Política

E a omissão da Bancada do ABC
no caso da venda de emendas?

DANIEL LIMA - 10/11/2011

Os deputados estaduais supostamente representantes da Província do Grande ABC e que formariam a ficcional Bancada do ABC, uma invenção do Diário do Grande ABC decorrente de delírios editoriais e políticos, não se manifestam sobre o escândalo das emendas na Assembléia Legislativa, que tanto o Estadão quanto a Folha de S. Paulo acompanham com muita atenção. Por que será que nossos brilhantes deputados fogem de holofotes quando o assunto não é agradável?


Cadê os mais efusivos deputados? O silêncio é brutal e incomoda, porque vão chegar novas eleições e eles seguirão desfilando o marketing boquirroto de Bancada do ABC como mantra para convencer os incautos.


Vou tentar fazer um esforço de memória para elencar todos os deputados estaduais que dizem representar a Província do Grande ABC. Aleatoriamente cito os nomes de Donisete Braga, Orlando Morando, Alex Manente, Ana do Carmo, José Bittencourt, Vanessa Damo e Regina Gonçalves. Parei por aqui, mas sei que faltam alguns outros, porque são nove. Até o final do texto acho que chegarei lá.


Mas isso não tem muita importância, porque eles, na maioria dos casos, cuidam mesmo é de seus próprios interesses. Estão completamente desvinculados da realidade regional. Fazem os joguinhos partidários e eleitorais de sempre, mas não são vistos nem notados em atividades que agreguem valor ao conjunto da sociedade regional. Cuidam de seus respectivos currais eleitorais.


Querem garantir quantas reeleições forem possíveis. Dobram-se aos poderosos da mídia regional que, por sua vez, omitem-se em repercutir os desdobramentos regionais do escândalo das emendas.


Se fosse apenas o escândalo das emendas seria ótimo. Porque há outros escândalos envolvendo deputados estaduais que serão submetidos à hora da verdade, porque tudo tem o encaixe temporal adequado.


(Lembrei-me agora de mais um deputado, não entendo até porque não consegui me lembrar dele de supetão, talvez porque sua figura esteja mais ligada à disputa eleitoral em Santo André no ano que vem. É claro que me refiro a Carlos Alberto Grana).


Estadão em cima


O escândalo das emendas está sendo duramente criticado pelo jornal Estadão. Matérias são abundantes em espaços e entrevistas. Há uma semana foi ouvido o promotor de Justiça Carlos Cardoso. O MP já está tomando os primeiros depoimentos nos autos do inquérito. Carlos Cardoso integra o grupo do MP que ataca corrupção e improbidade. Espera-se mesmo que ele desvende todos os meandros desse desvio denunciado pelo deputado estadual Roque Barbieri (PTB). Denunciado é força de expressão, porque, de fato, foi de uma entrevista quase despretensiosa a um jornal do Interior que o Estadão abriu as veredas de esclarecimentos. Roque Barbieri não encontrou saída senão confirmar o caso.


Um terço da Assembléia Legislativa, segundo o deputado, enriqueceu vendendo emendas a empreiteiras e prefeitos. Cada deputado estadual tem R$ 2 milhões anuais para emendas. Uma dinheirama quando se colocam perto de 30% de repasse em forma de propina, que seria a tabela de contrapartidas que dizem ser inflexível na Casa. Ou seja: são R$ 600 mi reais de adicionais nos salários já não desprezíveis. Livre de impostos, como se sabe.


Será que essas informações de bastidores, de gente que conhece o dia a dia da Assembléia, serão constatadas pelo Ministério Público?


Sabe-se que há representantes da onírica Bancada do ABC envolvidíssimos na mutretagem. Os nomes saltam na bolsa de especulações, e quando isso acontece o melhor é prestar contas para que os inocentes não caiam na vala comum dos malandros.


O silêncio com que o assunto foi tratado na Província, somado às relações intestinais dos parlamentares com a maioria dos veículos de comunicação e o adicional de um conjunto de informações paralelas sobre o patrimônio individual avantajado de vários parlamentares sugerem que desse mato de complexidades não sairá nenhum coelho de informações substantivas. Exceto se o Ministério Público for a fundo mesmo.


O caso, como se sabe, já foi abafado na Assembléia Legislativa. Principalmente depois de indícios de que alcançaria mais que os calcanhares de gente graduadíssima, porque dinheiro costuma subir à cabeça e descer aos bolsos. O deputado Bruno Covas, ligadíssimo ao empresário Sérgio De Nadai, que caiu na malha fina da Máfia da Merenda, seria um dos mais atingidos. O envolvimento de Bruno Covas, prontíssimo até então para saltar da plataforma eleitoral em direção à Prefeitura de São Paulo, obrigou os tucanos a recolherem o esquema de marketing que embalaria sua candidatura. Esperam que a poeira baixe.


Onde ficamos nessa?


Mas o que deveria interessar mesmo aos habitantes da Província do Grande ABC é a relação da Bancada do ABC com o escândalo.


Especialistas em preparar factóides que os coloquem no noticiário, a sugestão que fica é que se juntem como verdadeiros membros de uma agremiação informal que até hoje só serviu de marketing eleitoral e, diante de uma Imprensa minimamente interessada em atender ao princípio básico da informação ajuizada, exponham seus argumentos e provas.


É claro que isso é apenas um devaneio, porque eles jamais se darão ao trabalho de atuar com transparência, como os demais parlamentares brasileiros, retirando-se as exceções de praxe. É esse o modus operandi que embala os mandatos delegados pela sociedade em todas as esferas legislativas.


Quem acha que o escândalo das emendas estaria agora circunscrito exclusivamente ao Ministério Público não tomou conhecimento do noticiário de hoje do Estadão. Diz o texto que o tema já produziu uma baixa: indicado extraoficialmente para desempenhar o cargo de relator do Orçamento de 2012, o tucano Roberto Engler desagradou uma parcela de deputados da Casa ao cobrar transparência nas indicações de emendas e, de última hora, foi substituído pela colega de bancada, Maria Lúcia Amary.


(Não consegui me lembrar dos demais deputados da Bancada do ABC. E resolvi não perder tempo indo ao Google. Entretanto, como o dever da informação fala mais alto, insisti na consulta e cheguei à constatação de que não me esqueci de ninguém. São oito em 94. Do tamanho da participação do PIB da Província no Estado de São Paulo).


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