O deputado estadual Carlos Grana, mais que provável candidato petista à Prefeitura de Santo André, poderá compor chapa com o vereador e por enquanto petebista Gilberto Wachtler Primavera. A possibilidade de o PT disputar o comando do Paço Municipal com uma variável diretamente econômica, dispensando-se ou enfraquecendo o viés de explicitude social, aumenta a cada dia.
A expectativa é que a engrenagem petista, de militância sempre forte, mais que compreenda, estimule a parceria. Gilberto Wachtler é bem avaliado por várias instâncias do PT no Grande ABC.
A tabelinha Capital-Trabalho seria um tiro certo, deixando-se à margem questões de classe social que situacionistas procurarão mentalizar no eleitorado conservador notoriamente rebelde ao PT.
Como bater na candidatura petista de Carlos Grana, político de raízes sindicais, se o companheiro de chapa é um legítimo representante do pequeno negócio tão sofrido e abandonado no Grande ABC?
O PT quer conquistar boa parte da classe média conservadora e a maior parte da classe média emergente com um discurso que coloque na ribalta a mensagem de que capital e trabalho se completam e precisam estar muito próximo nestes tempos em que estão em jogo mais que veleidades ideológicas, as quais o tempo tratou de depurar.
Carlos Grana e Gilberto Wachtler Primavera, acreditam os petistas, comporiam espécie de tratado de consolidação de movimentos entre capital e trabalho para enfrentamentos extraterritoriais. Ou alguém acredita que Santo André ou qualquer Município brasileiro depende exclusivamente das próprias forças para ultrapassar barreiras macroeconômicas? Ou alguém é capaz de desdenhar a importância de sintonia fina entre os agentes públicos e privados locais para superar as armadilhas do jogo mundial por investimentos?
Quem pode assegurar que capital seja exclusivamente ou prevalecentemente patente da classe média tradicional, ponto frágil dos petistas, e que trabalho é necessariamente de classes emergentes, ou pobres, ou miseráveis, redutos mais acessíveis ao PT?
Não faltam caudais de eleitores de classe média tradicional que representam tanto o capital quanto o trabalho, como empregados e empregadores.
Com Carlos Grana e Gilberto Wachtler Primavera, dá-se um nó bem dado no preconceito do eleitorado mais restritivo ao PT.
Um representante legítimo dos pequenos e médios empresários ao lado de Carlos Grana tem significado semelhante ao que experimentou em 2002 o então candidato Lula da Silva à presidência da República, quando teve o suporte de José Alencar na chapa que superou José Serra.
Talvez guardadas as devidas proporções, a parceria de uma chapa Grana-Primavera tenha mais abrangência político-eleitoral do que a de Lula-Zé Alencar. Afinal, a fortuna do empresário mineiro era colossal, enquanto Gilberto Primavera é espécie de assalariado que comanda empreendimento que sofre todas as consequências da invasão dos bárbaros de grandes negócios do setor de comércio, principalmente nas regiões metropolitanas.
Ou seja: Gilberto Wachtler Primavera está mais próximo de uma densidade social de eleitores, por conta do perfil econômico, do que José Alencar estava para Lula da Silva.
A percepção de que Gilberto Wachtler Primavera é um pequeno empresário é muito mais consistente no potencial eleitoral do que José Alencar era um representante do mundo dos negócios para o eleitorado brasileiro.
Dificilmente se encontrará entre empreendedores de Santo André quem tenha mais proximidade e intimidades com as lutas dos pequenos negócios.
E olhem que esse universo não é pouca coisa: a quase totalidade dos estabelecimentos brasileiros é formada de pequenos negócios, e Santo André não é exceção.
O vereador petebista, para sorte do PT, jamais foi prestigiado à altura da competência intelectual e da representatividade econômica pelo atual titular do Paço Municipal.
As classes sociais mais humildes são, no entendimento dos petistas, um reservatório mais que compulsório de votos, sobre o qual a influência de Gilberto Wachtler na campanha eleitoral não seria tão determinante. Ainda mais que Lula da Silva, presidente que obteve a maior aprovação popular desde a redemocratização, vai sair por aí de camisa listrada ou não apresentando Carlos Grana ao eleitorado.
Sabe-se que algumas tratativas com Gilberto Wachtler Primavera já foram ensaiadas por integrantes da cúpula petista no Grande ABC. Principalmente Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo. Pelo menos um encontro já teria sido realizado.
Os possíveis companheiros da chapa que incomodaria a tentativa de reeleição de Aidan Ravin desconversam sobre a temática do suposto encontro. Mas há vazamentos a indicar o encaminhamento dessa alternativa em Santo André. O PT que estava procurando de lanterna na mão quem pudesse complementar o perfil de Carlos Grana, parece que se dá por satisfeito.
Gilberto Wachtler Primavera é um dos mais bem qualificados legisladores do Grande ABC. Mais que isso: está bem acima da média geral. Com formação universitária e sensibilidade de pequeno empreendedor na área mercadista, Gilberto Primavera obteve 15 mil votos nas eleições à Assembléia Legislativa no ano passado. Um feito e tanto se os valores financeiros que despendeu forem confrontados com os votos obtidos.
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17/09/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (9)