Entrevista Especial

Brandão Júnior desclassifica gestão
de Aidan Ravin com duas críticas

DANIEL LIMA - 04/08/2011

Candidato à Prefeitura de Santo André em 2012, o experiente engenheiro civil e ex-executivo público Edgard Brandão Júnior não dá trégua à Administração de Aidan Ravin. O ex-superintendente da Infraero para a Região Sudeste abre essa série de Entrevistas Especiais da revista digital CapitalSocial. O trabalho jornalístico e estenderá até as vésperas das disputas previstas para outubro do ano que vem.


Representante da chamada classe média tradicional de Santo André, um dos polos que garantiram o sucesso eleitoral de Aidan Ravin em 2008, Edgard Brandão Júnior esquenta os tamborins de dificuldades que o mandatário de Santo André deverá encontrar nos próximos tempos. Bate-lhe forte e persistentemente. Desclassifica a gestão petebista não só por conta do que chama de despreparo do titular do Paço Municipal como também de imensa leva do secretariado, especialmente o supersecretário Nilson Bonome.


Independentemente de juízo de valor sobre as declarações de Edgard Brandão Júnior, o que esta Entrevista Especial apresenta como forte novidade é a retirada de um lacre de bons modos improdutivos e muitas vezes convenientes demais que permeia o noticiário. Restando pouco mais de um ano para os próximos pleitos municipais, o que se encontra na Imprensa, de maneira geral, são noticiários adocicados ou, pior ainda, algumas estocadas que não passam de maquiagens.


Com Edgard Brandão Júnior nesta Entrevista Especial o que os leitores vão encontrar é uma massa crítica fundamentada que, repetimos, independente de juízo de valor, coloca a gestão de Santo André num fogo cruzado comprometido com a democracia da informação.


No devido tempo o prefeito Aidan Ravin será igualmente ouvido por CapitalSocial.


Edgard Brandão Júnior, 67 anos, várias vezes secretário municipal durante a gestão do prefeito Newton Brandão, coincidentemente do mesmo sobrenome, é pré-candidato do PSC à Prefeitura de Santo André.


CapitalSocial prefere tratá-lo de candidato, assim como todos os demais que já se lançaram preliminarmente às disputas da próxima temporada de votos. Pré-candidatura é uma formalidade legal que não se compatibiliza com a lógica jornalística de tratar de fatos. Pelo menos até que eventualmente os fatos se alterem.


Acompanhem na íntegra a Entrevista Especial com Edgard Brandão Júnior, formulada e respondida através de e-mail:


Que avaliação faz da administração de Aidan Ravin quando o enfoque é governança, ou seja, as relações com os poderes constituídos em Santo André, do Executivo ao Legislativo, passando pelo Judiciário?


Edgard Brandão Júnior – A atual Administração de Santo André peca pela falta de qualidade nas nomeações do primeiro e do segundo escalão. Os secretários e principais assessores, em grande maioria, além de não terem formação específica e qualificada, não possuem conhecimento de Administração Pública. Os casos mais graves são nas principais secretarias, de Obras, da Saúde e da autarquia Semasa. Ou seja, estão exercendo funções como se fossem laboratório experimental. As cobaias são os moradores. As excessivas interferências do Executivo no Legislativo deixam muitas margens de dúvidas quanto à forma de condução dos trabalhos. O fato de ter nomeado ex-vereadores sem nenhuma qualificação, em completo desperdício do dinheiro público, mostra o total despreparo do Administrador.


Os vereadores assistem a tudo como verdadeiros fantoches, com raras exceções. Estão coniventes com tudo e fogem de casos investigativos de denúncias. Quanto ao relacionamento com o Judiciário, acredito que ainda não foi prejudicado pelo pouco tempo de mandato (só 2,5 anos) e poucas denúncias formais de irregularidades ou mesmo casos de corrupção.


Pela falta de preparo da maioria do secretariado, isso tende a se agravar, como os recentes casos expostos na mídia, como: o da mala na SOSP (já está sendo investigada pelo MP); o do contrato dos palhaços, dos desvios na autarquia Semasa, o do Estádio Bruno Daniel e outros. Os recentes casos em Taubaté e em Campinas, além de outros municípios, mostram o que pode ocorrer no futuro.


