Entrevista Especial

Presidente do São Bernardo promete
recorde de torcida e aprova Copa

DANIEL LIMA - 26/07/2010

Um dos novos integrantes do principal campeonato estadual do País, o São Bernardo Futebol Clube levará um número recorde de torcedores ao Estádio de Vila Euclides em 2011. A garantia é do presidente Luiz Fernando Teixeira. Uma projeção e tanto, porque o São Bernardo foi a equipe média que mais público levou nesta temporada no futebol brasileiro: em média, mais de seis mil pessoas acompanharam o Tigre.


Luiz Fernando Teixeira está entusiasmado com os resultados do São Bernardo, um clube criado há apenas quatro anos. Quer ver a equipe disputando a Série D do Campeonato Brasileiro na próxima temporada e, com isso, iniciar uma escalada nacional de posicionamento semelhante ao que Santo André e São Caetano já ocupam.


Ao instalar a Capital Econômica do Grande ABC no mapa do principal campeonato estadual do País, Luiz Fernando Teixeira acredita que será possível produzir efeitos internos bastante benéficos para o esporte na região. Tanto que considera muito interessante a disputa de uma competição regional no interior do Campeonato Paulista da Série A do ano que vem: São Bernardo, Santo André e São Caetano poderiam jogar pela Copa do Grande ABC.


O São Bernardo que se viu na Série B do Campeonato Paulista deste ano com uma média superior a seis mil pagantes por jogo em casa conseguirá repetir o sucesso popular no ano que vem, na Série A? Qual é o segredo maior dessa frequência popular que colide com a realidade dos demais clubes da região e também de outras áreas geográficas? O preço barato dos ingressos ou a capilaridade do trabalho de sedução de torcedores?


Luiz Fernando Teixeira – Com certeza bateremos os recordes de público que alcançamos na Série B. Vários são os fatores. Quando assumi o São Bernardo Futebol Clube, entre os desafios que me colocaram, além de subir o time, era o de trabalhar para que a cidade adotasse o Bernô como segundo time do coração, embora tivesse apenas quatro anos de atividade. Muitas foram as ações que implantamos. No projeto “empresa parceira” as corporações adquiriram ingressos e distribuíram aos funcionários. Também de suma importância é o “Projeto Tigrinho – Cidadão do Amanhã”, parceria com a OSCIP Fábrica do Futuro e a Prefeitura. Implantamos o maior projeto social do mundo utilizando a ferramenta futebol. Seis mil crianças da periferia, de 8 a 16 anos, praticam futebol nas escolinhas da cidade. Essas crianças e seus familiares também adotaram o Tigre como time. Distribuímos brindes e organizamos brincadeiras no intervalo dos jogos. Além disso, adotamos ingresso a preço acessível. Pensamos futebol além de esporte, como espetáculo, e espetáculo sem público não tem o menor sentido. Através de parceria com a TV+ foram transmitidos todos os jogos de 2009. Esses trabalhos culminaram com a fidelização da torcida. Agora, além da continuidade dessas ações, vamos lançar o Projeto Sócio Torcedor.


O senhor também considera que apropriação de um calendário anual é o grande pulo do gato que uma equipe profissional precisa contar? Sendo assim, quando o São Bernardo prevê chegar pelo menos à Série C do Campeonato Brasileiro, quando, então, gozaria de condições de competitividade semelhantes às de Santo André e São Caetano em termos de manutenção ou reforço do elenco?


Luiz Fernando Teixeira – Creio que o passo mais difícil de nossa jornada foi dado — no caso o acesso ao principal campeonato regional do País. Nossa meta é conquistar vaga ao Brasileiro do ano que vem, pela Série D. Daí para a Série C e Série B. Não será fácil, mas nosso objetivo é esse, e estamos muito determinados.


Como o senhor analisa o futuro do futebol como negócio entre os clubes que não estão na rede dos mais populares do País e que, portanto, estão praticamente alijados do grande negócio que envolve sobretudo as emissoras de televisão? Há espaço para o negócio chamado futebol proporcionar também o sucesso dos clubes médios e pequenos? Será apenas questão de competência?


