O deputado estadual Orlando Morando, maior estrela regional na construção do trecho sul do Rodoanel, que permeia as franjas de vários municípios da Província do Grande ABC, segue confiante nos resultados econômicos estimulados pela obra. Nesta Entrevista Especial à revista digital CapitalSocial, Orlando Morando veste mais uma vez a camisa tucana, responsável pela obra.
Empresário do setor mercadista, Orlando Morando lamenta que o valor de imóveis tanto para locação quanto para aquisição tem inviabilizado a implantação de novos negócios, principalmente em Mauá, onde afirma existir espaços disponíveis mas o preço do metro quadrado é incompatível com a realidade de São Paulo.
Numa entrevista de junho de 2008 o senhor disse que o Rodoanel Sul seria uma porta aberta a novo impulso de desenvolvimento econômico da região, particularmente de São Bernardo. Até agora, por conta de uma logística interna sacrificante, não tivemos resultados satisfatórios. A quem o senhor atribui a situação?
Orlando Morando – Não concordo com a afirmação de que não tivemos resultados satisfatórios. Pelo contrário; não existem galpões disponíveis para serem locados em São Bernardo hoje com mais de mil metros quadrados e também não existem pátios logísticos disponíveis. O que prova claramente que, não apenas por conta do Rodoanel, mas também pela atividade econômica que está em forte elevação, a cidade está em uma esquina privilegiada, assim como também o Grande ABC.
O Rodoanel como sempre afirmei, foi um dos instrumentos que têm fomentado o aquecimento econômico da nossa cidade. E, além do novo momento, revive nas antigas plantas industriais, um aquecimento econômico, como é o caso da indústria automobilística, que baterá número de 3,7 milhões de carros produzidos nesse ano, sendo uma parcela significativa na cidade de São Bernardo.
O senhor foi chamado de Missionário do Rodoanel Sul naquela mesma entrevista, por conta de trabalho intenso para agilizar as obras. Como se explica que, desde a inauguração, não aparece em noticiário sobre eventuais políticas públicas de suporte à vertente desenvolvimentista da obra na região? Não é papel de deputado estadual a sensibilizar Executivos locais ao aproveitamento do potencial do Rodoanel Sul?
Orlando Morando – Primeiro quero lembrar que esse título de Missionário do Rodoanel, dado pela revista LivreMercado, não apenas me envaideceu, mas também aumentou minha responsabilidade para o término da obra. Infelizmente no Brasil, as obras têm data para começar, mas não para terminar, diferentemente, do que aconteceu no trecho sul. O suporte à vertente desenvolvimentista sempre esteve comigo não só como homem público, mas como agente do setor privado. Como deputado tenho feito isso e a prova foi que ajudamos a trazer o centro logístico do Grupo Sonda para São Bernardo, pela influência que tenho através da Apas (Associação Paulista de Supermercados); a empresa EDS, localizada no bairro Cooperativa, que atualmente foi vendida para outra multinacional; redes atacadistas, como Assaí e, ainda, poderíamos elencar outras dezenas.
Hoje a dificuldade que encontramos na região sobre esse aspecto logístico diminuiu muito, mas ainda não é ideal. O problema é o valor de um imóvel tanto para locação quanto para aquisição. Isso sim tem inviabilizado a implantação de novos negócios. Um dos exemplos que podemos citar é a cidade de Mauá. Têm espaços disponíveis, mas o preço do metro quadrado, é incompatível com a realidade de São Paulo.
Não seria uma boa ideia algo como um Observatório Econômico do Rodoanel Sul para detectar pontos vulneráveis e também positivos de modo a potencializar de investimentos econômicos na Província do Grande ABC? Por que agentes públicos e privados são tão negligentes com as repercussões que a obra poderia ensejar?
