Em nenhum momento desta entrevista Luiz Marinho disse a palavra companheiro, que nos anos 70 e 80 foi marca registrada do sindicalismo combativo disseminado do Grande ABC para o País. A única recaída ao ultrapassado glossário de Lula, Vicentinho e Jair Meneguelli deu-se quando questionou a necessidade de se criar cooperativas para trabalhadores da indústria têxtil — que executam tarefas não em fábricas, mas nas próprias casas. “O cidadão sozinho está ferrado. Vai fazer o que eles (patrões) querem, em troca de um salário de fome” — bradou.
Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Luiz Marinho é voz de uma base de 100 mil trabalhadores em busca de novo rumo. Não basta reconhecê-lo nas idéias que formula ou nas palavras que junta para formar frases. Descobre-se no tom do discurso, e principalmente nas entrelinhas, o que é e representa: conciliador, moderado, negociador de incertezas. O líder sindical é retrato em corpo inteiro do trabalhador que perdeu emprego para um robô e para a produtividade e sente-se acuado pelo futuro incerto. Acredita que o sindicalismo sobreviverá à feroz globalização que transforma o ambiente do trabalho. Tenta traçar um futuro para a instituição. Mas sobre tudo emergem incertezas.
Como será o sindicalismo do Terceiro Milênio? Na primeira vez em que a pergunta é formulada, Marinho reconhece que não é fácil responder, mas prevê sindicatos com maior poder de influência do que hoje. Mais adiante, quando a pergunta é colocada novamente, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC finca os pés com mais firmeza no chão e responde que a estrutura sindical não é mais compatível com as necessidades atuais. O trabalhador terá papel decisivo porque caberá a ele a escolha do modelo ideal. Será preciso romper com o sistema sindical vigente, afirma Marinho. “Nós precisamos acabar com o monopólio sindical” — decreta. Quem prestar atenção no que diz Marinho perceberá que o futuro do sindicalismo é uma carta de intenções, um se… Também quando se refere à permanência ou não das montadoras no Grande ABC o líder sindical deixa rastro de interrogações.
Comparado aos sindicalistas do confronto dos duros anos 70 e boa parte dos 80, que falavam a linguagem rude do chão de fábrica, Luiz Marinho mais parece economista. Raciocina com lógica, gosta de números, desenha cenários e não altera o tom de voz. Pelo que pensa e transforma em ação — o conjunto de sua obra –, é apontado pela revista norte-americana Time como uma das 50 lideranças latino-americanas mais influentes para este milênio na categoria (pasmem!) Empresários. Em setembro recebeu o Prêmio Desempenho 1999 na categoria Executivo do Ano por ter conduzido negociações que mantiveram empregos e indústrias no Grande ABC.
O sindicato comandado por Luiz Marinho tinha base de 200 mil metalúrgicos em 1994, quando Fernando Henrique Cardoso assumiu o primeiro mandato de presidente da República. De lá para cá o número caiu pela metade. Mas 70 mil trabalhadores continuam fiéis e se mantêm associados. Além disso, a entidade mudou. A pressão por mais salários e benefícios refluiu. O desemprego crescente nas indústrias abriu campo para novas preocupações. Cursos, reciclagem e recapacitação de mão-de-obra ocupam o espaço das velhas reivindicações. O lema é salve-se quem souber.
No segundo mandato, Luiz Marinho mantém-se forte e influente. Aos 40 anos, atua frequentemente como interlocutor de presidentes e diretores de grandes corporações multinacionais, líderes empresariais, políticos e até do próprio presidente da República.
Como será o sindicalismo do Terceiro Milênio?
Luiz Marinho – Muitos dizem que a linha de produção vai acabar, que vai acabar o emprego do jeito que funciona hoje. E que as pessoas vão trabalhar em casa, no computador, pela Internet, Intranet e todas essas coisas que o mundo moderno proporciona. Coisas que são maravilhosas, mas às vezes horrorosas. Recentemente, numa palestra para professores universitários, brinquei e disse que o sindicato vai acabar. Só que vai ser muito difícil alguém construir navio em casa. A linha de produção pode acabar, mas a ilha de produção vai ser mantida. O processo de automação e modernização cresce de tal forma que diminuirá cada vez mais a quantidade de empregos na indústria, fato que ninguém pode negar. Mas isso não significa que o poder do sindicato diminuirá. A instituição pode até se fortalecer, porque vão permanecer na indústria funções tecnologicamente enriquecidas. Hoje o trabalhador tem muito mais domínio e controle do processo de produção do que há poucos anos, quando era meramente apertador de parafuso. Há tendência de termos sindicatos com poucos trabalhadores, mas com maior poder de influência.