E quanto à avaliação de governabilidade, que envolve toda a sociedade de Santo André?


Edgard Brandão Júnior – Grande parte da sociedade andreense representada pelos eleitores deu de uma forma plena ao atual prefeito uma procuração de amplos poderes na eleição do segundo turno de 2008 muito mais pelo desgaste de 12 anos de governança do PT do que por mérito próprio do eleito, o qual não tinha nenhuma qualificação para gerenciar Santo André, com orçamento anual próximo de R$ 2 bilhões. Muitas entidades e eleitores já conseguem perceber, com bastante clareza, que a avaliação foi feita errada, que pode muito ter acontecido por falta de opções de pessoas mais qualificadas.


Ouço, em muitos locais, pessoas proferindo frases de arrependimento por ter passado procuração a ele. Isso leva a crer que, mesmo com o desgaste do PT, nas mesmas circunstâncias hoje o resultado do segundo turno e quiçá do primeiro turno em 2008 seria diferente.


Fosse o senhor alguém com o poder de definir pela aprovação ou reprovação da administração Aidan Ravin, que decisão tomaria?


Edgard Brandão Júnior – Nos questionamentos anteriores coloquei alguns pontos que, certamente, induziriam o leitor nesta altura do questionário a também reprová-lo. Como anteriormente também já citado pela procuração em branco e com quase todo o Legislativo (de forma indolente) a favor, ele poderia ter feito até aqui uma administração exemplar. O corpo de servidores técnicos, administrativos e operacionais da Prefeitura, em quase totalidade, apoiou e ajudou na eleição do prefeito que, lamentavelmente, não soube reconhecer isso e perdeu a possibilidade de ter um contingente trabalhando com muito afinco e vontade.


As nomeações para os postos principais de secretários e diretores com apedeutas de serviço público e alguns forasteiros levaram a categoria a cair em marasmo funcional. Esse foi um dos motivos que o levou a uma tentativa de aliciamento como as recentes correções salariais e outras prometidas. Não realizou as propostas que poderiam modificar substancialmente a cidade e ainda deixou bastante a desejar nos programas sociais, em especial nas áreas periféricas. Por isso tudo, defino a administração reprovada até aqui.


Acha possível que ao restar pouco mais de um ano para a disputa eleitoral o prefeito Aidan Ravin será capaz de entregar obras de vulto social e econômico que possam contribuir para colocar a administração municipal num patamar de destaque ou obras desse porte são praticamente um sonho numa Santo André debilitada há muito tempo no empenho orçamentário?


Edgard Brandão Júnior – A realização de obras de vulto social e econômico prescinde de premissa primária: planejamento. Isso não ocorreu nesses 2,5 anos de governo e a atual Administração utiliza planejamento dos anos 70, 80 e 90 em um processo de mistura sem nenhum critério. A cidade mudou muito. O perfil socioeconômico já não é mais o mesmo faz tempo. Retroceder em propostas dos anos 90 e 2000 por serem do governo do PT foi um grande erro. Os planejamentos elaborados nas gestões Pezzolo, Grilo, Brandão, Celso e Brandão teriam de ser revistos.


Principalmente o Plano Viário. O sistema viário é o mesmo dos anos 70, com poucas modificações, e é um grande gargalo para o desenvolvimento de Santo André.


O sucateamento do parque industrial de Santo André acabou por levar a uma mudança do perfil socioeconômico, aliada ao não crescimento da população para prestação de serviço com qualidade. Faltou essa visão e o incentivo para que aqui viessem grandes escritórios, acompanhando o crescimento da população na classe média. Os lançamentos de prédios de médio e alto padrão nos leva a esse raciocínio. A ausência de polos tecnológicos ainda não nos permite melhorar a qualidade de oferta de empregos com especialização em funções qualificadas. A proximidade com dois grandes corredores de exportação (porto e aeroporto) teria que ser mais bem explorada.


Uma cidade que teve aumento real da receita em quase 15 vezes nos últimos 15 anos deveria, obrigatoriamente, oferecer melhor qualidade de vida. Nenhuma Administração, e a nossa não é diferente disso, pode em menos de 18 meses realizar obra de vulto ou mudança de perfil na área social e muito menos na econômica.


