante corresponde a 1,21% do total de R$ 182 bilhões arrecadados pelo Estado de São Paulo e a 11,5% dos R$ 19,1 bilhões do Grande ABC.


O caminho para consolidar a identidade de Mauá, conforme discurso do próprio Oswaldo Dias, é longo. Os problemas vão além do desenvolvimento econômico. Imprimir qualidade de vida em cidade de 365 mil habitantes, geograficamente pouco favorecida pela natureza e escancarada durante décadas à ocupação demográfica desordenada é o maior desafio. Conjunto de leis que tramita na Câmara Municipal sinaliza a disposição de colocar ordem em caldeirão fundiário onde nada menos que 70% dos imóveis ou terrenos apresentam algum problema com documentação. Se aprovados e colocados em prática, a Lei de Zoneamento, o Código de Obras e o Plano Ambiental darão a partida para mudar a cara de Mauá.


Se o Município fosse pagar os juros da dívida teria de desembolsar mensalmente R$ 90 milhões — 60% do orçamento previsto para o ano 2000 ou ainda dois prêmios da megasena acumulada, como a que foi sorteada recentemente. Como sorte não figura entre os itens discriminados na obtenção de receita, Oswaldo Dias optou por negociar, negociar e negociar. O prefeito recebeu a reportagem em seu gabinete para entrevista inicialmente estimada em duas horas, mas que durou o dobro do tempo. A própria assessoria não acreditava que o prefeito, considerado homem de poucas palavras, fosse falar tanto. Se o professor de Geografia Oswaldo Dias faz o gênero do mineiro que trabalha em silêncio, a regra foi quebrada, principalmente nos últimos três anos. Só de reuniões com a população já foram 400. Mais de 130 ao ano ou, para os mais meticulosos, 2,7 por final de semana.


Qual a dívida do Município?


Oswaldo Dias – Com a atualização dos juros o valor chega a R$ 700 milhões.


O prefeito deve R$ 700 milhões, mas detém o maior índice de popularidade do Grande ABC, com 83% de avaliação positiva. Qual o segredo?


Oswaldo Dias – Franqueza, transparência e obras, apesar das dificuldades financeiras. A população compreende a postura de seriedade da administração. Não enrolamos ninguém, não fazemos promessas e dificilmente nos comprometemos com reivindicações que não poderão ser atendidas. Às vezes acontece de ficar algum pedido parado por problema de encaminhamento, mas é raro.


A dívida de R$ 97,5 milhões com o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) foi parcelada em 107 anos. A idéia é conseguir acordo semelhante para o montante devido à CEF (Caixa Econômica Federal) e à massa falida do Banco Econômico, referente ao empréstimo para a canalização do Rio Tamanduateí?


Oswaldo Dias – O acordo a longo prazo está previsto em Medida Provisória do governo federal e retém 9% do Fundo de Participação dos Municípios exclusivamente para quitar o débito. Quanto à outra dívida, fizemos um acordo em 1997, pagamos 13 mensalidades e nada mais. Não foi possível honrar o compromisso. Há o processo na Justiça que denuncia o superfaturamento da obra. Uma vergonha sob todos os aspectos, porque o financiamento foi feito com dinheiro do FGTS (Fundo de Garantia de Tempo de Serviço).


O senhor vive o paradoxo de ter denunciado o problema quando era vereador e agora ser responsável pelo pagamento.


Oswaldo Dias – Cobrei o escanteio e agora vou ter de marcar o gol. A responsabilidade é da Prefeitura e não dá para questionar os termos contratuais da dívida. Para quitar o débito teríamos de desembolsar R$ 120 milhões à vista. No prazo, o valor ultrapassaria brincando os R$ 200 milhões. Não há perspectiva de resolver o problema a médio prazo. O ideal seria negociação semelhante à do débito com o INSS. Estamos pensando em 30 anos.


Como ficou provado que a obra ficou superfaturada, não existe qualquer possibilidade de diminuição do valor?