O senhor diz que o novo trabalho agrega valores ao trabalhador. Isso acontece no Grande ABC, onde há defasagem tecnológica?
Marinho — Perfeitamente. Isso vai acontecer mais do que em outras regiões por causa do poder aquisitivo, que vamos trabalhar para manter.
Nos anos 70 o sindicalismo foi de enfrentamento. Na segunda metade da década seguinte começou a se transformar. Hoje o trabalhador está acuado, com medo de perder o emprego.
Marinho – Diria que a década de 70 e grande parte da década de 80 foram marcadas pela luta por conquista de democracia na relação capital-trabalho e no sistema de governo do Brasil. A ditadura militar se refletia na relação capital-trabalho. A década de 90 consolidou o espaço democrático dessas relações. No final da década de 80 a coisa se complicou por causa da incapacidade administrativa do governo, que trabalhou tudo errado. Tínhamos necessidade de abrir a economia, mas deveríamos ter tido a capacidade de planejar, projetar o processo de abertura de mercado de forma que interessasse ao Brasil. Fizemos a abertura mais rápida do mundo, correspondendo aos interesses estrangeiros. Destruímos muitos segmentos industriais e enfraquecemos outros tantos. Com isso, sofremos as consequências do desemprego em massa. Temos o desemprego tecnológico e o desemprego causado pela globalização.
Como deveria ter sido conduzido o processo?
Marinho – Deveria ter sido mais alongado, para preparar a indústria brasileira à competição internacional. Se pegarmos os Estados Unidos, exemplo número um da globalização e competitividade industrial, vamos observar que existem setores protegidos. Os produtores de laranja norte-americanos são protegidos. Nosso suco de laranja é sobretaxado para entrar nos Estados Unidos. O mesmo acontece com açúcar, frango e aço. Há cotas. Certos produtos só podem ser exportados em determinadas quantidades. A verdade é que todo mundo quer o mercado brasileiro aberto, mas nem todos estão abertos para o produto brasileiro. Reconheço que há benefícios, como a queda dos preços para o consumidor nacional, mas devagar estamos entregando uma riqueza fantástica que o Brasil possui. Poucos países têm recursos naturais como a Amazônia. Devagarzinho estão tomando conta da nossa floresta, a partir de pesquisas e de registros de patentes.
Antes da abertura do mercado e início da globalização no Brasil o senhor e outros líderes sindicais conheciam as mudanças que se operavam no ambiente de trabalho de outros países. Afinal, viajavam com frequência para o Exterior. Por que os sindicatos não se anteciparam e alertaram os trabalhadores?
Marinho – No início da década de 90, quando Itamar Franco (então presidente) e Ciro Gomes (seu ministro da Fazenda) assinaram o protocolo de Ouro Preto, com encaminhamentos anteriores feitos pelo ex-presidente Fernando Collor, defendiam redução drástica das alíquotas de importação de veículos. Propunhamos que fizessem isso de forma gradativa. As empresas deveriam ter sido apertadas para que se modernizassem e investissem em tecnologia para competir no mercado internacional. O que aconteceu foi que desnacionalizamos a indústria automobilística. Beneficiadas pela queda gradual das alíquotas, as montadoras tiveram tempo de se preparar para a competição internacional, mas o mesmo benefício não foi estendido às autopeças e à indústria de máquinas.
Venceu o lobby das montadoras?
Marinho – Essa é nossa grande crítica. As montadoras ganharam duas vezes. Ganharam porque tinham alíquota de 2% para importações de autopeças. Enfiaram a corda no pescoço das autopeças e determinaram: ou entregam por xis ou importamos. As autopeças ficaram asfixiadas, reduziram drasticamente os preços e muitas quebraram ou tiveram de se entregar a multinacionais. Por outro lado, as montadoras puderam importar carros produzidos por fábricas no Exterior pagando apenas metade da alíquota, que era de 70%. O governo segurou as importações dos chamados independentes, mas facilitou as coisas para as montadoras aqui instaladas, um absurdo contra a cadeia produtiva. O que gera milhares de empregos não é a montadora, mas a cadeia que vem atrás.