Qual avaliação o senhor faz sobre o consenso de que o prefeito Aidan Ravin conta com supersecretário, uma espécie de primeiro-ministro, no caso Nilson Bonome? O senhor, como prefeito, teria alguém com atuação análoga?


Edgard Brandão Júnior – O prefeito não tinha preparo nenhum para assumir posto de tamanha relevância. Esse despreparo impôs a ele nomeações de pessoas também despreparadas e descompromissadas com a cidade, como é o caso do Superintendente da autarquia Semasa e, em especial, do secretário referido, que parece representar grupos econômicos de interesses, principalmente pela forma de atuação tão divulgada pela imprensa junto ao Executivo e, lamentavelmente, ao Legislativo, como no caso das eleições dos presidentes da Câmara em 2009 e 2011. Para administrar Santo André o prefeito deve ter equipe altamente preparada em muitos postos da Administração, com técnicos de formação universitária específica para o fim que se pretende. Como prefeito, certamente, não teria nenhuma pessoa com o perfil desse secretário mencionado. Tenho certeza que um governante bem preparado não necessita de auxiliares com amplos poderes. Ele mesmo deve exercer essa função. Para isso é indispensável qualificação e muita experiência em Administração Pública.


Caso o senhor se eleja prefeito de Santo André, quais seriam as três medidas prioritárias que tomaria para aplicação nos primeiros seis meses de administração?


Edgard Brandão Júnior – Nos primeiros seis meses de governo tomaria medidas para: a) redução drástica dos cargos de livre provimento; b) contratação de projetos (estoque), em especial, de sistema viário; e, c)revisão e renegociação de todos os contratos vigentes que não possam ser cancelados, eliminando principalmente, aqueles que foram licitados de forma dúbia. Também deveriam ser realizadas revisões do Plano Diretor com o chamamento de empresários e representantes do Terceiro Setor para propostas conjuntas e discussões com a sociedade, representada por entidades de classe, clubes de serviço, associações. Algo que o então prefeito Celso Daniel tentou sem sucesso em 1989, muito motivado pelo que a sigla PT representava naquela oportunidade junto a esses segmentos.


Como o senhor observa o fato de Aidan Ravin assumir a Prefeitura de Santo André munido de metralhadora giratória contra a gestão petista, com a contratação de auditoria, e, logo em seguida, nada mais se falou sobre o assunto?


Edgard Brandão Júnior – O despreparo para assumir a máquina pública impôs a ele a necessidade de manter em cargos de segundo e de terceiro escalão servidores que já ocupavam postos na administração do PT. Como ele nomeou pessoas sem nenhum conhecimento em Administração Pública, não teve como contar com quadros capacitados para tanto. Para realizar trabalhos de auditoria em Administração Pública o contratante tem que ter pelo menos um pouco de conhecimento para reconhecer o que foi auditado e tomar medidas sobre o que foi apontado como irregular ou ilegal.


Como exemplo cito a principal secretaria que tem à frente uma pessoa sem nenhuma qualificação profissional de Engenharia e Arquitetura e, quando nomeado, também não tinha nenhum conhecimento de licitações e contratos na esfera pública. Isso ainda foi agravado quando nomeou para a área de finanças pessoa descompromissada com a cidade.


Qual será a influência do ex-presidente Lula da Silva nas eleições em Santo André? Se ele sair de braços dados com o candidato petista e pegar para valer o touro da disputa, há condições de a situação resistir?


Edgard Brandão Júnior – O ex-presidente Lula encerrou mandato com alto índice de aprovação, de popularidade e também de aceitação de sua Administração. Acredito que ainda tenha prestígio para tanto, principalmente na camada da população que pode decidir eleição. Trabalhei em seu governo em cargo federal e pude avaliar bem de perto isso.


Gostaria que estivesse me apoiando na pré-candidatura e depois, se confirmado candidato, não eventualmente do lado do meu adversário. Se ele se dispuser a ir para a campanha de forma decisiva, certamente o candidato que estiver apoiando terá grande ganho.


Não é um descalabro organizacional o fato de não contarmos com qualquer estatística regional de resultados efetivos do Rodoanel Sul, cujo princípio de análise deveria ser origem-destino dos veículos de passeio e de transporte? Qual é a sua percepção sobre as vantagens e as desvantagens da região por conta do trecho sul doRodoanel?