Luiz Fernando Teixeira – É realidade que as grandes negociações no futebol são feitas somente pelos grandes. Cotas de televisão são distribuídas de forma desproporcional. Os pequenos, sejam novos ou não, recebem da CBF e Federação Paulista cotas ínfimas, comparadas àquelas que recebem os grandes.


Em relação às negociações de atletas, para terem seus jogadores valorizados, historicamente, os times pequenos fazem parcerias com os grandes para valorizá-los. Essa história vem mudando com a chegada dos clubes-empresa, que trabalham a valorização de atletas e, através de boas campanhas, excursões e de contatos no Exterior, têm conseguido mudar a história.


Sugerimos recentemente que o São Bernardo, o Santo André e o São Caetano disputem um torneio à parte no interior da Série A do Campeonato Paulista, inclusive com uma ação de marketing que vise a obter resultados extra-campo que a sinergia da rivalidade proporciona. Como o senhor interpreta essa proposta?


Luiz Fernando Teixeira – Vai ao encontro do que pensamos. A região, uma das mais ricas e importantes do País, conseguiu com o acesso do Tigre representação inédita na história. Aproveitar esse momento é o que os dirigentes dos clubes devem fazer. Penso que poderia ser criada a Copa ABC de Futebol. Precisamos trabalhar essa oportunidade de forma a trazer torcedores aos jogos. Além dos times em campo, são as cidades se enfrentando nos gramados. Poder-se-ia pensar em ações extra-campo para aumentar o poder de negociação, seja em publicidade, na aquisição de insumos e materiais à prática do futebol, nas articulações junto aos órgãos desportivos, entre outras iniciativas.


Depois de disputar o que antigamente se chamava Segundona, o senhor é daqueles que acreditam que o Acesso está mais próximo de equipes que se utilizam sobretudo da força ou futebol é um jogo em que a qualidade técnica faz a diferença em qualquer divisão?


Luiz Fernando Teixeira – Aprendi com o Edinho Montemor que futebol é a arte do imponderável. E é! Nem sempre vence o melhor. Frações de segundo, detalhes, erros, mudam o resultado; enfim, isso é que torna o esporte apaixonante. Taí a graça. Profissionalismo, seriedade e bom senso têm pautado nossas ações; porém, creio, qualidade técnica faz a diferença em qualquer divisão, dentro e fora de campo. Não basta ter excelente time sem estrutura profissional fora das quatro linhas. Além de bom técnico e bom elenco, os times que querem vencer precisam de bons profissionais, especialmente nas áreas médica, fisioterápica, fisiológica, nutricional, preparação física, psicológica e equipamentos esportivos. Sem contar, é claro, com a manutenção de bom ambiente e união do grupo.


Como o senhor observa o fato de a cidade de São Bernardo contar com outras duas equipes profissionais?


Luiz Fernando Teixeira – Fazer futebol é muito difícil. Especialmente no aspecto financeiro. Tem também a questão de espaços para o desenvolvimento da prática, como campos de treinamento e campo de jogo. Nossa cidade conta com três times profissionais, dois dos quais muito antigos. O Esporte e o Palestra fizeram história no passado. Não sei o que lhes faltaram, mas é real que não conseguiram chegar à elite em São Paulo. Não foi falta de apoio. Consta que até área e auxílio na construção de equipamento esportivo o Poder Público atendeu no passado.


Cidades médias com mais de um time não têm tido êxito, como é o caso de Ribeirão Preto (Comercial e Botafogo), Campinas (Ponte Preta e Guarani) e, inclusive, São Bernardo. Depois de 457 anos, somente agora se chegou à Série A. Creio que o ideal seria ter apenas um time que concentrasse esforços e torcida. Mas as histórias dos times de nossa cidade são muito ricas, cada qual tem suas torcidas e lutam para alcançar lugar ao sol. O tempo dirá. Torço por eles.