O fato é que agora muitas autopeças estão sob controle do capital estrangeiro. O que isso representa para o sindicalismo?
Marinho – A única questão é o problema do desemprego. Não temos nenhum problema, enquanto trabalhadores comuns ou enquanto sindicato, em conduzir negociações. Nesse sentido tanto faz que o capital seja nacional ou internacional. O problema maior é com a Nação. Se temos patrimônio nacional, se temos gente com raízes aqui e que não vai simplesmente olhar para a Bolsa de Nova York ou de Tóquio, ou seja lá de onde for, e se interessar em aplicar lá. Gente com raízes no Brasil vai querer aplicar aqui porque quer que a situação seja melhor aqui. Multinacional não analisa duas vezes para decidir se manda fechar uma fábrica aqui e abrir outra acolá.
Sob esse ponto de vista, o senhor acredita que haverá mais evasão de indústrias no Grande ABC? As montadoras vão permanecer ou vão sair?
Marinho – Depende muito do que formos capazes de fazer enquanto Nação e olhando para a região enquanto região. Hoje as montadoras não pretendem sair do Grande ABC. Diversificaram, vão produzir também fora da região, mas querem manter o pé aqui por algumas razões. Uma é porque temos um mercado forte. O Grande ABC é o terceiro maior mercado consumidor do País e está colado ao primeiro, que é São Paulo.
A proximidade com o mercado consumidor forte não é levada em conta no caso das fábricas que as montadoras estão erguendo fora do Grande ABC.
Marinho – A outra razão para permanecerem aqui é que o Grande ABC ainda tem a melhor mão-de-obra do País. Por isso temos de potencializar na região a formação educacional. O trabalhador que está na indústria do Grande ABC precisa melhorar o nível de formação escolar. Ele é bem treinado e capacitado profissionalmente, mas tem pouca formação escolar. Outra preocupação que devemos ter é com o desenvolvimento de centros tecnológicos, fator de equilíbrio quando outra região apela para a renúncia fiscal. Temos de produzir mão-de-obra preparadíssima para os desafios do futuro, com muito conteúdo tecnológico. É com isso que devemos nos preocupar.
O Grande ABC trabalha nesse sentido?
Marinho – Sou testemunha de que os administradores públicos da região estão trabalhando nisso, a partir da Câmara Regional. A Fundação Santo André está preparando gente com mais conteúdo tecnológico, o currículo está amarrado a pesquisas tecnológicas.
Nos anos de riqueza e fartura o Grande ABC preocupou-se muito pouco com o conhecimento. Estava acomodado em berço esplêndido. Faltou o quê?
Marinho – Faltou muita coisa. Olhando para o Brasil, percebemos que o Grande ABC foi muito discriminado. E ainda é. Estamos ajudando a financiar a guerra fiscal, contra nossa vontade. Se nos últimos 20 anos tivesse retornado para a região um terço dos recursos gerados aqui não teríamos a insegurança nem o caos. Já teríamos linha do metrô interligada com o metrô de São Paulo. Teríamos habitações suficientes, educação e saúde melhores. Seríamos muito mais competitivos para atrair investimentos.
Mas isso não é reflexo da falta de força política da região?
Marinho – Recentemente saímos de uma ditadura militar, entramos num processo de eleições e ainda estamos aprendendo. O Grande ABC só foi sugado. Estado e União diziam: vocês são uma região rica, então se virem. Só que ficavam com nossos recursos para aplicar em outros lugares. É claro que todos têm obrigação de contribuir de forma solidária para o Estado e a União, mas era preciso que uma parte retornasse para cá. Na gestão dos prefeitos anteriores, o sindicato propôs várias iniciativas. Infelizmente era uma safra de prefeitos muito ruim. Tirando o Fillipi (José de Fillipi Jr.), de Diadema, não se salvava um. Não havia disposição para um debate regional. Na última eleição todos eles, até por força dos debates de campanha, se comprometeram com questões regionais. Acho que não devemos ficar analisando o passado e o tempo que perdemos. Temos de correr e preparar a região para defender seus direitos.