Oswaldo Dias – Três apurações concretas apontam superfaturamento, por isso pleiteamos outra auditoria. Enquanto isso não acontece a proposta é pagar determinado valor mensal, até que alguém seja responsabilizado pelo prejuízo. A canalização foi incompleta e as obras não acabaram com as enchentes. Pelo contrário, pioraram.


Se pioraram, o prejuízo é duplo. Além de pagar a dívida, a Prefeitura terá de investir novamente em obras contra enchente na área.


Oswaldo Dias – A canalização foi feita com amarrados de pedras, gambiões que deixam o fundo do rio pedregulhado. Consequência: é impossível utilizar máquinas para limpar ou rebaixar o leito do rio. A cada chuva a situação só piora, por causa dos entulhos e da sujeira acumulados. Nos próximos dias vamos determinar obras emergenciais na cabeceira do rio, justamente para evitar enchentes. Para resolver, acredito que somente com a construção de outro piscinão.


O senhor assumiu a Prefeitura em 1997 com a dívida subdeclarada de R$ 150 milhões. Era de seu conhecimento que os números estavam muito aquém da realidade?


Oswaldo Dias – A administração da época falava em R$ 150 milhões e eu apostava em R$ 350 milhões. Os dois estavam errados. Assumimos devendo R$ 510 milhões.


A CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da dívida ocorrida no final de 1996 não conseguiu apurar os valores exatos?


Oswaldo Dias – É uma história engraçada. Eu não presidi a CPI da dívida, apesar de ter sido o autor da proposta. Em qualquer Parlamento do Brasil, quem propõe preside. Não é lei, mas prática comum no Legislativo. Em Mauá, quando a CPI da dívida passou na Câmara, já no final do mandato, foi presidida por vereador da situação. Eu sequer fiquei na comissão.


Se o senhor não ficou nem na comissão da CPI, como conseguiu chegar aos R$ 350 milhões?


Oswaldo Dias – Ajudei o então deputado estadual Elói Pietá a apurar as emendas ao Orçamento da União, à época que estourou o escândalo dos Anões do Orçamento no governo de Fernando Collor. A investigação não teve muito sucesso porque quase não havia contemplações para Mauá. Mas pegamos o prefeito da época num dia em que ele estava bem-humorado e conseguimos alguns documentos que nos permitiram checar os verdadeiros valores da dívida.


Diante dos fatos, pode-se concluir que é fácil camuflar valores da dívida pública?


Oswaldo Dias – Depende da metodologia. Tecnicamente não devemos nada para o INSS. É uma questão de ponto de vista. Se você faz uma compra e tem 24 prestações para pagar, você só estará devendo se atrasar uma prestação. Muitas pessoas entendem dívida dessa forma. Se você estiver pagando a prestação em dia, a dívida não existe. Hoje devemos para a Caixa Econômica porque as parcelas estão vencidas. Mas quando falo em dívida, englobo tudo o que a Prefeitura tem de pagar.


Qual foi a reação do senhor ao se deparar com números três vezes maiores que o declarado e um terço maior que o esperado?


Oswaldo Dias – Se não dava para pagar R$ 350 milhões, muito menos R$ 510 milhões. Na verdade não é simples assim. Nosso governo pagou 13 parcelas para a CEF e o anterior não pagou nenhum níquel de uma dívida que começou a vencer em 1992.


Durante sua gestão a Prefeitura pediu algum empréstimo?


Oswaldo Dias – Não pedimos empréstimos. Com a dívida que temos não dá para contrair outra, a não ser que seja a fundo perdido. De qualquer forma, o endividamento nos deixa sem aval para determinados convênios e programas dos governos estadual e federal. Só de juros são R$ 90 milhões ao mês, quase 60% do orçamento. Não dá para pagar.


A Prefeitura pretende contrair algum empréstimo?


Oswaldo Dias – Não. Cogitamos fazer um condomínio industrial com financiamento do BNDES. Seria até vantajoso, mas resolvemos não encaminhar o pedido.


Após tantas negociações a Prefeitura de Mauá tornou-se especialista em parcelar débitos?


