A disputa pela Prefeitura de Santo André entre o PT do deputado Carlos Grana e o PTB de Aidan Ravin corresponderá a um clássico do futebol, desses que apertam os corações até o último minuto do segundo tempo, ou tem vocação para um placar de lavada, de Grande versus Pequeno? Como no futebol, a política também é um jogo de erros. E por enquanto quem tem errado menos, muito menos, ou quase não está errando, é o petista Grana. Daí, entretanto, a acreditar que já se desenha placar extravagante, vai muita diferença.
A confirmação de que Grana será o candidato apoiado ostensivamente pelo ex-presidente Lula da Silva se deu no final de semana ao obter o apoio do ex-prefeito João Avamileno. O ex-deputado Vanderlei Siraque, derrotado por Aidan Ravin em 2008, ainda esperneia, mas vai se compor. Ele sabe que, embora candidato viável eleitoralmente, porque tem qualidades e o PT em Santo André é sempre competitivo, internamente encontra barreiras da militância e da cúpula. Sobretudo subliminarmente de Lula da Silva, que com Grana vai aonde for e com Siraque só iria a algum lugar se obrigado fosse.
Enquanto Carlos Grana organiza arranjos com a base petista e com aliados da sociedade e de partidos políticos a administração Aidan Ravin está enroscada. Não consegue uma obra sequer de visibilidade, está longe de marcar uma agenda que recupere algo que seja restaurador dos grandes projetos de Celso Daniel (a Cidade Pirelli está morta e enterrada, embora haja tentativas de exumação), corre em busca de uma costura que se esgarça por conta de descaso ao longo de quase três anos de governo e também está sob desconfiança do Ministério Público.
Embora tenha se refugiado nas duas últimas semanas, o vereador Paulinho Serra, possível candidato tucano à Prefeitura, não esconde que a companhia de Aidan Ravin não lhe apetece.
Cansado de ser vereador mas sem respaldo partidário para se lançar como terceira ou quarta opção ao eleitorado (ele disputa a mesma raia de Raimundo Salles), Paulinho Serra reavalia os próximos passos. Ouve muitas restrições à gestão Aidan Ravin tanto no campo administrativo quanto de governança e governabilidade. Algumas tempestades viriam para açoitar o ambiente eleitoral de Santo André. Paulinho Serra não quer estar no meio do vendaval.
Com fair-play que o coloca muito distante do estereótipo de sindicalista, incubadora de suas atividades políticas, Carlos Grana constrói rede de apoio interna e externa com perspectivas de colecionar maior potencial de votos do que o já registradamente comprovado por Vanderlei Siraque, a quem, dizem, trará também para seu barco, como já o fez com João Avamileno e Ivete Garcia.
Aqueles que duvidam da viabilidade eleitoral de Carlos Grana, a ponto de lhe questionarem competitividade, desconhecem meandros políticos e sociais. O ex-integrante do Fórum da Cidadania é exemplar pouco comum que não desperdiça munição quando sai à cata de novos parceiros de jornada.
A enrascada do governo Aidan Ravin com o Ministério Público é acompanhada por alguns veículos de comunicação na Província do Grande ABC. Caso do ABCD Maior, por exemplo. No final de semana o jornal (impresso e digital) publicou que o MP já tem provas para pedir a abertura de inquérito para investigar um estranho roubo no estacionamento da SOSP (Secretaria de Obras e Serviços Públicos), ocorrido dia 13 de junho. A secretaria tem sede na Rua Catequese. Fora, portanto do conglomerado do Paço Municipal. É uma espécie de enclave administrativo-financeiro.
Informações de bastidores ligam o roubo diretamente a possível ramificação de propina. Dois funcionários que trabalham no estacionamento da SOSP confirmaram em depoimento ao Ministério Público que dois criminosos renderam o motorista de um Audi A3 e exigiram uma mala no porta-malas do veículo. A denúncia é de que foram roubados R$ 70 mil. Duas fontes deste jornalista afirmam que o valor era muito maior: R$ 400 mil. Mais que isso: roubo confirmado, no dia seguinte novos R$ 400 mil tiveram de ser entregues ao destinatário de identidade especulada mas não confirmada.
Quem está à frente das apurações do Ministério Público é um promotor criminal de linha dura. Trata-se de José Roberto Wider, ex-integrante do Gaeco, o grupo especial do MP que apurou, entre outros crimes, o caso Celso Daniel.