Seja mais explícito na questão do financiamento da guerra fiscal.
Marinho – Somos um dos grandes contribuintes de todos os fundos que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) utiliza para financiar a guerra fiscal entre Estados.
O senhor fala de temas como Amazônia e guerra fiscal. Percebe-se que está ampliando o discurso; não se dirige exclusivamente para os metalúrgicos. É estratégia para a sobrevivência do sindicalismo?
Marinho – Nosso sindicato tomou uma decisão em 1987 que combina com o que estou falando. Naquela época decidiu-se que o sindicato precisava mudar de cara, ser cidadão, que não poderia ficar restrito a questões internas sobre relações capital-trabalho. O trabalhador é cidadão, sai da fábrica e vai para casa, pode ou não ter moradia, tem ou não tem segurança, tem ou não tem asfalto. O sindicato tem de se preocupar com o trabalhador do campo, com reforma agrária e agroindústria, porque tudo isso se reflete na cidade. Temos de nos preocupar com o adolescente e com o menor de rua. Temos de combater qualquer tipo de discriminação, da mulher, do negro, do idoso. Só que ficou na tese o início de um debate, o convencimento político. Hoje todos os sindicatos adotam essa visão.
Mas se trata de postura decisiva para a sobrevivência.
Marinho – Em 1995 discutíamos como exemplificar melhor a questão do sindicato-cidadão, como colocar em prática, como traduzir a proposta para o mundo real. Foi aí que instituímos o Mova (Movimento de Alfabetização de Adultos) no Grande ABC. Infelizmente não teve âmbito regional naquele momento devido ao desinteresse dos prefeitos, por isso ficou restrito a Diadema. É um programa altamente positivo. Muitas outras regiões do País nos procuram, porque o modelo é importante.
Voltemos à primeira pergunta: como será o sindicalismo no Terceiro Milênio?
Marinho – Vai precisar romper com o atual sistema sindical. A estrutura sindical não é mais compatível com as necessidades atuais. Precisamos acabar com o monopólio sindical por cidade, que fragmenta as ações. Além disso, tem a chamada categoria diferenciada — desenhista, secretária, motorista. Quando fazemos movimentos dentro de grandes empresas, como Ford e Volkswagen, nem sempre contamos com apoio de sindicatos de outras categorias. Na hora de recolher o imposto sindical representantes dessas categorias estão lá na boca do caixa, mas não vêm ajudar a segurar as demissões. Existem em torno de 40 sindicatos dentro de cada grande empresa.
O senhor defende sindicato único por categoria?
Marinho – Isso quem vai decidir é o trabalhador. Temos de implementar estrutura que seja baseada em liberdade e autonomia do trabalhador.
Trabalhador de qualquer categoria se filiaria e o sindicato cuidaria de defender seus interesses?
Marinho – O trabalhador poderá ter liberdade para se organizar. Poderá ser um sindicato nacional. Estamos trabalhando na CUT (Central Única dos Trabalhadores) para criação de um sindicato de metalúrgicos nacional, com estruturas estadual e regional. Cada empresa terá seu canal de comunicação para não deixar o problema se arrastar por 10 anos na Justiça do Trabalho. Teremos de passar por processo de transformação como o que os alemães estão fazendo. Por que sindicato de metalúrgicos, de químicos, de têxteis? Podemos projetar para daqui a alguns anos um sindicato único para a indústria. O Grande ABC tem cultura para unificar químicos e metalúrgicos. A presença dos químicos nos automotivos é muito forte. Quanto dos veículos é de plástico? E as tintas? Essa transformação vai acontecer.
Só essa transformação?
Marinho – Quando digo que muita gente vai trabalhar em casa, cito o caso do setor têxtil. Não teremos mais grandes fábricas de confecções. A Nike já é assim. A Benetton também. Vamos precisar organizar esse pessoal que vai trabalhar em casa. Sabe como? Reunindo grupos de pessoas e criando cooperativas. É assim que eles terão força de negociação com a Nike e a Benetton. O cidadão sozinho está ferrado. Vai trabalhar em troca de salário de fome. É preciso reorganizar o ambiente de trabalho.