Oswaldo Dias – Ganhamos muita credibilidade com parceiros e fornecedores, porque respeitamos tudo aquilo que negociamos. Costumo dizer que o credor também deve zelar pela saúde financeira do devedor, porque se o segundo cair em desgraça, ninguém vai receber nada. Não estou falando em deixar de pagar, mas em buscar condições possíveis para o pagamento. A Prefeitura não pode tirar da Saúde e da Educação para saldar dívidas. É preciso pagar, mas é preciso que a cidade também continue existindo. Ficamos apertados no primeiro ano da administração, quando sofremos retenção de R$ 1 milhão por conta do débito com o extinto Banco Econômico.


A Prefeitura tinha dívida subfaturada e orçamento superestimado? Houve ajuste?


Oswaldo Dias – Tinha e fizemos o ajuste. O orçamento de 1997 estava previsto em R$ 300 milhões. Superestimado, não há dúvida. Para o ano 2000, vamos trabalhar com menos de R$ 200 milhões. Ajustamos o valor porque não adianta ter a dotação e não ter o dinheiro.


O ajuste é um dos motivos que leva a Prefeitura a recorrer constantemente à Câmara para pedir autorização de verba suplementar?


Oswaldo Dias – A Imprensa adora falar sobre isso. Se temos R$ 300 milhões e pretendemos executar R$ 150 milhões, teoricamente sobra dinheiro em todas as secretarias. Agora com o orçamento ajustado falta dinheiro mesmo. Ainda mais no final do ano.


As várias placas do governo do Estado em obras espalhadas pela cidade significam que o relacionamento entre a Prefeitura e o Estado vai bem?


Oswaldo Dias – A única obra realizada pelo governo do Estado em Mauá foi o piscinão da área central. As outras placas referem-se às obras do coletor tronco da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), que em outras cidades estão mais adiantadas. Tem também o conjunto habitacional da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano), que já existia quando entramos. Como a maioria das reivindicações agora é feita por meio da Câmara Regional e do Consórcio Intermunicipal de Prefeitos, o relacionamento melhorou em toda a região.


Essa melhoria de relacionamento vai finalmente culminar na tão esperada ligação de Mauá com a Via Anchieta?


Oswaldo Dias – Se depender da vontade dos técnicos do governo estadual, a ligação está bem avançada. O projeto é interligar o Rodoanel ao sistema Anchieta/Imigrantes e à Avenida Papa João XXIII e às rodovias Fernão Dias, Dutra e Ayrton Sena. O novo traçado possui maior integração do que o originalmente previsto, que apenas ligaria Mauá à Via Anchieta. Há expectativa de que as obras possam começar já no ano que vem.


E o piscinão na área central? Foi outra parceria acertada com o governo do Estado?


Oswaldo Dias – Considero uma parceria acertada, principalmente se comparada à canalização do Rio Tamanduateí, que nos custou a maior parte da dívida. A Prefeitura não gastou nem um tostão com o piscinão, a obra vai reter 140 milhões de litros de água na época das chuvas e o local se transformou em parque para ser utilizado pela população fora dos meses chuvosos.


Mas a população tem reclamado do aumento de impostos. Houve acréscimo no IPTU e na tarifa de água. Era preciso mesmo reajustar os preços?


Oswaldo Dias – O aumento do IPTU foi mais de enquadramento. Eram áreas que não pagavam ou estavam com o valor venal baixo. A água aumentou também, mas abaixo do preço do serviço prestado pela Sabesp. É normal as pessoas reclamarem. O mais difícil é fazer a população entender que os aumentos se revertem em melhorias para a própria cidade.


Aumentar a arrecadação tem sido o grande desafio das prefeituras. Em Mauá houve muita polêmica por causa da taxa de vigilância embutida na taxa anual de licença do comércio, que aumentou o tributo em até 500%. Não há forma de aumentar a arrecadação sem afetar demais o bolso da população?