Orlando Morando – Entendo que um Observatório Econômico seria importante. Não só para avaliar o impacto do trecho sul do Rodoanel, mas para avaliar todo o Grande ABC, incluindo cidades como Diadema e São Caetano, que estão fora do trecho sul do Rodoanel. Acredito que esse papel poderia ser desenvolvido no Consórcio Intermunicipal, que, na minha avaliação, é lento em ações voltadas ao aquecimento econômico e, principalmente, em ações desenvolvimentistas da região.
Como avalia as críticas ao governo do Estado por causa de transtornos provocados pelo Rodoanel Sul, especialmente em bairros limítrofes ao traçado, cujos moradores reclamam de abandono, e mesmo na área central de Mauá, por conta da interligação com o viário de acesso à Avenida Jacu-Pêssego? O senhor faz parte do coro que lamenta a pressa com que se inaugurou a obra, às portas do período eleitoral, ano passado, ou entende que o que está ocorrendo faz parte do enredo pós-obra na literatura da administração pública brasileira?
Orlando Morando – As reclamações feitas em relação ao trecho sul do Rodoanel são menores que os elogios dos usuários, tanto no impacto econômico quanto no conforto a região. O que posso afirmar é que toda obra de grande impacto deixa sequelas e no Trecho Sul, mesmo as pré-existentes, são possíveis de ajustes. Quanto ao prazo que a obra foi entregue, não existe correlação com o período eleitoral. Quando o ex-governador José Serra assumiu, logo depois iniciou as obras e o término coincidiu com o calendário eleitoral.
Como avalia o Clube dos Prefeitos na operação do Rodoanel Sul, antes, durante e depois das obras? Quando lhe atribuem presença de relevo no empreendimento, se sente recompensado?
Orlando Morando – Como não estou aqui para julgar ninguém e sim para avaliar o meu desempenho, sugiro que essa resposta seja encaminhada aos prefeitos. Julgar os outros é fácil, mais fácil é fazer uma auto-avaliação e é o que estou fazendo.
Foram publicadas recentemente matérias sobre a existência do que chamamos de órfãos do Rodoanel Sul, filhos de mulheres residentes nas proximidades dos canteiros de obras cujos pais, operários da construção, simplesmente foram embora. Durante o período de planejamento e execução do Rodoanel Sul não lhe ocorreu a possibilidade desse tipo de rescaldo social? Até que ponto governo do Estado e Prefeituras abrangidas pelo trecho sul negligenciaram os efeitos sociais da obra?
Orlando Morando – Esse não é um problema dessa obra, mas sim um problema social que o nosso País ainda convive, que é a falta de planejamento familiar, falta de métodos contraceptivos e principalmente a falta de informações a homens e mulheres. É obvio que não SE pode culpar uma obra porque mulheres engravidaram dos operários até porque não foi a obra que estimulou a relação entre eles.
O senhor também disse naquela entrevista que o Rodoanel Sul provocaria a atratividade de moradias em São Bernardo, de muitas famílias da Capital, principalmente de classe média. Há sérias provas de que o mercado imobiliário em São Bernardo endoideceu na ocupação de espaços concentrados, sobretudo no entorno do Paço Municipal. O senhor entende que os investimentos imobiliários devem ser mesmo verticalizados ou se coloca na posição de especialistas que, sobretudo diante da realidade da infra-estrutura pública nacional, alertam sobre os riscos dessa opção?
Orlando Morando – Com certeza a minha afirmação se consolidou de que a cidade atrairia moradias de classe média de outras cidades, inclusive da capital. E podemos comprovar isso com o boom que o mercado imobiliário está passando no ABC. Ao mesmo tempo estamos vendo uma concentração verticalizada que não está correta. E essa competência cabe ao Município, pois tem a prerrogativa de legislar sobre a lei de zoneamento, mudando as diretrizes de onde a cidade deve crescer mais ou se deve ter o crescimento freado. Porém, nunca neguei que a cidade ainda precisa internamente de obras de infraestrutura.