Edgard Brandão Júnior – O Rodoanel é uma obra que ainda nem foi concluída, mas já tem atrasos de mais de 20 anos. A proposta inicial só permitiria entradas e saídas de veículos de passeio, de transporte de carga e de passageiros em ligações com rodovias estaduais e federais. A única exceção que acabou por alterar o plano inicial foi a interligação com um sistema viário municipal em Mauá, na interligação com o complexo viário Jacú-Pêssego. Como isso já ocorreu e foi uma decisão intempestiva, pegou as administrações de Mauá e de Santo André, em especial, e também São Paulo e Ribeirão Pires, que não estavam preparadas para tanto. Essa decisão foi política e tomada em função de um objetivo principal, que era as eleições de 2010 para governador do Estado e para presidente.


Isso acabou por criar situações bizarras, como a saída do Rodoanel (sinalizada de forma oficial) em Mauá, direcionando para o nosso Município na Estrada do Guaraciaba em continuação com a Avenida Valentim Magalhães. Nem num simples projeto de graduação de algum recém-formado em Engenharia Civil isso iria ocorrer, mas aí está para todos verem ou, pior, acessarem. Faço um desafio ao governador Geraldo Alckmin e ao prefeito de Santo André: entrem em seus carros particulares, sem motoristas, e façam esse trajeto, por exemplo, por volta das 23h.


Obrigatoriamente deveriam estar incluídos no Rodoanel projetos e investimentos em Mauá e, em especial, em Santo André, para minimizar o impacto na região. Se as administrações estadual e municipal tivessem com toda lição de casa pronta, o impacto seria muito menor e a obra poderia ser mais bem aproveitada. Se a região soubesse disso no início dos anos 2000, acredito, poderia ter se preparado melhor para tanto. As obras executadas não são de todo ruins, pois permitem que o escoamento da produção industrial da região chegue mais rapidamente ao Porto de Santos e ao Aeroporto de Guarulhos. Só faltou avisar antes!


Resolvemos alterar a denominação fantasia da região que envolve sete municípios e 2,6 milhões de habitantes, tratando-a de Província do Grande ABC. O senhor acha que estamos exagerando ou a denominação se encaixa perfeitamente à falta de regionalidade?


Edgard Brandão Júnior – A região do ABC é extremamente respeitada pelas demais regiões do País. Presenciei isso claramente quando, no final dos anos 80, na Fepasa S.A. representava-a junto a 92 empresas públicas em todo o País, no Programa do Ministério dos Transportes – Informática nos Transportes. Nós é que não nos damos o devido valor. A atuação do Consórcio intermunicipal ainda não conseguiu se impor como instrumento técnico e político regional e não consegue agregar as principais cidades. A disputa político-partidária acaba por ficar acima de qualquer realização que beneficie a região. As regiões metropolitanas de Campinas e do Vale do Paraíba estão muito mais avançadas em propostas de desenvolvimento regional. Não há mais como administrar uma Santo André de forma independente.


A título de exemplo, durante minha estada na Infraero recebi mais de 20 vezes com o prefeito de Campinas e outras tantas com o de São José dos Campos. Inúmeras visitas recebi prefeitos de todo o Estado e também diversas vezes estive com o prefeito Kassab, com o governador de São Paulo e do Mato Grosso do Sul. Nunca recebi um prefeito ou fui convidado para alguma reunião na nossa região. Só recebia pedidos de ajuda para embarques e desembarques de prefeitos, vereadores e assessores.


As divisas de Santo André com São Bernardo, São Paulo, Mauá e São Caetano impõem ações conjuntas para melhorar de forma substancial o sistema viário. Ainda contamos com as mesmas ligações dos anos 70. Temos alguns quilômetros de divisas e as ligações já eram precárias quando foram executadas. Nada evolui ou evoluiu muito pouco, tanto neste governo como também nos anteriores. O governo estadual precisaria dar a devida atenção a Santo André para não ficarmos restritos a receber um hospital (que serve mais a pessoas de fora do que da cidade) e os Poupatempos. Isso é muito pouco. Chega até a ser ridículo. As habitações do CDHU simplesmente repõem parte do caos criados pelo próprio empreendimento.


