Não foi por falta de alerta que o vereador Gilberto Wachtler Primavera, uma das mais brilhantes cabeças entre os legisladores do Grande ABC, se meteu numa enrascada mais que encomendada, traduzida em manchete principal de primeira página do Diário do Grande ABC de ontem. Desde que passou a flertar com o PT a possibilidade de formar a chapa de oposição com Carlos Alberto Grana, esse pequeno mercadista sabia que entraria na linha de tiro de gente que não faz outra coisa senão preparar armadilhas para dissuadi-lo ou emudecê-lo.
O caso das bananas endereçadas a uma moradora de Santo André, que se sentiu traída porque pretendia outro tipo de alimento, de uma cesta básica, é emblemático do mundanismo em que nos encontramos.
Primeiro porque cheira a cilada, já que Gilberto Primavera não é dado a esse tipo de assistencialismo. E mesmo que fosse, seria quase nada diante do que coturnos mais graduados andam aprontando por aí.
Segundo porque a elevação de assunto tão rastaquera à manchete principal de primeira página de um jornal com a tradição do Diário do Grande ABC é de lascar. Como se o contexto local, regional e nacional não reservasse pelo menos duas dezenas de opções muito melhores para espaço editorial tão nobre.
Costumo dizer que um veículo de comunicação vale pelo que exibe como manchete de primeira página e pelo que essa mesma manchete reserva de conteúdo interno.
No rastro de temário legislativo, conectado com a importância da informação relevante, colocando-a no lugar que merece, o Diário Regional ofereceu aos leitores nesta semana contraponto valioso em matéria de valorização da inteligência alheia e, mesmo sem explicitar, um ataque certeiro na mais que acomodada noção de cidadania que domina o Grande ABC, território sem eira nem beira.
O que fez, afinal, o Diário Regional, um veículo que, somado aos demais impressos e digitais, torna-se leitura indispensável para o acompanhamento da realidade do Grande ABC, antes sob exclusividade do Diário do Grande ABC? Mostrou numa reportagem substanciosa que, enquanto discutimos o sexo dos anjos do aumento dos efetivos de vereadores, uma cidade de Santa Catarina, Jaraguá do Sul, uniu-se para acabar com a farra do aumento de cadeiras dos parlamentares.
Vejam o que escreveu o Diário Regional:
Para meio leitor, uma frase mesmo entrecortada basta: as bananas enviadas a uma moradora de Santo André pela assessoria de Gilberto Primavera por conta, segundo o vereador, de um equívoco de endereçamento, já que ele atende apenas entidades assistenciais muito antes de virar parlamentar, não passam de perfumaria, se tanto, diante de uma questão de tamanho muito superior, que o Diário Regional aborda com propriedade.
Pena que o Grande ABC não seja Jaraguá do Sul. Lá as entidades de classe não estão presas a tentáculos públicos. Chegamos, aqui, ao fundo do poço de institucionalidade. Nossas entidades de classe, em larga escala, são utilizadas para benefícios particulares. Fingem-se de relevantes, promovem cursos aqui e acolá, distribuem alguns prêmios mais que manjados, mas de cidadania, repito, de cidadania, não entendem bulhufas.
Vivemos da falácia de que somos uma região politizada. Uma falácia massificada com o claro intuito de manter a sociedade inebriada com a própria ignorância. Nada melhor, para eles, porque assim podem fazer o que fazem e se autoproclamarem gente do bem. De fato, são gente do bem-bom.
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