Por falar nisso, a Administração de Luiz Marinho está encaminhando à aprovação do Legislativo série de medidas para restringir o uso e ocupação do solo, justamente para impedir o que chamamos de farra do boi do mercado imobiliário. Qual sua avaliação?
Orlando Morando – Como isso será uma competência da Câmara Municipal, na qual como deputado estadual nada poderei fazer, detesto ser palpiteiro em assuntos alheios. Mas espero tanto por parte da Administração quanto do Legislativo, seriedade e competência na avaliação da matéria.
Também naquela entrevista o senhor disse que a qualidade de vida para quem mora na região seria profundamente melhorada com o Rodoanel Sul. Disse que em horário comercial, com o caos no trânsito, levava-se pelo menos duas horas para atingir a Rodovia Castelo Branco. Com o Rodoanel Sul, o senhor previa que tudo seria resolvido em 40 minutos. Não lhe parece que houve descuido cronológico, porque o tempo deveria ser considerado a partir dos pontos extremos, isto é, do local inicial do deslocamento e o ponto terminal, já que a logística interna causa um ritual de loucura e em muitos casos torna o uso do Rodoanel Sul inútil? Ou seja: o Rodoanel Sul é bom para uns e ruim para outros, porque tudo depende da logística interna, que precisa ser superada para atingir aquela serpentina de concreto.
Orlando Morando – Afirmação que fiz à época é totalmente procedente. Dos pontos rodoviários tanto da Anchieta quanto da Imigrantes acessando o Rodoanel o tempo que se faz é de 40 minutos, mantendo a velocidade permitida pela rodovia. É obvio que os problemas internos do trânsito dos municípios não podem ser avaliados como se faz avaliação de uma obra rodoviária como Rodoanel.
Se tivermos um sistema viário funcional dentro dos nossos municípios, com certeza o conforto a população será pleno, o que hoje não existe.
O senhor entende que por conta da importância do setor de moradia, a Associação dos Construtores deveria contar com um conselho de ética integrado por gente idônea da sociedade, sem qualquer relação direta com os empreendedores do setor, já que não se pronuncia, não se posiciona, parece não se incomodar, com todas as denúncias de irregularidade no setor?
Orlando Morando – Não me cabe o papel de juiz. É um segmento de iniciativa privada e um setor que tem 100% do capital privado. O que não me permite fazer achismo sobre o tema. Até onde tenho conhecimento, existe idoneidade das pessoas que compõem essa associação.
Quanto o mercado imobiliário, sempre generoso nas campanhas eleitorais, contribuiu proporcionalmente nas últimas campanhas vitoriosas do senhor à Assembléia Legislativa e na disputa à Prefeitura de São Bernardo?
Orlando Morando – Não recebi doações de nenhuma empresa ligada ao mercado imobiliário nas minhas campanhas.
Se o senhor tivesse que fazer uma reavaliação do Rodoanel Sul, levando-se em conta todos os estudos realizados, as obras realizadas e a utilização que se dá, faria algumas modificações relevantes?
Orlando Morando – Manteria as minhas afirmações e também o mesmo modelo da obra e o seu traçado.
É possível acreditar que o Rodoanel venha a contar com cadeira cativa nas preocupações que deverão alimentar os debates, as propostas e as decisões no bojo da Região Metropolitana de São Paulo finalmente sacramentada pelo governo do Estado e se encaminhando para a formulação oficial de instâncias consultivas e deliberativas? O que pensa fazer a respeito dessa temática que ultrapassa os limites dos municípios envolvidos, já que a mobilidade viária é ponto crucial da qualidade de vida metropolitana?
Orlando Morando – O debate seguramente continuará sendo feito, principalmente para que o trecho leste seja concluído e para que o trecho norte possa também ser iniciado e concluído. Penso que os grandes desafios não podem fugir da pauta da região metropolitana, bem como os investimentos em transportes coletivos de qualidade, especialmente, sobre trilhos. É uma pauta que não pode se calar e muito menos faltar.
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10/05/2024 Todas as respostas de Carlos Ferreira