Que avaliação o senhor faz sobre os candidatos que já se apresentaram para disputar o Executivo de Santo André no ano que vem, além de Aidan Ravin? O que diz de Carlos Grana, Raimundo Salles e Paulinho Serra?


Edgard Brandão Júnior – Cada candidato tem sua característica e seu valor. De todos, acredito que o que terá mais dificuldades será o próprio prefeito atual, pois terá concorrentes que atuam na mesma faixa do eleitorado que votou nele. Como demonstrou despreparo para o cargo, terá dificuldades à reeleição.


Quanto ao pré-candidato e deputado Carlos Grana, acredito que possa unificar o PT local, esfacelado na disputa inconsequente do final de 2007 entre a então vice-prefeita Ivete Garcia e o deputado Vanderlei Siraque. Todas as pesquisas apontavam claramente maior possibilidade de eleição da vice-prefeita. Essa união aliada à possibilidade do ex-presidente Lula subir no palanque torna Carlos Grana concorrente muito forte.


O pré-candidato Raimundo Salles já participa faz muitos anos do processo político da cidade, o que lhe traz sempre, pelo menos inicialmente, parcela significativa de adeptos à candidatura. Mudanças de posturas e de partidos constantemente acabam por prejudicá-lo. De qualquer forma, sempre é um nome forte para aliança em eventual segundo turno. Respeito bastante seu fervoroso trabalho.


O vereador Paulinho Serra também pré-candidato a prefeito ainda não tem o preparo técnico e administrativo desejado para o perfil de um cargo majoritário e ainda também não passou pelo crivo de prestígio em eleição para deputado estadual. Tem uma atuação bastante razoável como vereador, mas a indefinição de postura junto à atual Administração provoca insegurança aos eleitores. Como é jovem, tem uma carreira boa pela frente e acredito que seria um bom representante da cidade no Legislativo. De qualquer forma, gostaria que estivesse comigo já no primeiro turno.


Outro problema que ele vai enfrentar e limita a pré-candidatura são as constantes afirmações sobre alianças do atual prefeito com seu partido, insistentemente exposta pelo governador Geraldo Alckmin. Isso é ruim para seus projetos e aumenta a insegurança nos eleitores.


Resumindo, Santo André não precisa de um político, mas sim de um gerente com credibilidade e conhecimento técnico comprovado.


Por que o senhor foi pouco incisivo numa recente entrevista quando perguntado sobre a construção de um aeroporto de grande porte na Província do Grande ABC? O senhor quis ser apenas educado com o proponente, Valter Moura, titular da Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC, ou entende que é possível subverter a Lei de Proteção dos Mananciais com uma obra de tamanho impacto ambiental, sem contar o custo financeiro?


Edgard Brandão Júnior – Fiquei bastante surpreso, quando da posse do titular da Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC, que um dos três temas propostos como meta prioritária seria a construção de um aeroporto na região do ABC. Minha participação na Infraero (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária) por quase três anos foi amplamente divulgada na mídia e, inclusive, em diversos jornais da região. Recebo consultas sobre esse tema em diversas regiões do Estado. Os responsáveis pela Agência poderiam, antes de divulgar esse tema, ter tido comigo, mesmo de forma informal e sem cobrança de honorários técnicos, uma conversa sobre o assunto.


Estamos muito próximos dos três principais aeroportos do País e cada um com uma vocação distinta: Aeroporto Internacional de São Paulo – Guarulhos-SP (30 Km); Aeroporto de Congonhas (20 km); e Aeroporto do Campo de Marte (20 Km). O primeiro de vocação a viagens internacionais e nacionais e exportação e importação; o segundo para viagens nacionais; e o terceiro com vocação de transporte aeroexecutivo em aviões e em helicópteros e com a característica pouco divulgada de ser o quinto aeroporto em movimentos de aeronaves no País.


A construção de aeroporto na região poderia se restringir a unidade de pequeno porte, com vocação executiva e dependeria de empresários que se prontificassem a fazer alto investimento. Um aeroporto de porte médio como o de Congonhas seria praticamente impossível na região. O impacto ambiental seria muito grande e a aprovação de órgãos públicos muito difícil.


