Política

Feitiço pode virar contra feiticeiro na
disputa pela Prefeitura de Santo André

DANIEL LIMA - 01/07/2011

Eleição não se ganha apenas com slogan, com mote, com frase pretensamente definidora do adversário, mas que essa modalidade de marketing ajuda, acreditem que ajuda. Não foi somente por conta do “Virando a página” que Aidan Ravin chegou à Prefeitura de Santo André, mas ao corporificar e massificar a mensagem criada por uma agência de publicidade, com cartazes espalhados por pontos estratégicos, fortaleceu-se o que supostamente era um pedaço importante do pensamento médio dos eleitores, de que após três mandatos consecutivos o PT estaria pronto para ser apeado do poder. Agora se prepara contra-ofensiva à gestão de Aidan Ravin. Vem chumbo grosso.


Embora ainda não tenha definido oficialmente o candidato que concorrerá com Aidan Ravin, se Carlos Alberto Grana ou Vanderlei Siraque, o PT constrói com militantes e dirigentes espécie de ensaio de guerra subjetiva para destronar o prefeito de Santo André.


Acredita-se piamente que o feitiço pode virar contra o feiticeiro, ou seja, que a frase que tantos danos teria causado ao candidato petista Vanderlei Siraque em 2008 poderia ser ligeiramente reformada e devolvida com juros e correção monetária ao prefeito petebista.


Quem com o ferro da criatividade fere, com o ferro da criatividade será ferido, acreditam os petistas.


Por isso, ganham força três alternativas que giram sempre sob o mesmo eixo e que procurariam tipificar a gestão de Aidan Ravin, em contraponto ao “Virando a página” que tanto o fortaleceu na arremetida rumo ao Paço Municipal, naquela que se tornou estatisticamente a mais surpreendente vitória de um concorrente brasileiro num segundo turno.


Vejam os leitores as três frases mais fortemente defendidas por petistas para, num processo democrático interno, chegar-se à favorita e à aplicação prática:



  • Aidan é página em branco

  • Aidan é página virada

  • Aidan é página rasurada

Comenta-se entre os principais dirigentes petistas que as três frases seriam submetidas a pesquisas qualitativas e quantitativas.


A preferência interna petista gravita em torno da primeira e também da segunda definição do mandato petebista. A terceira frase sugestionaria que Aidan Ravin fez alguma coisa, segundo alguns observadores. Para outros, o sentido seria exatamente o contrário, mais contundente à administração de Aidan Ravin, porque reuniria poderio altamente crítico. Algo como, “além de supostamente não ter feito nada, causou estragos”.


Justamente porque envolve interpretação dúbia, a terceira frase estaria condenada ao descarte.


Nas pesquisas qualitativas, eleitores selecionados arbitrariamente mas que reflitam a composição média do universo de Santo André seriam abordados sobre o significado subjacente de cada frase.


Nas pesquisas quantitativas, também o universo eleitoral de Santo André seria analisado, com a diferença de que as abordagens se dariam tanto nas ruas como nas residências. Não falta entendimento de que a medida tem dupla finalidade, natural no campo político-eleitoral: detectar o grau de insatisfação do eleitorado com o atual ocupante do Paço Municipal, com alta dosagem de sensibilização dos eleitores eventualmente sem opinião a aderirem à ideia, e, também, iniciando a construção de um edifício de rejeição explícita à reeleição de Aidan Ravin.


Os petistas estão certos de que o prefeito Aidan Ravin terá dificuldades para engatar uma segunda marcha de expressividade verbal na campanha de reeleição, porque já teria esgotado a força bélica com o “Virando a página”.


Mais que isso: trabalha-se com a mente estratégica visando a compreender e a tentar decifrar o que estaria do outro lado da disputa eleitoral, no caso, o que o grupo do atual prefeito estaria armazenando para substituir uma mensagem com prazo de validade vencido desde que ganhou a disputa no terceiro domingo daquele outubro de 2008. Uma das armas da política é tentar antecipar-se às decisões do adversário.


Os petistas acreditam que a contra-ofensiva à mensagem vitoriosa de Aidan Ravin é um artefato que ajudará a explodir a candidatura do prefeito e se somaria, entre outras medidas, à associação entre capital e trabalho, embutida na dupla Carlos Grana-Gilberto Primavera.


Uma das fragilidades eleitorais do PT no Grande ABC, sempre exploradas pelos adversários, possivelmente será aniquilada em Santo André com a eventual candidatura do pequeno empresário Gilberto Wachtler Primavera como companheiro de chapa de Carlos Grana.


O contragolpe do PTB de Aidan Ravin, imaginado pelos petistas à sacramentação de uma das três frases expostas estaria, portanto, atomizado. Afinal, uma outra vertente de massificação da candidatura petista, de que capital e trabalho estariam unidos, independentemente de classes sociais, ajudaria a quebrar boa parte da coluna conservadora de resistência ao PT.


Quando se sabe que o eleitorado de Santo André mantém estreita margem de manobra entre conservadores de classe média e reformadores de classes mais populares, quadro sem similaridade com qualquer outro endereço regional, os detalhes fazem muita diferença.


Talvez o maior desafio do prefeito Aidan Ravin para soterrar a fraseologia  petista que resumiria sua administração seja, finalmente, construir para valer algumas marcas que, independente do valor agregado ao desenvolvimento econômico e social, caracterizem a gestão como além do trivial.


A Cidade Pirelli, o Poupatempo de Serviços e o Poupatempo de Saúde ainda aquém do necessário, seriam contra-ataques interessantes.


Possivelmente a Cidade Pirelli, pelo simbólico legado de Celso Daniel, seja a melhor contra-ofensiva mas, como se sabe, está ameaçada na areia movediça de aprovação legislativa que o governo Aidan Ravin acredita ser mais homologatória enquanto petistas podem opor resistência com aliados circunstanciais.


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