Entrevista Especial

Prioridade para
o ser humano

VERA GUAZZELLI - 05/05/2000

Desde que Gilson Menezes assumiu pela primeira vez a Prefeitura, em 1982, na condição de primeiro prefeito petista do Brasil, Diadema começou a tomar contato com termos como participação popular e inclusão social. Quatorze anos depois e a oito meses do término do segundo mandato, o prefeito, agora no PSB, continua com a filosofia de priorizar o ser humano. Apesar dos R$ 300 milhões de dívidas exatos R$ 54 milhões a mais que a arrecadação de R$ 246 milhões prevista para este ano, e das sucessivas batalhas jurídicas para não perder arrecadação, Diadema destina 65% do orçamento para as áreas de Saúde e Educação, justificando o fato de, recentemente, ter sido apontada em pesquisa como a cidade da Região Metropolitana de São Paulo que mais investe no social.


A Empresa de Pesquisa e Comunicação Cepac desenvolveu índice semelhante ao IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) utilizado pela ONU (Organização das Nações Unidas) para produzir o Relatório Anual de Desenvolvimento Humano. Entre os indicadores utilizados, Diadema apresentou a melhor relação médico/habitante: um para cada 748 habitantes.


O contraponto é a área econômica. Mesmo se dizendo aberto a parcerias com a iniciativa privada, o socialista Gilson Menezes ainda aguarda a concretização de vários projetos para atrair investimentos, incentivar o consumo e valorizar o empreendedor local.


Polêmico e de gênio forte, Gilson Menezes protagonizou cenas teatrais num início tumultuado de gestão: sem dinheiro para pagar as contas, chegou a subir num poste para religar a luz cortada por falta de pagamento e ameaçou acorrentar-se à mesa caso Diadema sofresse intervenção por conta das dívidas com precatórios.


Alvo constante da Promotoria Pública, Gilson Menezes teve recentemente os salários cortados pela metade por decisão judicial. A briga é velha e deve se arrastar por novos assaltos. Mesmo afirmando que não se importa com a diminuição dos salários, o prefeito garante estar pronto para enfrentar o terceiro mandato e se prepara para uma das eleições mais disputadas e atípicas do Brasil. Ele disputa com José de Filippi Júnior (PT) e José Augusto da Silva Ramos (PPS), ambos ex-prefeitos, a hegemonia da esquerda no Município de 380 mil habitantes.


Santista de coração, o prefeito não deixa aflorar a emoção apenas quando o assunto é futebol. Na entrevista de mais de três horas, Gilson Menezes não escondeu sentir orgulho pela promoção de seis mil crianças e jovens este ano nas oficinas culturais. Nem a satisfação por ter expurgado dos índices de criminalidade de Diadema as vítimas de violência de outros municípios e que são socorridas no serviço de saúde local. Também não se intimidou em falar de nepotismo e do polêmico caso da Funambi, que lhe rendeu o bloqueio dos bens: “Quem me conhece sabe que sempre falo a verdade”.


O senhor teve um começo de gestão tumultuado. Houve problemas com o funcionalismo e com o secretariado, sem contar a dívida. Que providências foram tomadas para colocar a casa em ordem?


Gilson Menezes – Realmente me assustou a situação quando cheguei à Prefeitura. Numa das reuniões de transição de cargo, o ex-prefeito me falou que ia deixar em torno de R$ 4 milhões a pagar e passei a posição para minha assessoria. Quando tomamos posse foram 20 dias de surpresas, porque as dívidas estavam em cada secretaria. O ex-prefeito me mostrou o valor que estava debitado apenas na Secretaria de Finanças. Só de supermercado, em valores relativos a vale-compras já descontados dos servidores e não pagos, a Prefeitura devia quase R$ 500 mil. Outros R$ 500 mil se referiam apenas às contas de telefone.


Foi quando cortaram as linhas telefônicas?


Gilson Menezes – Foi. A então CTBC foi cortando as linhas aos poucos porque era impossível pagar tudo de uma vez. Caíam na minha mesa dívidas com a Eletropaulo, que chegou a cortar a energia. Teve também a ARO (Antecipação de Receita Orçamentária) que o ex-prefeito contraiu e não pagou. Corrigido, o débito chega hoje a R$ 103 milhões.


Tudo o que a Imprensa retratou à época, como o corte de energia elétrica que o levou a subir num poste para fazer a religação, foi só um lado da história?