Oswaldo Dias – Não fomos mal-intencionados, mas erramos ao estabelecer valor nominal baseado no princípio de que o trabalho para fiscalizar um comércio pequeno e um grande é o mesmo. Apesar de termos concedido desconto de 50%, será preciso rever o critério.


A Prefeitura também acirrou a fiscalização da economia informal. Seria outra tentativa de aumentar a arrecadação?


Oswaldo Dias – Não. O fato refere-se mais à qualidade da cidade. Não somos contra os ambulantes. Fizemos um shopping popular para acomodar os camelôs da área central. Mas há práticas que ainda precisam ser combatidas. Não vou permitir barracas que dificultem a circulação de pessoas nas calçadas, nem ambulantes que atrapalhem o comerciante estabelecido. Também vou exigir limpeza e respeito às leis de trânsito.


Com o sucessivo aumento nas taxas de desemprego, os ambulantes começam também a invadir os eixos comerciais dos bairros. As regras de fiscalização valem também para os bairros?


Oswaldo Dias – Fora da área central seremos mais tolerantes. Mas isso não significa estar desatento. Também nos bairros não vou permitir obstrução da calçada, concorrência com o comércio estabelecido e falta de higiene. Agora, se há uma loja de calçados e espaço suficiente para a instalação de uma barraca de pastel, não tem sentido haver restrições.


Mas há também a outra economia informal. Aquela onde cabeleireiros, marceneiros e outros profissionais trabalham na garagem de casa, sem licença. A atividade também é alvo da Prefeitura?


Oswaldo Dias – A Prefeitura está cadastrando a atividade clandestina, mas não concluímos o levantamento. Para legalizar esse comércio vamos propor o não-pagamento dos impostos devidos no passado. Mas precisaremos de respaldo jurídico, porque do ponto de vista legal significa renunciar à arrecadação.


A tática de não cobrar impostos passados funciona como estímulo. Parece difícil convencer quem perdeu o emprego e montou negócio próprio a pagar impostos.


Oswaldo Dias – Todo mundo acha que imposto é caro e eu concordo. Não faltam histórias de mau gerenciamento do dinheiro público. Aqui na Prefeitura, após três anos, ainda me deparo com coisas absurdas. Recentemente briguei por causa do preço do gás utilizado no Hospital Nardini. Conseguimos baixar o preço do lote de R$ 1 milhão para R$ 700 mil. Mas ainda é muito dinheiro. Sabe por quê? Porque só tem um fornecedor, que cobra o quanto quer. O mesmo gás é fornecido pela metade do preço para hospitais particulares.


A fama de mau pagador continua a penalizar o Poder Público. Há algo que as prefeituras possam fazer para não pagar sempre mais caro?


Oswaldo Dias – O Poder Público sempre paga mais. Os próprios Tribunais de Contas contribuem para isso. Se uma caneta foi licitada a R$ 0,10 a unidade e no dia seguinte o prefeito encontra por R$ 0,05 e compra, as contas são rejeitadas. Pedra é exemplo sintomático. As pedreiras vendem a R$ 14 o metro e a empresa intermediária a R$ 22. Só que a pedreira não entra na licitação e não há como obrigar empresas a participar de concorrência pública. Não sou contra a Lei de Licitações, mas deveria haver mobilidade que permitisse às prefeituras barganhar mais os preços. Pior seria se não existisse a lei de Licitações. Com a lei, já há tanta maracutaia.


Com a proximidade do ano eleitoral as relações entre o Executivo e a Câmara tendem a se complicar?


Oswaldo Dias – Temos um bloco de sustentação de 14 a 15 vereadores em 21, mas nunca tivemos maioria fácil. Sempre houve negociação constante. No próximo ano certamente teremos mais dificuldade. Provavelmente muitas bancadas terão candidato próprio e é normal aumentar a retaliação.


O Orçamento Participativo é marca registrada dos governos petistas. E a marca pessoal do seu governo, qual é?