O senhor entende que o fato de carregar um sobrenome famoso em Santo André, de um triprefeito que fez história, o auxiliará na conquista de votos? A falta de parentesco com Newton Brandão será percebida pelo eleitorado, ou se poderá dar com o senhor algo semelhante com o que poderá vir a ocorrer com Paulinho Serra, sem genealogia alguma com o ex-governador José Serra?


Edgard Brandão Júnior – O doutor Brandão, prefeito de Santo André por 14 anos, além de deputado estadual em duas oportunidades, deixou uma marca com seu nome. Essa marca ainda tem uma parcela, embora pequena, que o eleitorado prestigia. Pela velocidade da informação, acredito que os eleitores saberão distinguir essa relação de nomes.


Proponho-me a ser um pré-candidato não pelo nome e sim pela qualificação profissional, conhecimento da cidade e currículo técnico bem abrangente em Administração Pública no Executivo. Trabalhei em três gestões do doutor Brandão como servidor municipal. Ele teve méritos mas também erros e forma de governo que desaprovo. Em especial, como se portava em relação à categoria dos servidores públicos. Por outro lado, sempre fui conhecido pelo sobrenome na escola básica, nos clubes que frequentava, no Tiro de Guerra, nas universidades e em entidades de classe, além de em minhas atuações profissionais. Meus pais chegaram em Santo André nos anos 40, ou seja, mais de 10 anos antes do doutor Brandão. Como o nome de meu pai só tinha um sobrenome, acabou por ficar conhecido como professor Brandão.


Se tivesse que fazer breve análise da autoestima da classe média tradicional de Santo André – da qual o senhor vem — remetendo a comparação aos tempos em que o senhor era estudante do Américo Brasiliense, na mesma turma da Miriam Belchior, o que diria?


Edgard Brandão Júnior – Santo André tem uma característica tradicional das cidades com muito menos habitantes que levam a classe média a buscar representantes que tenham frequentado seu meio e rejeitam forasteiros e oportunistas. Tenho recebido com carinho comentários sobre a decisão que tomei, principalmente de moradores mais antigos e tradicionais. Essa é uma das razões de me empenhar da eleição.


Meus pais chegaram em Santo André no início dos anos 40. Meu nascimento ocorreu em São Paulo por opção hospitalar (minha tia-avó era parteira-chefe do Hospital São Paulo) e, como dizia sempre minha saudosa mãe: — “Você estava tão impaciente para vir ao mundo que quase nasceu no trem”. Talvez seja por isso que sempre sou pontual nos compromissos. Com dois dias de vida (janeiro de 1944) já estava em minha casa no Parque das Nações, onde morei até os 14 anos. Depois mudei para a Vila Homero Thon, onde fiquei até cursar a universidade em Taubaté.


Estudei no 1.º Grupo Escolar de Santo André, no Américo Brasiliense e também no IESA. Joguei basquetebol na Pirelli, disputava atletismo no Aramaçan, fui sócio do Tênis Clube, do Primeiro de Maio e do Clube de Engenharia, onde exerci a presidência em algumas oportunidades. Por participar ativamente de entidades de classe, tive um ótimo relacionamento com a sociedade civil em todos seus segmentos.


Entrei como estagiário de Engenharia Civil (1970) na Prefeitura de Santo André, fiz concurso público e fui aprovado em 1971, seguindo carreira e galgando postos de comando até exercer funções em secretarias importantes, como a de Habitação, de Obras e também de Transportes. Tudo isso certamente será avaliado pelos eleitores.


Qual sua avaliação sobre as três gestões (a última das quais incompleta) de Celso Daniel?


Edgard Brandão Júnior – O Celso Daniel foi eleito pela primeira sem estar preparado para tanto. Como participei a convite dele para ocupar cargos técnicos, percebi que teve alguma dificuldade para administrar por causa de ingerência do próprio partido. O PT não possuía pessoal preparado para ocupar todos os cargos técnicos nas principais cidades do País, incluindo a Capital.


Celso Daniel e a maioria dos prefeitos do PT mudaram a forma de governar. Deram maior ênfase à participação popular com representantes das áreas periféricas e das classes sociais com pouca representação nos legislativos.