Gilson Menezes – Como sou um sujeito ansioso por fazer as coisas direito e atender às reivindicações da população, instaurou-se clima de muito nervosismo entre a assessoria e eu. Em casa que falta pão, todos brigam, todos xingam e ninguém tem razão. Não havia recursos, os secretários não podiam fazer nada e eu cobrava. Foi um clima bastante desagradável.


Já que a Prefeitura não pode viver de confusões e surpresas desagradáveis, o que foi efetivamente realizado para administrar?


Gilson Menezes – Muito trabalho e medidas enérgicas. O gasto com telefone era de R$ 100 mil mensais e estabeleci como meta que não poderia chegar a R$ 50 mil. Hoje gastamos, em média, R$ 43 mil a R$ 45 mil. Podem até argumentar que R$ 50 mil mensais não resolveriam os problemas da Prefeitura. Em parte não, mas é só fazer os cálculos: R$ 50 mil de economia ao mês resultam em R$ 2,5 milhões em quatro anos.


O senhor está querendo dizer que conseguiu contornar situação tão caótica com economia doméstica?


Gilson Menezes – Não, mas ajudou bastante. A máquina estava preparada para trabalhar com recursos maiores, pois durante 45 meses o ex-prefeito recebeu R$ 1,4 milhão mensais como indenização por desapropriação de área municipal para construção da Imigrantes, resultado da ação aberta no meu primeiro governo. Além de não contar com esses recursos, o Fundef, o fundão da Educação, nos tirou R$ 1,3 milhão por mês. Fui à loucura, me desesperei e até me agredia. Sou assim mesmo quando não posso brigar. Somente depois que conseguimos a liminar contra o desconto do Fundef, em setembro de 1999, a situação aliviou. A União apelou recentemente da decisão judicial, mas perdeu. Acreditamos que até o final do ano não se mexa mais no assunto.


Agora que a situação está apaziguada, o senhor tem conseguido controlar o temperamento impulsivo?


Gilson Menezes – Sou agoniado por natureza. Quando quero as coisas é pra já; não tenho paciência para esperar. Não sou truculento, mas ansioso demais. Se marco com algum secretário e ele atrasa 10 minutos, já fico cobrando. Sou assim desde criança. E ficar aqui dentro dessa sala, vendo fornecedor cobrar, população reclamar e nada de dinheiro, quase me levou à loucura.


Qual foi o pior momento?


Gilson Menezes – Quando dei entrada no hospital em 31 de janeiro de 1998, exatamente no mês em que o Fundef começou a ser descontado. No começo pensava-se que era pneumonia, mas depois diagnosticou-se tuberculose devido à minha fragilidade física e psicológica. Me recuperei rapidamente e não tenho vergonha de dizer que contrai tuberculose. Hoje sou agente no combate à doença. Sou exemplo do que pode acontecer com qualquer pessoa.


A recuperação da saúde se deu quando a Prefeitura conseguiu reaver os recursos do Fundef?


Gilson Menezes – Cheguei à conclusão de que não tinha culpa da situação e deixei de me agredir. Resolvi me voltar para o movimento municipalista que, entre outras coisas, encampou a articulação para a reequalização da Lei Kandir, que nos rende retorno de R$ 350 mil por mês. Fizemos também o movimento do G15, (grupo dos 15 municípios mais industrializados do Estado) contra a proposta de reforma tributária que estava sendo discutida no Congresso. Se a reforma tributária for votada da maneira como está proposta, não vai causar prejuízo para os municípios.


Quanto Diadema deve?


Gilson Menezes – Perto de R$ 300 milhões, dos quais R$ 103 milhões apenas de ARO e R$ 90 milhões de precatórios. Estive recentemente na Assembléia Legislativa para tratar da questão, porque os valores da correção estão superavaliados. O Tribunal de Justiça acrescentou índices expurgados que não foram pedidos pelos credores. Do valor, metade refere-se a índices de sucessivos planos econômicos: 78,28% de janeiro de 1989, 30,46% de março de 1990, 44,80% de abril de 1990, 2,36% de 1996 e 1,92% de junho de 1996. Ninguém teve essas correções; nem trabalhadores nem aplicações financeiras. O pior é que na minha outra gestão paguei todos os precatórios.


A Prefeitura tem dívidas do atual governo?


Gilson Menezes – Ainda temos problemas para pagar os fornecedores em dia. Pago os débitos que recebi de herança, mas fica o novo. Nada, porém, comparado ao que encontramos. No ano passado conseguimos fechar as contas com apenas 0,5% de déficit. Tenho certeza de que não deixarei dívidas desse governo. A recente desapropriação de área no Jardim Canhema para fazer praça de esporte vai ser paga até novembro, dentro do nosso mandato.


