Não é brinquedo não: o petista Hamilton Lacerda, candidato que mais ameaçou a hegemonia de centro-direita em São Caetano, disse com todas as letras ao jornal ABCD Maior do final de semana que o concorrente a ser escolhido pelo prefeito petebista José Auricchio Júnior será o próximo titular do Paço Municipal. O mínimo que se pode concluir depois daquelas declarações é que o PT tem mesmo é que abandonar a disputa ou participar apenas para marcar presença. Com um parceiro desses, convenhamos, o candidato Edgar Nóbrega não precisa de adversários.
Para que não haja a menor sombra de dúvida sobre as declarações de Hamilton Lacerda, transcrevo tanto a pergunta do ABCD Maior quanto a resposta do ex-vereador:
HAMILTON — Ele tem plenas condições de eleger um sucessor. O governo dele é bem avaliado. Acredito que seja um governo acima da média dos anteriores, melhor do que o do Tortorello. Mas isso não impede de criticá-lo e achar que poderia ser muito melhor, mais moderno, mais inovador. Pensar no desenvolvimento econômico da cidade, pensar em políticas estratégicas para o esporte, educação, ciência e tecnologia.
As ressalvas de Hamilton Lacerda não passam de um sopro em meio ao vendaval de elogios à administração de São Caetano. Sobretudo porque coloca o atual comandante do Palácio da Cerâmica acima de Luiz Tortorello. Não é pouca coisa, convenhamos, porque o ex-prefeito pode ter tido atuação regional pífia, mas internamente, naqueles 15 quilômetros quadrados, era espécie de deus a embalar a candidatura de um marinheiro de primeira viagem Executiva que ocupava a Secretaria de Saúde.
Sei lá como estarão nestas alturas do campeonato os petistas que eventualmente se opõem a Hamilton Lacerda em São Caetano. Entregar de bandeja a vitória ao PTB e seus aliados não é padrão de comportamento dos políticos.
Muito pelo contrário: o que mais se pratica na praça regional e nacional é o desgaste programado, a crítica maliciosa, a imputação de escândalos poucas vezes comprovados mas que permanecem subjacentes nos burburinhos dos formadores de opinião.
Hamilton Lacerda tenta se recuperar publicamente de um desastre político-partidário, apanhado que foi em 2006 com a mão na mala cheia de dinheiro que financiaria a compra de um dossiê contra o então candidato ao governo do Estado, o tucano José Serra.
Hamilton Lacerda não fez nada diferente do que muita gente faz, políticos e empresários que frequentam os escaninhos dos poderes públicos, e mesmo outros endereços menos suspeitos. Apenas deixou-se pegar em flagrante delito. De maior candidato petista a nova disputa eleitoral em São Caetano, em 2008, Hamilton Lacerda virou espécie de assombração. Até os petistas fogem dele, ainda.
A entrevista que Hamilton Lacerda concedeu ao ABCD Maior não se prende exclusivamente à perspectiva eleitoral. Aliás, a projeção da vitória do candidato situacionista não ganhou destaque na edição jornalística. Preferiu-se, com o título “S. Caetano precisa melhorar, diz Hamilton”, enfocar as críticas do petista. E por mais que tenha lido e relido algumas respostas, não entendi claramente o que pretendeu dizer Hamilton Lacerda quando afirma que o PT precisa ser oposição de verdade em São Caetano.
Transcrevo os trechos aos quais o candidato a vereador se refere à atuação do PT e do PTB em São Caetano na tentativa de que os leitores encontrem respostas que não encontrei.
Leram cuidadosamente os trechos das declarações do petista sobre como ser oposição em São Caetano, e o que espera do futuro da cidade? Pois bem. Por dedução, com base num bate-papo que mantive ainda outro dia com Edgar Nóbrega, vereador e, repito, candidato à Prefeitura no ano que vem, chego às seguintes conclusões:
a) Hamilton Lacerda não concorda com o que chamei de tentativa de o PT viabilizar o “pode ser” que Edgar Nóbrega está adotando como candidato de opção, não de oposição.
b) Critica o vazio petista em São Caetano durante os últimos anos, sem se dar conta, ou fingindo-se não se dar conta, de que tudo que se registrou no período se deve ao escândalo da mala, do qual foi protagonista.
A impressão que me resta é que Hamilton Lacerda foi premonitório na entrevista ao ABCD Maior, concedida, segundo deduzo, antes do acidente envolvendo um ônibus da EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos) e um trem da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), quinta-feira no território de São Caetano. Possivelmente foi tomado pelo espírito da motorista, que enfiou o pé na jaca e atirou o ônibus viaduto abaixo.
A entrevista de Hamilton Lacerda é uma associação de queda e colisão típica do acidente entre o trem e o ônibus, com o adicional de ter explodido o ambiente petista em São Caetano. Além de provocar fogos de artifício petebista.
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