Estou à vontade para escrever sobre José Roberto Wider porque nos colocamos em polos distintos no caso Celso Daniel. Ele e os demais integrantes do Gaeco a defender o enredo de crime político, relacionado a supostas propinas na administração petista de Celso Daniel. Este jornalista em situação diversa, de crime comum, com base em série de razões e provas.
O jornal ABCD Maior publicou também que o promotor criminal não conseguiu as imagens do assalto. “A alegação foi de que foram perdidas porque esgotou-se a capacidade de armazenamento, que é de 30 dias”, disse o promotor àquela publicação. Uma resposta da administradora do estacionamento, a Multipark, nada satisfatória. O promotor criminal fez a solicitação no dia 13 do mês seguinte. Ou seja: antes que se completassem 30 dias.
José Roberto Wider começou a apurar o caso depois de receber representação do promotor de Justiça, de Habitação e Urbanismo de Santo André, Fábio Henrique Franchi, outro profissional duro de roer.
Estranhamente (ou não seria nada estranho?) a Secretaria de Obras e Serviços Públicos de Santo André tem recusado manifestar-se sobre o assunto sob o argumento de que se trata de estacionamento particular, segundo o ABCD Maior. Essa é uma versão que tem o mesmo sentido de acreditar que casos semelhantes podem ocorrer à vontade e nenhuma autoridade pública se sentirá obrigada a dar explicações.
Apenas para recordar: a denúncia do roubo foi feita pelo Sindserv (Sindicato dos Servidores Públicos de Santo André) através do jornal oficial da categoria, veiculado no fim de junho. De acordo com o Sindserv, no dia 13 de junho, às 11h, um veículo Audi A3 chegou ao estacionamento do prédio situado na Rua Catequese e o motorista afirmou que queria falar com o secretário da Pasta, Alberto Casalinho. Dois criminosos, em uma moto, apontaram armas exigindo a entrega de uma sacola que estava no veículo. Tudo isso é relato do ABCD Maior.
O promotor criminal José Roberto Wider disse ao jornal que dois funcionários do estacionamento já foram ouvidos, são testemunhas idôneas e que por isso mesmo vai solicitar inquérito policial. “O inquérito vai apurar tudo sobre o roubo, bem como origem e destinação do dinheiro” – afirmou Wider.
Os mais eufóricos petistas acreditam que o roubo na SOSP poderá representar queima do prestígio que Aidan Ravin na classe média mais tradicional de Santo André. Um prestígio derivado sobretudo da objeção das camadas mais conservadoras ao chamado escândalo do mensalão dos petistas e também por conta das versões da morte de Celso Daniel.
Antes de eleger-se, Aidan Ravin teve apenas uma passagem como parlamentar municipal, saído das profundezas de demandas sociais da Vila Luzita. Construiu uma carreira meteórica naquela periferia de desvalidos com o carisma inegável de sempre e um insano trabalho de médico parturiente.
Aidan Ravin passou para o segundo turno em 2008 por conta da imagem de rebelde atribuída a Raimundo Salles, a quem superou por pouco mais de um ponto percentual.
Já os situacionistas consideram a administração Aidan Ravin descolada de eventuais contratempos de natureza delinquencial de colaboradores mais próximos. Acredita-se que o mais desastrado dos auxiliares do prefeito acabaria defenestrado sem maiores prejuízos ao titular do Paço Municipal.
Possivelmente esses intérpretes desconhecem a contrariedade da classe média tradicional a deslizes que atinjam a moralidade pública, principalmente envolvendo pessoas de carne e osso frequentemente ao alcance dos olhos e do contato físico.
Diferentemente, portanto, do que se vê nos jornais e nas emissoras de TV com gente que não tem relações locais. Já a combinação do impacto local com repercussão da mídia fora da esfera regional é o pior dos resultados. Por isso a administração Aidan Ravin corre sério risco ao omitir-se sobre o roubo na SOSP. Se o promotor criminal chegar onde pretende e onde muitos acreditam que chegará, talvez seja tarde eventual reação do Paço Municipal. Entenderam por que, além de harmonizar o PT de Santo André, o candidato Carlos Grana está em nítida vantagem estratégica nestas alturas do campeonato?
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