Com a situação aparentemente em ordem, já é possível traduzir em números os resultados de austeridade e ações judiciais?


Gilson Menezes – Aumentamos em 10 mil alunos a rede municipal de ensino. Na saúde foram 350 mil procedimentos a mais por ano a partir de 1997. Quando assumi a Prefeitura o número de partos no Hospital Público era de 310 por mês. Hoje são 530. Isso sem contar com a importação de atendimentos da periferia de São Paulo vizinha a Diadema. Como o PAS não deu certo, os moradores do entorno acabam nos nossos hospitais. O PS Central atende em média 21 mil pessoas por mês. No Hospital Público são 14 mil e no PS do Eldorado mais 14 mil. Apenas para comparar, o PS do Hospital das Clínicas de São Paulo atende em média 14 mil pessoas mensalmente. É uma loucura!


Diadema tem capacidade de investimento em obras?


Gilson Menezes — Nossa capacidade é praticamente zero. Saúde e educação consomem 65% do orçamento, incluindo os servidores das duas secretarias. Somente na Secretaria de Educação aumentamos o atendimento em 42% e o custeio em apenas 5%.


Todo esse investimento em educação, cultura, esportes e saúde não tem conseguido reverter a imagem de cidade violenta atribuída nacionalmente a Diadema?


Gilson Menezes – Investir na cultura e no esporte é a melhor maneira de diminuir as tensões. O tipo de trabalho cultural que fazemos aqui não tem exclusão. Mas cultura é diferente de educação e saúde; é preciso buscar as pessoas. Não posso negar que me emociono ao ver reportagens como a de LivreMercado mostrando nossas crianças tocando violino. Cheguei até a chorar porque, desde criança, tive vontade de morar em Diadema e acredito que ajudei essa cidade a se tornar orgulho paulista.


Mas e os índices de criminalidade?


Gilson Menezes – É claro que não podemos deixar de lado o trabalho de policiamento. Já temos duas bases comunitárias instaladas em parceria com a Polícia Militar para aumentar a segurança nos bairros. Por termos bom atendimento na saúde, pessoas baleadas e esfaqueadas fora do Município são socorridas aqui e acabam incluídas nas nossas estatísticas. Provei isso proibindo a autópsia em cadáveres cuja origem do crime não tenha sido Diadema. Em apenas um mês, o índice diminuiu 50%. Mas não poderia comprar essa briga com a Secretaria de Segurança, porque seria prejuízo se o Estado resolvesse tirar o IML da cidade. Hoje temos um acordo: a cidade socorre, mas o índice tem de ir para o Município de origem do crime.


Tudo pelo social e pouco pelo econômico: a regra tem orientado a política de Diadema nos últimos 14 anos. A atual gestão conseguiu concretizar algumas metas do Programa Diadema 2000, criado para incrementar o desenvolvimento econômico?


Gilson Menezes – Dois dos projetos, o Selo Amigo da Criança, para empresas que erradicarem o trabalho infantil, e a criação do Banco do Povo, destinado ao financiamento de micro e pequenos empresários, já se encontram para votação na Câmara. Também acabamos de acertar a construção de shopping center na área central com grupo do Rio de Janeiro. Na primeira fase o empreendimento estará voltado a centros de compras, mas o projeto prevê também a integração do espaço à cultura da cidade, com a adoção de áreas ao redor do empreendimento para oficinas de arte. Já a concretização do Cartão de Compras de Diadema aguarda resultado de pesquisa socioeconômica que a operadora Policard deve concluir no segundo semestre.


O socialista Gilson Menezes tem feito parceria com a iniciativa privada, a exemplo de vários outros prefeitos da mesma orientação ideológica. Já é possível ao ex-sindicalista se sentir confortável dividindo a mesa com representantes do capital?


Gilson Menezes – Sempre tive posição muito clara quanto a isso: todos os segmentos são importantes para a Administração. Se aplico recursos na área social, estou indiretamente auxiliando as empresas porque proporciono melhor qualidade de vida aos funcionários. Se aceito pavimentar acesso ou avenida em parceria com o empresário, não estou beneficiando apenas a fábrica, mas também a população, pois essa atitude pode significar, em muitos casos, a permanência da indústria na cidade.


O prefeito está mudando o conceito sobre socialismo?


