Política

Carlos Grana é caçapa cantada do
PT 71 dias antes por CapitalSocial

DANIEL LIMA - 16/08/2011

A manchete principal de primeira página do Diário do Grande ABC de sábado, 13 de agosto, confirmou informação exclusiva deste CapitalSocial publicada em 3 de junho, portanto mais de dois meses antes, ou 71 dias: Carlos Grana tem o apoio de Lula e é o candidato do PT à Prefeitura de Santo André. Longe de mim comparativos com o jornal e muito menos provocar competição pelo chamado furo de reportagem, que jamais me apeteceu.


Furo de reportagem é algo tão moderno quanto andar de bicicleta. Nestes tempos em que a Tecnologia da Comunicação revoluciona o sentido da informação, quem pretender sobrevida jornalística escorado em furo de reportagem entendido como notícia em primeira mão vai dar com os burros nágua. Mais que informação, leitores qualificados querem entender o que se passa. Leitores comuns aceitam qualquer coisa até que o tempo lhes mostre que o buraco é mais embaixo. Informações rasas apetecem apenas mentes rasas.


Também fujo de qualquer disputa que me pareça estruturalmente desvantajosa. Seria estúpido se corresse praticamente sozinho numa raia em que o concorrente, no caso o Diário do Grande ABC, conta com dezenas de colaboradores. É certo, e sem sofisma, que quantidade não é qualidade, ainda mais quando o barco parece à deriva estratégica, mas não sou fazedor de milagres. Apenas acredito que se possa desvendar mistérios, nuances, imprecisões, escorregões e tantas outras imprevidências de um coletivismo embaralhado. Jogo o jogo dos nichos maltratados.


Ademais, sempre trabalhei com o conceito de qualidade editorial, que está muito acima de furo editorial.


Entretanto, devo dizer que estou pasmo com as dificuldades que o jornalismo diário, de quase todos os diários, apresenta para encurtar certas novelas de final mais que previsível. A candidatura de Carlos Grana há muito foi liquidada pelos dirigentes petistas, como traduzi naquela matéria de junho. O que se tem lido nos jornais, seguidamente, é a confirmação de uma crônica anunciada nos bastidores. Alguns jogos de cena deixam de ser caracterizados como tais porque o jornalismo entrou definitivamente na fase declaratória, que aposentou a interpretação.


O jornalismo diário anda tão sem criatividade e tão pouco aderente a inovações que se estica demais determinados temários. O pessoal está mais ou menos na mesma situação dos novelistas que, nos dois meses que separam as tramas do último capítulo, enrolam os telespectadores sem a menor compaixão em nome do Ibope. Palavra de quem é telespectador incurável da telenovela das nove da noite, retrato bem acabado da sociedade, principalmente ao expor situações em que a realidade parece mais branda quando, de fato, é muito, mas muito mais aguda.


Agora a preocupação do PT de Santo André é decidir quem vai formar a chapa majoritária com Carlos Grana. E antecipo o conceito que dominará as andanças que serão anunciadas pela imprensa: o companheiro de chapa de Grana sairá sem pressa, depois de esgotadas todas as possibilidades. Nomes que já surgiram e outros que poderão despontar serão testados internamente, entre os militantes, e também no campo externo, da sociedade como um todo.


As reações de um lado e de outro não serão espadas sobre cabeças de eventuais escolhidos, mas ajudarão a construir o escopo com que o PT ainda se debate para acertar em cheio o tiro da complementaridade necessária.


Certo, certíssimo mesmo, é que o alvo a ser alcançado é a classe média tradicional, aquela que de fato é classe média, com todas as vantagens de classe média, com todos os problemas de classe média, não essa classe média de araque que os marqueteiros inventaram por conta de financiamentos a perder de vista mas de renda familiar que não garante nem mesmo escola particular aos filhos.


Uma classe média sempre arredia ao PT, sobretudo na porção São Caetano de Santo André, consolidada principalmente nos bairros centrais e em algumas porções de subdistrito de Utinga.


Certo mesmo, também, é que o todo-poderoso supersecretário da Administração Aidan Ravin, Nilson Bonome, que chegou a constar da lista de prioridades de Carlos Grana, está completamente fora de cogitação. O modelo de atuação do peemedebista, mais que qualquer outro condimento nem sempre digerível pelos petistas, não tem a menor possibilidade de ser assimilado.


Nilson Bonome representaria a quebra de um conceito de compartilhamento de poderes que entornaria o caldo de relacionamentos de Carlos Grana com o próprio partido e com a sociedade. Grana está decididíssimo a recuperar boa parte do legado gerencial de Celso Daniel. Algo incompatível com o exclusivismo extra-partidário de Nilson Bonome.


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