Oswaldo Dias – Enfrentar a participação popular. Das 400 reuniões com a população durante três anos, duas ou três foram problemáticas. São lugares sem muita solução e não há como não reclamar. Mas faço a reunião mesmo sabendo que serei duramente questionado. Sei que temos dificuldades nas áreas de mananciais. A reversão de esgoto só poderá ser feita quando houver tratamento. Não é fácil dizer à população que não dá para resolver sua principal reivindicação. Mas enfrento, converso e dou a resposta.


O senhor já ficou literalmente acuado em uma dessas reuniões?


Oswaldo Dias – Nunca houve agressão física, mas já dei algumas mancadas. Uma vez fomos fazer reunião no Bairro Capuava e a água do Rio Tamanduateí tinha invadido as residências em mais de um metro. É lógico que os moradores vieram pra cima. Hoje a relação melhorou. Outra vez, lançamos carnês de pagamento de melhoria para obras com mais de cinco anos, prazo máximo para a cobrança. Como o prazo já havia caducado, foi uma confusão danada.


Qual o modelo de gestão que o tornou o prefeito mais popular do Grande ABC numa cidade repleta de problemas como Mauá?


Oswaldo Dias – O segredo é buscar a identidade da cidade. Mauá não tem uma rede de restaurantes, não tem um shopping, não tem universidade. Acredito que acertamos ao investir R$ 1,3 milhão no Shopping Popular e na revitalização da área central. Deu outra cara para a cidade. O governo anterior gastou R$ 3 milhões apenas numa passarela. Aí pergunto: o que repercute mais? Acredito que tenho tomado decisões acertadas.


O piscinão, o Parque do Paço e as obras do canteiro central da Avenida João Ramalho terão a missão de mudar de vez a cara da cidade?


Oswaldo Dias – Sim. Estamos fazendo a reforma da fachada da Prefeitura, vamos fazer a Praça de Atendimento, o alargamento da João Ramalho, o novo estacionamento na entrada da Prefeitura e talvez o Teatro Municipal e a Câmara de Vereadores, na área do Paço. Engraçado: relutei tanto para autorizar a reforma da fachada, intimidado por projeto antigo que custou R$ 50 mil. Como a lei determina que se gaste de 4% a 6% do valor da obra no projeto, imaginava que gastaria R$ 1 milhão. Mas vai custar R$ 140 mil.


A UniMauá complementa a remodelação do Centro. A primeira universidade de Mauá vai mesmo funcionar no ano 2000?


Oswaldo Dias – Mudamos um pouco o rumo da UniMauá, que será instalada no prédio do Educandário. Já está na Câmara projeto para conceder o antigo ginásio de esportes, local inicialmente previsto para a UniMauá, a grupo particular interessado em instalar outra universidade na cidade. Há mais de um grupo interessado.


A parceria da Prefeitura com a Fundação Abraham Kasinski para instalar a Universidade do Trabalhador deu errado. Quem desistiu?


Oswaldo Dias – Propus a área do ginásio de esportes para a Fundação, mas não houve interesse. Acho que o próprio Abraham Kasinski não gostou do lugar. Na verdade ele nunca escondeu que pretendia ocupar terreno na entrada da cidade, de propriedade do INSS. Até tentamos negociar com o governo federal, mas sem sucesso.


Mauá registra expansão industrial sem oferecer vantagens adicionais. A Prefeitura não teme que essas mesmas indústrias possam ser atraídas pela guerra fiscal?


Oswaldo Dias – Quem chegou agora veio para ficar. O incentivo fiscal tem peso relativo se a indústria busca proximidade com fornecedores e clientes. Por isso, oriento o secretário de Desenvolvimento Econômico para encontrar vocação específica às indústrias recém-chegadas. O fato de haver terreno industrial disponível não basta. Há galpões desocupados em todos os municípios da Grande São Paulo. Não é por falta de espaço que uma empresa deixa de se instalar. É preciso motivação e planejamento. Nosso projeto de condomínio industrial em Sertãozinho, por exemplo, é elemento agregador.


As dificuldades financeiras, as dívidas e tantos embates conseguiram branquear os seus cabelos?