Gilson Menezes – Continuo achando que somente o socialismo é capaz de promover a emancipação do ser humano. O PSB me dá clareza quanto a essa definição. Não nego que o PT é mais aguerrido na luta capital/trabalho, mas aceito a regra do jogo e acho que o empresariado não é o bicho-papão que pintam. O grande problema são os especuladores. Nosso sistema bancário é altamente especulativo, o que sacrifica a produção e, por consequência, o povo. Somente de juros das dívidas interna e externa o Brasil pagou em 1999 R$ 127 bilhões, enquanto tivemos R$ 20 bilhões para a Saúde. Não há economia que resista.


As primeiras pesquisas eleitorais apontam que o senhor tem 20% das intenções de votos. Já conhecia esses índices?


Gilson Menezes – Acho que a aceitação da população está crescendo. O plantio foi muito sacrificado, mas a colheita vai chegar na hora certa. Pesquisa recente da ONU (Organização das Nações Unidas) e que leva em conta índice semelhante ao IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) aponta Diadema como o Município brasileiro que mais investe na área social. Isso é resultado de seriedade e responsabilidade. O homem é o principal alvo do nosso investimento.


É certo que o senhor concorre à reeleição. Existe mesmo a possibilidade de fazer alianças com o deputado estadual José Augusto, que lidera as pesquisas de intenções de voto?


Gilson Menezes – São boatos. Nunca conversei com o deputado José Augusto da Silva Ramos sobre o assunto. Nem cogito. Tenho equipe que negocia alianças, porque não sou bom articulador. É claro que participo da decisão final. Sou bom para convencer as pessoas porque falo a verdade, tantas vezes quanto necessário. Por isso, tenho poder de convencimento. A população sabe que falo a verdade.


O senhor já tem vice? Como no início da gestão teve problemas com a atual vice-prefeita, há o risco da Maria Regina Gonçalves não compor a chapa à reeleição?


Gilson Menezes – No começo da gestão houve choque de dois gênios fortes. Mas veio o momento da calmaria, a Regina voltou, fez bom trabalho e me ajudou à frente da Secretaria de Desenvolvimento Sustentado. Eu mesmo nunca briguei com ela. Houve choque naquele momento de tensão. Ainda bem que a cicatriz não foi profunda e ela já se colocou à disposição para concorrer novamente ao cargo.


O senhor pretende se desincompatibilizar para fazer a campanha política?


Gilson Menezes – Não, porque a lei não exige e eu não tenho nenhum outro tipo de rendimento; preciso do meu salário para sobreviver.


E a pendência jurídica que envolve seus vencimentos?


Gilson Menezes – Meu salário mesmo é de R$ 12 mil; o restante é verba de representação. Se somar dá R$ 20,8 mil. Mas não uso carro oficial, não gasto gasolina da Prefeitura e nunca trago nota de almoço quando estou na cidade. Estou aguardando a decisão legal e vou acatá-la. Desde o começo da gestão não aceitei nenhum reajuste. Teria direito a mais 10%. Não fui eu quem determinou o salário, mas também não posso dizer que não mereço o que ganho. Se a lei definir que vai ser menor, de R$ 10,8 mil, não tem problema porque levo vida modesta. Não bebo, não fumo, não vou a boate e não costumo jogar dinheiro fora.


Qual o relacionamento com o funcionalismo diante de tanta polêmica sobre salários?


Gilson Menezes – Transparente e sincero, mas acredito que a expectativa em relação a mim era maior. No começo da gestão o relacionamento foi ruim. Com o passar do tempo eles foram percebendo a nossa seriedade. Sinto isso no próprio olhar do funcionalismo. Nunca atrasamos salários, mantivemos benefícios como o auxílio-doença que complementa o salário nos casos onde é necessário entrar no seguro do INSS. É uma lei de nossa gestão anterior.


Que diferença o senhor estabeleceria entre o primeiro e o segundo mandatos?


Gilson Menezes – O atual está sendo mais difícil. Primeiro, porque tenho de superar minha própria marca. Segundo, porque encontrei a máquina mais endividada e a cidade mais exigente. O esforço foi muito maior nesse mandato, porque mantive o compromisso com a população e com a inclusão social. E lanço um desafio: qual prefeito no Brasil que mais trabalhou pela inclusão social? Comparar obras é fácil. Se tivesse a receita dos dois últimos prefeitos seria mais fácil ainda. Terminei meu primeiro mandato com US$ 29 milhões, meu sucessor teve US$ 75 milhões e o seguinte, apesar de ter perdido recursos por causa da legislação, contou com as 45 parcelas mensais de indenização da Imigrantes.


