Política

Embalado por Lula, PT quer seis
das sete cidades da Província

DANIEL LIMA - 21/09/2011

O Partido dos Trabalhadores planeja conquistar o recorde de seis das sete cidades da Província do Grande ABC nas eleições do ano que vem. O placar é extravagante, de jogo de futebol de forças opostas ou de circunstancialidades tenebrosas, mas não deve ser subestimado como lógica matemática-eleitoral. Ou os leitores têm dúvidas sobre os efeitos miraculosos do prestígio do ex-presidente Lula da Silva, maior cabo eleitoral do PT nas próximas eleições municipais?


Dispensável mencionar que São Caetano está previamente fora da lista de combate pelo controle administrativo petista na Província do Grande ABC.


Os petistas sabem de cor e salteado que além de fatores históricos que podem ser resumidos na composição sedimentar de uma classe média conservadora com elevado índice de aprovação à oferta de infraestrutura pública, São Caetano vive estágio de autoestima nas alturas.


A classe média, maioria do Município, ganhará suplementarmente um shopping center de Primeiro Mundo e uma série de complementos no chamado Espaço Cerâmica. E os pobres, minoria desprezada por administradores do passado, ganharam desde já algum tempo o Programa PróFamília, espécie de Bolsa Família melhorado, porque multiassistencial.


O PT não é bobo de enfiar dinheiro na campanha eleitoral em São Caetano, que seria o gol de honra da goleada planejada. Um gol inexorável mas que, acreditam, dará dignidade maior à própria goleada, porque mostraria que há um adversário em campo. E o adversário, como se sabe, são os tucanos, que só mudam de denominação partidária. No caso de São Caetano, é o PTB.


Quem desconsiderar o fator-Lula em qualquer análise eleitoral possivelmente estará raciocinando com o fígado. Basta dar uma espiadinha na ainda fresquíssima pesquisa realizada pelo Instituto Análise, do cientista Alberto Almeida. O material foi publicado no jornal Valor Econômico desta quarta-feira. Leiam alguns trechos da reportagem:


 A maioria da população brasileira (57%) gostaria que a presidente Dilma Rousseff desistisse de tentar uma reeleição para que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se candidatasse em seu lugar. Apenas 29% preferem que Dilma busque um novo mandato em 2014. (…). A pesquisa mostra como, depois de oito meses de governo Dilma, a boa lembrança de Lula e sua administração predomina a avaliação do eleitorado e pode influenciar o tabuleiro político e eleitoral. Para o cientista político Alberto Almeida, coordenador do instituto, um dos dados que chamam mais a atenção é a permanência da popularidade de Lula — o que o torna um fator de extremo desequilíbrio no jogo presidencial.


 No auge de sua popularidade, Lula alcançou 80% de aprovação (ótimo+bom), quando a campanha de Dilma Rousseff divulgava os feitos de seu governo. Agora, depois de cair um pouco pela falta de exposição na mídia, a aprovação do ex-presidente, de acordo com a pesquisa, chegaria a 82%. “Isso significa não apenas um reconhecimento de bom desempenho, mas também que parte importante do eleitorado está com saudades de Lula, afirma Alberto Almeida.


 A aprovação do governo Dilma Rousseff é exatamente a metade da de seu antecessor: 41% de respostas “ótimo” e “bom”. A desaprovação é ainda mais contrastante: enquanto apenas 3% dos entrevistados consideram que o governo Lula foi ruim ou péssimo, 16% avaliam a administração Dilma como tal. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais.


Dos seis gols municipais preparados pelo Partido dos Trabalhadores à temporada de votos do ano que vem, dois são avaliados como praticamente consumados: a reeleição de Luiz Marinho em São Bernardo e a reeleição de Mário Reali em Diadema. Mauá também entra no foco de vitória iminente, embora ainda com perspectivas abaixo dos dois municípios citados. Santo André, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra demandarão maiores investimentos e apoios.


Em Santo André, o candidato Carlos Alberto Grana conseguiu o que antecipamos há muito tempo nesta revista digital: reforçado por cardeais do PT, principalmente Lula da Silva, Luiz Marinho e Miriam Belchior, demoveu a resistência de Vanderlei Siraque. O suplente de deputado federal que espera assumir em Brasília foi derrotado por Aidan Ravin em 2008 especialmente porque a candidatura bancada pelo então prefeito João Avamileno provocou fissuras no partido e negligências na militância. Grana virou unanimidade entre os petistas e agora parte para uma segunda etapa, seguindo doutrina lulista: pretende construir coalização de partidos de apoio e sensibilizar a classe média mais conservadora. Quer mostrar que o PT não é nenhum bicho-papão.


Em Ribeirão Pires, a ex-prefeita Maria Inês Soares volta à arena, após desgaste fenomenal durante os oito anos em que comandou a Prefeitura. Está repaginada no visual, quase irreconhecível nas fotos que os jornais têm publicado, e menos beligerante nos relacionamentos internos. Vai precisar muito de caminhadas de braços dados com Lula da Silva.


Em Rio Grande da Serra, com o encerramento dos oito anos de mandato de Kiko Teixeira, prefeito bom de voto e ruim do governo, abre-se a possibilidade para o PT encaixar um candidato competitivo. As reduzidas dimensões da cidade favorecem impactos tectônicos em favor do candidato petista que contar com duas ou três breves visitas de apoio de Lula da Silva.


A pesquisa do Instituto Análise apresenta paradoxo que poderá potencializar ainda mais a influência de Lula da Silva nas eleições municipais do ano que vem: qualquer derrapagem no quadro econômico nacional que atinja o governo Dilma Rousseff terá a contrapartida do aumento do índice de saudade do ex-presidente, tornando-o ainda mais forte em suas andanças.


Quando se atinge a estratosfera canônica, como é o caso de Lula da Silva, só resta aos opositores sonhar com a realidade vivida pelo prefeito José Auricchio Júnior, de São Caetano: administrar uma cidade cujos problemas não estão ao alcance de supostas influências resolutivas do PT.


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