Oswaldo Dias – Não, porque já eram brancos e poucos. Trabalho bem com o estresse. Procuro não ficar preocupado e nem deixar de dormir. Penso em fazer sempre o melhor possível e nunca esqueço que há o dia seguinte para recomeçar.


Qual seu relacionamento com a assessoria e o secretariado? O senhor gosta de centralizar as decisões?


Oswaldo Dias – Pouco me intrometo no dia-a-dia da administração. Confio bastante nos secretários e na assessoria. Enfim, nas pessoas que têm comando. Estabeleço metas e delego à equipe o poder de realizar. Me preocupo em quebrar o clientelismo e as relações individualistas, a mania dos favores. Ainda não consegui 100%. Na antiga gestão, o gabinete chegou a ter 15 pessoas. Hoje temos quatro. Por que era necessário tanta gente? Porque existia a cultura de que era preciso conversar com o prefeito para tapar o buraco. O buraco da rua tem de ser tapado porque precisa e não porque o morador é amigo do prefeito ou do secretário.


Uma das principais críticas de seus adversários políticos refere-se aos profissionais que integraram prefeituras petistas de outros municípios e hoje estão em Mauá. São considerados forasteiros pela oposição. O senhor escolheu pessoalmente seus colaboradores?


Oswaldo Dias – Não há mais que 10% de profissionais de fora na Prefeitura. Era previsível que o partido não teria quadros suficientes na cidade, após anos de revezamento de outros dois grupos políticos. Também não adianta ter bons quadros e escolher a política errada. Tenho colaboradores altamente capacitados que desenvolveram trabalhos importantes em outras prefeituras da Grande São Paulo e espero que Mauá também possa ceder profissionais para outras cidades.


O senhor ainda se dedica à política 24 horas por dia?


Oswaldo Dias – Já fui bem mais fanático. Quem ficar vidrado em apenas uma coisa corre o risco de ter viés de desligamento. Hoje já consigo ouvir música. Gosto muito de MPB, mas não abro mão das notícias da Rádio CBN. Leio pouco porque a agenda é apertada e o tempo livre até agora foi dedicado a acompanhar a construção de minha casa, encerrada na metade do ano. Vida de prefeito é muito sequestrada. Não posso mais andar pela cidade do jeito que gostaria, nem da forma que fazia quando era vereador. Pegava o carro e ia sozinho para todos os lugares.


Foi bom trocar a oposição pela situação?


Oswaldo Dias – Foi. Na oposição centrei o mandato na área da apuração. Assim descobri o subfaturamento da dívida. Na situação, é óbvio, realizo bem mais.


O senhor, como prefeito, tem realizado o que o morador Oswaldo Dias sonha para a cidade?


Oswaldo Dias – Costumo dizer que 98% das reivindicações são justas e não se atende a tudo isso. Procuramos fazer o melhor possível numa cidade carente, com tudo para fazer e com verbas escassas. Mesmo assim, consegui realizar mais do que propus em campanha. A reformulação do Centro, por exemplo, não estava na campanha.


A realidade que o prefeito Oswaldo Dias conheceu também era de conhecimento do professor e cidadão Oswaldo Dias?


Oswaldo Dias – Conhecia muito da cidade por causa da militância sindical e política desde 1979. Mesmo assim, ainda sou surpreendido por problemas de difícil solução. Lugares onde recuperar meia dúzia de casas custa mais caro do que fazer tudo de novo.


Então o senhor sempre soube que Mauá, apesar de ocupar o 16º posto do Estado no ranking do ICMS, é uma cidade pobre?


Oswaldo Dias – A população de Mauá é essencialmente pobre. Não tenho dados concretos sobre o poder aquisitivo, mas costumo usar um exemplo: os melhores bairros ocupam apenas 5% da cidade. Nesses locais melhores e mais bem localizados a concentração populacional é menor, ao contrário da periferia.


Mesmo assim, o senhor é candidato à reeleição?


Oswaldo Dias – Não fizemos ainda a discussão no partido. Mas tudo indica que tentarei a reeleição.


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