O senhor praticamente inaugurou a participação popular em administrações municipais, porque foi o primeiro prefeito eleito pelo Partido dos Trabalhadores no Brasil. Hoje, no PSB, outro partido de orientação socialista, continua valorizando a participação popular?


Gilson Menezes – O governo aberto contribui muito e faço questão da participação da população. É sempre saudável discutir com líderes comunitários e a população porque eles questionam e cobram muito. É nessas reuniões que se conhece o verdadeiro significado da democracia.


O senhor costuma tratar o nepotismo como assunto de palanque eleitoral?


Gilson Menezes – Lido com tranquilidade, porque não aceito ninguém ocioso na Prefeitura. Não permito que ninguém ganhe dinheiro sem fazer nada e sem ter capacidade. É lógico que a capacidade não pode estar atrelada aos bancos acadêmicos, porque senão nem eu seria prefeito, já que não tenho curso universitário. Mesmo assim, tento ser o melhor em tudo o que faço. Tentei ser o melhor ferramenteiro e agora luto para ser o melhor prefeito do Brasil.


O senhor tem parentes que trabalham na Prefeitura?


Gilson Menezes – Sim. Num horizonte de 270 cargos de confiança, tenho seis. Cito como exemplo meu irmão, que é secretário de Educação. Ele é professor da Universidade Metodista. Minha irmã é responsável pelo treinamento de pessoal, tem 18 anos de experiência na área. São pessoas capacitadas e estão em cargo de confiança. O dia em que for embora, eles irão comigo. Agora, se não trabalhassem ou se promovesse um concurso fajuto para efetivá-los, aí sim seria má intenção.


Como está a situação da ETCD (Empresa de Transporte Público)? Ainda se fala em privatização?


Gilson Menezes – A situação realmente estava calamitosa, mas estamos conseguindo o equilíbrio. Não pensamos em privatizar porque é necessário analisar o serviço social prestado pela empresa. O passe de integração permite que o usuário vá de seu bairro até o Jabaquara ou São Mateus, na Capital, com apenas uma passagem ônibus-trôlebus.


A dívida da autarquia de transporte está sob controle?


Gilson Menezes – Está equilibrada. Já negociamos com o INSS e estamos equacionando o débito com o FGTS. Desde o começo da gestão estamos fazendo o depósito do Fundo de Garantia e pagando o valor integral para os eventualmente demitidos. Conseguimos comprar 37 novos ônibus e aumentar a fiscalização para diminuir a ação dos perueiros. Os perueiros tiram R$ 150 mil por mês da ETCD e já tiraram mais. Durante as duas gestões anteriores nunca foi depositado um centavo de FGTS. Quando criei a ETCD, no primeiro mandato, deixei a garagem pronta e paga, comprei e paguei adiantado 30 ônibus novos. A Mercedes-Benz nem queria receber e tive de recorrer ao diretor de Recursos Humanos, Luiz Adelar Scheuer, com quem havia brigado muito nos tempos de sindicalismo, para conseguir pagar antecipado.


O senhor é contra os perueiros?


Gilson Menezes – Peruas não podem ser consideradas transporte coletivo, porque são inadequadas, perigosas e não prestam o serviço social do passe integrado. Na verdade, só fazem o filé mignon das linhas.


O senhor considera um erro de seu governo o caso Funambi, de captação de recursos para doação de livros por empresa de Bauru?


Gilson Menezes – Isso me deixa muito chateado. Não houve prejuízo ao erário público e nem má-fé. Não peguei dinheiro. A única coisa que assinei foi uma declaração dizendo que aceitaria os livros em doação para nossas bibliotecas. Recentemente a Yakult doou um galpão para a Prefeitura e eu aceitei. Não vejo nada de errado nisso, mas é necessário documentar. Recebo quatro mil livros de graça e fico com minhas contas bloqueadas? Será que é certo? Coloquei minha conta bancária à disposição do Ministério Público. Espero que toda essa história sirva como lição. Até minha filha mais nova questionou: “Pai, o senhor vai ser candidato de novo, com tudo isso que fazem”?


E nem o apelo da filha o fez desistir?


Gilson Menezes – Não, porque estou preparado para tudo na vida. Se tiver que novamente dormir em colchão no chão, vou enfrentar. É lógico que não quero que isso aconteça. Por isso, a arrogância não me contamina. Às vezes sou um pouquinho vaidoso para algumas coisas. Estou preparado para o terceiro mandato e tenho certeza de que o sacrifício será menor, porque em 31 de dezembro deixarei a Prefeitura numa situação bastante confortável. Se vier para as minhas mãos, melhor.


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