A implantação do Orçamento Participativo, da qual participei com o Celso Daniel, foi uma das novidades que o partido e ele, em especial, apresentaram à sociedade. Talvez naquela oportunidade se estivesse em outro partido o Celso poderia ter maior atuação na gestão da cidade. O PT era visto com restrição pela sociedade andreense. A maior crítica foi a excessiva contratação por concurso público, engessando a máquina até hoje. O número de servidores foi dobrado. Muitos não tinham qualificação ideal para se perpetuarem no quadro efetivo e acabaram por provocar muitas aposentadorias que, até hoje, oneram a máquina pública.


Na segunda gestão, Celso Daniel estava melhor preparado e pôde implantar programa mais abrangente em todas as camadas sociais e também maior participação na área econômica, com proximidade junto ao meio empresarial. Sua maior independência do partido deu-lhe grande projeção social, o que o levou em 2000 à reeleição com alto índice de aceitação. O alto índice eleitoral mostrou claramente que a sociedade andreense aprovava a segunda gestão com méritos nas áreas habitacionais, no transporte público e na economia. Minha crítica se prende a não ter dado atenção às áreas de infraestrutura viária, com reflexos negativos até hoje. Na última gestão, incompleta, ficou claro que Celso Daniel não estava mais conseguindo controlar a atuação dos principais secretários. Ele foi alertado, inclusive por mim quando ocupava o cargo de presidente da Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Santo André, sobre os problemas administrativos que acabaram virando denúncias em jornais. Ao mesmo tempo, ele já não se dedicava tanto ao Município, pois tinha ganhado projeção nacional com a pré-campanha do então candidato Lula à Presidência da República, em 2002.


Do que o senhor sente mais falta na política de Santo André?


Edgard Brandão Júnior – Seriedade e qualificação. A condução da política em Santo André está calcada em troca de favores. As recentes nomeações de ex-vereadores e suplentes de vereadores despreparados para ocupar cargos e funções no Executivo mostram claramente isso. Uma verdadeira festa com recursos públicos. É uma prática que tem de ser banida de Santo André e de todas as cidades do País.


A política de Santo André é toda baseada no toma lá, dá cá… As constantes informações de composições nos governos em todos os níveis são motivadas, em especial, pelo despreparo. Não há planos de governos convergentes. A grande maioria nem sequer pensa nisso ou mesmo em projetos para a comunidade. É só com objetivo de ganho pessoal.


A falta de lideranças em Santo André é latente. Antigos prefeitos, sem exceção, não permitiam que forças políticas se destacassem para não ocorrer o efeito sombra.


Independentemente de sua opinião pessoal, os lugares que frequenta diariamente como avalia a gestão de Aidan Ravin.


Edgard Brandão Júnior – Fraca. Não conseguiu nomear técnicos capacitados para o primeiro e o segundo escalão, situação que acabou por levar a Administração a níveis sofríveis. O empresariado que atua no mercado da Administração Pública está fazendo a festa. A falta de postura do prefeito e a ausência de planos e projetos (a candidatura dele foi uma aventura) estão levando-o ao fracasso. As informações de recentes pesquisas apontam alto índice de rejeição. Mas não podemos subestimá-lo, porque quem tem a máquina como a Administração de Santo André pode reverter qualquer quadro eleitoral.


A administração Aidan Ravin substituiu o orçamento participativo introduzido pelo governo Celso Daniel e adotou o partilhamento de recursos financeiros de forma individualizada, entre vereadores. Que tipo de avaliação faz sobre essa mudança e suas implicações no rumo da gestão pública?


Edgard Brandão Júnior – O Orçamento Participativo implantado em 1989 por Celso Daniel tinha méritos, mas também necessitava de aperfeiçoamentos. Não se pode implantar um programa que se sobreponha aos vereadores legitimamente eleitos pela população. Discuti bastante esse assunto com ele. Isso tem que ser feito em conjunto e de forma bastante transparente com a participação dos vereadores.


Partilhamento de recursos no orçamento acaba por levar a propostas muito isoladas em determinados bairros e regiões da cidade, além de soar claramente como pagamento por quem está sendo comprado. O orçamento de uma cidade como Santo André tem de ser feito com a participação dos vereadores e da própria população, mas sem deixar de ser observado o critério técnico com planejamento a médio e longo prazo.


As duas formas podem ser contempladas se, quando da elaboração do Orçamento Programa e da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), o Executivo o faça com técnicos qualificados e que conheçam o Município em profundidade.


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