O senhor não acha que a globalização arrefeceu o ânimo, que os trabalhadores estão com medo de reivindicar?
Marinho – O desemprego acaba amedrontando. Mesmo assim, as pessoas estão reagindo. O resultado das campanhas salariais não combina com essa formulação. Onde não tem acordo têm ocorrido paralisações. Acho, inclusive, que o ambiente de reorganização vai passar por grandes mobilizações. O capital é dramático. Pressiona tanto as pessoas para baixo que uma hora elas reagem, com toda certeza. O que estamos padecendo no Brasil é da falta de capacidade do Estado em planejar linha de desenvolvimento que signifique geração de empregos.
Quando fala sobre perspectivas de geração de empregos o senhor costuma se referir a setores que não são o metalúrgico. É o caso do turismo. O setor metalúrgico está esgotado?
Marinho – Não estou ignorando a área metalúrgica, mas não podemos perder a capacidade e o direito de sonhar com um novo Brasil. Se nos abandonarmos à violência, ao narcotráfico e à falta de perspectiva, não há mesmo mais o que fazer. É exatamente a solidariedade e a consciência de cidadão que precisamos implementar. Precisamos criar nova consciência em cada bairro, cada cidade, cada região, cada Estado. Precisamos cobrar do governo um novo projeto de desenvolvimento nacional. O Estado tem de ter capacidade de orientar o desenvolvimento de indústria, empregos e capacitação de mão-de-obra. O Brasil tem potencial turístico fantástico. Mas perdemos da Argentina e do Uruguai. Tem de ter uma política de reforma agrária com agroindústria. Onde se colhe tomate tem de ter o processador da matéria-prima para evitar desperdício e tornar o produto mais barato. A construção civil é outro grande gerador de empregos. Enquanto o governo não age, temos de cuidar da cidadania.
Na Europa estão ocorrendo fusões de sindicatos. Em alguns casos, megafusões. O professor Leôncio Martins Rodrigues, da Unicamp, acaba de escrever um livro — Destino do Sindicalismo — no qual expõe visão pessimista, de declínio do sindicalismo. Como analisa a questão?
Marinho – Há realmente perda de força dos sindicatos. Mas também há movimentação de reestruturação. O sindicato voltará a ter força. Essa é minha visão para o futuro. Vamos convidar o professor Leôncio Martins Rodrigues para debater esse tema no Grande ABC.
Nas décadas de 70 e 80 o discurso dos sindicalistas era radical. O senhor tem uma fala branda, um tom mais conciliador; reflete as incertezas destes tempos.
Marinho – Nos anos 70 e 80 o discurso não era radical. Era um discurso de enfrentamento da ditadura militar. Aí me dizem: você e o Lula são completamente diferentes; o Lula não negociava. Isso não é verdade. As greves eram para negociação. Não adiantava mandar pauta de reivindicações. Os caras jogavam no lixo. As greves derrubaram o paredão. Havia duas grandes diferenças com o que ocorre hoje: naquele tempo tinha emprego, brigava-se por salários e benefícios; hoje briga-se por emprego, trabalho e renda.
Suponha que as montadoras resolvam deixar o Grande ABC. Qual seria a primeira a ir embora?
Marinho – Acho que nenhuma. A Scania não me parece em má situação. A Mercedes-Benz está muito bem. A Volkswagen não me parece que esteja de saída. A Ford está trazendo a fábrica de caminhões para a região. Há inquietação nossa em relação à Ford quanto ao que acontecerá com a produção de automóveis. Se o mercado ficar do tamanho atual, não sustenta duas fábricas da Ford, uma aqui e outra na Bahia. Isso é fato real. Há mão-de-obra ociosa em todas as montadoras. Temos de brigar para que a economia se recupere.
As montadoras não tendem a privilegiar fábricas novas, que são mais modernas?
Marinho – Se o mercado continuar assim, quem perde é o Grande ABC. No mundo inteiro, numa situação dessas, quem perde é quem já está instalado. As novas fábricas têm mais tecnologia, conceitos mais modernos, enquanto as antigas passam por processo de transição de gestão e de tecnologia.
Total de 197 matérias | Página 1
10/05/2024 Todas as respostas de Carlos Ferreira