O São Bernardo conta com uma estrutura empresarial compatível com as ambições dentro e fora de campo ou há ainda vácuos que precisam ser devidamente preenchidos para que o cronograma de avanços não sofra complicações?


Luiz Fernando Teixeira – Os piores adversários do São Bernardo são o pouco tempo de existência e a falta de um canal de televisão aberta. Pelo pouco tempo, ainda não é acreditado. Não contar com TV aberta significa perda nas negociações de patrocínio e cobertura. Temos visto grandes indústrias locais patrocinarem diversos times de fora e nada investem ou auxiliam os times daqui. Temos que buscar esses patrocínios. As áreas de marketing das indústrias montadoras, químicas e outras precisam acreditar e investir nos clubes da cidade e da região. Bombril, Suvinil, VW, Colgate e Lukscolor são marcas que estampam camisas de times de fora de nossa cidade, de futebol ou de outros esportes, e não estão nas camisas de nenhum dos times da cidade. Há vácuos que precisam ser preenchidos sim, mas esse tem sido o grande desafio que, com certeza, iremos superar.


Até que ponto, além de provocar a ida de torcedores aos estádios, a cultura de formador de jogadores que São Bernardo cultiva há décadas poderá representar o suprimento de valores para reposição de talentos?


Luiz Fernando Teixeira – Temos trabalho de base muito consistente e sério. Acreditamos que é por aí que nos tornaremos grandes. Dirigem e coordenam nossa base dois ex-jogadores da Seleção Brasileira, Edson Boaro (1986) e Juninho Fonseca (1982), com vasta experiência como técnicos de base e profissional. Além deles, outros profissionais de grande gabarito e experiência fazem parte de nossa comissão técnica nas diversas categorias (sub 15, sub 17, sub 18, sub 20 e sub 23). Esse trabalho revelou diversos jogadores que compuseram o elenco do time que conquistou o acesso, casos de, Danielzinho, Raul, Daniel Pereira, Bruno Alves e Jefferson. Na Copa Paulista temos 13 jogadores da base, além de todo o elenco do time do Grêmio Mauaense, que disputa o Campeonato Paulista da Segunda Divisão. Meu sonho é que o Tigre conte com um time integralmente de jogadores formados em casa.


Que clube profissional o senhor tem como paradigma no futebol brasileiro?


Luiz Fernando Teixeira – São Paulo e Cruzeiro.


Há alguma cláusula contratual com o técnico do São Bernardo que o obriga a estruturar a equipe de modo que, além de resultados, também se jogue um futebol atrativo, como é o caso, por exemplo, do Barcelona, ou o senhor entende que a prerrogativa tática e estratégica é questão que não se inclui no relacionamento entre as partes?


Luiz Fernando Teixeira – Creio que isso não caiba nos contratos, mas ao escolhermos o técnico buscamos profissional com esse perfil. Nosso técnico atual, Ruy Scarpino, tem esse perfil. Joga no ataque, cobra o futebol pra cima do adversário. Os times que enfrentamos têm que se preocupar em nos marcar. É desse futebol que gosto; é esse futebol que o São Bernardo jogou e jogará. Já cheguei a dizer a um técnico: “põe o time pra cima do adversário; se ganhar, ganha você, se perder, me responsabilizo pela derrota”. Ele pôs o time na defensiva e encerrou seu ciclo aqui.


É de se esperar que o São Bernardo para o próximo Paulistão apresentará alguma contratação bombástica, dessas que gerem efeito cascata em matéria de marketing?


Luiz Fernando Teixeira – O melhor marketing no futebol são os resultados em campo. Montaremos uma equipe competitiva e queremos nos consolidar. Em 2009 o vizinho Santo André pagou alto preço, em todos os sentidos, por contratações bombásticas e caiu da Série A do Brasileiro. Em 2010, montou um time sério e competitivo, sem nenhum ídolo, nenhuma jogada de marketing, foi vice-campeão paulista e criou um monte de ídolos. Sou adepto dessa segunda estratégia.


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